Tuesday, May 21, 2019

Rush, um filme de amor

Daniel Brühl (à esq.), como Lauda e Chris Hemsworth, como Hunt
Com a viseira embaçada por uma chuva torrencial, Niki Lauda enxerga menos a pista de Fuji, no Japão, que a imagem da mulher, Marlene, com quem se casara naquele mesmo ano e surge no momento de maior tensão da história para povoar sua mente atormentada. Ao parar no box e desistir do GP do Japão de 1976, logo admite que não há qualquer problema com o carro. Inseguro naquela condição, e depois de quase ter morrido, poucos meses antes, no GP da Alemanha, o austríaco simplesmente abdica da prova. A cena, na parte final de “Rush – No limite da emoção”, de certa forma conclui um diálogo entre Lauda e Marlene, alguns minutos antes. Em lua de mel, apaixonado, o piloto debate-se com a insônia e explica a aflição à jovem esposa, dizendo que o amor era perigoso para um piloto. Teoriza que se torna difícil ir ao limite quando se tem algo a perder.
Assim, de forma rasa e linear, é possível para o espectador menos versado no tema concluir que Niki Lauda, interpretado no filme pelo ator Daniel Brühl, perdeu o Mundial de Fórmula 1 daquele ano por amor. Claro que não perdeu. O drama dessa temporada reparte-se em dezenas de detalhes técnicos, esportivos, políticos, comportamentais e circunstanciais que tiraram o título, que parecia certo no início do ano, das mãos de Lauda. Não foi a mocinha sofisticada, que surge em um provocante vestido frente única no início do filme, que lhe impôs a derrota.
Não é o amor de Lauda por Marlene que desencadeia a história dirigida por Ron Howard, longe disso, mas ainda me parece mais apropriado, ainda que soe estranho, definir “Rush” como um filme de amor que rotulá-lo como filme de ação. Não o amor do austríaco pela esposa, nem o de James Hunt (Chris Hemsworth) por Suzy Miller ou por praticamente todas as mulheres (com exceção de Marlene) que surgem na tela ao longo dos 123 minutos do filme. Todas as outras, enfermeira, aeromoça, modelo, alvos óbvios de Hunt, enquadradas no estereótipo “não sei seu nome, mas vou transar com você mesmo assim.”
(Tola eu seria se esperasse de “Rush” qualquer coisa longe do chauvinismo. Ainda que se afaste da realidade em diversas circunstâncias, o filme é ambientado na Fórmula 1 e, se ainda hoje as mulheres representam papéis pouco mais do que de objetos decorativos no circo, o que dizer dos anos 1970. Talvez em um ato de rebeldia, Ron Howard criou cenas de sexo entre Hunt e suas garotas que mostram mais o corpo do ator que das atrizes. Se você tinha o desejo secreto de saber como é o traseiro de Chris, aproveite. Que diabos, é o Thor, dos Vingadores, pelado, de costas!).
Não é desse amor, às vezes feito às pressas, no banheiro do avião, que se gira a história. “Rush” é um triângulo amoroso entre Lauda, Hunt e a vitória (ou a glória, ou a conquista do título ou, em última análise, a Fórmula 1).
A vida não é filme, isso todo mundo já entendeu. Para ser filme, há que romancear os fatos, estereotipar os personagens, carregar em algumas cores e empalidecer outras. Como Eduardo Correa escreveu neste mesmo GPTotal, na resenha do filme,“Rush” pinta Niki Lauda como um “coxinha CDF”. É o herói obstinado, disciplinado, estudioso, praticamente uma personificação da ética protestante, pela qual o bom resultado é sempre uma consequência lógica do esforço. Hunt, a seu turno, é o bon vivant, o hedonista que persegue o prazer como bem maior e, nesse contexto, parece unicamente servir-se de um dom natural, como se seu talento na pista fosse um acidente, não o produto da dedicação e, por que não dizer, do sofrimento para conquistá-lo. Claro que Lauda não era esse poço de virtudes, nem Hunt o campeão acidental que os fatos rasos podem fazer crer. Mas funciona para a ficção e assim está pintado na tela.
No desenrolar da narrativa, a consagração, a glória, a vitória, o título da Fórmula 1 desempenha o papel da musa desejada que oscila entre o bom moço e o bad boy. É a Ilsa Lund de Casablanca, indecisa entre o boêmio Rick Blaine e o militante Victor Laszlo. Não que o bar de Rick, o piano de Sam, o “play it again”, os nazistas da história sejam desprezíveis. Mas o foco, em Casablanca, está nos personagens de Ingrid Bergman, Humphrey Bogart e Paul Henreid. Da mesma forma, não é que os outros pilotos, as corridas e os carros possam ser limados de “Rush”. Mas não repousa ali o interesse da história. São pano de fundo para o triângulo formado entre Lauda, Hunt e a consagração final.
“Rush” é um grande paradoxo. É da estirpe dos filmes “baseados em fatos reais”, o que não é mentira, mas está longe de ser uma reconstituição do que foi o dramático campeonato de 1976. Supor que as cenas de corrida o tornam um filme de ação é outra análise apressada. As excelentes reconstituições de carros percorrendo circuitos da época são elos entre as narrativas que constroem o embate entre Lauda e Hunt. Várias das dezesseis corridas são mostradas como simples legendas, em rápidos registros, formando uma espécie de clip recorrente ao longo do filme.
Nenhum demérito nisso. O recurso foi usado – e às vezes de maneira mais singela – no mítico “Grand Prix”, de 1966, dirigido por John Frankenheimer. Foi difícil, mas consegui escrever 895 palavras sobre “Rush” antes de citar o filme da vida de nove entre dez amantes de Fórmula 1. E, nessa comparação, talvez resida o paradoxo mais evidente de “Rush”: embora seja “baseado em fatos reais”, o filme de Ron Howard é menos real que “Grand Prix”, construído em torno de personagens fictícios. É certo que os personagens centrais de “Grand Prix” foram fartamente inspirados em pilotos reais, mas o cerne na história é mera ficção. Ainda assim, o roteiro filmado por Frankenheimer contribui mais para entender a dinâmica da Fórmula 1 dos anos 1960 do que “Rush” faz com o campeonato de 1976.
Deve ter contribuído para esse realismo de “Grand Prix” o fato de ele ter sido filmado “a quente”, aproveitando as imagens de inúmeras corridas do campeonato de 1966 na peça ficcional. Howard, por sua vez, reconstituiu um cenário de quase quarenta anos, deixando que o olhar em perspectiva molde os personagens a ponto de fazê-los estereótipos encaixados no modelo romanceado que convém a um produto cinematográfico. O desafio era contar uma história que pode soar como improvável pela lógica dos bons romances, afinal, neste caso, a mocinha escolheu o bad boy. Ver a glória entregar-se ao dissoluto Hunt era como mudar o final de Casablanca e permitir que Ingrid Bergman trocasse o marido circunspecto pelo charmoso Bogart. O recurso para premiar a ética do esforço é conduzir a narrativa pelo sobrevivente.
Depois do épico GP do Japão, no qual Hunt sagra-se campeão com um terceiro lugar que lhe garante o título por apenas um ponto de diferença, os dois rivais voltam a se encontrar. Lauda reforça o discurso moralizante para cima de Hunt. O inglês verbaliza um conceito que o perseguiu praticamente até o fim da vida – a insinuação de que só foi campeão por conta do pavoroso acidente de Lauda – e rechaça a ideia. O austríaco venceu mais dois campeonatos, em 1977 e 1984, sobreviveu ao acidente e ao próprio Hunt, que morreu após um ataque cardíaco fulminante, aos 45 anos. Isso tudo, contado no filme como reminiscência de Lauda, reforça a ideia de que ele pode ter perdido aquela batalha, mas ganhou a guerra. Ilsa Lund hesitou mas, afinal, não ficou com Rick Blaine.
As peças de divulgação de “Rush” prometem mostrar “a maior rivalidade da história da Fórmula 1”. Outra mão pesada na condução da história. Lauda e Hunt, em que pese a disputa acirrada nas pistas, eram amigos, bons camaradas. À medida que a categoria foi se tornando cada vez mais um negócio altamente competitivo, a partir dos anos 1980, as rivalidades acirraram-se entre pilotos e acho que todos que acompanham Fórmula 1 há algumas décadas concordam que os embates entre Nelson Piquet e Nigel Mansell e entre Ayrton Senna e Alain Prost deixaram o duelo Lauda-Hunt com uma aura de rusga juvenil.
O documentário “Senna” aprofunda esse contencioso entre o brasileiro e o francês, transformando os eventos vividos pelos dois em uma narrativa novelesca, ainda que totalmente baseada em “fatos reais”. Fico imaginando se, daqui alguns anos, alguém se aventurar a filmar também esse duelo, como Howard fez agora. Melhor vestir logo o ator que fará Senna de branco e dotá-lo de auréola. Prost, em um modelito vermelho, surgirá com chifres e tridente.
Mas, não se influencie por essa leitura crítica: “Rush” é excelente entretenimento. O problema é que nós, que gostamos demais desse troço chamado Fórmula 1, temos a essa história toda na cabeça. E, para aqueles que cultivam o hábito de pensar, então, é impossível assistir ao filme e não rotulá-lo como um bom filme. De ficção.
Por fim, um registro afetivo: terminada projeção, fiquei vários minutos lendo os créditos, em busca de um nome. Finalmente, surgiu na tela, como assistente de Mr. Ron Howard: Gabriel Henrique Gonzalez, filho do colega Wagner Gonzalez. Vi Gabriel, que nasceu em Londres, apenas uma vez. Com uns sete anos, esteve na minha casa e brincou de carrinho no chão da sala. Proud of you, Gabriel!

Wednesday, May 01, 2019

Senna e a bandeira


Você aí se preocupando com a inflação de 6% ao ano talvez não saiba, ou não se lembre, que o índice quase atingiu 80% em 1986. E esse número absurdo para os dias de hoje já foi um avanço na comparação com o ano anterior, quando a inflação chegou a estapafúrdios 242% ao ano. 1986 começou com um dos choques heterodoxos realizados na segunda metade da década, com o objetivo de debelar a inflação, o Plano Cruzado. Não deu certo. Em 1987, o índice ultrapassaria os 360%. A economia do Brasil naquele tempo era uma vergonha.
É certo que o noticiário, em 1986, foi dominado pela economia no início do ano, mas chegou ao final do primeiro semestre tomado pelo interesse na Copa do Mundo, realizada pela segunda vez no México. Nada muito diferente do que já acontecia antes, a cada quatro anos, e voltou a acontecer depois, e sempre. No comando da seleção brasileira, o mesmo Telê Santana tido como arquiteto do futebol-arte derrotado na Copa de 1982. Era evidente que a seleção brasileira que se apresentou no México não inspirava a mesma esperança de quatro anos antes, mas não era fora de propósito renovar a crença e sonhar com um título que já não vinha para o Brasil havia 16 anos.
No dia 21 de junho de 1986, um sábado, a seleção brasileira entrou em campo para disputar as quartas-de-final contra o time da França, que tinha como principal expoente o jogador Michel Platini, no ocaso de uma bela carreira em clubes, mas sem um título mundial pela seleção de seu país (que, por sinal, só viria em 1998). No tempo regulamentar daquele jogo no estádio Jalisco, 1 x 1. Na disputa de pênaltis, o Brasil saiu derrotado, 4 x 3. Dito assim, parece um jogo qualquer. Não foi. Drama, pênalti perdido durante a partida pelo atacante Zico, que saiu como o grande vilão do Brasil na derrota. Para aumentar a sensação de tragédia, no pênalti cobrado pelo francês Bellone, a bola maliciosamente bate na trave, atinge as costas do goleiro brasileiro Carlos e entra para o gol. Quatro anos depois da derrota no Sarriá, quando o Brasil foi eliminado pela Itália de Paolo Rossi, nova frustração para a torcida. O país cuja economia era uma vergonha passava vergonha também no futebol.
Poucas vezes a expressão “nada como um dia após o outro” fez tanto sentido. No domingo, 22 de junho, aconteceria o GP dos Estados Unidos da temporada de Fórmula 1, no circuito de rua de Detroit, sétima prova daquele campeonato. Uma semana antes, vitória do inglês Nigel Mansell no GP do Canadá. A torcida estava com os olhos voltados para Jalisco e poucos devem ter atentado para o fato de que Ayrton Senna havia marcado a pole position para a corrida estadunidense. Foi a 11ª pole de sua carreira. Logo atrás dele, a dupla da Williams, com Mansell à frente de Nelson Piquet. O francês Alain Prost, que desembarcou em Detroit como líder do campeonato, largava apenas em sétimo.
Logo no início da prova, Senna perderia a liderança para Mansell, recuperando a ponta na oitava volta, quando o inglês começou a enfrentar problemas com os freios. O brasileiro começou a abrir vantagem para os demais, quando foi obrigado a fazer um pit stop por conta de um pneu furado, na 13ª volta. Lá na frente, a liderança sobrava para dois franceses, consecutivamente. Primeiro, com René Arnoux, que se manteve na ponta por apenas três voltas, sendo obrigado a também ir aos boxes para trocar pneus. Depois, com Jacques Laffite. Senna, nessa altura, fazia uma bela corrida de recuperação, passando Michele Alboreto, Stefan Johansson, Arnoux e Prost. Na volta 31, Senna passa Mansell e é beneficiado pela parada de Laffite nos boxes. Nessa altura, o brasileiro já estava em segundo, atrás do compatriota Piquet, e voltou a ser beneficiado por mais uma ida do líder ao box. Com uma parada longa demais, Piquet voltou à pista disposto a recuperar posições, mas acabou batendo e abandonando na volta 42.
Enquanto isso, Senna mantinha a liderança segura na prova, mantendo-se em primeiro da 39ª volta à bandeirada. Depois do acidente de Piquet, praticamente só franceses alternaram-se nas posições que davam direito ao pódio. Arnoux, que também acabaria saindo da prova por acidente, Laffite, terminando em segundo e conquistando o último pódio de sua carreira, e Prost, que se debateu com problemas nos freios mas, ainda assim, garantiu o terceiro lugar. Senna chegava à sua quarta vitória, a segunda no ano, mas o GP dos EUA de 1986 ficaria marcado na memória do público brasileiro menos por essas estatísticas e mais, muito mais, por um gesto de Senna.
Ao garantir a vitória, já na volta de desaceleração, Senna diminui a velocidade, para o carro próximo a um guard rail e faz um gesto para alguém que assistia à corrida. Um homem se aproxima e entrega ao piloto uma pequena bandeira do Brasil, daquelas feitas em plástico, com uma pequena haste. Bandeira de parada militar, eu definiria. Ele terminou a volta segurando e agitando a bandeira, assumindo, depois, que o gesto era uma forma de compensar a frustração do público brasileiro pela derrota no dia anterior. Caiu bem. Caiu muito bem.
A comparação da bandeira de Detroit com os artefatos utilizados por populares e estudantes em parada militar não foi à toa. Em 1986, o Brasil vivia o segundo ano após o fim da ditadura militar. Durante vinte e um anos, o governo federal sempre procurou associar os símbolos nacionais aos feitos do próprio Estado. Usar verde e amarelo na década de 1970, para o brasileiro médio, era uma forma de expressar patriotismo. Não faltavam oportunidades para isso, mas a apoteose era mesmo o 7 de setembro, quando até fitinhas nas “cores do Brasil” eram distribuídas para serem amarradas nas antenas dos rádios dos carros. Para uma geração como a minha, que cresceu no período, a associação da bandeira do Brasil com o governo militar era direta e, em um determinado momento, começou a se tornar repulsiva.
De quatro em quatro anos, era como se a seleção brasileira de futebol se apoderasse do verde e amarelo. Depois do “Brasil que vai pra frente” e traz a Jules Rimet definitivamente, uma cacetada após a outra. Em 1974, perdemos o rumo no carrossel holandês. Em 1978, a farsa que deu o título à seleção argentina, no bojo de uma ditadura militar ainda mais recrudescida. 1982 e o grande trauma do futebol-arte que deu em nada. Enquanto isso, o Brasil ia se afundando na “carestia”, desconstruindo o mito de que aquele governo, que nos livrara da ameaça comunista, era o mais competente para garantir uma vida tranquila à população. Os donos da bandeira – governo e seleção brasileira de futebol – estavam por baixo. Empunhá-la era quase um escárnio.
Ao empunhar a bandeira pela primeira vez, naquele 22 de junho, caprichosamente à frente de dois franceses, Senna não apenas vingou a derrota do dia anterior, mas reabilitou um símbolo nacional. No lugar de um governo autoritário que progressivamente passou a desagradar a maioria da população ou de jogadores incompetentes, um jovem bem nascido e obstinado pela vitória. Um Brasil que dá certo e dá orgulho. Uma bola dentro, provavelmente surgida da espontaneidade, e depois largamente utilizada como forma de reafirmar a condição de grande herói do povo brasileiro, que Senna exerceu dali para frente, até sua morte.
De 1986 para frente, agitar ou empunhar uma bandeira do Brasil tornou-se algo natural e esperado nas vitórias de Senna. No pódio do GP do Brasil de 1991, sua primeira vitória em casa, aquela da sexta marcha, o piloto carrega um bandeira grande, com haste, e exacerba na expressão da dor até para erguê-la, reafirmando a missão de literalmente carregar o Brasil nos ombros. Em 1992, acossado pela ameaça de impeachment, o ex-presidente Fernando Collor jogou a sorte com o apoio popular e suplicou que o brasileiro o apoiasse no domingo seguinte, saindo às ruas de verde e amarelo. A população respondeu com roupas pretas. Perdeu, playboy. Naquele ano, Senna até poderia estar lascado, correndo atrás de uma Williams inalcançável, mas o verde-amarelo era dele.
Reza a lenda que, dentro do FW 16 que levou Senna ao encontro da morte, repousava uma bandeira da Áustria, homenagem póstuma do brasileiro ao companheiro Roland Ratzenberger, morto no dia anterior. Teria sido bonito. Dois meses depois, quando a seleção brasileira de futebol finalmente voltou a ser campeã, 24 anos depois do “pra frente Brasil”, vários jogadores enrolaram-se em bandeiras brasileiras. As referências a Senna foram evidentes, inclusive com uma faixa exibida por jogadores ainda em campo, na qual se lia: “Senna…aceleramos juntos, o tetra é nosso”. Mais do que homenagear o herói morto, a seleção parecia pedir licença para retomar o símbolo para si. Vinte anos depois, sem títulos na Fórmula 1 há vinte e três anos, sem títulos no futebol há doze, com uma insatisfação pelo país cada vez mais evidente, por motivos diversos, a bandeira respira com esperança de voltar à moda. Vai que é tua, Neymar?
Texto publicado pela primeira vez em maio de 2014.