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Na semana passada, um amigo me perguntou, em certo tom de cobrança: "Você não vai falar da Ana Paula de Oliveira?"
A auxiliar de arbitragem foi às manchetes nos últimos dias com a divulgação da notícia de que será capa da revista Playboy. Confessei certo desânimo no assunto, mas concordei que era um bom debate.
O desânimo vem da enorme carga de machismo que circunda o assunto. A começar pela função exercida por Ana Paula. Sendo "bandeirinha" de futebol, ela já chamou bastante atenção por furar um território quase exclusivamente masculino. Ao longo da carreira, suas atuações são habitualmente destacadas, em especial quando comete erros. Já foram vários e, em muitos casos, determinantes para o resultado. De qualquer forma, é difícil saber se Ana Paula erra mais que outros auxiliares ou se seus erros recebem maior atenção, por ela ser mulher.
Ao aceitar a proposta da Playboy para posar nua, Ana Paula parece ter "traído" a causa feminina, como se tivesse sucumbido ela mesma ao machismo. É difícil não associar uma coisa à outra: revistas masculinas talvez sejam o símbolo máximo da mulher tratada como mercadoria. Na mesma conversa que originou este post, ponderei: já houve mulheres que posaram nua e nem por isso adquiriam o estigma de mulher-objeto, e o exemplo que me veio à mente foi da ex-jogadora Hortênsia. O amigo retrucou, dizendo que Hortênsia era uma espécie de Pelé em sua função, já estava na condição de fazer o que quisesse sem ganhar julgamentos desabonadores.
É muito complexo isso, não? Com minhas raízes feministas, tendo a desprezar qualquer abordagem superficialista da mulher, e o caráter das revistas masculinas segue esse parâmetro. Por outro lado, penso que essa própria associação de idéias seja machista em si. Por que uma mulher que ganha dinheiro aparecendo nua tem necessariamente de ser associada à idéia de mercadoria?
O que vocês acham?
Sunday, June 24, 2007
Thursday, June 21, 2007
Fruta estranha
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Fiquei várias semanas pensando em um mote para escrever sobre Billie Holiday. Depois de dois textos quase seguidos sobre cantoras negras dos Estados Unidos - Dinah Washington e Ella Fitzgerald - me pareceu absurdo não escrever sobre aquela que é considerada por muitos como a maior de todas.
Já disse aqui mesmo que minha preferida é Dinah Washington, o que não quer dizer que ela seja nem que eu a considere melhor que Billie. Gosto é gosto, é coração e emoção, não necessariamente análise estética. Billie é daquela classe de gente que deixou de ser "só" artista, virou mito. Não é só o que ela canta, como ela canta, mas um conjunto de gestos, a tal atitude.
Como Dinah e outras tantas divas, Billie morreu cedo, aos 44 anos, sucumbindo às drogas. Um desfecho coerente com uma vida toda cheia de conflitos e tragédias. Em sua biografia, uma frase na abertura dá o tom: "Quando meus pais se casaram, não passavam de crianças. Papai tinha 18, mamãe, 16 e eu, três." Molestada por um vizinho aos dez anos de idade, e com essa estrutura familiar capenga, acabou internada em uma casa de correção. Aos doze, foi trabalhar em um prostíbulo, lavando assoalhos. Aos catorze, "promovida" à função essencial do estabelecimento.
Em 1930, com quinze anos, Billie viu-se ameaçada de despejo, do quarto onde morava com a mãe. Em busca de um emprego melhor, ofereceu-se como dancer em um bar do Harlem. Era um desastre dançando, mas o pianista intuiu que a moça sabia cantar. Ganhou o emprego de crooner e ficou cantando na noite até que o crítico John Hammond a viu em cena e conseguiu que ela entrasse em estúdio pela primeira vez, gravando com Benny Goodman.
Sua produção em estúdio foi frenética. Gravou dezenas de músicas, percorrendo as mais variadas fileiras de compositores - dos clássicos do cancioneiro norte-americano a compositores menos conhecidos, além de ter ela mesma assinado muitas de suas canções.
Mas o que me acendeu uma luzinha para falar de Billie - veja só - foi justamente a vitória de Lewis Hamilton no GP dos Estados Unidos, domingo passado. A abordagem (anti) racista da circunstância (o primeiro negro da história a ganhar uma corrida na Fórmula 1 - e ganhou logo duas seguidas) me fez lembrar de dois episódios vividos por Billie.
Um é contado em tom de lenda e envolve um astro de primeira grandeza de Hollywood. Billie teria entrado em um bar e pedido uma bebida no balcão, ouvindo um categórico não do atendente. Anos 30 ou 40, barra pesadíssima no país da democracia. Billie teria protestado, em vão, até que atrás dela soou uma voz decidida, em direção ao balconista. "Sim, você vai servi-la." Virando-se para trás, Billie deu de cara com Clark Gable. Resta saber se ele tinha mesmo mau hálito, como apregoa a mitologia em torno de "...e o vento levou".
A outra história não tem nada de lenda e reflete como, há pouco mais de meio século, a barbárie ainda fazia estragos medonhos no país da liberdade.
Uma das músicas mais importantes do repertório de Billie Holiday é "Strange fruit", composta por um professor judeu, de pseudônimo Lewis Allan. Aqui, reproduzo um trecho da coluna "Fruta pisada", escrita por Vange Leonel na Folha de S. Paulo em abril deste ano:
Quando cantou pela primeira vez a canção "Strange Fruit", Billie Holiday estranhou o silêncio da platéia. Achou que não havia agradado. Mas logo alguém se levantou, bateu palmas freneticamente e puxou o aplauso de todo o público.
"Strange Fruit" foi composta por um professor judeu que lecionava num bairro negro. Horrorizado, após ver uma foto com negros linchados e pendurados como frutos numa árvore, decidiu escrever uma canção de protesto. Mortos por brancos racistas e deixados ao relento para que os corvos os devorassem, aqueles negros eram os "estranhos frutos" da canção.
Como dissemos no post anterior e em seus comentários, boa parte dos red necks não deve ter dado importância à vitória de Lewis Hamilton. Muitos deles nem devem saber, já que a Fórmula 1 é um esporte pouco conhecido nos Estados Unidos. Mas não deixa de ser um alento saber que se ontem negros eram cruelmente assassinados e pendurados em árvores, tornando-se essas "frutas estranhas" pendendo de galhos, hoje um deles, pelo menos, é capaz de ser aclamado como vencedor em um esporte altamente elitista.
Sim, eu sei, há muito racismo e crimes racistas cotidianamente, lá como cá, mas não me furto ao direito de ser otimista. Você pode dizer que sou uma sonhadora, mas não sou a única...
Fiquei várias semanas pensando em um mote para escrever sobre Billie Holiday. Depois de dois textos quase seguidos sobre cantoras negras dos Estados Unidos - Dinah Washington e Ella Fitzgerald - me pareceu absurdo não escrever sobre aquela que é considerada por muitos como a maior de todas.
Já disse aqui mesmo que minha preferida é Dinah Washington, o que não quer dizer que ela seja nem que eu a considere melhor que Billie. Gosto é gosto, é coração e emoção, não necessariamente análise estética. Billie é daquela classe de gente que deixou de ser "só" artista, virou mito. Não é só o que ela canta, como ela canta, mas um conjunto de gestos, a tal atitude.
Como Dinah e outras tantas divas, Billie morreu cedo, aos 44 anos, sucumbindo às drogas. Um desfecho coerente com uma vida toda cheia de conflitos e tragédias. Em sua biografia, uma frase na abertura dá o tom: "Quando meus pais se casaram, não passavam de crianças. Papai tinha 18, mamãe, 16 e eu, três." Molestada por um vizinho aos dez anos de idade, e com essa estrutura familiar capenga, acabou internada em uma casa de correção. Aos doze, foi trabalhar em um prostíbulo, lavando assoalhos. Aos catorze, "promovida" à função essencial do estabelecimento.
Em 1930, com quinze anos, Billie viu-se ameaçada de despejo, do quarto onde morava com a mãe. Em busca de um emprego melhor, ofereceu-se como dancer em um bar do Harlem. Era um desastre dançando, mas o pianista intuiu que a moça sabia cantar. Ganhou o emprego de crooner e ficou cantando na noite até que o crítico John Hammond a viu em cena e conseguiu que ela entrasse em estúdio pela primeira vez, gravando com Benny Goodman.
Sua produção em estúdio foi frenética. Gravou dezenas de músicas, percorrendo as mais variadas fileiras de compositores - dos clássicos do cancioneiro norte-americano a compositores menos conhecidos, além de ter ela mesma assinado muitas de suas canções.
Mas o que me acendeu uma luzinha para falar de Billie - veja só - foi justamente a vitória de Lewis Hamilton no GP dos Estados Unidos, domingo passado. A abordagem (anti) racista da circunstância (o primeiro negro da história a ganhar uma corrida na Fórmula 1 - e ganhou logo duas seguidas) me fez lembrar de dois episódios vividos por Billie.
Um é contado em tom de lenda e envolve um astro de primeira grandeza de Hollywood. Billie teria entrado em um bar e pedido uma bebida no balcão, ouvindo um categórico não do atendente. Anos 30 ou 40, barra pesadíssima no país da democracia. Billie teria protestado, em vão, até que atrás dela soou uma voz decidida, em direção ao balconista. "Sim, você vai servi-la." Virando-se para trás, Billie deu de cara com Clark Gable. Resta saber se ele tinha mesmo mau hálito, como apregoa a mitologia em torno de "...e o vento levou".
A outra história não tem nada de lenda e reflete como, há pouco mais de meio século, a barbárie ainda fazia estragos medonhos no país da liberdade.
Uma das músicas mais importantes do repertório de Billie Holiday é "Strange fruit", composta por um professor judeu, de pseudônimo Lewis Allan. Aqui, reproduzo um trecho da coluna "Fruta pisada", escrita por Vange Leonel na Folha de S. Paulo em abril deste ano:
Quando cantou pela primeira vez a canção "Strange Fruit", Billie Holiday estranhou o silêncio da platéia. Achou que não havia agradado. Mas logo alguém se levantou, bateu palmas freneticamente e puxou o aplauso de todo o público.
"Strange Fruit" foi composta por um professor judeu que lecionava num bairro negro. Horrorizado, após ver uma foto com negros linchados e pendurados como frutos numa árvore, decidiu escrever uma canção de protesto. Mortos por brancos racistas e deixados ao relento para que os corvos os devorassem, aqueles negros eram os "estranhos frutos" da canção.
Como dissemos no post anterior e em seus comentários, boa parte dos red necks não deve ter dado importância à vitória de Lewis Hamilton. Muitos deles nem devem saber, já que a Fórmula 1 é um esporte pouco conhecido nos Estados Unidos. Mas não deixa de ser um alento saber que se ontem negros eram cruelmente assassinados e pendurados em árvores, tornando-se essas "frutas estranhas" pendendo de galhos, hoje um deles, pelo menos, é capaz de ser aclamado como vencedor em um esporte altamente elitista.
Sim, eu sei, há muito racismo e crimes racistas cotidianamente, lá como cá, mas não me furto ao direito de ser otimista. Você pode dizer que sou uma sonhadora, mas não sou a única...
Monday, June 18, 2007
O fim do apartheid
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Nos idos dos anos 1990, um racha transformou a principal categoria de monopostos dos Estados Unidos em dois campeonatos. Naqueles tempos, depois de triunfos seguidos de Emerson Fittipaldi, um grande fluxo de pilotos de fora dos Estados Unidos começou a se deslocar para aquela que nos acostumamos a chamar, no Brasil, de Fórmula Indy, embora este nunca tenha sido o nome oficial da categoria.
Motivados um pouco por reserva de mercado e muito por pura xenofobia, os donos do circuito de Indianápolis lideraram a separação. Nascia assim a IRL - Indy Racing League - campeonato originalmente idealizado para ter corridas apenas em pistas ovais e só com pilotos estadunidenses. Se a Fórmula Indy já não era um primor de competição, o racha criou duas categorias ainda piores. Antes de falir por completo, a IRL foi aos poucos abandonando o radicalismo oval e a xenofobia, e hoje tanto corre em circuitos mistos quanto "aceita" pilotos estrangeiros.
A Fórmula 1 corre em Indianápolis desde 2000, não no oval, mas em um circuito misto que aproveita partes do traçado tradicional das 500 Milhas. Ontem, a vitória de Lewis Hamilton, a segunda de sua carreira, a segunda na América do Norte, a segunda em uma semana, tem este significado simbólico.
Foi ali, no Meio-Leste dos Estados Unidos, no "tempo sagrado da velocidade", na casa dos xenófobos que Hamilton, o primeiro negro da história a vencer um GP de Fórmula 1, simbolicamente determinou o fim do apartheid na Fórmula 1. Antes da corrida, toda aquela papagaiada tricolor: grid girls vestidas como a Mulher Maravilha, cheias de listras e estrelas, uma cantora dilacerando o hino estadunidense no melhor estilo "matança do porco". Depois da prova, a dona do circuito Mrs. Não-sei-o-quê George, com um cabelo que mais a deixava com a cara da Bruxa Má do Leste, entregando o troféu ao já mítico Hamilton.
Oh, pequenos grandes prazeres das pistas: como foi bom imaginar a cara dos red necks ao presenciar tal cena...
Nos idos dos anos 1990, um racha transformou a principal categoria de monopostos dos Estados Unidos em dois campeonatos. Naqueles tempos, depois de triunfos seguidos de Emerson Fittipaldi, um grande fluxo de pilotos de fora dos Estados Unidos começou a se deslocar para aquela que nos acostumamos a chamar, no Brasil, de Fórmula Indy, embora este nunca tenha sido o nome oficial da categoria.
Motivados um pouco por reserva de mercado e muito por pura xenofobia, os donos do circuito de Indianápolis lideraram a separação. Nascia assim a IRL - Indy Racing League - campeonato originalmente idealizado para ter corridas apenas em pistas ovais e só com pilotos estadunidenses. Se a Fórmula Indy já não era um primor de competição, o racha criou duas categorias ainda piores. Antes de falir por completo, a IRL foi aos poucos abandonando o radicalismo oval e a xenofobia, e hoje tanto corre em circuitos mistos quanto "aceita" pilotos estrangeiros.
A Fórmula 1 corre em Indianápolis desde 2000, não no oval, mas em um circuito misto que aproveita partes do traçado tradicional das 500 Milhas. Ontem, a vitória de Lewis Hamilton, a segunda de sua carreira, a segunda na América do Norte, a segunda em uma semana, tem este significado simbólico.
Foi ali, no Meio-Leste dos Estados Unidos, no "tempo sagrado da velocidade", na casa dos xenófobos que Hamilton, o primeiro negro da história a vencer um GP de Fórmula 1, simbolicamente determinou o fim do apartheid na Fórmula 1. Antes da corrida, toda aquela papagaiada tricolor: grid girls vestidas como a Mulher Maravilha, cheias de listras e estrelas, uma cantora dilacerando o hino estadunidense no melhor estilo "matança do porco". Depois da prova, a dona do circuito Mrs. Não-sei-o-quê George, com um cabelo que mais a deixava com a cara da Bruxa Má do Leste, entregando o troféu ao já mítico Hamilton.
Oh, pequenos grandes prazeres das pistas: como foi bom imaginar a cara dos red necks ao presenciar tal cena...
Wednesday, June 13, 2007
Linha de chegada
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Quem assina a Net e quiser me conhecer pela telinha pode sintonizar o programa "Linha de Chegada" desta quinta-feira, 14/06, no Sportv 2, a partir das 21h30. Participei como jornalista convidada, dividindo a mesa com o simpático Sérgio Maurício, narrador e apresentador do canal, do comentarista e velho companheiro Lito Cavalcante e dos pilotos Daniel Serra e Felipe Maluhy, da Stock Car.
Linha de Chegada
Sportv 2
Quinta-feira, 14/06
21h30
Quem assina a Net e quiser me conhecer pela telinha pode sintonizar o programa "Linha de Chegada" desta quinta-feira, 14/06, no Sportv 2, a partir das 21h30. Participei como jornalista convidada, dividindo a mesa com o simpático Sérgio Maurício, narrador e apresentador do canal, do comentarista e velho companheiro Lito Cavalcante e dos pilotos Daniel Serra e Felipe Maluhy, da Stock Car.
Linha de Chegada
Sportv 2
Quinta-feira, 14/06
21h30
Monday, June 11, 2007
MVTANTES, ANO II
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Naquele mesmo palco, em 1992, eu vi Sergio Dias subir para dar uma canja em um show da Rita Lee. Eles não tocaram nada do antigo repertório, mas "Nowhere man", dos Beatles, e "It´s only rock´n´roll, but I like it", dos Stones. Abri bem os olhos e apurei os ouvidos, na certeza de que aquilo era o mais próximo a que eu chegaria de ver Mutantes ao vivo.
Anteontem, três meses e três dias depois de ver Mutantes ao vivo, pela primeira vez, vi Mutantes ao vivo, pela segunda. O lugar antes se chamava Palace, mas hoje é Citybank Hall. Foi ali, há cerca de um ano, que os Mutantes se reuniram para uma espécie de ensaio, antes de se apresentarem no Barbican, em Londres, show que resultou no CD e no DVD que está nas lojas. Ficou uma mistura de dívida de gratidão com superstição em relação ao lugar. Depois de Londres, foram para a América do Norte, viajaram um pouco pelo Brasil, fizeram um show histórico no Museu no Ipiranga, no dia do aniversário de São Paulo. Show em teatro ainda não tinham feito na cidade. Voltaram ao antigo Palace para marcar o fim deste primeiro ano do retorno.
Como já era a segunda vez, em tão pouco tempo, que eu via Mutantes, me achei escolada. "Não estou pilhada como no Tom Brasil, não vou me ajoelhar aos pés de ninguém." E me mantive firme nesse propósito de estar menos emocionalmente envolvida, para enxergar o show com olhos mais críticos, trazer uma opinião um pouco mais imparcial. Estes meus recalques de aluna CDF ainda me matam - talvez de rir. Achei que seria capaz de ver o show sem dançar e cantar junto da primeira à última música, usando o princípio de que trabalho e prazer não se misturam como, dizem, apregoavam as prostitutas antigamente ou preconiza hoje o pessoal que trabalha na Veja.
Comecei a pisar com os dois pés no meu modelito crítica-imparcial assim que pisei no saguão do antigo Palace. Dei de cara com uma mesinha cheia de camisetas dos Mutantes e, claro, despejei 35 dinheiros em uma baby look branca com uma borboleta preta. Daí encontrei e abracei Aluizer Malab, o empresário dos Mutantes, o homem que, em muitos sentidos, fez a coisa acontecer e que logo vai pintar aqui no blog também. Quando me acomodei na pista, razoavelmente perto do palco, fui a nocaute. Meu coração já estava disparado, a boca seca. Supor que assistirei sem emoção a um show dos Mutantes é acreditar que serei capaz de ver um jogo do Corinthians sem torcer.
Desculpem, amigos, isto não é uma crítica de um show. É mais uma declaração de amor.
Arnaldo Baptista e Sergio Dias
Talvez tudo o que eu veja, ouça e leia sobre Mutantes passe pelo filtro do que não fui. Não fui jovem quando eles apareceram, não fui fã de seus figurinos malucos, não fui entusiasta de seus arranjos revolucionários. Não fui ao Urso Branco vê-los tocar em início de carreira, não fui aos festivais, não fui ao programa do Ronnie Von nem ao Divino Maravilhoso. E o fato de eu não ser nascida nessa época não me serve de desculpa. Não fui, vou. Com os olhos desfocados, achando tudo lindo. Se você quiser uma opinião própria e imparcial sobre o show dos Mutantes, ouça o CD, veja o DVD.
Algumas coisas, no entanto, consegui ver com retinas menos turvas. Por exemplo, uma certa tensão que paira em torno de Arnaldo Baptista a cada uma de suas deixas. Parece aquela família com a sina do tio aloprado, aquele parente que se apresenta meio maluco, para uns, ou senil, para outros. Sempre que ele chega, a parentada segura a respiração em uníssono, temendo o vexame que ele possa dar na frente das visitas. Só que ele faz as melhores tiradas da festa, todos riem aliviados e se congratulam, em um silêncio também em uníssono - "por que sempre nos preocupamos à toa...".
Outro detalhe do show que me pareceu digno de uma nota menos emotiva: a constatação de que a banda está fazendo um som de grande respeito, poderoso, vigoroso e, em muitos aspectos, diferente do que fazia em seus antigos shows. É uma porrada forte no peito começar o espetáculo com "Dom Quixote" e "Caminhante Noturno", duas canções com arranjos elaboradíssimos, cheias do gênio criativo do maestro Rogério Duprat. Músicas que, segundo o baterista e chapa Dinho Leme, não dava para fazer com a diminuta estrutura com que se apresentavam naqueles anos 60 e 70. Depois do show, fui dar um abraço no Dinho e comentei isso com ele. Ao nosso lado, o tecladista Henrique Peters, um curitibano muito gente boa, confirmou minha impressão - os recursos de hoje permitem que se faça, sem uma orquestra "de verdade", o que o maestro Duprat tinha idealizado para conjuntos de cordas e sopros. E assim o som preenche os espaços, reverbera no peito, acelera o coração.
Os jovens músicos incorporados à banda são muito bons. A ultra-carismática Simone Soul rouba a cena em muitos momentos. Instalada à direita de Dinho Leme, fez uma amálgama perfeita com o baterista original. O clímax entre os dois acontece no bis, em Bat Macumba, quando ela se posta exatamente ao lado da bateria, vigorosamente tocando tambor ao lado de Dinho. Os vocalistas Esmeria Bulgari e Fabio Recco também ajudaram a encorpar o som. Já não sinto saudade de Rita em Tecnicolor. Esmeria segura tudo e - sem maldade, please - ligeiramente ofusca Zelia Duncan nesse número. Vinicius Junqueira tem a árdua missão de substituir Liminha. Se alguma dúvida havia ficado quanto à sua eficiência, ouça "Dia 36". E, last but not least, uma nota sobre Vitor Alexandre. Que coisa mais Mutante esse menino! Um multi-instrumentista com cara de hippie. Toca teclados, flauta transversa, doce, contrabaixo. Já vi a hora em que ele ia tirar a sanfona para fazer um solo em "2001". Pensou? Ia ficar legal...
Abraço dos manos ao final do show; eu vi: Sergio chorou
Nesse animado e algo caótico backstage, um passarinho me deu uma notícia que fez arrepiar os pelinhos dos meus braços. Folgada como só eu, comecei a dar palpites no repertório. "Por que não 'Dune Buggy', e 'Senhor F', que tal a versão Mutantes de 'Rua Augusta', ou 'Hey, boy'?". Calma, Beth. Este show é o repertório do CD e do DVD, vamos excursionar com ele, depois vem coisa nova, inclusive inéditas. Como é?! Então, os Mutantes estão compondo de novo? Yeah, baby, e com contribuições de Tom Zé, autor das letras de "2001" e "Qualquer bobagem". Uau!
Arnaldo, eu e Sergio, no backstage
Fui ter com Arnaldo e Sergio, acomodados em uma mesinha no fundo do palco. Me "reapresentei" ao Sergio como "a mãe do menino que fez o desenho". Explico: no show do Tom Brasil, entreguei a ele um desenho feito pelo meu filho Gabriel, sete anos incompletos, com todos os integrantes da banda, Zélia e Rita juntas! Pouco antes, o tecladista Henrique mencionou o desenho, que ficou famoso entre os Mutantes. Oh, my... Onde vai parar meu coraçãozinho desse jeito. Sergio se lembrou no ato e mencionou para Arnaldo, que só disse "é, acho que me lembro...". Logo depois, sentou-se com eles a estilista Gloria Coelho, tão pilhada quanto eu, no primeiro show. Falando que sabia as letras de cór, ao que Arnaldo respondeu: "Então, poderia me ajudar, porque eu sempre esqueço." Mas a frase lapidar de Arnaldo foi dada a ele, vale conferir.
(Nessa hora, tive a impressão de que Arnaldo é uma versão conteporânea do Vicente Matheus, presidente falecido do Corinthians, que falava frases desconcertantes, revelando certa ignorância, sendo muitas delas evidentemente armadas. Porque Dinho já me contou que Arnaldo pode ser aéreo para muitas coisas, mas para letras e arranjos originais é uma encíclopédia.)
Pandini, Dinho e eu
Fui, claro, fazer uma foto com Dinho. Ele estava falando com uma mulher muito bonita e pediu a ela que batesse o retrato. "Leila, bate aqui pra nós." Ela é "a" Leila? Sim, era ela, Leila, namorada do Liminha na época, festejadíssima entre a turma. Não perdi a oportunidade de conferir com ela onde era a tal casa dos Mutantes na Cantareira. Já perguntei para outros freqüentadores do lugar, mas ninguém me respondeu com muita precisão. Leila continua morando lá e finalmente pude saber onde ficava a Mutantolândia. Como eu imaginava, bem perto da casa dos meus avós. Pensou? Eu, vizinha dos Mutantes?!
"A" Leila e eu: finalmente, descobri onde era a Mutantolândia
Mais alguém aí foi ao show? Me conta, vai.
Naquele mesmo palco, em 1992, eu vi Sergio Dias subir para dar uma canja em um show da Rita Lee. Eles não tocaram nada do antigo repertório, mas "Nowhere man", dos Beatles, e "It´s only rock´n´roll, but I like it", dos Stones. Abri bem os olhos e apurei os ouvidos, na certeza de que aquilo era o mais próximo a que eu chegaria de ver Mutantes ao vivo.
Anteontem, três meses e três dias depois de ver Mutantes ao vivo, pela primeira vez, vi Mutantes ao vivo, pela segunda. O lugar antes se chamava Palace, mas hoje é Citybank Hall. Foi ali, há cerca de um ano, que os Mutantes se reuniram para uma espécie de ensaio, antes de se apresentarem no Barbican, em Londres, show que resultou no CD e no DVD que está nas lojas. Ficou uma mistura de dívida de gratidão com superstição em relação ao lugar. Depois de Londres, foram para a América do Norte, viajaram um pouco pelo Brasil, fizeram um show histórico no Museu no Ipiranga, no dia do aniversário de São Paulo. Show em teatro ainda não tinham feito na cidade. Voltaram ao antigo Palace para marcar o fim deste primeiro ano do retorno.
Como já era a segunda vez, em tão pouco tempo, que eu via Mutantes, me achei escolada. "Não estou pilhada como no Tom Brasil, não vou me ajoelhar aos pés de ninguém." E me mantive firme nesse propósito de estar menos emocionalmente envolvida, para enxergar o show com olhos mais críticos, trazer uma opinião um pouco mais imparcial. Estes meus recalques de aluna CDF ainda me matam - talvez de rir. Achei que seria capaz de ver o show sem dançar e cantar junto da primeira à última música, usando o princípio de que trabalho e prazer não se misturam como, dizem, apregoavam as prostitutas antigamente ou preconiza hoje o pessoal que trabalha na Veja.
Comecei a pisar com os dois pés no meu modelito crítica-imparcial assim que pisei no saguão do antigo Palace. Dei de cara com uma mesinha cheia de camisetas dos Mutantes e, claro, despejei 35 dinheiros em uma baby look branca com uma borboleta preta. Daí encontrei e abracei Aluizer Malab, o empresário dos Mutantes, o homem que, em muitos sentidos, fez a coisa acontecer e que logo vai pintar aqui no blog também. Quando me acomodei na pista, razoavelmente perto do palco, fui a nocaute. Meu coração já estava disparado, a boca seca. Supor que assistirei sem emoção a um show dos Mutantes é acreditar que serei capaz de ver um jogo do Corinthians sem torcer.
Desculpem, amigos, isto não é uma crítica de um show. É mais uma declaração de amor.
Arnaldo Baptista e Sergio Dias
Talvez tudo o que eu veja, ouça e leia sobre Mutantes passe pelo filtro do que não fui. Não fui jovem quando eles apareceram, não fui fã de seus figurinos malucos, não fui entusiasta de seus arranjos revolucionários. Não fui ao Urso Branco vê-los tocar em início de carreira, não fui aos festivais, não fui ao programa do Ronnie Von nem ao Divino Maravilhoso. E o fato de eu não ser nascida nessa época não me serve de desculpa. Não fui, vou. Com os olhos desfocados, achando tudo lindo. Se você quiser uma opinião própria e imparcial sobre o show dos Mutantes, ouça o CD, veja o DVD.
Algumas coisas, no entanto, consegui ver com retinas menos turvas. Por exemplo, uma certa tensão que paira em torno de Arnaldo Baptista a cada uma de suas deixas. Parece aquela família com a sina do tio aloprado, aquele parente que se apresenta meio maluco, para uns, ou senil, para outros. Sempre que ele chega, a parentada segura a respiração em uníssono, temendo o vexame que ele possa dar na frente das visitas. Só que ele faz as melhores tiradas da festa, todos riem aliviados e se congratulam, em um silêncio também em uníssono - "por que sempre nos preocupamos à toa...".
Outro detalhe do show que me pareceu digno de uma nota menos emotiva: a constatação de que a banda está fazendo um som de grande respeito, poderoso, vigoroso e, em muitos aspectos, diferente do que fazia em seus antigos shows. É uma porrada forte no peito começar o espetáculo com "Dom Quixote" e "Caminhante Noturno", duas canções com arranjos elaboradíssimos, cheias do gênio criativo do maestro Rogério Duprat. Músicas que, segundo o baterista e chapa Dinho Leme, não dava para fazer com a diminuta estrutura com que se apresentavam naqueles anos 60 e 70. Depois do show, fui dar um abraço no Dinho e comentei isso com ele. Ao nosso lado, o tecladista Henrique Peters, um curitibano muito gente boa, confirmou minha impressão - os recursos de hoje permitem que se faça, sem uma orquestra "de verdade", o que o maestro Duprat tinha idealizado para conjuntos de cordas e sopros. E assim o som preenche os espaços, reverbera no peito, acelera o coração.
Os jovens músicos incorporados à banda são muito bons. A ultra-carismática Simone Soul rouba a cena em muitos momentos. Instalada à direita de Dinho Leme, fez uma amálgama perfeita com o baterista original. O clímax entre os dois acontece no bis, em Bat Macumba, quando ela se posta exatamente ao lado da bateria, vigorosamente tocando tambor ao lado de Dinho. Os vocalistas Esmeria Bulgari e Fabio Recco também ajudaram a encorpar o som. Já não sinto saudade de Rita em Tecnicolor. Esmeria segura tudo e - sem maldade, please - ligeiramente ofusca Zelia Duncan nesse número. Vinicius Junqueira tem a árdua missão de substituir Liminha. Se alguma dúvida havia ficado quanto à sua eficiência, ouça "Dia 36". E, last but not least, uma nota sobre Vitor Alexandre. Que coisa mais Mutante esse menino! Um multi-instrumentista com cara de hippie. Toca teclados, flauta transversa, doce, contrabaixo. Já vi a hora em que ele ia tirar a sanfona para fazer um solo em "2001". Pensou? Ia ficar legal...
Abraço dos manos ao final do show; eu vi: Sergio chorou
Nesse animado e algo caótico backstage, um passarinho me deu uma notícia que fez arrepiar os pelinhos dos meus braços. Folgada como só eu, comecei a dar palpites no repertório. "Por que não 'Dune Buggy', e 'Senhor F', que tal a versão Mutantes de 'Rua Augusta', ou 'Hey, boy'?". Calma, Beth. Este show é o repertório do CD e do DVD, vamos excursionar com ele, depois vem coisa nova, inclusive inéditas. Como é?! Então, os Mutantes estão compondo de novo? Yeah, baby, e com contribuições de Tom Zé, autor das letras de "2001" e "Qualquer bobagem". Uau!
Arnaldo, eu e Sergio, no backstage
Fui ter com Arnaldo e Sergio, acomodados em uma mesinha no fundo do palco. Me "reapresentei" ao Sergio como "a mãe do menino que fez o desenho". Explico: no show do Tom Brasil, entreguei a ele um desenho feito pelo meu filho Gabriel, sete anos incompletos, com todos os integrantes da banda, Zélia e Rita juntas! Pouco antes, o tecladista Henrique mencionou o desenho, que ficou famoso entre os Mutantes. Oh, my... Onde vai parar meu coraçãozinho desse jeito. Sergio se lembrou no ato e mencionou para Arnaldo, que só disse "é, acho que me lembro...". Logo depois, sentou-se com eles a estilista Gloria Coelho, tão pilhada quanto eu, no primeiro show. Falando que sabia as letras de cór, ao que Arnaldo respondeu: "Então, poderia me ajudar, porque eu sempre esqueço." Mas a frase lapidar de Arnaldo foi dada a ele, vale conferir.
(Nessa hora, tive a impressão de que Arnaldo é uma versão conteporânea do Vicente Matheus, presidente falecido do Corinthians, que falava frases desconcertantes, revelando certa ignorância, sendo muitas delas evidentemente armadas. Porque Dinho já me contou que Arnaldo pode ser aéreo para muitas coisas, mas para letras e arranjos originais é uma encíclopédia.)
Pandini, Dinho e eu
Fui, claro, fazer uma foto com Dinho. Ele estava falando com uma mulher muito bonita e pediu a ela que batesse o retrato. "Leila, bate aqui pra nós." Ela é "a" Leila? Sim, era ela, Leila, namorada do Liminha na época, festejadíssima entre a turma. Não perdi a oportunidade de conferir com ela onde era a tal casa dos Mutantes na Cantareira. Já perguntei para outros freqüentadores do lugar, mas ninguém me respondeu com muita precisão. Leila continua morando lá e finalmente pude saber onde ficava a Mutantolândia. Como eu imaginava, bem perto da casa dos meus avós. Pensou? Eu, vizinha dos Mutantes?!
"A" Leila e eu: finalmente, descobri onde era a Mutantolândia
Mais alguém aí foi ao show? Me conta, vai.
Sunday, June 10, 2007
Agora, só falta ela
Lewis Hamilton tornou-se o primeiro negro da história a vencer uma corrida de Fórmula 1. É um dia histórico. E revela o quanto este esporte tem sido restrito à tal diversidade. Esta é a 58ª temporada da Fórmula 1. Foram necessários mais de 57 anos para que um negro ganhasse uma corrida. Normal. A Fórmula 1 talvez seja o mais elitista de todos os esportes.
Mas já que a categoria festeja hoje este marco, e anda tão dada a temas atuais como a preocupação com o meio ambiente - vide o eco-carro da Honda (é difícil vê-lo, mas eventualmente ele anda) - cumpre-se fazer uma pergunta. Quando será a vez de uma mulher chegar onde Hamilton hoje chegou?
Friday, June 08, 2007
Wright estava wrong?
Nesta altura da minha vida - e em face do estágio atual da humanidade - poucas coisas ainda me surpreendem. Uma delas é o fato de Wanderley Luxemburgo ser capaz de tirar volantes, colocar atacantes e fazer de seu time uma equipe mais ofensiva ao longo de uma partida.
Wanderley Luxemburgo é um dos mais competentes técnicos do Brasil, sabe mexer em um time como poucos. Mas é algo paradoxal que ele opte por formações mais ofensivas porque Luxemburgo é uma das personalidades mais defensivas que já vi. Aquele sujeito que sempre começa uma resposta com a palavra "não", ainda que seja para concordar com o interlocutor.
Ao final do jogo de quarta passada, no qual o Santos de Luxemburgo foi eliminado pelo Grêmio da Libertadores, o técnico foi alcançado pelos repórteres finda a partida. Como já havia feito no intervalo, disparou pesado contra a arbitragem. Só que, nesse momento, acrescentou um novo personagem ao paredão de sua artilharia - o comentarista de arbitragem da Rede Globo, o ex-árbitro José Roberto Wright.
Tudo porque Wright considerou normal um lance que resultou no único gol do Grêmio na partida, por sinal, o gol que o classificou às finais. Terminado o jogo, Luxemburgo vociferou contra Wright, deixando claro que tinha visto o comentário do ex-árbitro no intervalo do jogo, no vestiário.
Wright respondeu, no ar, de forma sucinta, apelando para o aspecto mais lógico da questão: "Só queria lembrar ao Wanderley que eu não apito mais." A Globo não deu maior destaque ao tema. No Globo Esporte de ontem, dia seguinte ao jogo, nenhuma menção. Fez bem, na minha opinião. Em sua habitual tática de desviar a atenção das próprias deficiências de seus times, Luxemburgo desta vez exagerou. O culpado já não era o árbitro, mas o comentarista da arbitragem!
A Globo é habitualmente acusada de influenciar muita coisa neste país, mas... menos, né?!
Wanderley Luxemburgo é um dos mais competentes técnicos do Brasil, sabe mexer em um time como poucos. Mas é algo paradoxal que ele opte por formações mais ofensivas porque Luxemburgo é uma das personalidades mais defensivas que já vi. Aquele sujeito que sempre começa uma resposta com a palavra "não", ainda que seja para concordar com o interlocutor.
Ao final do jogo de quarta passada, no qual o Santos de Luxemburgo foi eliminado pelo Grêmio da Libertadores, o técnico foi alcançado pelos repórteres finda a partida. Como já havia feito no intervalo, disparou pesado contra a arbitragem. Só que, nesse momento, acrescentou um novo personagem ao paredão de sua artilharia - o comentarista de arbitragem da Rede Globo, o ex-árbitro José Roberto Wright.
Tudo porque Wright considerou normal um lance que resultou no único gol do Grêmio na partida, por sinal, o gol que o classificou às finais. Terminado o jogo, Luxemburgo vociferou contra Wright, deixando claro que tinha visto o comentário do ex-árbitro no intervalo do jogo, no vestiário.
Wright respondeu, no ar, de forma sucinta, apelando para o aspecto mais lógico da questão: "Só queria lembrar ao Wanderley que eu não apito mais." A Globo não deu maior destaque ao tema. No Globo Esporte de ontem, dia seguinte ao jogo, nenhuma menção. Fez bem, na minha opinião. Em sua habitual tática de desviar a atenção das próprias deficiências de seus times, Luxemburgo desta vez exagerou. O culpado já não era o árbitro, mas o comentarista da arbitragem!
A Globo é habitualmente acusada de influenciar muita coisa neste país, mas... menos, né?!
Tuesday, June 05, 2007
Cê tá pensando que eu sou loser?
Imagine um piloto que está há mais de quinze temporadas em uma categoria principal do esporte a motor, já tendo ocupado posições de destaque em equipes de ponta. Apesar do longo período na categoria top, jamais foi campeão mundial e contabiliza apenas sete vitórias no período. Depois de um ano afastado dessa categoria, retorna em uma equipe pequena. Na sexta corrida da atual temporada, consegue um resultado expressivo, chegando em terceiro e subindo ao pódio.
Este é Alexandre Barros, o único brasileiro no Mundial de Motovelocidade há muitos anos. Barros corre atualmente pela modesta equipe Pramac d´Antin. O pódio obtido na corrida de Mugello, na Itália, no último domingo, seria o mesmo que a Super Aguri chegar em terceiro em um GP da Fórmula 1. Justifica-se, portanto, a alegria dos mecânicos e engenheiros do time assim que acabou a corrida.
Barros é um tremendo gente boa, conheci-o quando eu trabalhava na Folha e era uma espécie de sub-Flavio Gomes. O Flavio cobria a Fórmula 1 e eu, as outras categorias a motor. Barros já estava no Mundial de Motos havia alguns anos, mas nunca teve qualquer traço de afetação. Uma vez, precisei de uma foto dele para publicar. Não teve dúvidas: pediu ao pai, "Seu" Coelho, que levasse para mim, na redação. Outros tempos, sem internet...
Barros continua o mesmo cara tranquilo, pelo que me dizem. Vive de pilotar moto na principal categoria do mundo e não transparece nenhuma frustração por não ter sido um super campeão como o foram Michael Doohan ou Valentino Rossi, seus contemporâneos.
E então reflito: tudo é uma questão de como se encara a vida, né? Alguns, com um histórico desse, se sentiriam (se sentem) ultra-frustrados. Só que, nesses quinze anos, nunca ouvi Barros se auto-proclamar mais do que ele é, vestir o manto do herói, posar de vítima, nada disso. Por isso, ninguém lhe aponta o dedo na rua chamando-o de perdedor nem o compara com tartarugas.
Boa, Barros, parabéns pelo pódio!
Este é Alexandre Barros, o único brasileiro no Mundial de Motovelocidade há muitos anos. Barros corre atualmente pela modesta equipe Pramac d´Antin. O pódio obtido na corrida de Mugello, na Itália, no último domingo, seria o mesmo que a Super Aguri chegar em terceiro em um GP da Fórmula 1. Justifica-se, portanto, a alegria dos mecânicos e engenheiros do time assim que acabou a corrida.
Barros é um tremendo gente boa, conheci-o quando eu trabalhava na Folha e era uma espécie de sub-Flavio Gomes. O Flavio cobria a Fórmula 1 e eu, as outras categorias a motor. Barros já estava no Mundial de Motos havia alguns anos, mas nunca teve qualquer traço de afetação. Uma vez, precisei de uma foto dele para publicar. Não teve dúvidas: pediu ao pai, "Seu" Coelho, que levasse para mim, na redação. Outros tempos, sem internet...
Barros continua o mesmo cara tranquilo, pelo que me dizem. Vive de pilotar moto na principal categoria do mundo e não transparece nenhuma frustração por não ter sido um super campeão como o foram Michael Doohan ou Valentino Rossi, seus contemporâneos.
E então reflito: tudo é uma questão de como se encara a vida, né? Alguns, com um histórico desse, se sentiriam (se sentem) ultra-frustrados. Só que, nesses quinze anos, nunca ouvi Barros se auto-proclamar mais do que ele é, vestir o manto do herói, posar de vítima, nada disso. Por isso, ninguém lhe aponta o dedo na rua chamando-o de perdedor nem o compara com tartarugas.
Boa, Barros, parabéns pelo pódio!
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