Wednesday, September 24, 2008

Só falta ver Deus



Desde seus tempos de GP2, sempre gostei de Lewis Hamilton. Sua estréia na Fórmula 1 foi acachapante, principalmente por desempenhos como no GP do Japão, sob chuva intensa, e pela regularidade entre os primeiros colocados ao longo de quase todo o campeonato. É certo que ele parecia favorecido dentro da equipe e mesmo fora dela, com decisões algo questionáveis de uma Fórmula 1 que se mostrava, como eu mesma, encantada pelo ímpeto do rapaz.

Na polêmica acerca da ultrapassagem sobre Raikkonen, na Bélgica, alinhei-me junto dos que consideraram injusta a punição. Eu, Lauda, Emerson e outros achamos que sim, Hamilton levou vantagem, mas devolveu a posição, o que deveria, na nossa opinião, encerrar o assunto.

Mas eis que a McLaren apela da decisão, a FIA convoca uma audiência, Hamilton vai depor e se sai com a seguinte frase, em um bate-boca com um dos advogados da Ferrari: "Sou piloto desde os oito anos de idade e sei muito bem como ultrapassar, e é por isso que sou o melhor no que faço."

Penso que auto-confiança é um ingrediente fundamental do sucesso. Só é vitorioso quem, antes de tudo, se considera capaz. Acreditar que é o melhor, invencível, insuperável por ser um combustível poderoso, mas entre acreditar nisso e apregoar isso, ultrapassa-se o limite da auto-confiança para a arrogância.

A conduta de Hamilton, dentro e fora da pista, muitas vezes tem suscitado comparações com Ayrton Senna. E esse tipo de reação, que me perdoem os sennistas radicais, também os aproxima. Senna também se considerava o melhor, ungido por Deus para ser campeão de tudo e reagia a toda derrota como se fosse uma grande injustiça, uma cena fora do script divino.

Se o inglês continuar seguindo a mesma cartilha, vai acabar vendo Deus em alguma saída de curva logo, logo.

20 comments:

Fábio said...

Olá, acho que a vida do Hamiltom na F1 será muito parecida com a do Nigel no final dos anos 80 e começo dos 90, um piloto de muito show, mas muitos erros, muitas vitórias e pouco ou nenhom título
Fábio Sinegaglia
sinegaglia@uol.com.br

Anonymous said...

Concordo em gênero, número e grau com você. Porém, Senna não escapou de uma curva por imprudência em uma manobra mal calculada. Todo piloto corre este risco, ainda mais quando tem um estilo de pilatem audacioso, mas não foi o caso.
Hamilton tem que lembrar que antes de ser arrogante, precisa ser campeão mundial. Falar e não levar o título para casa, pega mal. Depois, ele pode se dar ao luxo se achar o melhor na categoria, pelo menos em um ano da vida dele. Concordo com o Fábio, muitas vitórias, mas muitos erros. Ainda sobra garganta e falta resultado.

Fábio said...

Jéssica, o que eu quiz dizer foi de erros contantes de pilotagem, o Ayrton tambem teve os seus, cito 3: Monaco 88, Monza 88 e Brasil 90. Porém nos anos citados ele foi campeão. Vamos ver se o inglês da McLaren confirma ou não o título, pois em 2007 ele já jogou um fora.
Qto a morte do Senna foi fatalidade, e isso faz parte da vida, isso eu procuro explicações fora das pistas em campos religiosos, mas ia é outro tema e não cabe aqui.

Anonymous said...

Perfeito Alessandra !

Não mudo uma vírgula .

Jonny'O

Anonymous said...

Esse post foi muito certeiro. Parabéns.
E logo essa faceta o Hamilton foi herdar do Senna...? Santinho x Malvados novamente? Que saco... Quem será o Demônio-Prost dessa vez? O Felipe Massa? O Kimi "Sem Culhões" Raikonnen? Quando leio essas coisas, mentalizo uma imagem do Kubica jogando baralho com o Alonso, ou o sorriso do Vettel ao relativar sua conquista.

Flavio said...

Mídia, mídia, mídia...Acaba fazendo-o acreditar que ele é aquilo que seus expectadores desejam, um herói supremo!

Anonymous said...

É melhor esquecer a punição em Spa, é passado e nada vai mudar o fato de que ele foi punido. Eu concordo com a punição, mas a manobra foi tão legal, tão bonita que se não punissem eu também adoraria...
Quanto as comparações a Ayrton Senna, bem, sei não.
Todo mundo é diferente. Senna se achava o 'the best' metade do mundo achava também, só que por estas atitudes a outra metade do mundo - (racional de mais esta divisão, mas to com preguiça de dividir de uma forma que os que gostavam fiquem em maioria)- o achava o 'the beast'. Fico no meio termo. Fico feliz apenas por te-lo visto correr.
ah mais uma coisa... Se Hamilton vir Deus numa saida de curva pode estar certa... Ele vai estar falando de Eric Clapton viu...

Anonymous said...

Um pouco de autocrítica é importante para todo mundo, ainda mais se você arrisca sua vida a 320 km/h.

Quem avisa amigo é...

Wallace Michel

Anonymous said...

Mas após tudo o que comentamos aqui, o Hamilton continua sendo um grande piloto, não podemos esquecer. Acredito no seu amadurecimento como pessoa e profissional (ele é mais aberto que "aquele outro" da comparação, que, nas pistas, foi um dos poucos que podem receber o título de gênio, também não podemos esquecer). Vamos aguardar o GP noturno para ver o rumo que toma o campeonato.
Correção de erro de digitação (juro) da mensagem anterior: "relativizar".

Anonymous said...

Realmente, para um preto chegar na F1 tem que se achar muito, senão é atropelado pelo preconceito!!!
(Digo "preto", porque é a expressão falada, bem mais forte que a sempre escrita "negro".)
Idiossincrasias à parte, Senna e Hamilton se parecem no atacado, mas diferem muito no varejo.
1)Senna se valia da mídia, Hamilton é engolido por ela. Senna jamais abandonaria sua rotina de preparação para atender compromissos midiáticos, como chegou a ser atribuído a Hamilton em certos momentos.
2) Senna era extremamente reservado e chegava mesmo a afastar as pessoas, sendo considerado pessoa "gelada" pela maioria que o conheceu. Hamilton se derrete para os fãs, faz jogo de cena, tenta ser cordato até demais, o que vem soando como futilidade.
3) Senna era extremamente religioso, místico até. Só após estar ungido pelos resultados nas pistas é que começou a se valer das prerrogativas, exigindo certa reverência. No começo de F1 era um moço tímido, simplório.
Hamilton,por sua vez, já se comporta como campeão antes mesmo de o sê-lo.
4) Senna errava, sim, mas geralmente em situações limites,pois convém lembrar que em 1993 ele lvou aquele Maclaren nas costas contra a Williams. O Hamilton erra muito, geralmente onde menos se espera e quando menos se é permitido. Convenhamos que a chapada nos boxes só perde para aquele que levou a amgueira de abastecimento junto...
Ao que parece, até pelo capacete, Hamilton deve se inspirar demais em Senna, mas está tomando os erros por modelo.

Anonymous said...

Opa! Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Lewis Hamilton não pode e nem deve ser comparado a Ayrton Senna em muitas coisas. Mas se realmente rolar esse negócio de "eu vi Deus"... sem comentários...

Anonymous said...

Grande Alessandra,

mas esse cara ta chorão eim...agora poder encontrar deus..o lokoooo...

vai ter mts posts sobre senna..aguentaaaa

Anonymous said...

Esse post foi muito certeiro (2)
Deu o que pensar...
Eu não faria a oposição saltinho x malvado. É o santinho/malvado x malvado/santinho.
E só pra complicar mais, concordo com o que o Fabrizio disse, ele tem que se achar muito mesmo pra ignorar às restrições idiotas que infelizmente ainda existem. Mas isso me lembrou que a família senna é riquíssima e sabemos como é difícil um rico entrar no reino dos céus ou cair nos braços do povo. Isso costuma ser pecado por aqui, mas no caso de senna o povo nem lembra.

Anonymous said...

Concordo plenamente com o ponto de vista e a comparação.
As vezes fica um pouco enfadonho, mas gosto do estilo gente boa do Massa, é diferente do jeito muitas vezes bobão do Rubinho. Nesse aspecto aliás, parece que o Massa foi se inspirar em outro campeão da F1, Fittipaldi.
Uma pena o Hamilton abandonar o jeito descontraído e leve do ano passado. Claro que a pressão passa a fazer parte, mas resistir me parece melhor que reagir caminhando pelo triste caminho da arrogância

Alessandra Alves said...

fábio: talvez o hamilton seja menos pé frio que o mansell, além de me parecer bem mais refinado (no estilo de pilotagem). o mansell tinha um jeito mais abrutalhado de pilotar. o hamilton é afoito, mas talvez se emende...

jéssica: mesmo que conquiste vários títulos, hamilton deveria moderar a língua. conheci juan-manuel fangio pessoalmente, e ele era o maior de todos os tempos naquela época. não tinha um centésimo dessa empáfia.

jonny´o: :)

neder: se fosse pela relação do ano passado, acho que o demônio do hamilton seria o alonso. agora, acho que ele está danado mesmo é com a fia, sentindo-se aviltado.

flavio: sim, a mídia colabora, mas se o sujeito não quiser vestir a capa do herói, não veste, concorda? veja o vettel depois da pole, em monza. recusou comparações a schumacher e foi extremamente maduro ao responder a pegunta "você é a pessoa mais feliz do mundo?". disse simplesmente que acreditava que havia muitas outras pessoas felizes no mundo naquele instante, por motivos diversos, e que a fórmula 1 não é a coisa mais importante do mundo...

ron: bingo! eu gostava de senna e gosto de hamilton. gosto do estilo de ambos ao volante. nem santos, nem demônios. apenas humanos, talvez, demasiado humanos...

wallace: auto-crítica, humildade, vontade de melhorar sempre...

fabrizio: confesso que levei um susto ao começar a ler sua mensagem! depois, entendi o contexto do "preto" e tudo se aclarou. não acho que nossas posições sejam antagônicas. acho que hamilton, como você pontuou, talvez tenha senna como uma referência muito forte, e talvez esteja errando na dose ao imitar o ídolo.

mattar: mas ele parece perseguir essa comparação, ou não?

matheus: note bem, eu não disse que ele viu deus, mas que está no caminho de fazer declarações desse tipo. tomara que não!

lynwilliams: sobre a família do senna, acho que esse detalhe entrou no rol das características do automobilismo, porque o público se acostumou ao fato de que pilotos, em geral, vêm de famílias ricas. se ele fosse jogador de futebol, talvez enfrentasse um preconceito às avessas.

celso: eu ainda tenho esperança de que o hamilton mude seu comportamento com o passar do tempo, porque é mesmo um prazer vê-lo pilotar. não quero começar a ter antipatia por ele!

Fábio said...

Cara Alessandra, menos pé frio ou não, o Mansell conquistou um título mundial 92 , o Nigel endureceu campeonatos para o Piquet 87, Prost 86 e Senna 91, que eram grandes pilotos, o LHamilton ainda não ganhou nenhum campeonato e acho que novamente não ganhará em 2008.
Felicidades p/ vc e todos os gloqueiros de plantão

Anonymous said...

Caríssima, ainda bem que você entendeu o "tom", e ao que parece os demais colegas, senão a coisa ficaria deveras preta pro meu lado!

f1 circus said...

Fabrizio Salina.

Seu cotejo é impagável.

Assino embaixo.

Capelli said...

Nossa, Alê!

Você reparou que escrevi algo muito parecido com você?

http://blogdocapelli.blogspot.com/2008/09/cheio-de-marra.html

É bom saber que estou bem acompanhado. :)


Abraço,

Capelli

Anonymous said...

É... o Capelli já tinha comentado isso no blog dele, e eu postei lá que: como foi colocado a frase parece sinal de arrogancia, mas tem que entender todo diálogo pra entender...


Como voce mesmo falou ele (Hamilton) tava batendo boca com o advogado e ele (Hamilton) perguntou ao advogado se ele sabia pilotar e depois disse essa frase.


Entendendo: ele disse que era melhor naquilo que faz (pilotar) assim como o advogado é melhor naquilo que ele (advogado) faz (defender/acusar)...


Ou seja, cada um é melhor na profissão que tem...