Thursday, December 24, 2009

Feliz Natal



Nem Papai Noel, nem renas. Neste blog, a imagem do Natal é sempre John+Yoko, por várias referências - a música Merry Christmas à frente.

Nestes últimos dias, acabei refletindo um pouco mais sobre o Natal. Já faz alguns anos que procuro em mim o fascínio que o Natal exercia na minha imaginação. Na infância e mesmo depois, já adolescente, eu entrava em férias no final de novembro e dedicava o mês de dezembro inteiro a curtir de fato o Natal.

Confeccionava meus próprios cartões, escrevia-os e os enviava a minhas amigas de escola, folheava a revista Claudia em busca de ideias novas para enfeites (alguém aí se lembra da árvore de macarrão feita sobre um cone de isopor, depois colorida com spray dourado?). Em alguns anos, tinha também a novena de Natal, da qual eu gostava basicamente por dois motivos - pelas músicas natalinas e porque toda reunião invariavelmete terminava com um lanche!

Tinha o LP com músicas de Natal cantadas por um coro (austríaco, eu acho). E tinha um ritual que eu sempre repetia na tarde da véspera do Natal. Um disquinho da coleção Disney chamado "O Natal do Tio Patinhas", versão da história do velho avarento que é visitado pelos espíritos do Natal passado, presente e futuro.

E depois tinha a família chegando cada um com seu prato, com sacolas cheias de bebidas em vasilhames de vidro. Confusão de mulheres na cozinha, esquentando peru, tender, farofa e um detestável arroz com champanhe que, felizmente, só era feito no Natal e que eu odiava com todas as forças, porque a iguaria chique era sempre um arroz todo empapado, e eu detesto arroz empapado.

E, já na adolescência, demos de fazer sempre uma batida de sonho de valsa que virou hit eterno dos meus Natais (hoje, vai ter. É só bater uma lata de leite condensado, a mesma medida de pinga e cinco bombons sonho de valsa.) Na versão sem álcool, é só substituir a pinga por leite, fica bom também.

À meia noite, brinde. Sempre tinha alguém que pedia guaraná para brindar com o champanhe alheio "porque estava tomando remédio". Brinde e lágrimas. Como se chorava em Natal na minha família! Oração, sobremesa, amigo secreto (nove entre dez dos convivas começava sua dissertação acerca do amigo oculto com o indefectível "é uma pessoa muito especial"). Houve um tempo em que o amigo secreto perdeu ibope, ou em tempos de grana curta, sei lá. O genérico da brincadeira era um sorteio feito na hora, e cada um entregava ao outro uma barra de chocolate como símbolo de amizade. Não era incomum o sujeito tirar um papel e devolvê-lo, alegando ter tirado a si mesmo, ainda que outro alguém já o tivesse tirado também, evidenciando que o fulano estava apenas e tão somente selecionando quem queria e, principalmente, quem não queria tirar.

No fim de tudo, o desânimo diante das sobras daquele banquete pantagruélico. Sempre me impressionei muito mal com aquelas carcaças carcomidas, com aquele resto evidenciando o desperdício. E o cansaço tomando conta de todos, e a irritação para fazer caber na geladeira aquelas sobras. Quando criança, eu nem percebia esses bastidores da grande noite. Queria mais era dormir logo, para chegar logo o dia seguinte e poder brincar com os presentes ganhos na véspera.

Pensando bem, não é tão difícil descobrir porque o Natal perde seu charme na vida adulta. E, agora, com licença, que tenho de arrumar espaço na minha geladeira!

Feliz Natal, John. Feliz Natal, Yoko. Feliz Natal!

Tuesday, December 22, 2009

Na contramão



A foto que ilustra o post é manjada. Retrato do artista quando jovem, traz Schumacher em seus tempos de Mercedes, ao lado de Wendlinger e Frentzen, antes de Gachot lançar gás paralisante em um adversário durante uma briga de trânsito e catapultar Michael para a glória. Leio em sites, blogs e no Twitter que o anúncio da contratação do alemão pela equipe neoalemã é questão de horas. Portanto, começo me desculpando se estou falando em hipótese e o fato já está consumado enquanto você lê.

(Em quase quatro anos de blog, nunca fiquei mais de um mês sem escrever. Desculpem pelo abandono. Há alguns meses, lancei-me em um duplo compromisso - escrever mais no blog e retomar meus bons desempenhos nas corridas. E pedi para ser cobrada! Vocês também esqueceram de fazer isso...)

Anyway...

Confesso grande dose de expectativa com a eventual volta de Schumacher. Se eu me inquieto com essa perspectiva, o que dizer de pilotos como Hamilton, Vettel, Kovalainen, Buemi, Kobayashi, Alguersuari, Grosjean? E ainda mais de Bruno Senna, Lucas Di Grassi, Hulkenberg? Há pouco, Di Grassi escreveu no Twitter que, quando Schumacher ganhou seu primeiro título na Fórmula 1, ele (Di Grassi) tinha apenas dez anos e começava no kart. Jovens pilotos, de variados calibres, terão a chance de correr ao lado do maior vencedor da história da Fórmula 1 e isso é coisa para, no mínimo, colocar no currículo. Desafiá-lo e eventualmente vencê-lo certamente são desejos nada secretos dessa moçada mal saída das fraldas quando Schumacher alinhou pela primeira vez, no já distante GP da Bélgica de 1991.

Vem um pouco dessa data parte da minha ansiedade pelo revival do alemão. 1991 foi a primeira temporada que cobri profissionalmente, na retaguarda da Folha de S.Paulo. Já escrevi aqui: quando a Jordan viu-se sem piloto, pela inusitada prisão de Bertrand Gachot, redigi uma nota curta (um módulo 200, como chamávamos na época) sobre o substituto, um tal Michael Schumacher de quem eu, confesso, nunca tinha ouvido falar. As informações estavam em um telex, também bastante curto, evidenciando que Schumacher estava longe de ser um superstar na época. Voltar 19 anos no tempo é algo de um valor quase afetivo, um mergulho no tempo, uma sensação de também estar começando de novo e isso, crianças, por alguma razão, nos revitaliza.

Mas há uma ansiedade esportiva ainda maior a me aquecer neste quesito. Vislumbro um campeonato, como no caso de 2009, com muitas limitações para o desenvolvimento dos carros ao longo da temporada. Testes quase nulos repetem a cantilena do campeonato terminado em novembro: para ser vencedor, o carro precisa nascer bom. Desenvolvê-lo ao longo do ano? Sem testes? Difícil. E a Mercedes parte de um projeto muito bom. Se o modelo de 2010 for uma evolução do carro da Brawn, é certo que teremos Schumacher em um carro candidato ao título. Ou seja, sua volta não terá nada de café com leite. Com o perdão da expressão, ele vai pro pau.

Mas terá uma Ferrari que praticamente recolheu as armas na metade da temporada passada, hibernando para 2010, com uma dupla de pilotos tida, até agora, como a melhor do grid. Difícil imaginar que Maranello fará figuração pelo segundo ano consecutivo. Terá, também, uma McLaren, agora sem Mercedes, mas com outra dupla de pilotos fortes (dois campeões do mundo, afinal). Terá uma Red Bull amadurecida na briga pelo título, com um mini-Schumacher cada vez mais sedento por se firmar no Olimpo da Fórmula 1.

Outro fator que pode pesar a favor da competitividade em 2010. As mudanças aerodinâmicas impostas pelo regulamento em 2009 foram muito mais radicais que as do próximo ano. Na temporada passada, a Brawn acertou a mão, com aquele difusor duplo que tanta vantagem lhe deu no início do ano (e que, dizem por aí, nasceu das informações privilegiadas de Ross Brawn ainda no comando da extinta Honda). As outras literalmente correram atrás. É de se supor que esse desequilíbrio não seja tão grande em 2010. Minha perspectiva - que talvez seja até uma esperança, reconheço - é ver Schumacher em um ambiente muito mais equilibrado do que em seus tempos de Ferrari. Um verdadeiro tira-teima a que um homem de 41 anos vai se impor. Estou louca para ver.

Last, but not least, gostaria de falar da série de decisões dissonantes que envolvem Mercedes e Schumacher neste final de 2009, início de 2010. É a tal contramão que dá nome a este post. A primeira contramão é o próprio reforço da Mercedes em sua permanência na Fórmula 1. Justamente quando as montadoras saíram em debandada da categoria, a empresa alemã reafirmou seus investimentos. A segunda está na própria constituição do time.

Enquanto a maioria das equipes sempre busca mesclar pilotos de estilos e nacionalidades diferentes (até como recurso para atrair diferentes patrocinadores e parceiros), a alemã Mercedes está em vias de investir em dois pilotos alemães. Essa decisão, se confirmada, revela mais que uma opção esportiva. Desnuda uma postura neonacionalista à qual nos desacostumamos em relação à Alemanha do pós-guerra. Equipe alemã, com dois pilotos alemães. Uau! Acho que as feridas finalmente começaram a cicatrizar.

Por fim, a evidente contramão na faixa etária. Em 2010, celebramos mais um recorde de precocidade na Fórmula 1, quando Jaime Alguersuari tornou-se o mais jovem piloto a estrar na categoria. Este rapazinho poderia ser filho do provável (eventual, possível, especulado...)piloto do carro número 4 no ano que vem.

Oh, lord... Falta muito para a temporada de 2010 começar?