
"(...)enquanto houver força em meu peito
Eu nao quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar (...)"
Os versos dor-de-cotovelo de Lupicínio Rodrigues parecem expressar o que há por trás da investigação da FIA em relação à Renault. Se Flavio Briatore mandou mesmo Nelsinho Piquet bater em Cingapura, para provocar a entrada de um safety car e assim favorecer Fernando Alonso, a casa pode cair para o chefe de equipe italiano. E fica bem evidente de onde poderia ter partido a denúncia - do desprezado Nelsinho.
"Atiraste uma pedra no peito de quem só te fez tanto bem
E quebraste um telhado, perdeste um abrigo
Feriste um amigo(...)"
A tática de Nelsinho, se for isso mesmo que se especula, soa pouco inteligente. Assumindo a farsa, Nelsinho também se assume como réu. Jogo de equipe doloso esse. Saindo da Renault, o piloto rasgou o verbo contra o antigo chefe. A letra de Herivelto Martins e David Nasser, em "Atiraste uma pedra", resume o sentimento da decepção que detona o revide.
"(...)Mas, se existe ainda
Quem queira me condenar,
Que venha logo
A primeira pedra
Me atirar."

O Trio de Ouro, formado por Nilo Chagas, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins
Herivelto Martins, aliás, era casado com a cantora Dalva de Oliveira. Findo o caso de amor, vieram as brigas e os recados públicos, por meio das letras de música. Herivelto lançou "Atiraste uma pedra", e Dalva lançou mão de "Errei, sim", de Ataulfo Alves, remetendo à passagem bíblica, pela qual "quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra". Nelsinho pode se valer dessa lógica, sabendo que, na Fórmula 1, como em qualquer esporte de alta competitividade, não há inocentes. Mais que isso: Nelsinho pode estar servindo a uma causa maior, orquestrada por outro ofendido - Max Mosley - que assim aniquilaria o segundo desafeto, após ter jogado para o ostracismo o inimigo Ron Dennis. De réu confesso, Nelsinho passaria a delator premiado.
"Seu mal é comentar o passado
Ninguém precisa saber
O que houve entre nós dois
O peixe é pro fundo das redes
Segredo é pra quatro paredes
Não deixe que males pequeninos
Venham transtornar os nossos destino (...)"
Dalva falava, Herivelto respondia. Dalva replicava, Herivelto treplicava. Briatore poderia apelar para a letra de "Segredo", de Herivelto e Marino Pinto, tentando convencer Nelsinho (leia-se Nelson Piquet, o pai) a deixar os acontecimentos de Cingapura no passado. Não o fez no tempo certo, agora parece tarde.
Será que a casa vai cair para Briatore?