Já não me lembro quantas vezes corri no circuito do Ipiranga, pois há duas provas por ano naquele local - uma sempre no final de junho ou começo de julho, em homenagem ao Dia do Bombeiro, e outra em setembro, marcando a Independência. Sempre gostei de correr lá e sempre tive uma porção de motivos por este apreço.
Correr em locais como o Ipiranga, o Centro de São Paulo e o circuito do Barro Branco é uma oportunidade de sair do binômio USP-Ibirapuera, que domina amplamente o calendário. Mas tem mais. O trajeto é altamente desafiador, com uma ladeira longa entre os quilômetros seis e sete, o que modifica totalmente a estratégia habitual. Não dá para apenas aumentar o ritmo progressivamente, pois esse trecho, já na segunda metade da prova, quase sempre representa uma diminuição no desempenho.
Um motivo adicional é o local onde se monta a arena - o Parque da Independência, bem em frente ao Museu do Ipiranga. Certamente, um dos lugares mais bonitos de São Paulo, com aquele jardim copiado de Versailles, com a beleza arquitetônica do museu a emoldurá-lo. Um lugar com muitas árvores, como toda a cidade deveria ser...
Mas, sendo muito honesta, devo confessar que a prova do Ipiranga sempre me remete ao meu pai. Durante um curto período da minha vida profissional, trabalhei no mesmo endereço que ele. Eu, começando a carreira. Ele, às portas da aposentadoria. Éramos de áreas bem diferentes, já que meu pai era engenheiro mecânico. Mas, por conta dessa circunstância, durante um ano fomos juntos para o trabalho, no carro dele, e passávamos todos os dias por aquele pedaço da cidade.
É impossível passar pela avenida D. Pedro I ou pela avenida Nazareth e não recordar aquelas manhãs. Íamos a caminho da Ford, em São Bernardo do Campo, empresa na qual ele trabalhou por trinta anos e na qual fui assessora de imprensa por dois anos e meio. Hoje, treze anos depois desse período, oito anos depois que ele se foi, já é agradável passar por ali. Lembro dos nossos rituais e piadas, e de uma brincadeira macabra que constituía em "atropelar pessoas". Claro que ele não passava com o carro por cima de ninguém, mas a cada oportunidade que tínhamos de deixar um pedestre atravessar na nossa frente, contávamos os pontos para nosso joguinho. Gente carregando sacola valia mais pontos, assim como indivíduos de boné, mochila etc. Éramos normais, não se engane.
Claro, não foi sempre assim, tão tranqüilo, lembrar desses tempos. Nos primeiros anos de sua falta, alguns lugares, gestos e hábitos repercutiam na memória como uma fisgada no peito. Talvez, naquele tempo, eu não conseguiria nem correr pelas ruas do Ipiranga. E quando os mais experientes, que já tinham passado por perdas semelhantes, diziam que uma hora isso ia passar, era difícil de acreditar.
No entanto, hoje passo pela avenida D. Pedro I e por seus casarões antigos, subo a Nazareth com os olhos magnetizados pelo museu e já não vem a tristeza. Vem a lembrança do joguinho esdrúxulo, das piadas, das fitas cassete que íamos ouvindo no carro.
Meu pai certamente ficaria entusiasmado com meu engajamento nas corridas. Na falta dele, fui encontrando nesse circuito alguns "pais" que me guiam, me puxam a orelha, me tratam com genuíno carinho de filha. O pai de todos, Zé Eduardo Pompeu, é o técnico e é Zé, como era meu pai também. Henry, meu grilo falante, é quase um pai bravo a me convencer de que posso ir mais rápido, mais forte, mais decidida. Zoca é outro pai de todos, por ser o mais velho e por ter, com sua (e nossa!) querida Valéria virado uma espécie de padrinho de todo o time.
Na corrida deste domingo, uma performance para encher de orgulho todos eles. Terminei em 49min16, que não é meu melhor tempo para 10 km, mas é um "temporal" para um circuito como aquele, com uma ladeira tão longa. De quebra, recebi duas medalhas. A verdadeira, da prova, e um prêmio inesperado. Meu amigo Henry, outro japonês da turma, me deu uma figurinha repetida de seu álbum da Eurocopa. Na foto, o tudo-de-bom Cristiano Ronaldo, titularíssimo do time de Portugal, terra dos meus avós, país que levava toda a simpatia... do meu pai.
Sunday, June 29, 2008
Friday, June 27, 2008
Maria (quase) Gasolina
Em minhas andanças pelos autódromos, lá no Paleolítico, costumava ser muito mais fácil falar com os pilotos, e isso vale também para os de Fórmula 1. As restrições à imprensa eram muito menores naquela época e os pilotos não eram engessados nessas regras de só falar em horários pré-determinados, em ambientes assépticos, com os logotipos dos patrocinadores estrategicamente posicionados para aparecer nas imagens. Era chegar, testar o humor do sujeito e, se rolasse, engatar as perguntas ali mesmo, encostados na mureta do pit lane ou nas portas de ferro do box.
(Nunca me esqueço de que, certa vez, fiquei esperando um tempão para falar com Alain Prost depois do GP do Brasil de 1993, encostada na porta do box. Quando saí, notei que minha calça jeans estava toda suja de graxa. Que ódio!)
Em 1992, o contraste era ver o poderio quase bélico da Williams, com sua suspensão ativa que fazia os carros se mexerem "sozinhos", em testes bem provocativos no intervalo entre um treino e outro, e as condições mequetrefes dos times menores, como Fondmetal ou Larousse. Nada, porém, se comparava à pobreza e ao amadorismo da natimorta Andrea Moda.
A equipe era uma piada a começar pela origem. O dono, Andrea Sasetti, era um empresário do ramo de calçados que achou por bem criar uma equipe de Fórmula 1. As condições eram mais do que precárias. O carro da equipe nunca tinha sido testado. Na semana anterior ao GP do Brasil, os dirigentes do time ficaram prometendo testes em circunstâncias mais que inverossímeis, a ponto de cogitarem colocar o carro para andar no aeroporto do Campo de Marte, na Zona Norte de São Paulo. Não rolou teste nenhum e há quem jure de pé junto ter visto mecânicos da equipe emendando a carenagem do carro com silver tape.
Isso eu não vi mas, meninos, eu vi. Vi Roberto Pupo Moreno, um dos pilotos da equipe, dar uma entrevista sem pé nem cabeça, acreditando não só que o carro andaria como também que ele se classificaria para a largada. Para quem não sabe, naquela época a Fórmula 1 tinha mais carros inscritos que posições no grid, deixando sempre pelo menos quatro carros fora da corrida. Largavam 26 pilotos, imagine...
Pois a Andrea Moda não só ficou na degola de pré-classificação como foi capaz de rodar apenas com um único carro, justamente o de Moreno. O tempo da pole, obtido por Nigel Mansell, foi de 1min15s703. O último colocado no grid, Johnny Herbert com sua Lotus, marcou 1min20s650. A penúltima colocada na pré-classificação, a italiana Giovana Amati, marcou 1min26s645. Achou grande a diferença? Pois então se segure. Moreno, com a paquidérmica Andrea Moda, registrou o inacreditável tempo de 1min38s569! Doze segundos a mais que a penúltima colocada, 23 segundos a mais que a pole!
Junto a Moreno, no box da Andrea Moda, estava um piloto inglês, carequinha e simpático, chamado Perry McCarthy. Na sala de imprensa, tínhamos visto seu nome na lista de inscritos, mas nenhum dos repórteres brasileiros conhecia o indivíduo. Em um tempo no qual só se falava de Ayrton Senna e de seu desalento em perseguir a esquadra da Williams, ninguém deu muita bola para Perry McCarthy. Numa dessas idas e vindas entre sala de imprensa, paddock e pitlane, deparei-me com meu colega de Folha de S. Paulo Edgar Alves, junto a um pequeno grupo, na frente de um box.
Cheguei e vi um loirinho calvo, já entrado na casa dos 30, descrevendo uma manobra como se narrasse um desenho animado. Gesticulava explicando o movimento do carro e a subseqüente batida, usando onomatopéias o tempo todo. "Pum, pow, poff, crash!" E se ria todo, lembrando de alguma corrida, em algum rincão da Europa, que provavelmente ninguém mais viu. Percebi que o figura era Perry McCarthy e fiquei ali, pescoçando a conversa. Como era natural, o então repórter do Jornal da Tarde estava junto comigo.
Em dado momento, inquirindo o piloto sobre mais detalhes de sua vida e carreira, Edgar Alves perguntou se McCarthy era casado. O safadinho virou-se para mim, entre jocoso e galante, arregalando os olhos e dando piscadelas cômicas. "Quem está perguntando?", disse em um inglês bem arretado. Ao que Edgar respondeu: "Ela!", referindo-se naturalmente a mim. E Perry: "No, I am not!"
Com meus 20 e pouquinhos anos, corei. Ao lado do namorado, acrescentei constrangida. "But, I am...". E o repórter do JT arematou: "Yes, with me!".
Perry não perdeu o rebolado. Virou-se para o jovem jornalista, estendeu-lhe a mão e disse: "With you! Oh, congratulations!" A entrevista informal terminou em risadas. A aventura de Perry McCarthy na Fórmula 1 não completou uma volta sequer, e assim acabou minha curtíssima carreira frustrada como Maria Gasolina.
(Nunca me esqueço de que, certa vez, fiquei esperando um tempão para falar com Alain Prost depois do GP do Brasil de 1993, encostada na porta do box. Quando saí, notei que minha calça jeans estava toda suja de graxa. Que ódio!)
Em 1992, o contraste era ver o poderio quase bélico da Williams, com sua suspensão ativa que fazia os carros se mexerem "sozinhos", em testes bem provocativos no intervalo entre um treino e outro, e as condições mequetrefes dos times menores, como Fondmetal ou Larousse. Nada, porém, se comparava à pobreza e ao amadorismo da natimorta Andrea Moda.
A equipe era uma piada a começar pela origem. O dono, Andrea Sasetti, era um empresário do ramo de calçados que achou por bem criar uma equipe de Fórmula 1. As condições eram mais do que precárias. O carro da equipe nunca tinha sido testado. Na semana anterior ao GP do Brasil, os dirigentes do time ficaram prometendo testes em circunstâncias mais que inverossímeis, a ponto de cogitarem colocar o carro para andar no aeroporto do Campo de Marte, na Zona Norte de São Paulo. Não rolou teste nenhum e há quem jure de pé junto ter visto mecânicos da equipe emendando a carenagem do carro com silver tape.
Isso eu não vi mas, meninos, eu vi. Vi Roberto Pupo Moreno, um dos pilotos da equipe, dar uma entrevista sem pé nem cabeça, acreditando não só que o carro andaria como também que ele se classificaria para a largada. Para quem não sabe, naquela época a Fórmula 1 tinha mais carros inscritos que posições no grid, deixando sempre pelo menos quatro carros fora da corrida. Largavam 26 pilotos, imagine...
Pois a Andrea Moda não só ficou na degola de pré-classificação como foi capaz de rodar apenas com um único carro, justamente o de Moreno. O tempo da pole, obtido por Nigel Mansell, foi de 1min15s703. O último colocado no grid, Johnny Herbert com sua Lotus, marcou 1min20s650. A penúltima colocada na pré-classificação, a italiana Giovana Amati, marcou 1min26s645. Achou grande a diferença? Pois então se segure. Moreno, com a paquidérmica Andrea Moda, registrou o inacreditável tempo de 1min38s569! Doze segundos a mais que a penúltima colocada, 23 segundos a mais que a pole!
Junto a Moreno, no box da Andrea Moda, estava um piloto inglês, carequinha e simpático, chamado Perry McCarthy. Na sala de imprensa, tínhamos visto seu nome na lista de inscritos, mas nenhum dos repórteres brasileiros conhecia o indivíduo. Em um tempo no qual só se falava de Ayrton Senna e de seu desalento em perseguir a esquadra da Williams, ninguém deu muita bola para Perry McCarthy. Numa dessas idas e vindas entre sala de imprensa, paddock e pitlane, deparei-me com meu colega de Folha de S. Paulo Edgar Alves, junto a um pequeno grupo, na frente de um box.
Cheguei e vi um loirinho calvo, já entrado na casa dos 30, descrevendo uma manobra como se narrasse um desenho animado. Gesticulava explicando o movimento do carro e a subseqüente batida, usando onomatopéias o tempo todo. "Pum, pow, poff, crash!" E se ria todo, lembrando de alguma corrida, em algum rincão da Europa, que provavelmente ninguém mais viu. Percebi que o figura era Perry McCarthy e fiquei ali, pescoçando a conversa. Como era natural, o então repórter do Jornal da Tarde estava junto comigo.
Em dado momento, inquirindo o piloto sobre mais detalhes de sua vida e carreira, Edgar Alves perguntou se McCarthy era casado. O safadinho virou-se para mim, entre jocoso e galante, arregalando os olhos e dando piscadelas cômicas. "Quem está perguntando?", disse em um inglês bem arretado. Ao que Edgar respondeu: "Ela!", referindo-se naturalmente a mim. E Perry: "No, I am not!"
Com meus 20 e pouquinhos anos, corei. Ao lado do namorado, acrescentei constrangida. "But, I am...". E o repórter do JT arematou: "Yes, with me!".
Perry não perdeu o rebolado. Virou-se para o jovem jornalista, estendeu-lhe a mão e disse: "With you! Oh, congratulations!" A entrevista informal terminou em risadas. A aventura de Perry McCarthy na Fórmula 1 não completou uma volta sequer, e assim acabou minha curtíssima carreira frustrada como Maria Gasolina.
Sunday, June 22, 2008
Pelo amor e pela dor
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Felipe Massa, ao vencer e se tornar líder do campeonato, parece ter encontrado o equilíbrio que lhe faltava em outras temporadas. Uma análise deste histórico GP da França de 2008, lá no GPTotal. Vai lá, comenta aqui, ou lá, onde quiser!
Felipe Massa, ao vencer e se tornar líder do campeonato, parece ter encontrado o equilíbrio que lhe faltava em outras temporadas. Uma análise deste histórico GP da França de 2008, lá no GPTotal. Vai lá, comenta aqui, ou lá, onde quiser!
Tuesday, June 17, 2008
A seguir, cenas dos próximos capítulos...
Soube pela internet que o SBT está reprisando a novela "Pantanal", exibida originalmente pela extinta TV Manchete. Quando li a notícia, comentei com a jornalista Tatiana Napoli, que trabalha comigo, sobre um dos grandes legados de "Pantanal" - o fim do tradicional "a seguir, cenas dos próximos capítulos...".
Tati, que é bem mais nova que eu, não conhecia essa verdadeira instituição da teledramaturgia brasileira. E se ela, que é bem antenada, demonstrou desconhecer o tema, imagino que boa parte das gerações jovens jamais tenham visto um final de capítulo arrematado pela tal frase.
Desde que Eva Wilma e Johnny Herbert cruzaram as linhas em "2-5499 Ocupado", a primeira telenovela diária do Brasil, o final do capítulo seguia sempre a mesma fórmula. Antes do último intervalo, em vez de aparecer o tradicional "estamos apresentando", vinha a frase lapidar "a seguir, cenas dos próximos capítulos". Tome reclame e, na volta, um pequeno clip mostrava cenas a serem exibidas. Às vezes, sem os diálogos, com uma das músicas da trilha sonora percorrendo as cenas. Em outras ocasiões, com os diálogos. Nos primórdios, entravam as cenas recortadas e um locutor repetia um mesmo texto, dia após dia, algo como "amor, emoção, traição, cobiça... tudo isso em... Fogo sobre terra!".
E por que sumiram com o tal "a seguir, cenas dos próximos capítulos"?
Aí é que entra "Pantanal" na história. A telenovela, uma xaropada como quase todas, só que com muita gente pelada, balançou a audiência da Globo. A novela ia ao ar depois do tradicional horário da novela das oito da emissora do Jornalista Roberto Marinho (sic). Só que a zapeada era tão violenta rumo à Manchete que a Globo começou a se preocupar com a baixa audiência de suas atrações seguintes, a chamada linha de shows. Para tentar evitar que os telespectadores mudassem de canal já no último intervalo, o que antecedia as tais "cenas dos próximos capítulos", a Globo começou a colar a atração seguinte na novela, sem direito a intervalo nenhum.
Talvez a solução de emergência tenha se mostrado vantajosa de alguma forma, porque aos poucos as "cenas dos próximos capítulos" foram sumindo de todas as outras novelas, até desaparecer de vez.
Além de introduzir o desfile de peladas lânguidas em paisagens idem, "Pantanal" talvez entre para a história da teledramaturgia nacional como a novela que acabou com "cenas dos próximos capítulos" embora, ela mesma, tivesse as suas.
Wednesday, June 11, 2008
Atendendo a pedidos
Desde que inaugurei este blog, em 29 de janeiro de 2006, nunca tinha mudado seu layout. Meu "filho" Bruno Vicária, dono da Laje de Imprensa, blog que se traduz por ser uma espécie de metamorfose ambulante, já tinha tirado uns sarrinhos, de leve, da estagnação deste meu espaço. Meu filho, outro blogueiro com sede de mudança, pediu, reiterou, insistiu e hoje, finalmente, graças a uma irresistível ligação no final do dia, conseguiu me convencer.
Foi me guiando pela lista de layouts disponíveis, dando idéias e sugerindo cores. Por fim, decretou: coloque uma foto sua! Aquela, de cabelo preso. Que nem é uma foto do dia-a-dia, pois raramente uso o cabelo preso.
O que uma mãe não faz...
Foi me guiando pela lista de layouts disponíveis, dando idéias e sugerindo cores. Por fim, decretou: coloque uma foto sua! Aquela, de cabelo preso. Que nem é uma foto do dia-a-dia, pois raramente uso o cabelo preso.
O que uma mãe não faz...
Tuesday, June 10, 2008
Embalos de sábado à noite
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Seja em treino ou corrida, penso sempre a mesma coisa antes de completar o primeiro quilômetro: "O que estou fazendo aqui?". É irresistível abandonar-se à reflexão acerca do sentido de correr, de extenuar-se, de elevar o batimento cardíaco ao nível do desconforto. O sentido ou a falta dele. Como bem lembrou Drauzio Varella há algumas semanas, em artigo na Folha de S. Paulo, exercitar-se não é algo natural para animais na vida adulta. O homem é o único que tem de se forçar à atividade física programada, por ter adotado uma vida tão prática e confortável. O que equivale dizer - tão sedentária.
Mas, depois de vencido o primeiro quilômetro, a coisa pega no tranco e a gente vai. Na verdade, a gente volta, pois correr é quase sempre movimentar-se em círculo, partindo de um ponto e voltando a ele mesmo. Outra reflexão que sempre se instala. Se era para voltar para o mesmo lugar, por que fui? Parece a anedota do caiçara, ouvindo o homem da cidade aconselhá-lo sobre a necessidade de pescar mais, vender mais, comprar mais um, dois, dez barcos, ter uma frota, ter empregados trabalhando para ele, a fim de que ele pudesse, finalmente, deixar-se ficar na beira da praia, só descansando, ao que o pescador responderia - "E não é o que eu estou fazendo agora?"
Ainda assim, venço a tentação da inércia e vou. No sábado, dia 7 de junho, fui pela 40ª vez. Em quase seis anos de corrida, 40 provas. Neste ano, por conta das transmissões da Fórmula 1, tenho perdido algumas corridas, a maioria programada para as manhãs do domingo. Por isso, me animei com a idéia de fazer uma prova noturna. Sim, sábado à noite. A turma da Equipe Conexão, sob o comando do treinador José Eduardo Pompeu, compareceu em peso. No caminho, indo de comboio para a Cidade Universitária, eu repetia a todo instante a mesma pergunta - "O que estou fazendo aqui?".
Tinha sido um sábado cheio de atividades. Logo pela manhã, festa junina na escola dele. Na hora do almoço, um aniversário na casa de amigos, com pausa para ver o treino do GP do Canadá. Na volta para casa, tempo apenas para trocar de roupa e seguir para a Paulista, onde a turma se reuniria. Saí de casa com uma sensação estranha, por deixar pai e filho meio à deriva, numa noite de sábado.
A prova, Fila Night Run, 10 km, tinha largada marcada para as 20h. O mesmo embaço de sempre na hora de estacionar o carro, retirar o chip e guardar as sacolas no guarda-volumes. Pouco tempo para aquecer, muita gente na largada, sentença dada - vamos aquecer nos primeiros dois quilômetros e ver o que dá para melhorar daí para a frente.
Pouco antes da largada, percebi que aquela não era apenas minha primeira prova noturna. Eu simplesmente nunca havia corrido à noite, nem em treino. Sou diurna, gosto de acordar antes do sol para aproveitá-lo todinho e sempre sinto o gás acabando quando o entardecer se instala. Some-se a essa tendência natural a correria de sábado e minha perspectiva não era para um desempenho notável na prova.
Chegando à USP, um reforço inusitado para a energia da turma. Zoca saca de sua sacola uma lata de biscoitos cheia de... bolinhos de chuva! Sua doce Valéria havia preparado um farto carregamento da guloseima, que até aquela data nunca tinha se mostrado especialmente indicada para a nutrição de atletas antes do exercício.
Não sei se foi o bolinho da Valéria, o horário da largada ou a vontade de ir embora logo, mas o fato é que comecei a me sentir muito disposta durante a prova, fazendo os primeiros quilômetros sempre acima dos cinco minutos, mas não muito mais que isso. A partir do quinto, comecei a apertar o ritmo e terminei em 50min20, bem acima do meu recorde de 49min00, mas bem melhor do que eu imaginava no início da prova.
Terminado o evento, na volta para o carro, com uma vontade louca de voltar para minha casa, tive certeza de que foi uma boa experiência, mas talvez única. Dez quilômetros na noite de sábado já é manifestação patológica. Comecei, continuei e terminei com a mesma pergunta rondando minha mente - "O que eu estou fazendo aqui?"
Seja em treino ou corrida, penso sempre a mesma coisa antes de completar o primeiro quilômetro: "O que estou fazendo aqui?". É irresistível abandonar-se à reflexão acerca do sentido de correr, de extenuar-se, de elevar o batimento cardíaco ao nível do desconforto. O sentido ou a falta dele. Como bem lembrou Drauzio Varella há algumas semanas, em artigo na Folha de S. Paulo, exercitar-se não é algo natural para animais na vida adulta. O homem é o único que tem de se forçar à atividade física programada, por ter adotado uma vida tão prática e confortável. O que equivale dizer - tão sedentária.
Mas, depois de vencido o primeiro quilômetro, a coisa pega no tranco e a gente vai. Na verdade, a gente volta, pois correr é quase sempre movimentar-se em círculo, partindo de um ponto e voltando a ele mesmo. Outra reflexão que sempre se instala. Se era para voltar para o mesmo lugar, por que fui? Parece a anedota do caiçara, ouvindo o homem da cidade aconselhá-lo sobre a necessidade de pescar mais, vender mais, comprar mais um, dois, dez barcos, ter uma frota, ter empregados trabalhando para ele, a fim de que ele pudesse, finalmente, deixar-se ficar na beira da praia, só descansando, ao que o pescador responderia - "E não é o que eu estou fazendo agora?"
Ainda assim, venço a tentação da inércia e vou. No sábado, dia 7 de junho, fui pela 40ª vez. Em quase seis anos de corrida, 40 provas. Neste ano, por conta das transmissões da Fórmula 1, tenho perdido algumas corridas, a maioria programada para as manhãs do domingo. Por isso, me animei com a idéia de fazer uma prova noturna. Sim, sábado à noite. A turma da Equipe Conexão, sob o comando do treinador José Eduardo Pompeu, compareceu em peso. No caminho, indo de comboio para a Cidade Universitária, eu repetia a todo instante a mesma pergunta - "O que estou fazendo aqui?".
Tinha sido um sábado cheio de atividades. Logo pela manhã, festa junina na escola dele. Na hora do almoço, um aniversário na casa de amigos, com pausa para ver o treino do GP do Canadá. Na volta para casa, tempo apenas para trocar de roupa e seguir para a Paulista, onde a turma se reuniria. Saí de casa com uma sensação estranha, por deixar pai e filho meio à deriva, numa noite de sábado.
A prova, Fila Night Run, 10 km, tinha largada marcada para as 20h. O mesmo embaço de sempre na hora de estacionar o carro, retirar o chip e guardar as sacolas no guarda-volumes. Pouco tempo para aquecer, muita gente na largada, sentença dada - vamos aquecer nos primeiros dois quilômetros e ver o que dá para melhorar daí para a frente.
Pouco antes da largada, percebi que aquela não era apenas minha primeira prova noturna. Eu simplesmente nunca havia corrido à noite, nem em treino. Sou diurna, gosto de acordar antes do sol para aproveitá-lo todinho e sempre sinto o gás acabando quando o entardecer se instala. Some-se a essa tendência natural a correria de sábado e minha perspectiva não era para um desempenho notável na prova.
Chegando à USP, um reforço inusitado para a energia da turma. Zoca saca de sua sacola uma lata de biscoitos cheia de... bolinhos de chuva! Sua doce Valéria havia preparado um farto carregamento da guloseima, que até aquela data nunca tinha se mostrado especialmente indicada para a nutrição de atletas antes do exercício.
Não sei se foi o bolinho da Valéria, o horário da largada ou a vontade de ir embora logo, mas o fato é que comecei a me sentir muito disposta durante a prova, fazendo os primeiros quilômetros sempre acima dos cinco minutos, mas não muito mais que isso. A partir do quinto, comecei a apertar o ritmo e terminei em 50min20, bem acima do meu recorde de 49min00, mas bem melhor do que eu imaginava no início da prova.
Terminado o evento, na volta para o carro, com uma vontade louca de voltar para minha casa, tive certeza de que foi uma boa experiência, mas talvez única. Dez quilômetros na noite de sábado já é manifestação patológica. Comecei, continuei e terminei com a mesma pergunta rondando minha mente - "O que eu estou fazendo aqui?"
Friday, June 06, 2008
Thursday, June 05, 2008
Avante, patrício!
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A Eurocopa começa nesta semana, com jogos na Suíça e na Áustria. O repórter Julio Gomes vai cobrir a competição e hoje trouxe uma entrevista exclusiva com o principal jogador de Portugal, Cristiano Ronaldo, candidatíssimo ao título de melhor jogador do ano.
Como forma de homenagear meus antepassados, junto-me à torcida de Portugal. É só por isso que este post vem ilustrado assim, tão lindamente.
A Eurocopa começa nesta semana, com jogos na Suíça e na Áustria. O repórter Julio Gomes vai cobrir a competição e hoje trouxe uma entrevista exclusiva com o principal jogador de Portugal, Cristiano Ronaldo, candidatíssimo ao título de melhor jogador do ano.
Como forma de homenagear meus antepassados, junto-me à torcida de Portugal. É só por isso que este post vem ilustrado assim, tão lindamente.
Tuesday, June 03, 2008
Mosley fica
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Quem apostou que ele cairia (como eu) queimou a língua. Por 103 votos contra 55, o presidente da FIA, Max Mosley, recebeu um voto de confiança da assembléia geral da entidade, em reunião realizada nesta terça-feira, em Paris.
A votação foi secreta (ah, assim fica fácil) e o resultado final, divulgado pela FIA, foi o seguinte:
Sim ao voto de confiança - 103
Não ao voto de confiança - 55
Abstenções - 7
Votos nulos - 4
Ou seja, uma lavada de Mosley.
Com o resultado, Mosley permanece em seu cargo pelo menos até novembro, quando devem acontecer novas eleições para a presidência da entidade.
Continuo achando que, se a votação fosse aberta, ele cairia.
Quem apostou que ele cairia (como eu) queimou a língua. Por 103 votos contra 55, o presidente da FIA, Max Mosley, recebeu um voto de confiança da assembléia geral da entidade, em reunião realizada nesta terça-feira, em Paris.
A votação foi secreta (ah, assim fica fácil) e o resultado final, divulgado pela FIA, foi o seguinte:
Sim ao voto de confiança - 103
Não ao voto de confiança - 55
Abstenções - 7
Votos nulos - 4
Ou seja, uma lavada de Mosley.
Com o resultado, Mosley permanece em seu cargo pelo menos até novembro, quando devem acontecer novas eleições para a presidência da entidade.
Continuo achando que, se a votação fosse aberta, ele cairia.
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