Thursday, September 17, 2009

Sorry, guys


Depois do GP de Cingapura do ano passado, perpetrei este texto:

(...)Mas seria injusto definir o GP de Cingapura, o primeiro grande prêmio noturno da história de Fórmula 1, a corrida de número 800, como “a prova em que Massa saiu do box com a mangueira”. Cingapura 2008 foi a vitória da obstinação, da estratégia perfeita, da condução segura, da maestria de Fernando Alonso. Vê-lo sair do carro quebrado, no Q2, foi desalentador. A Renault vinha muito bem nos treinos livres, o que pode não significar muita coisa na maioria das vezes. Mas Alonso garantia – nunca estivemos tão bem em nenhuma outra pista, neste ano. Porém, o carro parou.

O asturiano chegou a declarar que a corrida estava perdida. Acreditava, mesmo, na possibilidade de uma pole position, e se agarrava a isso como promessa de vitória. Pista de rua, estreita, estreitíssima, por onde ultrapassar? Para ganhar, só saindo na frente. Mas a madrugada deve ter sido longa no box da Renault. Alonso não é de jogar a toalha assim, facilmente. Deve ter se reunido com Briatore e com a trupe de engenheiros e ficaram lá, antevendo situações e escolhendo estratégias. Alonso, entusiasta das mesas de pôquer no box da Force India, deve ter desfalcado o carteado na madrugada de sábado para domingo.

Apostaram que alguém, cedo ou tarde, estamparia o muro, fazendo entrar o safety car. A honra coube a Nelson Piquet, companheiro do próprio Alonso, mas levo apenas como brincadeira a idéia de que o brasileiro possa ter feito isso como jogo de equipe. Alonso beneficiou-se amplamente, pois tinha acabado de fazer seu pit stop, arrancando do carro os pneus extra-macios que não rendiam tão bem, trocando-os pelos compostos macios e reabastecendo o combustível.

Lembrou, vagamente, a estratégia de Nelson Piquet, o pai, em Kyalami 1983. Na ocasião, Piquet sumiu na frente, com pouco combustível no carro, parou antes de todo mundo e garantiu ali seu segundo título mundial. Alonso não largou com tão pouco combustível, mas traçou uma estratégia igualmente inteligente ao fazer uma primeira perna da corrida bem curta, livrando-se logo dos pneus “ruins” e, naturalmente, aproveitando-se da sorte de ter parado no momento certo, exato, pouco antes da entrada do safety car.

Robert Kubica e Nico Rosberg devem ter pensado parecido, calculando um primeiro pit stop precoce, mas não tiveram a sorte de fazê-lo imediatamente antes da entrada do safety car. Ficaram na mão, sob risco de pane seca, e entraram no box quando ainda não podia. Pagaram seus pênaltis com dois stop & go, coisa que não se tem usado com freqüência na Fórmula 1 atual.

Sorte, sim, muita sorte. Estrela: a sorte costuma acompanhar os grandes campeões. Grandes campeões costumam ousar mais, passando mais perto do muro do que os outros. Os outros até passam, mas a diferença, em geral, está no fato de que os outros habitualmente batem.(...)

Desculpem-me, prezados leitores. Sorry, guys. Esta veterana, no fundo, ainda é uma criatura crédula.

9 comments:

Ron Groo said...

Tá perdoada, lembro-me que à epoca muita gente disse o mesmo.

Smirkoff said...

Não há o que se desculpar. Afinal, essa era a corrida que queríamos ter visto. A que foi mesmo, só soubemos agora.

Henrique Minatogawa said...

Nas entrelinhas, já estão evidentes os fatos estranhos que hoje fazem sentido.

Na segunda vez que lemos o texto, parece que há um tom irônico, que faz com que ele ainda seja pertinente.

Michel said...

A pergunta que não quer calar: Como reagirão os espectadores de Cingapura este ano? Vão assistir a corrida, que aliás, é a próxima?

Salvo a questão de os fãs não quiserem queimar dinheiro (porque muitos já devem ter comprado o bilhete), sinto um "cheirim" de prejuízo pro Mr. Bernie...

Fernando Mayer said...

Faço minhas as palavras do Smirkoff.

Aquilo que aconteceu na corrida é o que na verdade nós todos gostariamos de acreditar que aconteceu de fato. Você a torcida do Corinthians do Flamengo e todas as outras juntas acreditaram que o que vimos foi esporte mas não foi. Sendo assim fomos todos feitos de trouxas e o veredito que damos a você é: Absolvida. E os três patetas que armaram aquela pataquada: Carrasco, por favor, pode descer a guilhotina.

Abs

Fábio said...

Querida, queria o seu email, eu escrevi um texto grande e quero te passar, manda um email para o sinegaglia@uol.com.br, que eu te respondo com o texto.

Paula said...

Bom texto.Campeão do mundo ter que ser um pouquinho malvado. E o Alonso não sabia de nada da malvadeza de Cinguapura duvido!!!Quero ver ano que vem Massa e Alonso.

Gustavo Alves said...

Pois é. Já acreditamos até no Coelhinho da páscoa, no Papai Noel e nos políticos.

Celinho Boy said...

Alessandra, me desculpa mais uma vez ter me ausentado tanto tempo do teu blog. e olha que eu tbm perdi o apetite de atualizar meu blog. Contudo, fiz um autopacto: vou ler a maioria dos links e se possível, colocar mais posts.

Sobre a batida, lamentável. E eu pensei que a F1 se restringiria a cortes de gastos, espionagens, urros de macacos e chicotes.
A verdade que Nelsinho queria algum benesse com a manipulação do resultado a favor do príncipe das astúrias. Aliás, o Romario disse uma vez que ele não rei de nada e que ele era sim um príncipe, e que em todo o reino tinha o rei, o príncipe e o bobo da corte. Irônico que nesta história é que o bobo Piquet derrubou o Rei Briatore e agora seu próximo alvo seria o príncipe.
Beijos e abraços
marcelo