O piloto holandês Max Verstappen tem 20 anos. Fez sua estreia na Fórmula 1 em março de 2015, quando tinha apenas 17. Ou seja, podia pilotar um carro da categoria mais importante do planeta, mas ainda não podia dirigir pelas ruas. Foi um assombro: em sua segunda corrida, já conquistou um sétimo lugar. Marcou pontos em outros nove GPs, demonstrando o arrojo típico dos grandes talentos. A bordo de um carro da Toro Rosso, Verstappen cumpria o papel de jovem promessa na equipe que é o time B da Red Bull. Chamou tanta atenção que, no ano seguinte, fez apenas quatro corridas pelo time original, sendo promovido à Red Bull a partir do GP da Espanha. Nessa primeira corrida, justificou a pressa dos patrões em assegurar seu passe, colocando-o fora dos olhos grandes da Ferrari, que parecia cortejar o garoto. Conquistou nessa mesma corrida sua primeira vitória, beneficiando-se da colisão entre os favoritos Lewis Hamilton e Nico Rosberg, da Mercedes.
Verstappen muito rapidamente virou uma estrela na Fórmula 1. Com duplo apelo - o talento e a juventude - amealhou uma torcida jovem militante em sua causa. A cada prova, essa verdadeira esquadra passou a atuar em bloco nas eleições de "piloto do dia" e o holandês vencia quase sem esforço a sondagem realizada no site da Fórmula 1. No ano da estreia pela Red Bull, Verstappen terminou em quinto no campeonato, confirmando a boa aposta da chefia, ainda que a Red Bull não tivesse o mesmo nível técnico das rivais Mercedes e Ferrari. Em 2017, no entanto, os erros do holandês começaram a se proliferar.
É certo que ele perdeu muitos pontos por quebras do carro e situações em que sua culpa seria nula ou pelo menos relativa. Mas também é evidente que Max deixou de somar pontos para si (e para a equipe), por excesso de arrojo, como no GP da Hungria, em que uma ultrapassagem forçada pelo holandês tirou da prova Daniel Ricciardo, seu companheiro de equipe. Mas nenhum erro anterior parece tão determinante quanto a sequência estabanada do GP da China de 2018. Verstappen beneficiou-se da estratégia - e da agilidade - da Red Bull, que chamou seus dois pilotos ao box na mesma volta e trocou-lhes os pneus no momento exato em que o Safety Car aproximava os outros carros na pista.
Só que Max, com excesso de arrojo e falta de paciência, forçou duas ultrapassagens. Primeiro, sobre Hamilton, saindo da pista e sendo ultrapassado pelo companheiro Ricciardo. Depois, sobre Sebastian Vettel, fazendo com que os dois pilotos rodassem e ele mesmo recebesse uma punição de dez segundos. Vettel terminou a prova em oitavo, Verstappen, em quinto, assistindo a uma exibição irretocável do companheiro australiano. Finda a prova, o jovem holandês foi imediatamente pedir desculpas ao alemão, que aceitou e elogiou o gesto de mea culpa.
Do ponto de vista esportivo, a série de manobras desastrosas talvez ajude Max a aprender com os erros. Com apenas 20 anos, Verstappen pode se tornar um multicampeão no futuro, claro. A título de comparação, vale lembrar que alguns campeões recentes da categoria já estavam lutando e vencendo seus primeiros títulos em suas quartas temporadas (Michael Schumacher, Fernando Alonso e Sebastian Vettel, especificamente). Hamilton, outro caso raro, foi campeão no segundo ano e lutou por ele no primeiro. Schumacher foi campeão, pela primeira vez, com 25 anos. Alonso, com 24 (o campeão mais jovem até então). Vettel, com 23 (batendo o recorde de Hamilton).
Todos eles, em seus inícios de carreira, cometeram erros em profusão. Normal, esperado até. Em sua quarta temporada na Fórmula 1, Verstappen já tem experiência o suficiente para não poder mais ser considerado uma promessa. Se perder corridas como a da China, por sua própria culpa, já não pode colocar o revés na conta da pouca idade.
Os erros na China não anulam o enorme talento de Verstappen nem inviabilizam seu futuro promissor. Mas o que parece chocante é acompanhar sua massa de torcedores-seguidores deixando de enxergar a culpa do piloto nas duas manobras desastrosas. No fundo, o choque se desfaz quando voltamos lá para o começo da história e lembramos que um ser humano adulto, hoje, parece ter salvo-conduto para continuar imaturo aos 20 anos. Passando a mão na cabeça desses jovens tão talentosos, voluntariosos e, em muitos casos, privilegiados, estamos criando uma imensa população de "adultescentes".