Tuesday, October 28, 2008

Meu GP do Brasil inesquecível



Cheguei em casa no final da tarde, com a roupa molhada, o rosto queimado de sol, alguns passos além da euforia, querendo banho e cama, quase tão cansada quanto feliz. Minha mãe me recebeu em diapasão diferente, ainda tensa com o dia intenso, como se quisesse contar em detalhes tudo o que eu mesma tinha visto, ao vivo. Tinha visto, mas não tinha ouvido. Eu tinha visto a primeira vitória de Ayrton Senna em um Grande Prêmio do Brasil, espremida na arquibancada de alvenaria do Setor A, de Interlagos. Mas não tinha ouvido a narração pela TV, não conhecia o drama que antecedeu a glória.

24 de março de 1991, meu primeiro GP do Brasil. Admito, abri com chave de ouro. Naquela época, indo para o quarto ano da faculdade, eu ainda não era jornalista, embora já arriscasse textos aqui e ali, principalmente em jornais de bairro e do interior. Eu queria, mesmo, ser repórter de Esportes, e estar perto de eventos esportivos - de preferência, dentro - era meu objetivo permanente. Com essa obstinação, e com um conhecido de alta patente na Polícia Militar, fui parar dentro do Autódromo Internacional José Carlos Pace.

A história inteira dessa epopéia será contada no livro "Interlagos, em teu lar", trabalho de conclusão de curso do colega Andrei Spinassé, do Tazio, motivo pelo qual não entro em detalhes, para não "furar" o jovem jornalista.

Relembro, apenas, as últimas voltas dessa dramática vitória de Senna. Quem não assistiu à corrida na época nem teve acesso a seu videotape talvez estranhe a afirmação sobre a dramaticidade da prova. Afinal, se examinar o "volta-a-volta" da prova, verá Senna largando na pole e liderando de ponta a ponta. Onde estaria a tensão? Ah, só quem esteve lá sabe. Ou não.

Eu estava lá. Fui munida de um radinho com fone de ouvido, na vã esperança de escutar a transmissão pelo rádio. Minha boa intenção foi afogada em ruídos de motor lá pela oitava volta. No começo, o pelotão passava todo junto. Quando se afastava, eu conseguia ouvir perfeitamente a transmissão da Rádio Bandeirantes, naquela época com narração de Éder Luiz e comentários de Edgard Mello Filho. Depois, a diferença entre os líderes e os últimos já era tanta que praticamente a todo tempo tinha algum carro passando na minha frente. Não ouvia mais nada, desliguei o radinho e fiquei só olhando para a pista.

Tudo era festa. Senna vinha firme em primeiro. Mansell seguiu-o até a 59ª volta, quando abandonou com problema de câmbio. Patrese assumiu o segundo lugar. Tudo era festa. O escudeiro de Senna, Gerhard Berger, não conseguia acompanhar o ritmo do italiano, mas tudo bem. Senna estava na frente. Tudo era festa. Começou a chover fraco. Ótimo, melhor que Senna, na chuva, não há.

Senna passava. A arquibancada conseguia rezar um Pai-Nosso inteiro antes que Patrese passasse. E lá vinha Berger. E, muito depois, os outros. Senna passava. A gente até percebia que o Pai-Nosso tinha que ser mais rapidinho, para acomodar a diferença para Patrese, que parecia menor. Mas, tudo bem. Tudo era festa. Foram doze voltas nessa toada. A cada passagem, até era possível notar que a vantagem do brasileiro ficava menor, mas ninguém ali seguia os tempos oficiais. Sem rádio, sem cronômetro, tudo era festa. É certo que, na última passagem, mal daria para fazer o sinal da cruz, entre o vruuuuum meio engasgado de Senna e o vraaaaaaaaam potente de Patrese, mas dane-se. Senna venceu pela primeira vez no Brasil. Tudo era festa.

Foi só quando cheguei em casa e vi a gravação da corrida, em VHS, que soube da progressiva quebra de marchas da McLaren de Senna. Que ouvi Galvão Bueno definir, em milésimos segundos, a diferença cada vez menor entre o brasileiro e o italiano. Que ouvi o mesmo Galvão, desesperado, apelar pelo fim da prova para o então diretor do GP, Mihaly Hidasi. Que vi Senna erguer o troféu com um braço meio débil, esgotado.

O meu GP do Brasil inesquecível foi muito menos dramático do que pareceu pela TV. E o seu GP do Brasil inesquecível, qual foi?

Sunday, October 26, 2008

Quitando dívidas



Aproveito este post para saldar dívidas recentes, trazendo minha posição em assuntos que foram comentados nas caixas de comentários dos posts mais novos.

A eventual falta de atualidade, por exemplo no caso da eleição municipal, deve-se exclusivamente à falta de tempo para postar antes.

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Eleição municipal em São Paulo - votei na Soninha no primeiro turno e na Marta, no segundo. Apesar de ter votado em duas mulheres, não foram votos pautados por esta questão. Ou seja, não votei na Soninha e na Marta por elas serem mulheres, mas pelas idéias defendidas por ambas, nos dois momentos da eleição. Soninha é uma referência antiga na minha vida, já que estudamos na mesma escola, o Colégio Santana, como conto neste post. Tenho enorme admiração por ela em vários sentidos - pela profissional que ela é, pela cidadã, pela mãe, pelo engajamento em causas que considero fundamentais, como a inclusão social e a consciência ambiental. Não gosto de ver Soninha em um partido como o PPS, que parece sigla de aluguel, sem uma ideologia definida. Soninha brigou de forma traumática com o PT, partido pelo qual se elegeu vereadora. Parecer ter suas razões, mas lamento que tenha ido para um partido como esse. No segundo turno, Soninha ficou neutra em São Paulo. Eu não tenho grande identidade com Marta Suplicy e com o governo que ela fez em São Paulo, entre 2001 e 2005. Acho que ela gastou mal o dinheiro público em obras como os túneis que passam sob a Avenida Faria Lima, mas reconheço ações como o Bilhete Único e os CEUs, que beneficiaram a camada menos favorecida da sociedade. Marta quase perdeu meu voto quando apelou, em sua campanha eleitoral, para insinuações sobre a vida privada do seu oponente, o atual prefeito. A grita dos eleitores de Kassab - e de boa parte da mídia - também me desagradou, denotando enorme hipocrisia. Ao longo dos últimos anos, Marta foi alvo de inúmeras colocações preconceituosas por parte de seus opositores. "Acusada" de "largar o marido" para casar com um argentino - como se ambas as escolhas fossem crimes - passou a ser identificada, à boca pequena, com codinomes como "vaca" ou "dona flor e seus dois maridos". Baixaria lá, baixaria aqui. Não gostei das insinuações a Marta, não gostei da insinuação a Kassab, não gosto desse tipo de tática. Mas eu não voto no DEM, sem chances. Não voto no PFL, que é, afinal, a origem desse partido. E não anulo meu voto por princípio. Já o fiz, mas me arrependi. Para mim, anular o voto é como abdicar da prática da democracia. Votei em Marta sabendo que perderia, mas em paz com minha ideologia.

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O falso diálogo de Barrichello com a Ferrari - há uns dois meses, enquanto corria na Cidade Universitária, fiquei sabendo do tal diálogo reproduzido em um livro do jornalisa Lemyr Martins, supostamente entre Rubens Barrichello e componentes da Ferrari durante as últimas voltas do GP da Áustria de 2002. Quem me contou foi um colega da Equipe Conexão, o Nilton. Achei tudo tão bizarro que tomei como piada. Não comentei com ninguém porque tive convicção de que era uma anedota. Na semana passada,certamente embalada pelo GP do Brasil, a editora intensificou a divulgação do livro. O jornal Lance! publicou trechos do suposto diálogo, que pode ser lido na íntegra aqui. Para meu supremo espanto, a repercussão do diálogo revelou que ele foi publicado como se fosse verdadeiro. Amigos atuantes em sites noticiosos de automobilismo, como Victor Martins, Bruno Vicária e Ivan Capelli, além do colega Luis Fernando Ramos, o Ico, deram contribuições várias sobre o tema, falando com o próprio Lemyr, com o editor responsável pelo lançamento do livro e com o assessor de imprensa da Ferrari. Vale a pena navegar pelos sites para ler o imbróglio todo. O que eu acho? Foi a pergunta de alguns leitores e amigos. Acho que Lemyr, um jornalista que cobre a Fórmula 1 há quase quarenta anos, recebeu pela internet o tal diálogo - que foi publicado em um fórum inglês há mais de seis anos, logo depois do tal GP da Áustria. Acreditou que fosse verdadeiro e publicou, sem atentar para o monte de absurdos que ali estão. Acreditou, sobretudo, que nessa altura da vida, montado em cima do nome prestigiado, pode publicar qualquer coisa que ninguém vai contestar. Não contava com a sagacidade dos meus colegas e com as ferramentas de busca da internet.

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Eu voltei - em um comentário abaixo, fui cumprimentada pelo retorno do meu "ex-time" à Série A. Peralá, minha gente! É verdade que eu me aposentei em 13 de outubro do ano passado, depois de trinta anos de serviços prestados como torcedora ao Sport Club Corinthians Paulista. Mas não quer dizer que ele se tornou meu ex-time. Apenas parei de assistir a todos os jogos, de sofrer em desespero a cada derrota, de decorar a escalação da equipe. Passei a me comportar como legítima aposentada, guardando afeição e respeito ao antigo emprego, visitando o local eventualmente, cultivando os bons momentos lá vividos. Ontem, infelizmente, não pude acompanhar o jogo contra o Ceará, que garantiu a volta do Corinthians à primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Mas procurei as reportagens nos telejornais noturnos e fiquei sinceramente feliz com o feito. Tenho acompanhado de longe o trabalho do técnico Mano Menezes e da atual diretoria do Corinthians. Acho que estão no caminho certo. Estou feliz com a volta do Timão. Mas, sofrer como antes, acho que nunca mais. 30 anos de serviços prestados. Mereço sossego.

Thursday, October 23, 2008

Tá explicado

"Sempre fui absolutamente fã de Nelson Piquet. Admiro o jeito irreverente dele, gostava de vê-lo nas pistas. Quem sabe vou poder conhecê-lo. Hoje em dia também acabei torcendo pelo filho dele, o Nelsinho."

A frase é da cantora Fafá de Belém, escalada para cantar o Hino Nacional Brasileiro antes do GP do Brasil. Fafá arrasta, há mais de duas décadas, a fama de pé frio. A explicação: primeiro, ela gravou uma bela música de Milton Nascimento dedicada a Teotônio Vilela. O político morreu logo depois. Então, Fafá começou a aparecer pendurada em Tancredo Neves, e o presidente eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral, também morreu, antes de assumir.

No dia da morte de Tancredo, 21 de abril de 1985, assim que foi dada a notícia, a Rede Globo colocou no ar um vídeo com Fafá cantando o hino, em versão lacrimosa e ligeiramente alterada na melodia. Esse vídeo e a canção "Coração de Estudante" foram a trilha sonora daqueles dias de funerais do presidente.

Agora, Fafá declara ser torcedora de Nelsinho. Está explicado o desempenho claudicante do rapaz neste seu ano de estréia.

Pobre Felipe Massa...

Wednesday, October 22, 2008

Top model



Quer ser piloto de Fórmula 1? Quer ganhar rios de dinheiro?

Pois prepare-se. Não me refiro aos riscos de atingir velocidades acima de 300 km/h, de pilotar máquinas indóceis berrando a 19 mil giros, nem muito menos de viver feito cigano.

Isso tudo parece fácil perto da seqüência de micos públicos aos quais os pilotos são submetidos hoje em dia. Dá a impressão de que o sujeito é, antes de tudo, um garoto propaganda. Por acaso, piloto.

Nos últimos tempos, Lewis Hamilton teve de participar de um espetáculo teatral/circense no qual surgia voando, Fernando Alonso teve de vestir avental de cozinheiro e ir para a frente das câmeras fingir que preparava uma gororoba qualquer, David Coulthard passou a vergonha suprema de subir ao pódio, em Mônaco, aquela Mônaco glamourosa do príncipe, vestindo uma... capa de Super Homem, pois a equipe Red Bull estava levando uma grana para divulgar o filme. Isso sem falar em micos menores, como Nick Heidfeld pilotando um trem de metrô na Malásia ou o mesmo Heidfeld e seu companheiro Robert Kubica, abrilhantando uma degustação de queijos em algum país qualquer da Europa.

Agora, aparece esta seqüência de fotos promocionais do tênis da McLaren, protagonizada por Hamilton e Heikki Kovalainen. Não vou dizer que está ruim. Lewis trabalhou bem a musculatura nos últimos tempos, não faz feio diante das câmeras. Mas que é um mico transatlântico fazer umas poses dessas, ah, isso é. Para não mencionar o peitoral de franguinho caipira do finlandês, e mais não digo para não ferir as fãs de Heikki que freqüentam este blog.

Fico imaginando figuras como, sei lá, Clay Regazzoni, Nelson Piquet, Mario Andretti, Niki Lauda, Jody Scheckter, Jack Brabham sendo obrigados a posar para fotos desse tipo. Não, não fico imaginando. É impossível.

Por outro lado, penso que François Cevert, Graham Hill, James Hunt até poderiam encarar uma sessão do tipo, diante das câmeras.

E você, o que acha? Quem não faria? Quem faria?

Monday, October 20, 2008

Aproveita que eu tô boazinha



Well, folks, agora só tem dois na disputa pelo Mundial de Fórmula 1.

Hamilton ou Massa.

Na mensagem comemorativa aos 300 posts, abri a bolsa de apostas, que ainda incluía Robert Kubica. Como o polonês já não tem chances e estou boazinha hoje, vou aceitar a troca de palpites daqueles que jogaram suas fichas em Kubica.

Mas, por favor, concentrem os palpites no post de número 300, OK?

Sunday, October 19, 2008

O inferno são os outros

Lewis Hamilton ganhou o GP da China e ficou mais perto do título. O segredo para uma vitória tão fácil? Ausência de rivais. Mais? No GPTotal. Vai lá, vai. Depois, comente.

Friday, October 17, 2008

Turning point



Você aí, que gosta de Fórmula 1, talvez já tenha percebido que estamos vivendo um momento histórico da categoria. Uma nova geração de pilotos despontando, uma das temporadas mais disputadas de todos os tempos, novidades como o primeiro GP noturno, entre outros aspectos.

Mas, desculpe a pretensão, você talvez não tenha se dado conta de que estamos assistindo a um momento ultra-crítico da carreira de Lewis Hamilton, nascido na Fórmula 1 no ano passado, rapidamente guindado à condição de favorito em sua temporada de estréia. Se perder novamente o título, pelo segundo ano consecutivo, por erros próprios, Hamilton tende a desabar do Olimpo da Fórmula 1, caindo sem direito à apelação no submundo dos ex-futuros campeões.

A Grã-Bretanha é fértil na produção desse tipo de quase ídolo. Ainda estão por aí dois belos exemplares da espécie - David Coulthard e Jenson Button. Hamilton tem mais talento em uma das rodas que os dois juntos, em toda a carenagem. Mas é afoito, legítima vacalouca. Uma pesquisa realizada nesta semana por um jornal londrino sondou a confiança do público local na conquista do título pelo inglês - a maioria acha que Hamilton não será campeão. A pressão, naturalmente, é enorme.

Se for campeão, Hamilton sobe inexoravelmente para o panteão dos deuses da categoria. Se perder, por sucumbir ao momento e falhar, vai virar um pobre diabo. Não que perca todas as chances de ser campeão no futuro, mas vai acabar como um Nigel Mansell menos espontâneo e mais sarado, lembrado como um piloto audaz, rapidíssimo, mas excessivamente ousado, que poderia ter ganho muito mais do que conquistou.

Na sua opinião, o que será de Lewis Hamilton no final desta temporada?

Wednesday, October 15, 2008

Eu e a Fórmula 1, ano 25



A história inteira eu prometo contar no GPTotal. Por enquanto, gostaria apenas de registrar que hoje, 15 de outubro de 2008, completam-se 25 anos do segundo título de Nelson Piquet na Fórmula 1. Se o velho Nelson não parece ser o tipo de pessoa que dá muita bola para datas, eu sou o contrário.

Ainda mais porque, neste caso em especial, a efeméride faz parte da minha própria vida. Considero que foi nesta corrida, o GP da África do Sul de 1983, que me liguei inexoravelmente à Fórmula 1. Não que tenha sido meu primeiro GP, nada disso. Durante toda a infância, sempre me interessei por esportes, a Fórmula 1 entre eles.

Mas essa corrida, selando o segundo título de Piquet e prenunciando a entrada de Ayrton Senna, no ano seguinte, foi por mim adotada como pedra fundamental.

Vamos lá, meus amigos, respondam: que corrida ou que campeonato vocês identificam como suas pedras fundamentais na Fórmula 1?

Tuesday, October 14, 2008

300 - Aposte e concorra!

Com estas parcas linhas, este blog chega a seu post de número 300. O primeiro, levado ao ar em 29 de janeiro de 2006, foi "migrado" da caixa de comentários do blog do jornalista Pedro Alexandre Sanches, eterno padrinho, inspirador e instigador deste espaço.

Como naquelas propagandas de lojas de móveis e utilidades domésticas, "o blog está em festa mas quem ganha presente é você!".

Resolvi fazer uma brincadeira, com direto a prêmio.

Quem você acha que vai ser o campeão do Mundial de Pilotos de Fórmula 1 de 2008?

1) Lewis Hamilton
2) Felipe Massa
3) Robert Kubica

Responda na caixa de comentários. Entre os que acertarem, vou sortear um livro "O boto do Reno", do jornalista Flavio Gomes. Prometo total lisura no processo, com direito a foto do dia do sorteio. Se alguém da Price quiser vir auditar (de graça, claro), esteja convidado.

Bóra, gente!

Sunday, October 12, 2008

A tartaruga e a lebre


Terminado o GP do Japão, durante a transmissão da Bandeirantes-Band News FM, encerrei minha participação com o seguinte comentário: o desempenho de Robert Kubica nesta temporada faz lembrar a fábula de Esopo - "A tartaruga e a lebre".

Devagar e sempre, Kubica continua na luta pelo título, ao contrário do finlandês Kimi Raikkonen, que neste domingo deu adeus à disputa. Se Felipe Massa tem agora apenas cinco pontos de desvantagem em relação a Lewis Hamilton, é verdade que o polonês da BMW Sauber tem tarefa ainda mais dura para desempenhar. Precisa descontar doze pontos em relação ao inglês da McLaren.

Voltando ao passado.

Primeiro, o passado recente. Em 2007, faltando duas provas para o final do campeonato, Raikkonen estava 17 pontos atrás de Hamilton. Venceu na China e no Brasil, contando com dois erros do próprio Hamilton para conquistar seu primeiro título mundial.



Mas a Fórmula 1 já assistiu a outras viradas memoráveis, como a de Nelson Piquet rumo ao seu segundo título, em 1983. Vinte e cinco anos atrás, faltando também duas provas para o final, Piquet estava, como Kubica, em terceiro no campeonato. É certo que o brasileiro, naquela época, tinha desvantagem bem menor - cinco pontos em relação ao então líder Alain Prost.

Kubica, neste ano, vai se beneficiando do regulamento, que privilegia a regularidade. Em 16 corridas, o polonês só deixou de pontuar em três (Austrália, Inglaterra e Cingapura). Sete pódios - uma vitória, três segundos lugares, três terceiros. O que parece dificultar a tarefa de Kubica é a evidente inferioridade de seu carro em relação à Ferrari de Massa e à McLaren de Hamilton, algo que o distancia do feito de Raikkonen, no ano passado, que tinha um carro do mesmo nível dos rivais.

Mas um erro dos líderes aqui, uma falta de sorte ali - e 2008 consagra um improvável Kubica campeão. Será?

E você, ouviu a transmissão pela Bandeirantes-Band News? Quer comentar o trabalho da equipe comandada por Odinei Edson?

Friday, October 10, 2008

Hamilton mudou

Nos últimos três meses, Lewis Hamilton não venceu nenhuma corrida, mas conquistou 26 pontos. Felipe Massa, vencedor de duas corridas no mesmo período, somou 23. A regularidade do inglês parece comprovar uma mudança em sua estratégia. Quer mais? Vai lá no GPTotal, vai. Depois, me fala.

Thursday, October 09, 2008

Não é, mas parece (3)


Chico César é este cantor e compositor de cabelo extravagante que ficou conhecido quando sua música "À primeira vista" foi gravada por Daniela Mercury e incluída na trilha sonora de uma novela da TV Globo. (Quando não tinha nada, eu quis/ Quando tudo era ausência, esperei/ Quando tive frio, tremi/ Quando tive coragem, liguei).

Paraibano de Catolé do Rocha, Chico César oscila entre a delicadeza extrema de canções de amor como essa e a crítica social de obras como "Mama África" e "Respeitem meus cabelos, brancos".

Pouco depois do grande sucesso de "À primeira vista", também gravada pelo autor, freqüentou as rádios uma outra canção romântica chamada "Pétala por pétala". Na primeira vez que ouvi a música, cheguei a pensar que se tratava de Caetano Veloso. O timbre da voz de Chico César é, por vezes, muito parecido com o do cantor e compositor baiano. Nesta canção, além da voz, algumas construções melódicas e trechos da letra parecem muito inspirados pela obra também romântica de Caetano.



A parte final da canção - que começa com "Pétala por pétala/ Que um tolo pode colher/ Sem saber que é amor" - constrói um caminho melódico e harmônico extraordinário, em um crescendo que sugere a inquietação em não se saber se é amor o que se está sentindo, a ansiedade na busca pelo ser amado, o sofrimento por sua ausência, desaguandando serenamente na confirmação do sentimento e na súplica por sua presença, no singelo arremate "vem".

Não é de Caetano, mas ele assinaria.


"Pétala por pétala"

Chico César

A sua falta me fez ver
O que de mau a vida pode ter
E a sua volta me dá mais
De todo o mel que eu ousaria querer

Sua presença me faz rir
Nos dias feitos pra chover
Nao há revolta pra sentir
Nem há milagre pra não crer

Vinda que finda
A tinta de pintar tristeza
E deixa os mistérios plenos de sentido
A flor da vida toda

Pétala por pétala
Que um tolo pode colher
Sem saber que é amor

Vem e aumenta em mim
O único que sou
E subtrai do que em mim passou
É amor, vem...

Monday, October 06, 2008

Para gostar de ler - Esta história


Há alguns meses, quando foi realizada a mais recente edição da Festa Literária de Paraty, a Flip, deparei-me com essa obra na Livraria Cultura. Expostos, alguns livros cujos autores estavam em Paraty, para o evento. Entre eles, "Esta história", do italiano Alessandro Baricco.

Eu já havia lido algumas resenhas de livros desse autor de 50 anos, mais conhecido pelo romance "Seda", que também estava na mesa "promocional" da livraria, naquela tarde. No entanto, não havia hipótese de meus olhos não serem magnetizados pela capa de "Esta história", mostrando uma miniatura de um carro de corrida antigo, com piloto a bordo, de capacete e luvas.

De cara, achei o título do livro risivelmente pobre. Ora, "Esta história"... Qualquer livro poderia assim chamar-se. E, depois de lido, persistiu a impressão: de tudo, a pior coisa do livro é justamente seu título. Baricco, nas notas finais, expõe-se com transparência - não transita no mundo da velocidade, pouco parece saber sobre corridas, equipes e pilotos. O que não o impediu de escrever um romance complexo, envolvente e, sobretudo, muito bem escrito, que tem no automobilismo apenas seu pano de fundo.

O livro tem uma estrutura heterodoxa. Cinco longos capítulos, mais uma introdução, aqui chamada de "Ouverture", e um epílogo. Cada um desses trechos é escrito sob a ótica de um eu-narrador diferente. Personagens que vivenciam fases da vida do protagonista, o italiano Ultimo Parri, cuja existência foi marcada, desde sempre, por carros, corridas e circuitos.



A introdução narra uma famosa corrida disputada no início do século passado, em 1903, entre Paris e Madri. Narração algo desconexa, sobreposição de imagens não necessariamente lineares, com o nítido objetivo de criar a sensação de velocidade e vertigem, como se o leitor de tornasse um espectador à beira da estrada, nas precárias condições em que as provas pioneiras eram disputadas.

Nos capítulos seguintes, a história propriamente dita se desenrola, com a infância do protagonista, a decisão de seu pai de vender as vacas leiteiras da família para montar uma oficina - em um lugar onde não havia estradas, muito menos carros. Em um segundo momento, o narrador passa a ser o pai de um colega de Ultimo, morto na Primeira Guerra. É naquele ambiente limite, o front de guerra, descrito pelo pai enlutado, que o protagonista consolida seu sonho de construir uma pista de corrida.

O sonho se realiza algumas décadas depois, quando Ultimo, tornado rico graças a uma inesperada herança, compra uma velha pista de pouso na Inglaterra e ali constrói seu improvável autódromo. Antes de chegar lá, no entanto, envolve-se com a exilada russa Elizaveta, que acaba se tornando o principal fio condutor da narrativa, e a própria conclusão da história, ao empreender anos de sua vida - e páginas da obra - para encontrar a pista de seu antigo amor.

Quem é tarado por corrida, que saiba desde já: não é um livro sobre automobilismo. É um livro diferente, com uma estrutura complexa, com narrativas se sucedendo sem uma lógica linear. Imerso em conceitos do automobilismo, "Esta história" é um livro quase existencialista. A riqueza do texto e a habilidade do autor em lidar com visões tão díspares de uma mesma história valem a leitura.

Wednesday, October 01, 2008

Kimi Capitu


Nesses dias de centenário de Machado de Assis, "Dom Casmurro" na cabeça. O cerne dessa obra machadiana - afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho? - bem que poderia fazer eco na Fórmula 1.

(Lá vai a Alessandra e suas viagens...)

Capitu é descrita como tendo um "olhar de cigana oblíqua e dissimulada".

Pois às vezes me pergunto se Kimi Raikkonen não está sendo mais dissimulado do que a própria Capitu de Machado. Ora, vejamos.

Kimi não tem feito uma temporada excepcional, mas só deixou de ter chances ao título na última corrida.

Seguidamente, tem feito a melhor volta das provas, mostrando que não desaprendeu para que serve o pedal da direita. Como se dissesse, a toda corrida: "Vejam, quando eu quero, eu acelero."

Aqui e acolá, pipocam referências à ajuda que Kimi pode dar a Massa, para a conquista do título.

Ora, que ajuda Kimi pode dar, se está sempre largando atrás de Massa, se não tem brigado por vitórias desde a Bélgica, se levanta dúvidas quanto a ser um segundo piloto menos eficiente que Heikki Kovalainen?

Será que Kimi quer bancar o segundo piloto? Será que ele não está, como se diz na linguagem futebolística, fazendo corpo mole?



Pela expressão de seu rosto, jamais saberemos. Esse parece ser cria legítima de Capitu. Haja dissimulação.

Não é, mas parece (2)


Seguindo a série de posts sobre músicas que não são de um artista, mas poderiam ser, selecionei uma que é tão óbvia, mas tão óbvia, que o próprio artista "original" percebeu a referência, foi lá e gravou a canção.

A música é "Resposta", parceria entre Samuel Rosa, vocalista do Skank, e Nando Reis.

É até engraçado que dois compositores tão ligados ao rock, com influências tão perceptíveis de artistas mais hardcore, tenham produzido juntos algo com tanta cara do "Clube da Esquina".

O Skank lançou "Resposta" em 1998, no CD Siderado. A música foi um dos maiores sucessos do disco, assim como "Saideira". Conta Milton Nascimento que, certa vez, ouviu "Resposta" no rádio e ficou embasbacado. "Era como seu eu tivesse composto aquilo, naqueles tempos do 'Clube da Esquina', com Lô Borges, por exemplo", disse o falso mineiro.



A própria referência de Milton é auto-referente! No disco Anima, de 1982, Milton gravou "Certas Canções", que começa assim: "Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim que perguntar carece como não fui eu que fiz." Esta "Certas Canções", como tantas outras escritas por Milton, tinha sido idealizada para a voz de Elis Regina, que morreu no começo daquele ano de 1982. Milton habitualmente se refere a Elis, que era "só" intérprete, como co-autora das músicas que gravava, pois sua interpretação conferia tanta personalidade à música que era como se ela mesma as tivesse composto.

Cerca de dois anos depois da gravação de "Resposta", pelo Skank, Milton foi participar ao vivo do programa "Domingão do Faustão", na TV Globo. Perguntando sobre o começo da carreira de Milton, o apresentador se interessou pelo fato de que ele tinha sido crooner de orquestra, e pediu para o cantor/compositor lembrar algumas músicas que costumava cantar "nos bailes da vida". Ao deixar o palco, Milton tinha seu CD seguinte todo na cabeça - faria um CD apenas com músicas de outros compositores, revivendo um pouco seu ofício de vocalista de banda.

Foi assim que ele gravou "Resposta", e como a referência a Lô Borges havia se cristalizado desde o começo, chamou o amigo para dividir os vocais. Alguns meses depois, durante a entrega de um prêmio, reuniram-se no palco Milton, Lô, Samuel Rosa e Nando Reis para cantar "Resposta".

A ligação mais direta da canção com o universo "Clube da Esquina" talvez esteja no próprio Samuel, que é mineiro e, apesar de roqueiro arretado, não deixa de transparecer muita influência tropeira, cigana (by PAS), contemplativa em algumas de suas canções, especialmente nas baladas. A letra, ao que parece, foi composta por Nando Reis, que acrecenta pitadas daquele existencialismo meio hermético que o leva a criar achados como "desfaz o vento o que há por dentro, deste lugar que ninguém mais pisou". Frases lindas, poéticas, bem sujeitas a interpretações múltiplas - o que será que isso quer dizer? Diga você! É como tentar decifrar o que é "O segundo sol", outra de suas criações. Pode ter algum sentido original, mas também pode se prestar à sua própria interpretação.

Resposta
Samuel Rosa / Nando Reis

Bem mais que o tempo
Que nós perdemos
Ficou prá trás
Também o que nos juntou...

Ainda lembro
Que eu estava lendo
Só prá saber
O que você achou
Dos versos que eu fiz
E ainda espero
Resposta...

Desfaz o vento
O que há por dentro
Desse lugar
Que ninguém mais pisou...

Você está vendo
O que está acontecendo
Nesse caderno
Sei que ainda estão...

Os versos seus
Tão meus que peço
Nos versos meus
Tão seus que esperem
Que os aceite...

Em paz eu digo que eu sou
O antídoto do que vai adiante
Sem mais eu fico onde estou
Prefiro continuar distante...