Wednesday, December 31, 2008
Feliz 2009
Faltam menos de oito horas para a São Silvestre. Mesmo sendo uma corrida festiva, mais uma celebração do que propriamente uma competição para mim, é a única prova do ano que me deixa muito ansiosa.
Enquanto a hora não chega, aproveito para desejar a todos os leitores do blog um excelente 2009. Gostei muito da campanha publicitária do Bradesco, que lançou um criativo 2000inove. Gostei mais ainda do e-mail que recebi de um amigo corintiano, destacando o 9, bem grande, em referência ao novo camisa 9 do Corinthians...
E, como já é tradição, deixo minha mensagem a cargo da aniversariante do dia, Rita Lee (61 anos hoje). Com a letra de "Coisas da Vida", uma de suas melhores baladas, bem apropriada para a data, esses dias em que as pessoas costumam fazer promessas e traçar planos para um novo ano.
Feliz Aniversário, Rita. Feliz 2009, todo mundo!
Amanhã, o tradicional relato da São Silvestre. Até lá!
Coisas da Vida
(Rita Lee)
Quando a lua apareceu
Ninguém sonhava mais do que eu
Já era tarde
Mas a noite é uma criança distraída
Depois que eu envelhecer
Ninguém precisa mais me dizer
Como é estranho ser humano
Nessas horas de partida
É o fim da picada
Depois da estrada começa
Uma grande avenida
No fim da avenida
Existe uma chance, uma sorte,
Uma nova saída
São coisas da vida
E a gente se olha, e não sabe
Se vai ou se fica
Qual é a moral?
Qual vai ser o final
Dessa história?
Eu não tenho nada pra dizer
Por isso digo
Que eu não tenho muito o que perder
Por isso jogo
Eu não tenho hora pra morrer
Por isso sonho
Aaah... são coisas da vida
E a gente se olha,
E não sabe se vai ou se fica
Thursday, December 25, 2008
Reabilitando o "Tema da Vitória"
Associação inevitável: aos primeiros acordes do "Tema da Vitória", mesmo quem não estivesse assistindo à corrida sabia que Senna tinha vencido mais uma. A música, composta por Eduardo Souto Neto, não nasceu para ser o tema das vitórias de Ayrton Senna. Na verdade, não nasceu nem para ser a música oficial das vitórias brasileiras na Fórmula 1.
A primeira vez que a TV Globo tocou-a foi após o GP do Brasil de 1984, vencido pelo arqui-rival de Senna, Alain Prost. Era para ser uma assinatura da transmissão, um fecho apoteótico de cada corrida, mas logo guardou-se a música apenas para os triunfos brasileiros. Foi naquele mesmo ano que Senna estreou, conseguindo sua primeira vitória no ano seguinte. Piquet ainda venceria um campeonato sob vigência do "Tema da Vitória", em 1987, e faria a música tocar por treze vezes (seu número de vitórias entre 1984 e 1991). Mas a música ficou indelevelmente associada a Senna, que teve todos os seus 41 triunfos embalados pelo indefectível tan-tan-tan.
A partir de 1º de maio de 1994, o tan-tan-tan passou a suscitar reações bem diferentes. Tão associado a Senna estava que virou quase marcha fúnebre. Era tocar e um monte de gente chorar. O "Tema da Vitória" virou o tema da imolação do brasileiro. A música só sairia do arquivo da Globo, para registrar uma vitória brasileira, em Hockenheim 2000, com o primeiro dos nove GPs vencidos por Rubens Barrichello. Mas não teve como apagar essa identificação da memória de quem acompanhou a carreira de Senna pela Globo. As gerações que se acostumaram a ouvir a música nos tempos de Senna ainda acusam a associação inevitável.
No entanto...
Meu filho, que tem oito anos e começou a acompanhar Fórmula 1 há cerca de um ano e meio, não faz esse tipo de associação. Até porque ele ouve a transmissão da Rádio Bandeirantes/Band News FM, na qual a mãe comentou a temporada de 2008, e só eventualmente escuta o "Tema da Vitória". Mesmo sem realizar esse movimento pendular - da euforia à tristeza profunda, por causa da música - ele de fato gosta do "Tema da Vitória". Foi por esse interesse dele que voltei a escutar a música com maior freqüência nos últimos tempos.
Tan-tan-tan... tan-tan-tan
E a música revelou uma característica que eu não havia notado, até então. Que coisa mais anos 80! Ouça com mais atenção, qualquer dias desses. Aquele solo de saxofone é uma marca ultra-típica da música pop daquele tempo. O sax, que está para o jazz mais ou menos como a guitarra está para o rock, que revelou músicos geniais como Charlie Parker, Miles Davis, Sonny Rollins, foi "descoberto" pela música pop nos anos 80. Se você é daquela época, há de se lembrar do mega-hit "Your latest trick", do grupo Dire Straits, que tinha como grande destaque o solo de saxofone no começo e entre uma estrofe e outra. O "Tema da Vitória" e "Your latest trick" são contemporâneos. O sax ganhou força na música pop dos anos 80 com um apelo meio sensual (que é o caso da música do Dire Straits), meio exótico.
Quase quinze anos após a morte de Senna, e quase vinte cinco após a estréia do "Tema da Vitória", talvez só agora, com gerações menos impactadas pelo luto, a música comece a ser apenas uma música - muito associada a seu tempo - mas apenas uma música, não uma senha para as lágrimas.
A primeira vez que a TV Globo tocou-a foi após o GP do Brasil de 1984, vencido pelo arqui-rival de Senna, Alain Prost. Era para ser uma assinatura da transmissão, um fecho apoteótico de cada corrida, mas logo guardou-se a música apenas para os triunfos brasileiros. Foi naquele mesmo ano que Senna estreou, conseguindo sua primeira vitória no ano seguinte. Piquet ainda venceria um campeonato sob vigência do "Tema da Vitória", em 1987, e faria a música tocar por treze vezes (seu número de vitórias entre 1984 e 1991). Mas a música ficou indelevelmente associada a Senna, que teve todos os seus 41 triunfos embalados pelo indefectível tan-tan-tan.
A partir de 1º de maio de 1994, o tan-tan-tan passou a suscitar reações bem diferentes. Tão associado a Senna estava que virou quase marcha fúnebre. Era tocar e um monte de gente chorar. O "Tema da Vitória" virou o tema da imolação do brasileiro. A música só sairia do arquivo da Globo, para registrar uma vitória brasileira, em Hockenheim 2000, com o primeiro dos nove GPs vencidos por Rubens Barrichello. Mas não teve como apagar essa identificação da memória de quem acompanhou a carreira de Senna pela Globo. As gerações que se acostumaram a ouvir a música nos tempos de Senna ainda acusam a associação inevitável.
No entanto...
Meu filho, que tem oito anos e começou a acompanhar Fórmula 1 há cerca de um ano e meio, não faz esse tipo de associação. Até porque ele ouve a transmissão da Rádio Bandeirantes/Band News FM, na qual a mãe comentou a temporada de 2008, e só eventualmente escuta o "Tema da Vitória". Mesmo sem realizar esse movimento pendular - da euforia à tristeza profunda, por causa da música - ele de fato gosta do "Tema da Vitória". Foi por esse interesse dele que voltei a escutar a música com maior freqüência nos últimos tempos.
Tan-tan-tan... tan-tan-tan
E a música revelou uma característica que eu não havia notado, até então. Que coisa mais anos 80! Ouça com mais atenção, qualquer dias desses. Aquele solo de saxofone é uma marca ultra-típica da música pop daquele tempo. O sax, que está para o jazz mais ou menos como a guitarra está para o rock, que revelou músicos geniais como Charlie Parker, Miles Davis, Sonny Rollins, foi "descoberto" pela música pop nos anos 80. Se você é daquela época, há de se lembrar do mega-hit "Your latest trick", do grupo Dire Straits, que tinha como grande destaque o solo de saxofone no começo e entre uma estrofe e outra. O "Tema da Vitória" e "Your latest trick" são contemporâneos. O sax ganhou força na música pop dos anos 80 com um apelo meio sensual (que é o caso da música do Dire Straits), meio exótico.
Quase quinze anos após a morte de Senna, e quase vinte cinco após a estréia do "Tema da Vitória", talvez só agora, com gerações menos impactadas pelo luto, a música comece a ser apenas uma música - muito associada a seu tempo - mas apenas uma música, não uma senha para as lágrimas.
Wednesday, December 24, 2008
Sem originalidade, com amor
No ano passado, também usei uma imagem de John & Yoko para expressar meus votos de Feliz Natal para todos vocês.
Um novo ano se foi, outro já vem, e o que você fez?
Eu fiz uma pá de coisas, vocês acompanharam muitas delas. Obrigada pela companhia. Ainda volto aqui, provavelmente, antes de 2009. Se não voltar, pelo menos no dia 1º de janeiro aqui estarei, para o já tradicional post sobre a São Silvestre.
Mais um ano se foi, e a imagem de John & Yoko, símbolo de amor, prevalece em minha memória. Feliz Natal, Yoko. Feliz Natal, John. Feliz Natal, você!
Monday, December 22, 2008
Antes tarde do que nunca!
Amigos deste blog, desculpem pela demora!
Na semana do GP do Brasil, este blog chegou à sua 300ª postagem e, em comemoração, ofereci um exemplar do livro "O Boto do Reno" entre os leitores que acertassem o campeão mundial de Fórmula 1 deste ano.
Fizemos o sorteio há algumas semanas, com o papel sendo retirado pelo autor do livro, meu dileto Flavio Gomes. Quem bateu a foto, na ocasião, atrapalhou-se na hora de gravar a imagem, mas lembrou-se de guardar o papel, para comprovar o vencedor.
Portanto, Adriano Oliveira, entre em contato comigo, pelo e-mail aalves77@gmail.com e me passe seu endereço, para que eu possa enviar o livro.
Parabéns e obrigada a todos que participaram!
Na semana do GP do Brasil, este blog chegou à sua 300ª postagem e, em comemoração, ofereci um exemplar do livro "O Boto do Reno" entre os leitores que acertassem o campeão mundial de Fórmula 1 deste ano.
Fizemos o sorteio há algumas semanas, com o papel sendo retirado pelo autor do livro, meu dileto Flavio Gomes. Quem bateu a foto, na ocasião, atrapalhou-se na hora de gravar a imagem, mas lembrou-se de guardar o papel, para comprovar o vencedor.
Portanto, Adriano Oliveira, entre em contato comigo, pelo e-mail aalves77@gmail.com e me passe seu endereço, para que eu possa enviar o livro.
Parabéns e obrigada a todos que participaram!
Wednesday, December 17, 2008
O grande duelo
Está prestes a acontecer um dos maiores duelos de todos os tempos na história da Fórmula 1. Se o suíço Sebastien Buemi for confirmado na equipe Toro Rosso, ele protagonizará, ao lado do polonês Robert Kubica, uma acirrada disputa pelo título de "o piloto mais feio da Fórmula 1 atual".
Os dois podem ser ótimos pilotos, Kubica até já venceu uma corrida (Canadá 2008), mas os dois bichinhos são feios demais, sô!
Quem será que levaria esse troféu? Em quem você vota?
Monday, December 15, 2008
Um conto são-paulino
Adoro histórias de arquibancada, contadas por testemunhas do lado de lá do alambrado. Quem acompanha esportes há muito tempo, como é o meu caso, coleciona muito da dita história oficial dos eventos esportivos. Mas, pela visão do torcedor, às vezes surgem relatos ótimos, revelando lados diferentes de um mesmo fato. Este me foi contado pelo amigo Ammar Hussein, membro da Equipe Conexão.
Novembro de 1993, São Paulo 3 x Guarani 2, Estádio do Morumbi
O São Paulo fazia seu último jogo pelo Campeonato Brasileiro antes de viajar para Tóquio, de onde voltaria com o bi do Torneio Mundial Interclubes. Eram os tempos de Telê Santana no comando daquele esquadrão que tinha Zetti no gol, Cafu na lateral direita, Toninho Cerezo e Leonardo no meio de campo, Muller e Palhinha no ataque. O Guarani tinha o goleiro Neneca - informação importante para o clímax desta história.
Ammar foi ao estádio com seu tio e se sentou ao lado de um fulano que passou o jogo inteiro xingando o lateral Cafu. Bastava o jogador pegar na bola que o torcedor tricolor gritava os maiores impropérios. "Você é muito ruim, Cafu", "Telê, tira o Cafu" e outros gracejos do tipo.
Até que, em um inspiradíssimo momento, Cafu recebeu um passe ideal, avançou pela grande área, aplicou um chapéu em um dos zagueiros do Guarani, chapelou mais um adversário e perpetrou o gol mais bonito do jogo. O estádio, naturalmente, explodiu em comemoração. Ammar não se esqueceu de deter o olhos no colega que passara o jogo inteiro xingando Cafu. O fulano estava meio atônito, dividido entre o impulso de comemorar e a vergonha.
Passado o momento de explosão da torcida, o estádio voltou àquele silêncio típico de bola rolando. Nesse momento, o desafeto de Cafu novamente se levantou e gritou, plenos pulmões: "Pô, Neneca, mas você é muito frangueiro, hein?! Leva gol até do Cafu!"
Novembro de 1993, São Paulo 3 x Guarani 2, Estádio do Morumbi
O São Paulo fazia seu último jogo pelo Campeonato Brasileiro antes de viajar para Tóquio, de onde voltaria com o bi do Torneio Mundial Interclubes. Eram os tempos de Telê Santana no comando daquele esquadrão que tinha Zetti no gol, Cafu na lateral direita, Toninho Cerezo e Leonardo no meio de campo, Muller e Palhinha no ataque. O Guarani tinha o goleiro Neneca - informação importante para o clímax desta história.
Ammar foi ao estádio com seu tio e se sentou ao lado de um fulano que passou o jogo inteiro xingando o lateral Cafu. Bastava o jogador pegar na bola que o torcedor tricolor gritava os maiores impropérios. "Você é muito ruim, Cafu", "Telê, tira o Cafu" e outros gracejos do tipo.
Até que, em um inspiradíssimo momento, Cafu recebeu um passe ideal, avançou pela grande área, aplicou um chapéu em um dos zagueiros do Guarani, chapelou mais um adversário e perpetrou o gol mais bonito do jogo. O estádio, naturalmente, explodiu em comemoração. Ammar não se esqueceu de deter o olhos no colega que passara o jogo inteiro xingando Cafu. O fulano estava meio atônito, dividido entre o impulso de comemorar e a vergonha.
Passado o momento de explosão da torcida, o estádio voltou àquele silêncio típico de bola rolando. Nesse momento, o desafeto de Cafu novamente se levantou e gritou, plenos pulmões: "Pô, Neneca, mas você é muito frangueiro, hein?! Leva gol até do Cafu!"
Saturday, December 13, 2008
São Silvestre bizarra
Com quase uma semana de atraso (muito trabalho, só isso) consigo agora registrar o treino que a Equipe Conexão fez no domingo passado. Alguns dias antes da São Silvestre, habitualmente fazemos um simulado da prova, percorrendo o mesmo trajeto em um domingo pela manhã. Tem que ser na manhã de um domingo por conta do Minhocão, que fica fechado aos carros nesse dia.
O resto do percurso fazemos preferencialmente pelas calçadas, embora alguns trechos (como o viaduto do Memorial da América Latina) não tenham calçada. Mas, sete e pouco da manhã, no domingo, geralmente é fácil percorrer os 15 km do trajeto que sai da Paulista e volta até ela.
É um treino de reconhecimento de terreno e de auto-avaliação. A preocupação com os carros nos faz, eventualmente, ter de esperar o fechamento de alguns faróis. Perdemos tempo com isso, mas ninguém está ali para buscar tempo. A auto-avaliação se dá mais no sentido de acostumar o corpo e o espírito às dificuldades dessa prova.
Engraçado, mesmo, é circular no Centro de São Paulo nas primeiras horas do domingo. O bando de corredores de camiseta laranja passa por vários grupos de boêmios em fim de noite. Boates caidaças, bares, danceterias moderninhas: todos vão despejando gente ávida por cama, um pessoal que nem disfarça aquela cara de gaveta de meia que não vê arrumação há uns seis meses.
Foi assim na avenida Rio Branco. Ali, os bares vão se enfileirando. Logo depois de cruzar a Duque de Caixas, passamos em frente a um bar bem movimentado. Uma senhora de cabelos loiríssimos (oxigenadíssimos, seria mais honesto dizer) sai do bar com um copo na mão e um cigarro na outra. A mão da coitada parecia uma garra, atrofiada na posição de segurar o bastonete de alcatrão e nicotina que deve lhe ser mais fiel que todos os outros companheiros de copo ali presentes. À nossa passagem, a mulher demonstra todo seu entusiasmo de fim de jornada de trabalho. Levanta os braços e vem em direção ao técnico José Eduardo Pompeu, que liderava o grupo. Na hora, lembrei do lunático que arruinou a maratona de Vanderlei Cordeiro de Lima, na Olimpíada de Atenas. O estado dela, no entanto, não parecia permitir tamanha agilidade. Apenas deu um tapa nas costas do técnico e profetizou: "Ah, cê vai ganhar!". Nilton, o autor da foto deste post, passou em seguida e eu, logo atrás. Nilton escapou, mas eu também levei um tapão da dita cuja. Depois, divagações diversas sobre o delírio da dama. "Nossa! Quanto tempo fiquei nesse bar? Entrei no dia 6 e, quando percebo, já está passando a São Silvestre!"
Pouco mais adiante, no Largo do Paissandu, paramos em um boteco para comprar água. É a única parada que fazemos no treino, e não dura mais de cinco minutos. Tempo suficiente para que eu notasse um plaquinha na geladeira do bar: "Aluga-se este espaço". Conjecturei sobre o que estaria posto à disposição. Se o bar inteiro ou apenas a lateral da geladeira, para algum anúncio. Creiam: a poluição visual do bar faria qualquer um supor que o dono de fato aluga a lateral da geladeira para publicidade.
Dali para frente, faltam pouco mais de três quilômetros para o fim, ou seja, um quinto da prova. Hidratados e com a perspectiva de terminar logo, aumentamos o ritmo no trecho final. Mais bizarrice. Ao lado do Teatro Municipal, um albergue ou bandejão concentrava grande número de moradores de rua pela calçada. Passando pelo grupo, despertamos o instinto primitivo de um deles. Saiu correndo atrás de nós, gritando: "Ei, volta aqui, seus caloteiros! Você está me devendo, não corre não!" Chegamos a temer pela agressividade do fulano, que não parecia estar brincando, mas logo ficou claro que ele não teria pique para correr mais do que até a esquina. Dito e feito.
Terminando o trajeto, fomos para a academia, onde o Zé nos deu um alongamento caprichado e onde tiramos a foto.
O dia estava bem quente, com sol forte pelo menos desde as oito da manhã. Quando chegamos à Paulista, o movimento de carros era bem maior do que no início do treino, mas, ainda assim, minha avenida preferida se mostrava acolhedora e familiar, como sempre surge aos meus olhos. A Paulista, por muitos motivos, é meu lar. Isso também ajuda a explicar por que gosto tanto de correr a São Silvestre.
Dia 31, tem mais.
O resto do percurso fazemos preferencialmente pelas calçadas, embora alguns trechos (como o viaduto do Memorial da América Latina) não tenham calçada. Mas, sete e pouco da manhã, no domingo, geralmente é fácil percorrer os 15 km do trajeto que sai da Paulista e volta até ela.
É um treino de reconhecimento de terreno e de auto-avaliação. A preocupação com os carros nos faz, eventualmente, ter de esperar o fechamento de alguns faróis. Perdemos tempo com isso, mas ninguém está ali para buscar tempo. A auto-avaliação se dá mais no sentido de acostumar o corpo e o espírito às dificuldades dessa prova.
Engraçado, mesmo, é circular no Centro de São Paulo nas primeiras horas do domingo. O bando de corredores de camiseta laranja passa por vários grupos de boêmios em fim de noite. Boates caidaças, bares, danceterias moderninhas: todos vão despejando gente ávida por cama, um pessoal que nem disfarça aquela cara de gaveta de meia que não vê arrumação há uns seis meses.
Foi assim na avenida Rio Branco. Ali, os bares vão se enfileirando. Logo depois de cruzar a Duque de Caixas, passamos em frente a um bar bem movimentado. Uma senhora de cabelos loiríssimos (oxigenadíssimos, seria mais honesto dizer) sai do bar com um copo na mão e um cigarro na outra. A mão da coitada parecia uma garra, atrofiada na posição de segurar o bastonete de alcatrão e nicotina que deve lhe ser mais fiel que todos os outros companheiros de copo ali presentes. À nossa passagem, a mulher demonstra todo seu entusiasmo de fim de jornada de trabalho. Levanta os braços e vem em direção ao técnico José Eduardo Pompeu, que liderava o grupo. Na hora, lembrei do lunático que arruinou a maratona de Vanderlei Cordeiro de Lima, na Olimpíada de Atenas. O estado dela, no entanto, não parecia permitir tamanha agilidade. Apenas deu um tapa nas costas do técnico e profetizou: "Ah, cê vai ganhar!". Nilton, o autor da foto deste post, passou em seguida e eu, logo atrás. Nilton escapou, mas eu também levei um tapão da dita cuja. Depois, divagações diversas sobre o delírio da dama. "Nossa! Quanto tempo fiquei nesse bar? Entrei no dia 6 e, quando percebo, já está passando a São Silvestre!"
Pouco mais adiante, no Largo do Paissandu, paramos em um boteco para comprar água. É a única parada que fazemos no treino, e não dura mais de cinco minutos. Tempo suficiente para que eu notasse um plaquinha na geladeira do bar: "Aluga-se este espaço". Conjecturei sobre o que estaria posto à disposição. Se o bar inteiro ou apenas a lateral da geladeira, para algum anúncio. Creiam: a poluição visual do bar faria qualquer um supor que o dono de fato aluga a lateral da geladeira para publicidade.
Dali para frente, faltam pouco mais de três quilômetros para o fim, ou seja, um quinto da prova. Hidratados e com a perspectiva de terminar logo, aumentamos o ritmo no trecho final. Mais bizarrice. Ao lado do Teatro Municipal, um albergue ou bandejão concentrava grande número de moradores de rua pela calçada. Passando pelo grupo, despertamos o instinto primitivo de um deles. Saiu correndo atrás de nós, gritando: "Ei, volta aqui, seus caloteiros! Você está me devendo, não corre não!" Chegamos a temer pela agressividade do fulano, que não parecia estar brincando, mas logo ficou claro que ele não teria pique para correr mais do que até a esquina. Dito e feito.
Terminando o trajeto, fomos para a academia, onde o Zé nos deu um alongamento caprichado e onde tiramos a foto.
O dia estava bem quente, com sol forte pelo menos desde as oito da manhã. Quando chegamos à Paulista, o movimento de carros era bem maior do que no início do treino, mas, ainda assim, minha avenida preferida se mostrava acolhedora e familiar, como sempre surge aos meus olhos. A Paulista, por muitos motivos, é meu lar. Isso também ajuda a explicar por que gosto tanto de correr a São Silvestre.
Dia 31, tem mais.
Friday, December 12, 2008
Carta ao editor
O carro ou o piloto? Quem é mais importante? Meu antigo chefe, Flavio Gomes, acha que é o carro. E eu aproveito a instigação para mais uma coluna no GPTotal. Vai lá, vai...
Friday, December 05, 2008
Não serve para nada...
Quando comecei a escrever para o GPTotal, nos idos de 2004, levei castimbadas de todo lado, por conta de uma coluna chamada "A Fórmula 1 não serve para nada".
Está lá, nos arquivos do GPTotal (vá até Colunas, selecione meu nome e escolha Colunas antigas de Alessandra - infelizmente, não tem link direto para esse conteúdo). Para quem não quiser ler, um trechinho:
"(...) Se não estão lá para desenvolver nada, por que diabos as grandes marcas desembarcaram em peso na Fórmula 1 nos últimos anos? A resposta confirma a tese deste comentário. O grande atrativo da categoria é sua imagem. Para Mercedes-Benz, BMW, Honda, Toyota, Ford (com Jaguar), estar na Fórmula 1 é aparecer, consolidar suas marcas, associá-las à elite do esporte mundial. Estão na Fórmula 1 pela grandiosidade de seus eventos, pela audiência que ela gera no mundo inteiro.(...)"
A tese, a que me refiro no trecho acima, é a de que a Fórmula 1, hoje, é muito mais um instrumento de marketing das corporações do que propriamente um banco de provas para novas soluções automotivas.
Hoje, no Japão, a Honda confirmou sua saída da categoria. A fala do presidente não deixa dúvidas: vamos sair desse negócio, um sorvedouro de dinheiro, para nos concentrar no nosso negócio de fato (o chamado "core business" no jargão corporativo) - produzir e vender carros. Ou seja, a Fórmula 1, para a indústria automotiva, é um apêndice, um cartão de visita, um investimento de marketing.
Eu avisei...
E vocês, o que acham?
Está lá, nos arquivos do GPTotal (vá até Colunas, selecione meu nome e escolha Colunas antigas de Alessandra - infelizmente, não tem link direto para esse conteúdo). Para quem não quiser ler, um trechinho:
"(...) Se não estão lá para desenvolver nada, por que diabos as grandes marcas desembarcaram em peso na Fórmula 1 nos últimos anos? A resposta confirma a tese deste comentário. O grande atrativo da categoria é sua imagem. Para Mercedes-Benz, BMW, Honda, Toyota, Ford (com Jaguar), estar na Fórmula 1 é aparecer, consolidar suas marcas, associá-las à elite do esporte mundial. Estão na Fórmula 1 pela grandiosidade de seus eventos, pela audiência que ela gera no mundo inteiro.(...)"
A tese, a que me refiro no trecho acima, é a de que a Fórmula 1, hoje, é muito mais um instrumento de marketing das corporações do que propriamente um banco de provas para novas soluções automotivas.
Hoje, no Japão, a Honda confirmou sua saída da categoria. A fala do presidente não deixa dúvidas: vamos sair desse negócio, um sorvedouro de dinheiro, para nos concentrar no nosso negócio de fato (o chamado "core business" no jargão corporativo) - produzir e vender carros. Ou seja, a Fórmula 1, para a indústria automotiva, é um apêndice, um cartão de visita, um investimento de marketing.
Eu avisei...
E vocês, o que acham?
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