Thursday, February 26, 2009

BBB



Então, é isso.

A Honda vem a público no final do ano para dizer que está fora. O presidente chora, alguns lamentam, outros dizem "bem que eu avisei", as especulações crescem, e aumentam, e levam a cenários diversos, alguns absurdos, alguns impossíveis, a maioria, risível.

Eis que, pouco mais de um mês antes do início do Mundial de Fórmula 1, uma das hipóteses ganha corpo - a do management buyout - e crescem as evidências de que Ross Brawn continuará chefiando a equipe. Tendo como pilotos... Jenson Button e Rubens Barrichello. Brawn, Button, Barrichello. Também nós, na F1, temos nosso BBB. Um quarto B poderia ter entrado na história. Mas parece que Bruno, o Senna, vai dançar. (Para um estreante, começar pela Honda de 2009 seria a sorte grande - quem poderia culpar o jovem piloto por eventuais fracassos com um carro que, se existe, ainda não foi para a pista uma única vez?)

Que neste instante, todos os editores, de todos os veículos de comunicação dedicados ao automobilismo, no mundo, unam-se em prece de agradecimento à montadora japonesa, repetindo:

"Obrigada, Honda, por alimentar nossos noticiários por todos esses meses."

Friday, February 20, 2009

Última volta

Aceitei o convite do colega Marcio Madeira da Cunha, que está reunindo relatos sobre todas as vitórias brasileiras na Fórmula 1 em seu site, o Última Volta. Coube-me escrever sobre o GP do Brasil de 1991, o primeiro a que assisti ao vivo, em Interlagos. Para ler meu testemunho, clique aqui. Parafraseando Flavio Gomes, leiam lá, comentem aqui.

Monday, February 16, 2009

Desaniversários

Nas últimas semanas, deixei escapar duas comemorações aqui do blog. A primeira foi no dia 29 de janeiro, quando este democrático espaço completou três anos. Foi no comecinho de 2006 que, instigada pelo meu padrinho blogueiro Pedro Alexandre Sanches, inaugurei este blog, com o post "A parábola do tremoço". Esqueci completamente de registrar a data, que mancada...

A outra não foi exatamente um esquecimento, mas falta de tempo mesmo. No último dia 12, esta blogueira chegou à última etapa antes dos "enta". Aproveito este post para agradecer a todos que telefonaram, chamaram pelo messenger, mandaram mensagens pelo orkut, enviaram e-mails. E aproveito, também, para conta um fato ocorrido na semana passada.




Academia, uma da tarde, TV ligada no Globo Esporte. Como era semana de clássico entre Corinthians e São Paulo, o programa exibiu trechos de jogos históricos entre os dois times. Sorte minha, pois naquele dia passavam lances da final do Campeonato Paulista de 1982. Fiquei lá, admirando aquele time da Democracia Corintiana, e fui me empolgando com os lances da partida, antecipando alguns deles, como o histórico gol do Biro Biro, impiedosamente imposto ao ótimo goleiro Valdir Perez com uma bola entre as pernas.

Eis que chega um dos professores da musculação, corintiano também, e começa a vibrar com os lances. "Nossa, esse jogo é histórico, um épico", e me juntei a ele, acrescentando mais detalhes daquele dia. Ao que ele se admira: "Nossa, que legal, você lembra desse jogo?" Se lembro, rapaz? Lembro do jogo e de tudo o que fiz naquele dia, como se fosse um filme visto ontem. Parei, olhei para o rapaz, que não é uma criança, nem um adolescente, mas um homem feito, e disparei à queima roupa: "Você não tinha nascido, né?". Não, não tinha...

Sunday, February 08, 2009

Será que ele é?


No post anterior, uma frase safada levantou a bola. Não é de hoje que o mundo da Fórmula 1 faz insinuações sobre a sexualidade do alemão Nico Rosberg. Na verdade, desde seus tempos de GP2, o lindo e loiro filho de Keke Rosberg é alvo de comentários sobre o tema. E, como costuma acontecer em ambientes predominantemente masculinos, a Fórmula 1 incluída, o tom quase sempre é de piada.

Há quase três anos, escrevi esta coluna sobre homossexualidade na Fórmula 1. Tirando a referência de que nunca havíamos tido um negro na categoria - Lewis Hamilton surgiu depois disso - o resto todo se mantém.

A Fórmula 1 é um ambiente machista, sectário, preconceituoso. Fosse um ambiente liberal, talvez já tivéssemos assistido a algumas saídas do armário nesses quase 60 anos de história. Porque - fala sério! - você não acredita que nunca, jamais, em tempo algum houve na Fórmula 1 algum piloto, projetista, chefe de equipe, mecânico gay, acredita?

Vi Nico Rosberg ao vivo nos dois últimos GPs do Brasil. O rapaz é muito bonito, magro e sarado. Na primeira vez que o vi, no lobby do Hotel Transamérica, me chamou a atenção seu modo de andar. Coluna ereta, ombros levemente arqueados para trás, passos rápidos e curtos. Recentemente, um colega definiu o caminhar de Nico como de alguém que "está andando sobre chão quente".



O leitor Claudio Ceregatti me pergunta se acho que Nico é gay. Jamais conversei com o piloto nem mantive contato com qualquer pessoa de seu convívio. Nunca li nenhuma declaração de Nico sobre o tema, por isso qualquer opinião minha a esse respeito seria baseada na observação de seu "jeito". Pesquisando na internet, descubro que Nico tem uma namorada chamada Vivian Sibold, alemã como ele (ou teve, já que a notícia é de 2006).

Ora, há quem tenha "jeito" de gay e não é gay. Por outro lado, há muita gente dentro do armário, que não tem gestos efeminados, e é homossexual. Definir pelo "jeito" é muito simplismo.

O que continua me incomodando nesse tipo de discussão é justamente a falta de espaço que o ambiente da Fórmula 1 - e dos esportes, em geral - oferece ao tema. Como eu disse na coluna, de quase três anos atrás, a gente não se choca ao ver um artista ou um estilista gay assumido, mas ainda se escandaliza quando os estereótipos do esportista (virilidade, coragem) chocam-se com os da homossexualidade.

Se Nico Rosberg é gay, onde estaria o maior problema: na eventual inclinação sexual dele ou na falta de ambiente da Fórmula 1 para se assumir como tal?

Thursday, February 05, 2009

O menor piloto de todos os tempos


Começo pedindo desculpas pela longa ausência. Não sei de onde tiraram a idéia de que o ano só começa depois do Carnaval, pois o meu começou quente. Estou trabalhando como um cortador de cana em plena safra, de sol a sol, mas não reclamo. Costumo dizer que, por trabalhar por conta própria, sou como um táxi - só ganho se estiver ocupada.

Também devo confessar certo desânimo em entrar nessas discussões de pré-temporada na Fórmula 1. Considero isso: a) inútil - quase tudo o que se fala nessa época é pura especulação; b) repetitivo - são sempre os mesmos e óbvios prognósticos, ainda que muitas vezes nós, analistas, quebremos a cara com nossas previsões e raramente façamos mea culpa depois; c) chato - sobretudo chato, já que ficamos parecendo um bando de fofoqueiros.

Leio notícia sobre os testes de inverno e sobre certo desânimo apontado por Fernando Alonso com seu R29. O carro, que é mais feio que o Kubica e o Buemi juntos, pode mesmo ser uma cadeira elétrica, mas prefiro esperar o show começar para dar todo crédito ao espanhol. É que, com vinte e cinco anos de Fórmula 1 no currículo, vivi o bastante para desconfiar de tudo. As palavras de Alonso me cheiram a blefe, e já vi tantos blefes na Fórmula 1... Alonso mal tinha saído das fraldas e eu já cobria os blefes de Ayrton Senna. "Não vou correr pela McLaren neste ano", "Vou correr na Fórmula Indy", blá-blá-blá... O novo Renault pode mesmo ser uma cadeira elétrica - os choques causados pelo KERS reforçam tal inclinação - mas prefiro esperar.

Mas era sobre o KERS mesmo que eu queria falar. Tido como grande revolução tecnológica, o dispositivo que recupera a energia de frenagem para reacelerar o carro é algo já banalizado em alguns sistemas de transportes. Na Europa, várias linhas de trens utilizam soluções semelhantes. No Brasil, veja só, há até ônibus rodando por algumas cidades com uma chamada "célula de combustível", que executa um processo parecido, recuperando a energia gerada pelos freios para reacelerar o veículo. No mundo aqui fora, tais dispositivos servem para economizar combustível e, portanto, otimizar o custo do processo. Com o apelo ecológico bombando em todas as direções, é algo muito bem vindo. E a Fórmula 1 pegou carona, desenvolvendo seu próprio sistema.

As equipes ganharam mais esse quebra-cabeça para atazanar a vida de seus projetistas. Como o brinquedo pesa entre 25 e 40 kg, a relação de peso dos carros mudou. E como o piloto vai dentro do carro, sobrou para ele também. A moda entre a pilotada, agora, é brincar de faquir. Os rapazes, que já eram magros, estão ficando pele e osso. Durante o inverno europeu, Fernando Alonso perdeu 3,5 kg. Meteu-se até com ciclistas de seu país, subindo montanhas para fazer descer o ponteiro da balança. Nico Rosberg, que já era um pau de virar tripa, confessa que passou o Natal contando calorias (teria abdicado do peru?). Se os nanicos Felipe Massa, Nick Heidfeld e Heikki Kovalainen emagrecerem mais, correm o risco de serem levados pelo vento.

Nunca tive muita paciência para aquelas intermináveis discussões sobre "o maior piloto de todos os tempos". Schumacher, Senna, Fangio, Nuvolari, o lenhador austríaco, sei lá mais quem... Parece que a geração atual subverteu essa questão. Estão todos empenhados em ser o menor piloto de todos os tempos.