
Enquanto tomava um café forte e amargo às 2h, pensava que o GP da Austrália seria animado. Não precisa ser Mãe Diná para cravar tal palpite. Melbourne é quase garantia de confusão, faça chuva ou faça sol. Em 2008, só seis carros terminaram a corrida. Em 2009, sensível melhora: onze sobreviventes. Quando cheguei à rádio e soube que estava chovendo em Albert Park, bingo! Vamos nos preparar para o espetáculo.
Foi só café, forte e sem açúcar. Nada de energético, nem outras extravagâncias. Eu estava realmente ligadona na transmissão, mas agora concluo que a cafeína talvez tenha sido menos responsável que a abstinência. Eu estava mesmo era com saudade de transmitir Fórmula 1, e ainda bem que a volta não aconteceu no Bahrein, que poderia muito bem mudar de nome para Borein, de tão bored (enfadonho) que tem sido.
Antes da largada, os tradicionais palpites. Meus colegas foram quase todos de Sebastian Vettel. Eu, na contramão, apostei em Fernando Alonso. Desde a véspera, após o treino classificatório, achei que o espanhol estava na base do bebe-quieto. Em terceiro, atrás das duas Red Bull, parecia à espreita de que algo desse errado com os carros de Vettel e Webber, esperando outra vitória herdada. Todos, os colegas e eu, apostávamos na lógica. Ninguém de nós depositou fichas em Jenson Button e, tenho certeza de que, se algum de nós pensasse em McLaren, pensaria antes em Hamilton, apesar de sua 11ª posição no grid. Button foi do "zero" para o "hero" e quase de volta para o "zero" no intervalo de um ano. Era zebra.
E a lógica pró-Red Bull manteve-se, enquanto meu palpite batia asas na primeira curva, com a rodada de Alonso. Uma imagem onboard do carro de Button mostrou que ele tocou no espanhol. Fernando levou Schumacher de embrulho, ficou na contramão, caiu para a última posição, enquanto o companheiro Felipe Massa fazia uma largada corajosa, irrepreensível, ganhando três posições e pulando para o segundo lugar, com Vettel disparado na frente.
O tempo secando, o trilho começando a se formar e o atual campeão parte para a ousadia. Coloca pneus para tempo seco antes de todo mundo. Parecia cedo demais. Na primeira patinada, Button ouviu gracejos aqui e ali, como se referendasse a impressão que muitos tiveram dele em 2009 - só foi campeão porque tinha um foguete na mão. Mas o inglês estava certo. Logo, todos seguiram o chefe e pararam para trocar suas borrachas.
Ali, Button projetou sua vitória, e a consolidou volta após volta, graças a uma característica sua que, para muitos, é anti-espetáculo. Button sabe poupar o carro, não o faz beber demais (o que é até inesperado, sendo filho de quem é), nem castiga os pneus. Resultado de uma corrida limpa, segura, um papai-e-mamãe rotineiro. Seu McLaren estava pronto para outra ao fim da prova, enquanto o companheiro Hamilton, homem show por excelência, admitia pelo rádio - "Meus pneus acabaram".
É claro que o GP da Austrália de 2010, que terminou com onze heróis da resistência, tornou-se mais divertido pelos erros, quebras e incidentes diversos que povoaram a corrida praticamente durante todo o tempo. O espalha de Alonso na largada permitiu que ele e Schumacher fizessem a tal prova de recuperação, empreendendo ultrapassagens a granel (na comparação com o Bahrein, bota granel nisso). E mais Hamilton, o maníaco do dia, pilotando como um náufrago em busca de água doce. A manobra infeliz de Alonso, mais o acidente entre Kobayashi e Hulkenberg, embaralhou as cartas, jogando para trás dos pequenos muitos dos carros rápidos do grid.
Foi depois dessa ordem desconstruída que lancei a questão pelo rádio e pelo twitter: Melbourne 2010 foi uma corrida empolgante em função da pista ou por causa da chuva? Convido os leitores a responder. E dou minha opinião.
Primeiro, breve análise da pista. Melbourne fica em um parque. É, por assim dizer, uma pista adaptada, sem as enormes áreas de escape que predominam nos circuitos ditos "modernos". Muro perto, qualquer deslize é fria. Acidente, safety car, cartas embaralhadas. Melbourne é osso duro de roer, mesmo seco. Em 2008, lembremos, só seis carros terminaram, e no seco. É uma pista rápida, com vários pontos de ultrapassagem. Last, but not least, tem ondulações no asfalto, fator que sempre pode afetar a estabilidade do carro e, com aquele muro ali do lado, vixe!
Agora, a chuva. Pista molhada é problema. Para quem não sabe correr nela. É momento ideal de separar homens de meninos, destemidos de bundões. Mas certamente vamos nos lembrar de corridas disputadas com chuva que, ainda assim, não foram o deus nos acuda que poderíamos desejar. Itália, 2008, por exemplo, com a primeira vitória de Vettel. Piso úmido todo o tempo, mas nada espetacular em termos de emoção. Em compensação, só para ficar na mesma temporada, Mônaco 2008, que corridaça!
A corrida de Melbourne teve o ingrediente chuva no começo, e talvez tenha sido determinante por ter jogado para trás alguns dos carros mais rápidos do grid, criando a condição ideal para mais ultrapassagens. Mas é fato que a corrida continuou emocionante depois, com piso seco. Na minha opinião, a pista é ligeiramente mais determinante para aumentar a emoção em uma corrida do que o fator chuva. Mas, as duas juntas, como aconteceu no GP da Austrália, é garantia absoluta de corrida movimentada. Que dormir, o quê!!!
E você, o que pensa desta questão?