Sunday, December 30, 2007

Rita, cê senta?


Tenho reparado que você raramente sorri nas fotos. Como a da capa da Rolling Stone deste mês, que veio louvar seus sessenta anos. Está com cara de saco cheio, como, aliás, convém a qualquer rock star. Nas páginas internas, mais carrancas. Há algum tempo, estive na Fnac, da avenida Paulista, e vi a exposição de suas roupas de shows de outrora, ao lado de fotos atuais, magra como sempre, envergando criações da Rosa Chá. Em todas, prevalece a cara azeda. Sorrisos, só de deboche. Evidente deboche, como dissesse: "Clica logo, moleque, a vovó aqui tem mais o que fazer."

Não vou dizer que você ficou triste com o tempo, que sua vida é amarga, que as fotos revelam a tormenta que agita seu coração. Não vou dizer isso porque não sei se é verdade, não te conheço, e não me parece verdade. Hoje, você faz 60 anos de vida, tem 40 de carreira, teve três filhos, ganhou dinheiro e conquistou fama, já é avó e vive há mais de trinta anos com um marido-parceiro que, ao que dizem, é ótima pessoa. Tudo isso é motivo o bastante para ser feliz, mas quem sabe o que vai no coração de cada um, não é mesmo? Conheço um monte de gente que fez coisas parecidas e vive chorando pelos cantos, ganhando felicidade só em pílulas. Cada um sabe de si e eu, na boa, sei tão pouco de você.

Devo ter lido 95% do que saiu na mídia, a seu respeito, nos últimos 27 anos. Só que uma coisa é ler o que sai na imprensa, outra é conhecer o objeto da mídia. Pelas revistas e pelos jornais, li que você tentou o suicídio, que estava com leucemia, que Roberto tinha lhe dado umas porradas. Mentiras, li tantas mentiras... Talvez por isso fui me habituando a não acreditar em tudo, até que cheguei ao ponto de não acreditar em quase nada. Por isso, entendo sua prevenção e sua defesa, na forma de caretas e carrancas. Se fosse comigo, acho que eu também fugiria de repórter o quanto desse, e faria como você, só dando entrevistas por e-mail, para ter a prova do que falei de fato.

No fundo, é tudo um grande toma-lá-dá-cá. Eles caluniam, você revida. Faça isso por quarenta anos e você criará calos, lógico. Quem te vê, ao vivo, reporta uma figura habitualmente tímida, com pressa de sair da linha de tiro dos holofotes. Parece que até os fãs incomodam um pouco e nessa eu também entendo, porque tem cada figura alterada que não é brincadeira. Nos últimos tempos, comecei a pensar que você prefere mesmo o amor bandido de quem mais ataca que elogia. Afinal, você deu sinal verde para o Henrique escrever esta biografia alucinada, narrada por uma personagem fictícia que odeia você. E também parece que gostou muito da peça estrelada pela Preta Gil, na qual ela faz um travesti que te seqüestra.

Eu poderia fazer um post homenagem dizendo que você pontuou minha adolescência inteira, que me ensinou fundamentos de feminismo, não com a teoria de Simone de Beauvoir, mas com a prática de empunhar uma guitarra, compor as próprias músicas, sem se importar se aquele era um ambiente predominantemente masculino. Eu, que por acaso acabei transitando em um ambiente também tão predominantemente masculino... Poderia dizer que, por sua causa, comecei a entender que um pouco de hedonismo não tinha mal nenhum nesta vida, o que em muitos aspectos contrastava com a moral católica do colégio em que estudei a vida inteira. Além de me fazer perceber, bem antes de praticar, que mulher também gosta de sexo, que não nascemos para ser objeto, mas sujeito, que a vidinha do disse-me-disse da dondoca dependente era um atraso total. E que o ser humano ainda tinha muito o que aprender neste planeta de caos, que a prova de sua involução eram os maus tratos que ele impunha à natureza, e que tudo isso era de uma burrice atroz, porque uma hora tanta crueldade irá se voltar contra nós mesmos.

Mas fico achando que, se eu disser isso, vou parecer tão piegas, tão sem graça que você, no fundo, vai odiar. Acho que hoje você só gosta de apanhar. Parece que, ao ser confrontada pelo ódio de personagens como a Bárbara Farniente, do livro do Henrique, ou o travesti, da Preta Gil, fica mais evidente tudo o que você fez naquilo que chama de "vidinha vulgar". Sua farsante, você sabe que de vulgar sua vida não teve nada. Pode parecer agora, cercada de bichos, de mato, de neta. Mas, na real, você sabe que mudou muitas cabeças neste país tropical, que entrou para a história, que deixou sua marca para sempre.

Eles atacam, você revida, difícil saber quem começou. No fundo, é tudo um grande toma-lá-dá-cá. Eu poderia me sentir agredida com sua cara feia na capa da Rolling Stone, achar que você só debocha da minha sincera admiração. E hoje, honestamente, já não me importa se seu próximo disco vai ser bom ou meia-boca. Você ja fez muito, como artista, já me sinto agraciada por ter fruído sua arte nesses anos todos. Já não me faz diferença se o próximo disco será inspirado como "Fruto Proibido" ou sofrível como "Bombom". Eu gosto de você, admiro você e não vou entrar no toma-lá-dá-cá que permeia todo o resto. Alguém, afinal, tem que quebrar a corrente. Pode fazer cara feia ou de deboche, nem ligo.

Parabéns, Rita Lee Jones de Carvalho!

///

Logo mais, saio para a Paulista, para minha segunda São Silvestre. Prometo contar tudinho depois. Bom ano novo a todos e obrigada pela companhia neste 2007!

Tuesday, December 25, 2007

Rock Nacional - Top Ten

Se, há vinte anos, alguém me falasse que um dia eu me dedicaria a listar os dez melhores rocks nacionais de todos os tempos, eu mandaria internar o sujeito. “Rock nacional, eu, escolher os melhores?”

Naqueles tempos, os perdidos anos 1980, eu desprezava totalmente o rock brasileiro. Era o período em que eu me dedicava a escrever cartas para o extinto “Programa do Zuza”, da Rádio Jovem Pan. E os grupos nacionais de rock eram meu alvo preferencial.

Quem lê este blog há algum tempo deve estar confuso. “Mas essa mulher não adora Rita Lee, Mutantes, The Beatles, The Police, U2 etc.???” Ah, mas como já diria Rimbaud, “não se é sério quando se tem dezessete anos”, e eu preferia mesmo ser essa metamorfose ambulante. Já adorava todos esses, mas abominava Blitz, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor e bandas menos renomadas que surgiram naquele tempo e, afinal, acabaram mesmo merecendo o limbo, como Rádio Táxi, Erva Doce, Sempre Livre e outros.



Duas bandas começaram a minar minha resistência ainda naquela época – Titãs e Legião Urbana. Segui gostando cada vez mais de Titãs, e recuando tanto quanto no apreço ao Legião. Muitos anos depois, já adulta, comecei a prestar mais atenção à produção daquela época, talvez influenciada pela aceitação que nomes como Cazuza, Nando Reis, Arnaldo Antunes e Herbert Viana passaram a ter no “alto escalão” da música brasileira. Confesso, algo constrangida: com a chancela dos medalhões, eu passei a ver aqueles roqueiros com outros ouvidos.

E comecei a gostar cada vez mais da produção que essas bandas fizeram ainda em seus primeiros anos. Até que, há algumas semanas, ocorreu-me propor uma eleição dos dez melhores rocks brasileiros de todos os tempos, talvez um armistício definitivo entre mim e o gênero, e um pedido de desculpas por tantos impropérios na época do Zuza.

O post demorou por dois motivos – falta de tempo e dificuldade em chegar aos Top Ten. Quem diria... Eu, indecisa entre rocks nacionais. Adotei alguns critérios. A preferência é por rocks genuínos, com andamento acelerado e muito barulho. Dessa forma, ótimas canções de grupos originalmente roqueiros, mas que não fossem rocks genuínos, estariam fora. Caso, por exemplo, da excelente “Lanterna dos Afogados”, dos Paralamas, ou de “Cegos do castelo”, dos Titãs. Outro critério: ser cantada em português, o que de cara tirou uma das minhas preferidas dos Mutantes – Technicolor.

Nos casos de alguns artistas e bandas, a produção é tão grande e representativa que tive de fazer a seleção na base da eliminatória. Selecionei três ou quatro de cada para chegar à escolhida. Ainda assim, há na seleção músicas que são praticamente as únicas memoráveis de alguns grupos, o que não inviabilizou sua presença entre as Dez Mais.

Vejam nos posts abaixo as minhas escolhidas, em ordem cronológica, estando todos convidados a opinar, concordar, discordar, acrescentar. Os comentários se concentram neste post de abertura, OK? Aqui, vocês sabem, impera a democracia.

Rock Nacional - Top Ten (2)

Ando meio desligado – versão original com Mutantes (1970)

A relação com o universo viajandão é evidente na primeira estrofe – “Ando meio desligado, eu nem sinto, meus pés no chão...” – mas no fundo se trata de uma canção de amor – “eu nem vejo a hora de lhe dizer aquilo tudo que eu decorei, e depois do beijo que eu já sonhei...”. Lançada no disco “A divina comédia”, que tinha o subtítulo justamente de “Ando meio desligado”, a música é uma composição creditada ao trio Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sergio Dias, como a maioria das composições dos Mutantes, mas consta que a letra foi escrita apenas por Rita Lee. É fato que ela incorporou a criação a seus shows solo, o que mostra uma relação próxima dela com essa música. Na minha seleção prévia de Mutantes, “Ando meio desligado” venceu “Top Top” e “Cabeludo Patriota”. A dúvida final, entre a vencedora e “Top Top”, foi grande. “Top Top” tem atributos geniais, como os versos “vou trepar na escada, pra pintar seu nome no céu”, um arranjo riquíssimo, mas a interpretação de Rita, em um agudo infantil estridente, me irrita levemente nessa música.

Al Capone – versão original com Raul Seixas (1973)

Raul é 100% rock, mesmo fazendo baião. Raul nasceu “Raulzito & Os Panteras” fazendo imitação de Elvis e enveredou por caminhos outros, chegando ao auge nos tempos da parceria com Paulo Coelho. Minha preferida, na obra de Raul, é “Gita” (“Às vezes você me pergunta porque é que eu sou tão calado...”), mas ela não entraria no critério rock genuíno que propus no início da seleção. Entre os rocks com cara de rock, Raul entregou à história pérolas como “Aluga-se”, “Como vovó já dizia” (“Quem não tem colírio usa óculos escuros...”), “Eu nasci há dez mil anos atrás” e “Sociedade Alternativa”, mas minha preferida é “Al Capone”, outra parceria de Raul e Paulo Coelho, na qual são enfileirados personagens que se estreparam de formas diversas. Além do próprio mafioso do título, estão lá Júlio César, Lampião, Jimi Hendrix e até Jesus Cristo.

Jardins da Babilônia – versão original com Rita Lee (1978)

Às vésperas de completar 60 anos, Rita continua lançando discos de inéditas aqui e ali. Está distante da produção fértil dos anos 70, começo dos 80, quando perpetrou pedras fundamentais do rock nacional, como “Esse tal de rock enrow”, “Agora só falta você” e “Dançar pra não dançar”, todas do LP Fruto Proibido, de 1975, o primeiro que gravou com a banda Tutti Frutti, nascida para lhe dar suporte em discos e shows. Foi com um dos integrantes do Tutti Frutti, o baixista Lee Marcucci, que Rita compôs aquele que considero seu melhor rock, “Jardins da Babilônia”, lançado no LP Babilônia, de 1978. Tem tiradas ótimas como “pegar fogo nunca foi atração de circo, mas de qualquer maneira pode ser um caloroso espetáculo” ou o lema “pra pedir silêncio, eu berro, pra fazer barulho, eu mesma faço”. Na gravação original, um poderoso solo de sax coroa o arranjo. Nos anos 1990, o Barão Vermelho regravou, lascando a guitarra de Frejat no lugar do sopro original. Na eliminatória, “Jardins da Babilônia” derrotou “Esse tal de rock enrow” e a menos conhecida “Filho meu”, de um CD de 1993, que tem versos inspirados como “o sol saiu, o vento é a favor, mas meu barquinho é do contra”, “a mão que afaga é da mãe que afoga” e “vivo com medo de morrer, morro de medo de viver”.

Perdidos na Selva – versão original com Gang 90 & As absurdettes (1981)

Júlio Barroso foi uma espécie de Arnaldo Baptista do seu tempo, com a diferença que o salto para a morte do segundo alcançou o objetivo, enquanto o Mutante sobreviveu. Um dos compositores de cabeça mais fervilhante dos anos 1980, Júlio foi parceiro de gente como Lobão e Ritchie. “Perdidos na selva” foi classificada no Festival MPB-Shell, de 1981, realizado pela Rede Globo, sendo assim uma espécie de preâmbulo do rock brasileiro que iria dominar as paradas a partir do ano seguinte. Nascido no Rio, radicado por algum tempo nos Estados Unidos, Julio acabou fixando residência em São Paulo, onde morreu prematuramente, em 1984, depois de cair da janela de seu apartamento, em um episódio que nunca ficou esclarecido, se suicídio ou acidente. O grupo liderado por ele, a Gang 90, naturalmente teve carreira curtíssima, mas rendeu este rock fundamental na história da música brasileira. Curiosamente, entre os parceiros de Julio Barroso nesta música, surgem o desconhecido Márcio Vaccari e o improvável Guilherme Arantes, aquele mesmo de “Meu mundo e nada mais”, “Planeta Água” e outras baladas bem distantes do rock.

Inútil – versão original com Ultraje a rigor (1985)

Liderado pelo paulistaníssimo Roger Moreira, o Ultraje a rigor foi uma banda que emplacou vários sucessos nos anos 80. Suas músicas são de uma simplicidade quase embaraçosa e consta que os componentes da banda não eram exatamente gênios em seus instrumentos. Uma lenda permeia a história do Ultraje. Dizem que os rapazes erravam tanto, durante as gravações, que o próprio Roger brincava: “Vamos tentar mais uma vez, senão chamo o pessoal do Roupa Nova”. Este, por sua vez, era um grupo formado por músico ultra-experientes, que faziam uma musiquinha comercial mas bem agradável aos ouvidos, embora eventualmente proibida para diabéticos. De qualquer forma, não há nada mais rock´n ´roll do que músicos meia-boca que se aventuram para além da garagem. Era o caso do Ultraje, que aproveitou o momento de abertura política para detonar na crítica social em suas letras. “Inútil” foi o ápice dessa verve mordaz, mas o grupo fez outras músicas de enorme sucesso, como “Ciúme”, “Marylou”, “Nós vamos invadir sua praia”, “Zoraide”. De autoria do próprio Roger, Inútil tem versos atemporais como: “A gente não sabemos escolher presidente, a gente não sabemos tomar conta da gente, a gente não sabemos nem escovar os dente tem gringo pensando que nóis é indigente...”.

Rock Nacional - Top Ten (3)

Tempo perdido – Legião Urbana (1986)

Tenho uma relação confusa com Legião Urbana. Foi uma das primeiras bandas de rock que me cativaram, ao lado dos Titãs, mas fui perdendo progressivamente o interesse por eles. Seus primeiros discos, até o final dos anos 1980, ainda soam vigorosos para mim, mas o que veio depois disso me parece menos criativo e muito depressivo. A morte de Renato Russo, em conseqüência da Aids, em 1996, pôs a fim ao grupo. A escolha por “Tempo perdido” é outra opção afetiva. A música faz parte do disco “Dois”, o segundo do grupo, lançado em 1986, e foi a música escolhida pela minha turma, no terceiro colegial, para a formatura. Tudo a ver: “temos todo o tempo do mundo...”, “somos tão jovens, tão jovens...”. Na eliminatória, “Tempo perdido”, de autoria apenas de Renato Russo, venceu “Há tempos” e “Meninos e Meninas”, ambas parcerias de Russo com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, do disco “As Quatro Estações”.

Homem Primata – versão original com Titãs (1986)

Talvez a escolha mais difícil de toda a lista. A produção de rock dos Titãs é tão grande e tão significativa que a dificuldade começou em escolher três para chegar a uma. Em praticamente todas as fases de sua carreira, os Titãs gravaram rocks importantíssimos para a história da música brasileira, seja pelo vigor da execução ou pelo teor das letras, revelando subversão de valores, rebeldia, experimentalismo, enfim, uma atitude totalmente rock´n´roll. Como escolher o melhor rock dos Titãs quando o cardápio oferece coisas como “Televisão”, “”AA UU”, “Polícia”, “Lugar nenhum”, “Flores”, “Bichos Escrotos”? A opção por “Homem Primata” acabou sendo, digamos, afetiva. Foi a primeira música dos Titãs que me cativou. Presente no expressivo álbum “Cabeça Dinossauro”, a música pinta um retrato cru da involução da espécie humana. “Desde os primórdios até hoje em dia, o homem ainda faz o que o macaco fazia, eu não trabalhava, eu não sabia, o homem criava e também destruía...”.

Simca Chambord – versão original com Camisa de Vênus (1986)

Liderado pelo baiano Marcelo Nova, o Camisa de Vênus tinha uma atitude transgressora a começar pelo nome. Foram expulsos da gravadora Som Livre por se recusarem a mudar o nome da banda para algo menos “constrangedor”. Marcelo Nova, o Marceleza, principal mentor do grupo, depois virou parceiro de Raul Seixas, ratificando sua vocação para maluco beleza de carteirinha. Um dos maiores sucessos do Camisa foi “Simca Chambord”, música que aparentemente fala sobre um carro, mas que tem muito mais em sua letra. Fala, no fundo, de uma juventude que floresceu sob o domínio da ditadura militar. Trechos: “O presidente João Goulart um dia falou na TV, que a gente ia ter muita grana para fazer o que bem entender, eu vi um futuro melhor no painel do meu Simca Chambord” ou ainda “Mas eis que de repente, foi dado um alerta, Ninguém saía de casa e as ruas ficaram desertas, Eu me senti tão só, dentro do Simca Chambord, Tudo isso aconteceu há mais de vinte anos, Vieram jipes e tanques que mudaram os nossos planos, Eles fizeram pior, Acabaram com o Simca Chambord.” O Camisa fez outros rocks de sucesso, como “Beth morreu” e “Eu não matei Joana D´Arc”, mas nenhum tão emblemático quanto “Simca Chmabord”.

Vida louca vida – versão original com Lobão (1987)

Talvez a gravação mais conhecida desta música seja com Cazuza, ao vivo. Já doente e começando o processo irreversível que o levou à morte, Cazuza parecia cantar a própria vida quando dizia “vida louca, vida, vida breve, se eu não posso te levar, quero que você me leve”. Era tanta a afinidade com o momento da sua própria vida, que se tornava estranho saber que a composição não fosse dele, mas de Lobão e Bernardo Vilhena. Cazuza carregou na dramaticidade ao interpretar esse rock rasgado, gravado pelo autor em versão totalmente rock´n´roll, com a bateria em destaque, tocada com mão pesada, uma paulada no ouvido. A música parece antecipar o cenário das celebridades instantâneas, que se tornariam os efêmeros personagens da mídia em tempos pós-Big Brother. “Se ninguém olha quando você passa, você logo acha ‘eu tô carente, sou manchete popular’, Tô cansado de tanta babaquice, tanta caretice, dessa eterna falta do que falar”. Entre as escolhidas de Lobão, “Vida louca vida” derrotou “Rádio Blá” e “Corações Psicodélicos”.

O tempo não pára – versão original com Cazuza (1988)

Gravada ao vivo no mesmo show que tem “Vida louca vida”, “O tempo não pára” é, este sim, um rock autobiográfico, com Cazuza declarando sua angústia diante da vida, da eminência da morte mas, sobretudo, reafirmando sua vontade de continuar vivendo. O forte teor existencialista inspirou frases como “Eu sou um cara cansado de correr na direção contrária, sem pódio de chegada ou beijo de namorada”, mas também liberou achados de crítica social como “Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro, transformam um país inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro”, retrato exato do Brasil pós-ditadura, tempos de vale tudo e, de certa forma, visão profética dos anos do neoliberalismo que estavam por vir. A música é uma parceria de Cazuza com Arnaldo Brandão. Na eliminatória, chegou a se alinhar junto com “Exagerado” e “O nosso amor a gente inventa”, mas as duas, juntas, não deram nem pra saída. Se fosse uma eleição das melhores músicas de Cazuza, não dos melhores rocks, outras entrariam fortes na parada, como “Codinome Beija-flor”, “Brasil”, “Faz parte do meu show”, “Toda amor que houver nessa vida”, mas, entre os rocks de Cazuza, “O tempo não pára” reina absoluto.

Friday, December 21, 2007

So, this is Christmas...


.
"Malandro é quem estuda, porque entra em férias antes..."

Meu pai repetia esta frase todos os anos, primeiro para mim e depois para meu irmão, dois alunos exemplares que sempre fechavam as notas no terceiro bimestre. Eu, graças à obstinação da CDF de carteirinha que sempre fui. Meu irmão, pela inteligência privilegiada que o fazia responder, com um dar de ombros, às indagações da minha mãe sobre a prova do dia seguinte. "Ah, mãe, é de Matemática...".

Pois então, começo de dezembro, era sempre férias para nós. Os "malandros" se desobrigavam da escola mais cedo e eu me dedicava quase que exclusivamente a curtir a espera pelo Natal. Fazia meus próprios cartões, com cartolina e papel cartão colorido, e enviava para as amigas do colégio de freiras.

Em tempos pré-quinquilharias da China diretamente da rua 25 de março, os enfeites de Natal eram mais simples e, a cada ano, inventávamos produções caseiras, como uma árvore de Natal estilizada para enfeitar a mesa, feita sobre um cone de isopor, coberta com macarrão (parafuso, caracol, etc.) e pintada com spray dourado. O quartinho/ateliê da minha avó ficava a mil nessa época e eu adorava zanzar por lá, ajudando na criação de peças que, em grande parte, eram copiadas da edição especial de Natal da revista Claudia.

O Natal começava para mim quando eu entrava em férias e ia permeando os dias e os sentidos aos poucos. A visão das primeiras luzinhas piscando na decoração das grandes lojas, a trilha sonora natalina que ia, de mansinho, chegando aos ouvidos, o toque das bolas de Natal, tão frágeis e lindas, ou do algodão salpicado, fingindo-se de neve, o cheiro do pinheiro recém-comprado, que se tornava seco e fedorento até o fim do mês, e o sabor, o gosto de Natal que, para mim, se instalava ao estalar na boca das primeiras uvas Niagara que meu pai trazia da feira. Os sabores se multiplicariam fartamente, com a chegada do panetone, das rabanadas da minha avó, do figo seco, das nozes. Ainda acho estranhíssimo entrar em um supermercado no final de outubro e dar de cara com uma pilha de panetones. Naquele tempo, panetone era coisa de dezembro, final de novembro, no máximo.

Durante muitos anos, segui à risca um mesmo ritual. Na tarde do dia 24 de dezembro, colocava no toca-discos "O Natal do Tio Patinhas", compacto da coleção Disney, publicada pela Editora Abril, nos anos 70. Nela, o velho avarento é visitado pelos espíritos do Natal do passado, do presente e do futuro. A audição do velho disquinho era o prelúdio da grande noite. Nessa altura, era como se toda a preparação de dezembro chegasse ao gran finale, uma festa familiar com muitos presentes, uma quantidade absurda de comida, muitas e altas vozes ao mesmo tempo, risos, abraços, e choro.

Acho que deixei de ser malandra, porque não consigo mais entrar em férias no começo de dezembro. Roda viva, trabalho infindo, e hoje saio no dia 21 de dezembro para comprar meus presentes. Cartões de Natal, só os virtuais, pelo e-mail, um ou outro telefonema, recados pelo messenger.

Não quer dizer que eu não goste mais de Natal, só que a vida mudou.

Não quer dizer que a vida, por ter mudado, não comporte mais mensagens de felicidades, votos de um bom ano novo, pensamentos de paz e harmonia para os tempos que virão. Se um dos ícones da rebeldia do século 20, John Lennon, juntou-se candidamente à sua Yoko e a um coro infantil para emanar boas vibrações desse tipo, por que não eu?

Então, é Natal. Desejo a todos os amigos deste blog um excelente Natal!

Não tiro férias por enquanto. Ainda tenho uma São Silvestre para encarar, e alguns assuntos para dividir! Fiquem comigo, e sejam felizes!

Wednesday, December 19, 2007

Fórmula 1, Ano 2

.
Está no ar minha última coluna de 2007 no GPTotal. Em análise, o vácuo deixado por Michael Schumacher na Fórmula 1. Vai lá, vai...

Sunday, December 16, 2007

49:00

.
Hoje, fiz minha última corrida “pra valer” em 2007. A última, de verdade, será a São Silvestre, mas esta não conta, porque vai ser mais confraternização que performance.

Circuito das Estações, Corrida do Verão, o mesmo circuito, quatro vezes em um ano. Largamos e voltamos ao Estádio do Pacaembu, fazendo a maior parte da prova em cima do Elevado Costa e Silva, o famigerado Minhocão. A meta era fazer abaixo dos 50 minutos, tempo que tenho perseguido há alguns meses. “Será que hoje dá?”. Saí de casa com a incerteza rondando o pensamento.



Cheguei à Praça Charles Miller e logo encontrei o mestre Zé Eduardo, nosso técnico, e o colega Zoca. Um pouco mais à frente, o nipônico Henry, o homem que não transpira. Dentro do estádio, que está em reforma, já nos esperavam outros membros da equipe. Nilton, Lara, Adalberto. O clima estava perfeito. Sem sol, não muito abafado. Comecei a achar que ia dar.

Pouco antes de voltar à praça, de onde partiríamos ao som da sempre bem-vinda “Where the streets have no name”, do U2, encontramos o outro Henry, que também é japonês. (E este é o terceiro Henry nissei que conheço!) Henry, o segundo, é de outra categoria. A exemplo do Zé, é triatleta, um esportista de alto nível. Olhou para mim e perguntou, quase em tom de ordem: “Vamos correr abaixo dos 50, hoje?”

Comecei a confiar que, sim, hoje ia dar. Na sexta-feira, Zé tinha me dado duas estratégias para avaliar. Deliberamos brevemente sobre as duas e me propus a acompanhar o japonês, aumentando progressivamente o ritmo. Zé deu aval, largamos muito mais forte do que eu tinha feito até então. Tanto que passamos o primeiro quilômetro abaixo dos cinco minutos! Entre o segundo e o terceiro quilômetros, a maior subida da prova. O ritmo caiu brevemente, mas logo retomamos a aceleração, já em cima do Minhocão.

Depois de ter conferido o cronômetro algumas dezenas de vezes, antes de chegar ao quilômetro três, o companheiro alertou. “Pára de olhar o relógio, eu controlo o tempo”, como se eu nunca tivesse ouvido isso do Zé antes. Essa minha teimosia... Como me conheço o suficiente para saber que a sugestão/ordem seria pouco para deter minha ansiedade, mexi nos botões do relógio e mudei do cronômetro para o modo freqüencímetro, que mede a freqüência cardíaca. E tome aceleração.

177, 178, 179... Era meu coração no Elevado. Bem elevado. Quando o aparelho marcava 181 batidas por minuto, eu fazia um gesto e o japonês diminuía o ritmo. Ofegante, extenuada, com os bofes de fora. “Não fala, não gasta energia à toa.” Obedeci. Na virada dos 5 quilômetros, metade da prova, Henry disse apenas: “Vinte e quatro”. 24 minutos. Estávamos fortes. Mantendo, chegaríamos com folga abaixo dos 50.

Mas o Minhocão, aquele monstrengo arquitetônico, é um sobe-e-desce desgramado. No quilômetro seis, achei que eu ia quebrar. “Vai, Henry, não vou conseguir te acompanhar, pode ir no seu ritmo.” O japonês tinha tomado o desafio para si. Eu ia fazer aquela prova abaixo de 50, ele não ia desistir. Não foi, e se pôs a me estimular continuamente. “Não são suas pernas que querem te derrubar, é sua cabeça, vambora!”

Do quilômetro sete até o oito, a generosidade de uma boa descida. Em vez de apenas soltar os músculos, aquecidos que estávamos, conseguimos aumentar o ritmo e ganhar um pouco de tempo. Voltar à avenida Pacaembu é um misto de sentimentos. Ao mesmo tempo, parece tão próximo o final, e tão sem fim aquela reta. E a armadilha da Charles Miller já estava desarmada, pela experiência de outras três provas disputadas no mesmo circuito este ano. Quem passa de carro não diz, mas aquela pracinha sobe até chegar ao estádio, viu?

Faltando um quilômetro e meio, Henry continuava no papel de meu grilo falante, gritando palavras de ordem que não me deixavam esmorecer, apesar de minhas pernas quase gritarem. Em dado momento, como ele quase me proibisse de continuar olhando no relógio, apertei os botões mais uma vez e deixei apenas no relógio. Eram 8h45. “Milan x Boca já começou”, lembro de ter pensado. E logo afastei o pensamento, porque tudo o que não se quer, em uma corrida, é perder o foco.

Já avistávamos o estádio quando rompi a mordaça. “Para sprint não vai dar, não consigo acelerar mais”, disse em um fôlego só. Henry concordou. “Na boa, vamos assim que vai dar.”

Nos banners pendurados nos postes, contagem regressiva.

800 metros... “Faltam só duas voltas” – a velha herança de treinar em pista de atletismo de 400 metros.

500 metros... “Quem chegou até aqui acelera só mais um pouco...” – a cartada final para me forçar o sprint.

300 metros... “Vai, Alê, passa na minha frente, vou controlar o tempo aqui atrás...” – o cavalheirismo de me deixar chegar antes.

200 metros... “Alê, já deu, você tem dois minutos para terminar, já era!” – sabendo que dali para a frente eu não iria aliviar mesmo.

100 metros... Já não escuto a voz do Henry, mas o som alto e o locutor animado. “A turma dos 50 minutos vem chegando”. Uma olhadela rápida no relógio. 48 e uns quebrados. Fecho os olhos, abro os braços para baixo, minha oração de sprint final. Cruzo o tapete, cesso o cronômetro. 49:00

///

Foi meu melhor tempo no ano, expressivamente melhor que a última prova de 10 km, quando fiz 51:30, mas também muito melhor que a anterior no mesmo circuito, a prova da Primavera, que fechei em 50:30.



As pernas são minhas e o suor, também. A medalha que ganhei é minha, eu sei. Mas conquistar esta marca – que não é a coisa mais importante do mundo, mas é a minha melhor marca, ora, bolas! – foi resultado de um ano de treino sob a orientação de José Eduardo Pompeo. Meu técnico, meu mestre jedi, meu puxão de orelha, que passou o ano inteiro dizendo a mesma coisa para o cabeção aqui. “Tudo tem seu tempo.” Hoje, Zé completou a frase. “O seu tempo chegou.” A medalha é minha, a responsabilidade é do Zé. E a escolta do Henry, meu grilo falante, um grande cara. Valeu, japonês!

Monday, December 10, 2007

The Police e nada mais



Foi um sábado e tanto aquele, a tarde inteira churrasqueando com a turma da equipe de corrida. Não tente procurar lógica nem incoerência. Somos fitness e fazemos churrasco, somos contradições ambulantes. Achei que não agüentaria acordada até o final. The Police na TV, que sono o quê. Olhos grudados na tela, do começo ao fim.

Para começo de conversa, registre-se: Stewart Copeland está velho, Andy Summers está gordo, Sting está lindo. Lindo como sempre, magro e sarado, cabelo um pouco mais ralo, nada que o despeje do Olimpo. Sempre preciso parar para lembrar como é o nome verdadeiro do cantor. Depois lembro. Ah, é Apolo...

Assisti ao show de abertura, com Paralamas do Sucesso, escolha acertadíssima. O trio brasileiro, como o inglês, nasceu da simplicidade espartana do conjunto baixo-guitarra-bateria. Não pára por aí a semelhança. Como The Police, os Paralamas caíram de boca na levada de reggae popularizada pelo trio inglês no final dos 70, começo dos 80. Bom o show do Paralamas, bom ver Herbert Viana, aquela fênix, tocando sua guitarra com a destreza de sempre.

Mas quando The Police assumiu o palco, o frisson deu lugar ao encantamento. Espartanos ingleses, baixo, guitarra, bateria. Nada de metais, de backing vocals, de passarelas que avançam pela platéia, de palcos que sobem, descem, abrem, de fogos de artifício. Sting, Copeland, Summers e um telão. Ou seja, The Police e nada mais. Para quê? O minimalismo do The Police disse tudo.



A voz de Sting pode não ser mais a mesma. Aos 55, com tudo em cima, há que perdoar a falha do famoso falsete. Mas ver Copeland correr da percussão para a bateria, como no início de "The king of pain", foi um show à parte. "Tiozão" Andy Summers nem quis brincar de sair do palco. Depois de "Every breath you take", enquanto os outros dois se refugiavam no backstage para escutar o pedido de bis, o guitarrista nem se deu ao trabalho. Lá ficou e solou, sozinho, anunciando o início de "Next to you".



Sting, que já veio ao Brasil várias vezes, inclusive por causas ambientais - lembram do cacique Raoni? - falou à platéia sempre em esforçado português. Há uns vinte anos, quando esteve por aqui e lançou uma música cantada em português ("Frágil"), Sting deu uma das melhores respostas que já vi alguém perpetrar em uma entrevista coletiva. O repórter do jornal moderninho, em sua pergunta-julgamento, comentou que o português do cantor era sofrível. Resposta de Apolo: "So is your English" ("Seu inglês também"). Toma, papudo!

Os que gostam de criticar costumam maldizer a volta de bandas em suas formações originais. Que não fazem nada de novo, que só estão aí para faturar uns trocados. Não tenho nada a ver com isso. Se já secou a fonte, toquem os velhos hits, não me importo, eu não vi nada disso ao vivo 25, 30 anos atrás. Aliás, quero mesmo os velhos hits, que sei cantar, que me povoam a memória, que me fazem lembrar de mim mesma. E se vão ganhar trocados, ora bolas, é disso que vivem, a música é deles, quem tem mais direito de dar uma faturadinha?

Wednesday, December 05, 2007

Meeeeeeeeeedo!

.
Que Bicho Papão, que nada! Qua mané Cuca! Quando eu era criança, tinha medo, verdadeiro pavor, de figuras muito, muito reais. Ou nem tanto, mas todas de carne e osso.


A onda de pânico começou em 1973, quando apareceram os Secos & Molhados. Eu me pelava de medo do Ney Matogrosso. Sim, a maquiagem no rosto era o principal, mas a atitude toda daquele homem era assustadora para mim. As roupas, cheias de coisas penduradas, o jeito como ele dançava, a maneira desafiadora de encarar a câmera. Da mesma época, era a Maria Alcina, mas essa eu só achava louquinha. Tinha uns olhões arregalados, mas o Ney me encarava. Muito recentemente, quando li a histórica entrevista feita pelo querido Pedro Alexandre Sanches, entendi que ele encarava mesmo, para desafiar. Tempos de ditadura. Foi gravar na Globo e orientaram: "Não encare a câmera." Ele desafiou, foi talvez o maior dos transgressores, parecendo mais um desbundado. Encarou e gelou minha alma. Cresci um pouquinho e gamei no Ney. Até hoje. Ninguém jamais cantará "Tanto amar" como ele.

Depois veio Raul. Cristo amado, que arrepio me causava Raulzito. A coisa se cristalizou no clip do Fantástico, com o baiano cantando "Eu nasci há dez mil anos atrás". Toscas as imagens, típicas daquele começo de TV a cores. Mas não me impressionavam os defeitos especiais, e sim a figura pálida de Raul, vestido todo de branco, com barba e longa cabeleira brancas. Não me parecia um profeta, mas a própria imagem de Deus. Parecia que vinha para acertar contas e eu, sei lá, com cinco, seis anos, não me considerava pronta para o Juízo Final.


Mais ou menos na mesma época de Nadia Comaneci, a primeira mulher que eu quis ser, surgiu na mídia o inexplicável Uri Geller. Era um paranormal que entortava garfos e colheres com a força da mente, consta. Foi a atração principal do Fantástico por várias semanas. Debates se instalaram sobre a autenticidade dos fenômenos. Os materialistas o chamando de charlatão, os esotéricos dizendo que não. Que era possível fazer qualquer coisa com a força do pensamento, parar furacões, dominar tempestadas, tirar o Corinthians da fila. Me assustava em Uri Geller o olhar fixo na colher ou no garfo, como se aquele olhar fosse capaz de me eletrocutar em segundos. Sumiu o Uri Geller. Ainda bem.

Por fim, Ary Fontoura. Este estupendo ator viveu o personagem "Professor Aristóbolo", na novela Saramandaia, de Dias Gomes. Eu não assistia à trama, que passava às 22h, pois dormíamos muito cedo. A novela foi inspirada no universo do realismo fantástico de Gabriel García Márquez, e o dito personagem virava lobisomem. Em uma determinada semana, criou-se enorme expectativa na transformação do homem em lobo. Minha avó assistia e eu sabia que a TV estaria ligada na novela, lá embaixo, enquanto eu tentava dormir, no andar de cima. Nunca vi a tal cena, mas fantasiei assustada todos os momentos de pavor. Foi, inacreditavelmente, a primeira e única vez que perdi o sono na vida!

E você, de quem tinha medo?

Sunday, December 02, 2007

Sapientíssima decisão

.
Não tenho mais dúvidas.

Minha aposentadoria veio na hora certa.

Vi só o segundo tempo do jogo, porque tinha saído, curtido o sol no clube, sem pressa para voltar. Sem sofrer, sem roer unhas, sem gritar, sem xingar.

O jogo acabou, o Corinthians caiu. Não chorei.

Definitivamente, não sou mais a mesma.