Sunday, October 18, 2009

Fênix




Ao final do GP do Brasil de 2008, a Honda de Jenson Button pegou fogo ao chegar à área dos boxes. Seu pai, o já lendário John Button, ao ver a triste cena, disse, em bom inglês, traduzido para um mau português: "Deixa queimar essa m...". Quem diria, um ano atrás, que aquele piloto sairia de Interlagos campeão, neste ano?

Eu não diria e dei risada quando, no começo do ano, Rubens Barrichello afirmou que o carro da Brawn poderia lhe dar o título de 2009. Até que a Brawn, muito depois das outras, foi à pista e aniquilou a concorrência nos testes de inverno. E continuou humilhando nas primeiras corridas, permitindo que Jenson conseguisse a façanha de vencer seis das sete primeiras provas. Foi ali, naquele começo de ano, que Button garantiu o título comemorado hoje em Interlagos.

Enquanto as demais equipes (se) debatiam sobre a regularidade ou não dos difusores de dois andares (lembra-se deles? ninguém falou mais do assunto, parece a gripe suína...).

Enquanto a Red Bull avançava timidamente, conseguindo estupendos resultados em pistas "frias" e perdendo-se inexoravelmente nas mais quentes.

Enquanto Barrichello duelava com o carro e saía de algumas provas dizendo doces palavras sobre a própria equipe, como "eles me fizeram perder a corrida".

Os difusores foram considerados legais pela FIA. As outras equipes correram atrás, enquanto Button dava tchauzinho lá na frente.

A Red Bull continuou alternando ótimas e sofríveis apresentações.

Barrichello, pelo que consta, leu "O segredo", mudou sua atitude, percebeu as vantagens de ser mais positivo e otimista, tendo atuações superlativas, como na Itália.

No entanto, era tarde.

Tarde para as outras equipes.

Tarde para a mais séria oponente, a Red Bull.

Tarde para o companheiro de equipe.

Button fez uma segunda metade da temporada "para passar de ano". Aplicando-se o suficiente apenas para ficar na média. Inteligentemente, aproveitando a enorme vantagem do início de 2009.

Era a fênix, recompondo-se a partir das cinzas do ano passado.

Em Intelagos, Button fez sua melhor corrida (em suas próprias palavras). Com uma corrida irrepreensível, aproveitou-se dos incidentes da largada e foi galgando posições. De 14º para 5º. Not bad at all, diriam na terra da rainha.

O GP do Brasil de 2009 foi, na minha opinião, a melhor corrida deste ano. Talvez como resultado do treino caótico de ontem, que jogou para as últimas posições muitos dos carros mais competitivos. Por isso, foi tão agradável ver o desempenho do próprio Button e de pelo menos outros dois pilotos que mostraram ser possível, sim, fazer ultrapassagens na F1 atual: Hamilton (de 17º para 3º) e Vettel (de 14º para 4º). E palmas também para Mark Webber, que conquistou aqui sua segunda vitória na F1.

Apesar da brilhante atuação em Interlagos, eu sigo com uma pulga atrás da orelha quanto à estatura de Button diante de outros campeões mundiais. Se não fosse um campeonato tão atribulado, no qual as grandes equipes pareceram pegas em uma armadilha na brecha de um regulamento, se Button tivesse sido realmente confrontado o tempo inteiro, como o foi a partir do meio do campeonato, ele seria campeão? No mano a mano, com carros equivalentes, ele venceria um campeonato contra Hamilton, Massa, Alonso, Raikkonen?

Eu acho que não. E você?

(Foto de Carsten Horst)

11 comments:

Celinho Boy said...

Sabe, Alessandra, acho que o difusor deve ter ajudado muito ao piloto e a equipe Brawn. Depois da novela, as equipes tiveram que correr atrás e assim conseguiram equilibrar. Mas me chamou a atenção a boa performance da Red Bull. Sinceramente acho que o Button se equivale a pilotos como Damon Hill ou Jacques Vilenevue ou o Keke Rosberg, aquele que foi campeão do mundo com apenas uma corrida no longínquo ano de 1982.

Acho que no ano que vem o Button poderá não ter essa mesma facilidade que ele teve no início do ano. a não ser que surja uma nova regra ou uma aerodinâmica inesperada.

Em tempo, achei uma lata quando você disse que tinha saltado uma galinha preta dum carro da RBR. Lógico que não era, mas até parecia mesmo. De primeiro ficou em oitavo e atrás do Button.
Gostei da transmissão de vcs. Espero que vc continue no outro ano e sua voz doce, delicada e um senso de humor grande.

Anonymous said...

Não tem jeito de achar nada, agora que terminou.
Todos os mundiais, mas todos mesmo, sem exceção, são coalhados de "ses".
Se isso, se aquilo, se, se se, sere-se-se.
Só um "sezinho" bem antigo:
SE Emerson Fittipaldi no treino livre em Monza/1970 não tivesse errado a freada da parabólica, tocando no carro de Ignazio Giunti e detonado a Lotus 72 novinha em folha de Rindt que testava...
Jochen Rindt não teria saído com o carro de Emerson, aquele mesmo que quebrou a suspensão dianteira e o matou.
Seria Emerson o morto?
Teríamos Depois Piquet, Senna e um zilhão de outros?
Teríamos o evento que tivemos hoje? Ou melhor, Antonio carlos Scavone teria trazido os torneis de F3, F2 e depois a F1 sem o decano do nosso automobilismo profissional?
É aquela história do efeito borboleta.
Na vida, infelizmente não tem "ses".
Em casa, tenho um enorme pé de "ses" que não pára de crescer, adubado pela verdade de que somos passageiros, e não pilotos.
Grande abraço, Alessandra.
Bela transmissão, estás cada vez melhor.
Claudio Ceregatti

Herik said...

Olá Alessandra.

Há muito não aparecia por aqui para deixar meu pitaco. Momentos...

Bom, penso que as recentes atuações de Button têm mais a ver com o que conseguiu no início do ano. Não haveria a menor razão de ser ele se meter a brigar por todas as corridas. Fez o que precisa fazer e ganhou o título com méritos. Fez como um time que abre 2 a zero e passa a jogar no contra-ataque.

Sobre as qualidades do inglês frente aos demais prefiro ficar com a opinião de Gil DeFerran, que afirmou ser Button uma dos mais especiais pilotos que já viu, com um estilo elegante e preciso de guiar. Só não acho que ele seja melhor que Alonso e Raikkonen. Aliás, que campeonato fez Kimi com aquele 147 nas mãos.

Abração.

Herik said...

Ah, esqueci! Há de se considerar, principalmente, a atipicidade deste campeonato tão maluco. No meio da maluquice Button foi eficiente e perfeito, pegando todas as oportunidades que teve e sem cometer qualquer erro - pelo menos do que me lembre.

E parabéns pela transmissão de hoje na Band.

Fabrizio Salina said...

Caríssima, lhe devolvo a bola:

será que os Kimis, os Schumys, os Sennas, os Prosts, Alonsos, Hamiltons, venceriam seus campeonatos de forma tão irretorquível se competissem com mais CARROS equivalentes? Não era isso que queríamos, uma briga de todos, e não apenas de duas escuderias (quando não de uma, internamente)?
Um capeonato atribulado é mais fácil de ser conquistado do que um pasmacento e com opnentes prestabelecidos, onde só dois peleiam?

Jonny'O said...

Acho que Button mereceu ,afinal ele foi eficiente quando o carro era bom ,chance,momento ,coisas fundamentais para um campeão.

A questão é ,será que Hamilton teria sido campeão em 2008 se tivesse um companheiro a altura?

Acho que não importa, seu nome estara lá para a eternidade .

Fernando Mayer said...

Oi Alessandra.

Se o campeonato desse ano fosse roteiro de um filme o nome seria: "O Estranho Caso de Jenson Button".

Bjus

foca said...

o cara é bom, não é um baita campeão, mas dizer que ele é mediocre como o fabio seixas falou, aí já soa despeito...

Ron Groo said...

A gente tem esta mania de dimensionar os campeões né. Eu não fujo a regra...

Mas me diz: O Button não ganhou contra estes caras ai que você citou no fim do post? Eles estavam todos na pista, assim como ele estava quando os outros ganharam, ou no caso do Massa, quase.

Gabriel Souza said...

Alessandra, eu diria mais: se Rubens tivesse se acertado com o carro desde o começo do ano, o título era dele, pois é mais piloto do que Button.

Button, como disse Fábio Seixas, é um piloto medíocre.

Dário said...

Alessandra, o Button será outro James Hunt ou Damon Hill.