Sunday, July 31, 2011
Dinastia Vettel
Se o alemão Sebastian Vettel decidir cabular os próximos três Grandes Prêmios de Fórmula 1, na Bélgica, na Itália e em Cingapura, voltará no Japão ainda como líder do campeonato, no mínimo com dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado. Isso se o atual vice-líder, seu companheiro Mark Webber, na Red Bull, vencer as três corridas. A matemática fica ainda mais favorável a Vettel, atualmente com 234 pontos, se o desafiante for Lewis Hamilton, atual terceiro colocado.
A supremacia construída por Vettel na primeira metade da temporada permite que ele seja campeão sem precisar vencer mais nenhuma etapa. Já venceu seis e pode simplesmente administrar as oito corridas que faltam, sem precisar expor-se a riscos. Um segundo lugar aqui, um terceiro ali e a poupança vai aumentando. A última vitória do alemão aconteceu no final de junho, no GP da Europa, na insípida pista de Valência. De lá para cá, três corridas, cada uma com um vencedor diferente – Fernando Alonso na Inglaterra, Hamilton na Alemanha e Jenson Button na Hungria.
Até nisso a atual temporada favorece o reinado absoluto de Vettel. Os postulantes a desafiador alternam-se, repartindo entre si pontos que, canalizados para um único piloto, poderiam significar alguma ameaça ao líder. E o vice-líder, Webber, curiosamente não se juntou a esse grupo, amealhando seus 149 pontos até agora sem conquistar nenhuma vitória neste ano. No entanto, apenas os dois pilotos da Red Bull conseguiram pontuar em todas as provas do campeonato.
O domínio da Red Bull em 2011 deve entrar para a história como outras temporadas que exibiram supremacias absolutas. Ferrari em 2004 e 2002 (nos dois anos, Michael Schumacher campeão, Rubens Barrichello vice), Williams em 1992 (Nigel Mansell campeão, Riccardo Patrese vice), McLaren em 1989 (Alain Prost campeão, Ayrton Senna vice) e 1988 (Senna campeão, Prost vice). A disputa pelo vice-campeonato em 2011 está aberta. Webber tem 149 pontos, mas vê Hamilton bem perto (146) e, colado no inglês, Alonso, com 145. O australiano não tem sido bom o suficiente para vencer no atual campeonato, mas a alternância de vencedores ao longo do ano pode jogar a seu favor, continuando a dividir os pontos e consolidando-o como mais um escudeiro a ladear o companheiro campeão.
Sim, escudeiro. Na lista de domínios incontestáveis acima, só a disputa Senna-Prost entre 1988 e 1989 entra para o rol das exceções, nas quais o título foi decidido na base da disputa aberta entre companheiros de equipe. As demais são demonstrações de força coletiva de equipes muito superiores às demais, nas quais o campeão chegou a esta condição sem jamais ser desafiado por seu vice.
A temporada de 2011 talvez seja o ponto alto de um ciclo iniciado em 2009, quando a Red Bull passou a ter, pela primeira vez na sua história, um carro vencedor. Pode soar estranha essa análise, pois 2009 assistiu ao domínio acachapante de Button e de sua Brawn, em um início de temporada ainda mais agudamente eficiente que o de Vettel, neste ano. Mas não é difícil lembrar dois fatos. O primeiro está ligado a uma solução aerodinâmica inovadora – e inicialmente contestada – da Brawn e de outras poucas equipes: os difusores duplos. Especialmente graças a eles, Button venceu seis das sete primeiras corridas (em 2011, Vettel ganhou “apenas” cinco das sete primeiras). Na segunda metade daquela temporada, algumas equipes diminuíram sua distância em relação à Brawn, e Button conseguiu no máximo somar pontos, conquistando apenas dois pódios a mais e permitindo a aproximação justamente da Red Bull de Vettel, que neste complemento de campeonato obteve três vitórias e mais dois pódios, chegando ao vice-campeonato.
O ano de 2010, embora disputado até a última prova, teve a Red Bull como “o carro a ser batido”. Alonso e Hamilton tentaram e beneficiaram-se, talvez mais do que dos méritos de seus próprios equipamentos, da disputa aberta entre Vettel e Webber na Red Bull. Os dois companheiros de equipe chegaram à última prova, em Abu Dhabi, ambos com condição de levar o título. No entanto, hoje esta proximidade soa como circunstancial. Mais fruto da inexperiência de Vettel, afinal consagrado como o mais jovem campeão do mundo, e de erros estratégicos e operacionais da equipe, do que propriamente da igualdade entre pilotos.
Iniciando 2011 como campeão, mais maduro e com um grupo de adversários que, ainda por cima, lhe faz o favor de alternar-se na condição de desafiante, Vettel vestiu a camisa do líder com propriedade. Não é o caso de afirmar que a equipe lhe dá privilégios. Com sua capacidade de conduzir um carro rápido ao limite, ele conquistou tal condição por méritos. Seu desempenho no treino classificatório em Budapeste ilustra essa capacidade. É certo que ainda carece da dose certa de combatividade nos momentos em que precisa livrar-se de uma condição adversa, ou que cede a pressões de forma talvez decepcionante, como no Canadá. Talvez, sem ter o carro extraordinário que tem hoje, Vettel esteja um degrau abaixo de Alonso e de Hamilton, mas o fato é que a história da ascensão da Red Bull está diretamente ligada a Vettel.
Claro que, por trás desse foguete azul escuro, está o projetista Adrian Newey, como esteve Rory Byrne ao lado de Schumacher, na Ferrari, ou John Barnard, ao lado de Senna. Não são meras circunstâncias que constroem tais domínios. São conjugações de talentos, cada um em sua especialidade. Esta, a de Vettel com a Red Bull, parece ser mais uma.
E, assim, a Fórmula 1 reescreve sua história a cada era, repetindo a máxima de que esta categoria, sempre – e apesar das tentativas esdrúxulas de mudanças de regulamento – vive de ciclos dominantes que se alternam.
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