Thursday, August 10, 2006

Ciranda de livros

O tema nasceu nas discussões do tópico abaixo ("Vamos defenestrar o ambíguo?") e, para minha grande satisfação, nos colocamos todos a falar sobre livros e experiências de leituras. Como o tema é vastíssimo e como eu não sou nada além de uma leitora dedicada, não terei pretensões de crítica literária. A idéia é compartilhar impressões sobre livros e literatura em geral e me comprometo, dado ao entusiasmo geral manifestado, a periodicamente retomar o tema da literatura, com foco em algum aspecto específico.

Para começar, sugiro que falemos de um livro que tenha marcado intensamente a vida de cada um. Quem gosta de ler certamente terá dificuldade em escolher um só, mas vamos tentar.

"Ciranda de livros" também é o nome da atividade de incentivo à leitura da escola do meu filho, o Gabriel. Cada semana, o aluno leva para casa o livro de um colega até que, encerrado o ano, todo mundo tenha lido o livro de todo mundo.

Vale, novamente, a indicação. Quem quiser saber mais sobre literatura, acesse O Biscoito Fino e a Massa, blog do professor Idelber Avelar que tem, inclusive, um Clube de Leituras virtual.

Começo falando de "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García-Márquez.

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Realismo fantástico, fantasia real

"Cem Anos de Solidão", do colombiano Gabriel García-Márquez, lançado em 1967, foi provavelmente o primeiro livro "adulto" que li. Foi no abrasador verão de 1984, um mês antes que eu completasse 14 anos. Desde os sete, sempre fui uma leitora interessada, mas nunca havia me apegado a um livro como daquela vez. A versão que me caiu nas mãos, emprestada, tinha 364 páginas, que venci em quatro dias.

Não é totalmente verdade dizer que "Cem Anos" foi o primeiro livro de gente grande que li. Antes disso, meninota ainda, dediquei-me a alguns livros de Agatha Christie, autora muito apreciada por meu pai. Ao ler meu primeiro García-Márquez, tive a dimensão do que eram livros para entretenimento e o que era literatura (sem, por favor, entrar em juízos de valor, não por enquanto!).

Talvez tenha sido imprudência entrar na literatura pelas portas do realismo fantástico, esse gênero tão identificado a García-Márquez, que no entanto ele não fundou, mas que ficou indelevelmente associado à sua obra. Imprudência porque a impressão foi tão forte, à época, que depois fiquei algum tempo em dúvida: será que "Cem Anos" me marcou tanto mais por seu universo surreal do que pela qualidade da obra em si?

Afastei essa dúvida a cada nova leitura da obra, na medida em que a riqueza da linguagem, a fluência da narrativa e a exposição de tantos e tão diversos dramas humanos confirmavam que ali estava de fato uma obra-prima, independente do padre que levitava, aparições precedidas de borboletas, uma anciã que encolhia até quase caber numa caixa de sapatos, um bebê com rabo de porco devorado por formigas.

Gente muito mais gabaritada que eu já se debruçou sobre "Cem Anos de Solidão" para dizer o que é, afinal, a fantasmagórica Macondo, o que representa a figura do Coronel Aureliano Buendía, onde estão escondidos mitos milenares nos personagens e fatos da história, o significado daquele final a um tempo tão anunciado e chocante, tão óbvio e tão carregado de angústia. Pessoalmente, a experiência com "Cem Anos de Solidão" ganhou um capítulo riquíssimo e, ouso dizer, alentador, com a leitura de "Viver para Contar", a primeira parte da biografia de García-Márquez, lançada em 2003.

Nesse livro, o autor relembra sua infância, adolescência e os primeiros anos da vida adulta. Muitos dos personagens e fatos contidos em "Cem Anos" são reproduções fantasiosas de personagens e fatos de sua própria vida. Há um fato isolado do período que rendeu, sozinho, um livro inteiro, o também ótimo "Crônica de uma morte anunciada" (leitura recomendada e capítulo obrigatório para estudantes de jornalismo!) O alento vem justamente da percepção que a infância e a juventude de García-Márquez não foram nada de extraordinário, uma vida comum, como a de tantos de nós. E, no entanto, dessa vida ordinária, ele extraiu a matéria-prima para construir uma obra fanstástica, nos dois sentidos. E o alento é perceber que é possível fazer literatura a partir do dia-a-dia mais previsível. Transformar os fatos em um texto imortal é que são elas...

Quem quiser saber um pouco mais sobre "Cem Anos de Solidão" encontra uma breve introdução aqui.

Quem quiser puxar discussão sobre "Cem Anos", esteja à vontade. Quem quiser falar de outros livros, vambora!

36 comments:

Anonymous said...

Alessandra, tudo é bom neste livro. Desde o título, vai pela primeira imagem, segue pela descrição dos personagens, o enredo, o final. Faz tempo que persigo ler este livro no original, ainda não consegui. Já aprendi que o sabor das palavras em espanhol é insubstituível. Já leu "A Casa dos Espíritos", da Isabel Allende? Há uma frase da Clara, logo no comecinho, de sabor intraduzível:
" - Pst! Padre Restrepo! Si el cuento del infierno fuera pura mentira, nos chingamos todos..."
Sou fã do Proust e do Jorge Luis Borges. Pior que acho que o Borges não gostava do Proust e a vice-versa seria idem.
Que notícia boa esta do projeto de ler que está rolando na escola onde teu filhinho estuda. Notícias assim dão conta de que talvez este país venha a dar certo.
Vale uma dica? Se for mesmo partir para "No Caminho de Swann" escolha a edição da Globo, tradução do Mário Quintana.
Inté. Pra compartilhar com todas e todos, ouvindo "la 2x4", rádio argentina, cada tango de arrepiar.

Anonymous said...

Olá
Estava olhando uns blogs, ai achei o seu e resolvi comentar!!
Então, pode falar de outros livros vc falo né, eu gostei bastante de 2, O Senhor dos anéis que é uma triologiua e eu li os 3 alem de assistir os filmes e Renascer que não me lembro o autor tambem é bem bonito!!
Qd der me visita tambem

T+

Anonymous said...

Cem anos de solidão, se fizermos uma enquente entre os livros mais marcantes que as pessoas leram, com certeza ele estará entre os dez. O que tenho a falar sobre esse livro além do que muitos já falaram? Bem, para cada pessoa cada livro tem um sabor especial, cada um de nós têm uma diferente sintonia de sensibilidade, mas se a matéria-prima - livro - for especialmente boa, ele têm o poder de tocar e marcar a todos que o leram... É assim com esse livro, uma viagem inesquecível e inebriante ao coração da latinidade - como mencionaste Alessandra - das luxuriantes florestas que cercam essa tal de Macondo, perdida no mapa e mesmo assim tão referencial.... O livro é perfeito, quase que com efeito narcótico em sua leitura, mágico, divertido, triste....um verdadeiro mosaico humano que culmina com aqueles traços mal rabiscados - mas expressivos ao extremo - do último representante da família Buendía encontrando o seu ocaso, e aquela frase final como que um veredicto que pesa 100kg nas costas do leitor ....Não contive as lágrimas ao chegar ao final, a obra é tocante, por isso tentei encontrar o mesmo - e não achei - nas outras obras desse autor...

Bem, no meu panteão de livros notáveis gosto de destacar "O Tempo e o Vento" também - O Arquipélago - Tomo I da epopéia, é uma viagem as origens do Rio Grande com tanta poesia e nostalgia impregnada que é díficil não nos envolvermos. Os personagens centrais são tão fortes - Ana Terra e Capitão Rodrigo - que absolutamente tudo gravita em torno deles não importando as gerações que o livro avança. São tão carismáticos, tão míticos que ao avançar das páginas, tentamos sempre voltar algumas para criar conexões mais fortes entre os "ancestrais" (os personagens Ana, Capitão e Bibiana) e os seus sucessores nos capítulos e tomos seguinte...sempre fica uma sensação de "queria um pouco mais sobre eles, porque eles tiveram que morrer?"...enfim, o tempo é regido como por um maestro (Veríssimo) nessa magnífica obra. O tempo é inexorável e por mais que você tenha feito ou sua importância, as coisas e os fatos continuam caminhando, muita coisa boa fica para trás e muita coisa boa vem pela frente....díficil explicar com fidelidade o que este livro transmite. Sua magnitude só pode ser sentida lendo, não explicada...

Na próxima gostaria de comentar sobre uma coleção de livros portugueses intitulada "Gigantes da Literatura", simplesmente cultura e história em estado bruto, uma verdadeira aula de humanidade acessível e fácil compreensão...não precisa ser um erudito para apreciar esses grandes autores.

Alessandra Alves said...

mauro: ah, que bom! você puxou a meada de um tema que eu queria mesmo debater - ler no original. que belo desafio esse, não?

tenho me mantido em uma posição quase xiita em relação a traduções. leio-as, claro, mas com uma desconfiança terrível: sinto como se não estivesse lendo a obra do fulano, o autor original, mas do tradutor. acalento planos antigos de ler várias obras fundamentais no original, mas isso se torna inviável, quase impossível. ler "ulysses" no original, por exemplo, quanta dedicação e tempo não demandaria?

minha neura nesse aspecto chega a níveis psicóticos: quanto mais literato for o tradutor, pior! fico sempre pensando que um bom autor, traduzindo outro bom autor, vai querer dar sua melhoradinha no texto, e lá se foi a pureza da obra na língua de origem! aliás, a versão que tenho em casa do "swan" é justamente essa, traduzida pelo mario quintana. doidinha, eu!

seguindo nessa linha, sempre tive menos reservas com traduções de idiomas latinos para o português, que me parecem armadilhas menos perigosas. dostoievsky, por exemplo, só fui ler muito recentemente, quando começaram a sair as primeiras traduções diretas do russo para o português. ler uma tradução de "crime e castigo" a partir de uma versão em francês?! aqui ó! é muito telefone sem fio para o meu gosto.

de garcía-márquez, no original, li só "memórias de minhas putas tristes", porque não aguentei esperar a tradução e porque é uma novela curtinha, encarei numa boa. as traduções do garcía-márquez para o português me deixam muito confortável, porque seu tradutor mais habitual, o eric nepomuceno, tem uma intimidade grande com o autor. eles trocam figurinhas o tempo todo, o que me parece assegurar uma fidelidade maior.

quanto à ciranda de livros da escola do gabriel, sim, é um projeto maravilhoso. já está incorporado há vários anos na escola e as crianças trocam livros desde o maternal. claro que, nos primeiros anos, a dinâmica é que os pais leiam os livros para os filhos, o que já é sensacional, porque estimula um vínculo familiar associado a algo muito positivo. uma hora dessas vou falar mais dessa escola, que realmente me enche dessa mesma esperança que você manifestou.

tango! amigo, sou doida por tango. já escrevi até uma coluna no gptotal sob o título "por uma cabeça", meu tango preferido.

mario: obrigada pela visita e pelo comentário. puxa, não vou poder acrescentar nada em relação ao que você falou sobre "o senhor dos anéis", porque não os li! tomara que o guilherme, leitor do blog e especialista no tema, dê uma passada por aqui e comente algo. vou ver seu blog sim!

Alessandra Alves said...

gustavo m.: postamos ao mesmo tempo, por isso ainda não respondi seu comentário, que merece muita atenção! vou fazê-lo assim que der, tá?!

Anonymous said...

Sem problema Alessandra....nossa, que radical (rs), ler no original? Isso sim é tarefa para poucos; aliás, arrisco a dizer que quase 99% dos leitores não ficam atentos ao fato que certas traduções podem ser muito perigosas para o conteúdo de certos livros. Eu mesmo nunca pensei a respeito, comodismo? talvez, mas é um tópico muito interessante que abordaste. Em todo caso, não pretendo abraçar tal tarefa - de ler no original obras consagradas - imagine-se ler "A Divina Comédia" em italiano arcaico? palmas a quem tem tanta determinação....

Volto a escrever depois - caso o espaço e assunto permita - sobre uma coleção de livros que estou em ardente "lua de mel" (rs).

Ciao

Anonymous said...

Dos livros técnicos o melhor é o de Mecânica dos Fluídos, do legendário professor Franco Brunetti. É o único que dá para ler.

Alessandra Alves said...

gustavo m.: de fato, o impacto de "cem anos de solidão" na maioria de seus leitores é imenso. é muito recorrente, mesmo, situá-lo como um livro marcante, tal qual eu fiz nesse post.

talvez por essa popularidade, noto que ao longo dos anos começaram a aparecer detratores da obra e do autor. acho natural, porque "gosto não se discute", mas acho preconceituoso desfazer do livro, que é um ótimo livro, apenas porque ele se tornou "carne de vaca".

quero retomar um termo que você usou que se afina muito com uma definição que costumo dar de "cem anos". você se referiu ao mosaico humano, eu costumo dizer que "cem anos" é um microcosmo da espécie humana (o que talvez seja a mesma idéia). ali estão contidos, senão todos, vários sentimentos e atitudes do ser humano: amor, ódio, inveja, resignação, revolta, submissão, dominação, luxúria, apatia, loucura, diligência, inocência, ardil e tantos outros.

o irreal que permeia a obra toda talvez seja menos responsável por esse efeito "narcótico" a que você se refere do que a habilidade de garcía-márquez em conduzir as palavras. mesmo mergulhada no universo surreal, a trama ressalta personalidades e situações que, no fundo, estão muito próximas de todos nós, em nossas casas, nas nossas relações, dentro de nós mesmos. e talvez seja essa afinidade do texto com a natureza humana que nos cative tanto.

já que puxamos o fio da meada de "cem anos de solidão", vou propor outro exercício: que tal, agora, falarmos sobre o personagem do livro que mais tenha nos encantado?

quem começa?

mas, gustavo, ainda falando sobre seu comentário: também adoro a saga "o tempo e o vento". e se a gente olhar por um certo ângulo, essa obra e "cem anos de solidão" têm muitos pontos em contato, você não acha? olha lá:

- as duas são uma saga familiar
- as duas têm uma matriarca forte e sempre presente
- as duas têm um guerreiro nato, conquistador
- as duas falam de nações em construção (ainda que a narrativa de garcía-márquez seja surreal, estão ali os ingredientes de conquista, de disputa de terras etc.)
- as duas são retratos de duas regiões, carregando no universo e nas peculiaridades desses espaços delimitados de terra. e, no entanto, tão universais...

já escrevi outras vezes que meu primeiro livro foi um infantil do veríssimo, o que me faz sua admiradora há quase (gulp!) trinta anos...

Anonymous said...

oi alessandra! ótima idéia de discutir livros... eu quase não faço mais isso com os amigos. uma pena!

eu não li o cem anos de solidão, mas li os contos peregrinos e me marcou muito um deles. depois de desposar uma bela jovem rica, o rapazinho também rico entrega uma rosa para a esposa, já na viagem no recém-comprado-caríssimo carro. ferida por um dos espinhos, ela deixa escorrer o sangue, pingo a pingo, pela "janela" do conversível. e morre logo depois de chegar ao hotel que o jovem esposo arrumou. de arrepiar, não?

e o meu prêmio vai ser ainda divido em dois: the catcher in the rye (que pude ler no original!!!), j.d. salinger, e o barão nas árvores (não tive a mesma sorte...), ítalo calvino. são dois textos bem distintos e não tem como comparar. mas acho que o que me fascina em um é o que falta no outro, sabe? a vida medíocre (e realista) de Holden se distancia horrorres da (muito) emocionante vida do barão de rondó, em tudo fantástica.

e os personagens, pra mim, serão sempre calvin e haroldo! heheheh

até,

Anonymous said...

Alessandra, pessoal, bom dia. Alessandra, voce me motivou a reler "Cem Anos...". Puxa, agora vou mesmo atrás de uma edição em espanhol. Acredita que tava vasculhando a rede pra ver se tinha download grátis? A febre de ler quando nos acomete é terrível. Enquanto minha edição não chega e não posso responder, hoje, qual meu personagem favorito do livro, posso variar e tocar no assunto de personagem favorito "de" livro? Três pode ser? Dom Quixote. Phileas Fogg (Volta ao Mundo em Oitenta Dias). Maga, de "O Jogo da Amarelinha", de Júlio Cortázar. Ótimo sábado pra todas e todos, vamos ver que horas que a Cultura vai entregar este livro. Pra compartilhar, ouvindo "Extra", versão Gil e Cidade Negra.

Anonymous said...

Úrsula, sem dúvida o meu personagem preferido da saga de Macondo.

Falando em outros livros, destaco também "Um estranho no ninho" - é...esse é o título em "brasilês", sem comentários - outro tapa no ouvido de quem lê. As aventuras de Randall MacMurph (não sei se a grafia está correta) e seus amigos literalmente piradinhos é de ler em uma passada....
Claro que o livro está à passos a frente do competente filme de Milos Forman, e se você não se emocionar tanto com o final do livro - como o final do filme - amigo, procure um cardiologista para ver se bate um coração em seu peito....

Hermann Hesse também têm livros (contos) de uma beleza ímpar.

Ciao

Anonymous said...

Delícia ler suas mensagens... Parabéns pela explanação sobre o livro.

Alessandra Alves said...

júlia: eu li "o apanhador no campo de centeio" há muitos anos, na adolescência, numa versão traduzida para o português, e gostei muito. seu comentário me deu vontade de relê-lo. certamente, leituras em fases distintas da vida nos trazem visões também distintas, não? era esse o livro que o assassino do lennon dizia tê-lo inspirado a praticar o crime, não era?

nunca li calvino, quanto mais no original!

mauro: puxa, que bela instigação a minha. se você puder, selecione trechos que lhe pareçam particularmente bonitos no original. há várias passagens de "cem anos" que considero memoráveis, como o primeiro encontro do coronel aureliano com a pequena remédios. não é literal, mas é algo mais ou menos assim:

"(...) a imagem daquela menina ficou doendo em alguma parte do seu corpo, como uma pedrinha no sapato."

não é lindo isso?

gustavo m.: meu personagem preferido em "cem anos" é amaranta. não que eu me identifique com ela (deus me livre!), mas aquele seu rancor armazenado sempre me impressionou muito. ela se envenenou conscientemente em toda aquela mágoa, toda aquela culpa. parecia tão certa de estar construindo sua própria ruína que materializou isso, tecendo a própria mortalha. a morte, para amaranta, já não se revestia de tragédia, mas de libertação. a verdadeira tragédia era sua vida, uma sucessão de não-realizações. enquanto os irmãos viveram intensamente, ganharam o mundo, amaram, odiaram, ela permaneceu na mediocridade da vida doméstica, sem nenhum horizonte para além do próprio quintal. considero amaranta uma alegoria da própria condição da mulher, uma mártir feminista. ela não se rebelou, como fez a irmã adotiva raquel, não foi contra as determinações da mãe, mas talvez tenha sido mais rebelde e libertária ao abdicar, um a um, de todos os predicados supostos para uma mulher, naquele tempo, naquele fim de mundo: não se tornou esposa, não foi mãe, aniquilou a vaidade, a preocupação com a aparência. fez da negação do modelo feminino um grito de revolta. nesse panorama, a morte era um prêmio. a mortalha, um troféu. que coragem, amaranta!

gustavo, eu não li esse livro, nem assisti ao filme, mas depois da sua dica, vou fazer o teste para ver se tenho coração!

paty: obrigada! e você, não quer acrescentar nada?

Andréa said...

Adorei o seu blog! Vim direto do blog da Soninha onde vi seu comentario. E adorei esse post que me lembrou "Viva o Povo Brasileiro" do Joao Ubaldo (um dos meus favoritos).
Voltarei mais pra um cafezinho. :)
Abracos.

Alessandra Alves said...

andréa n.: taí, não li "viva o povo brasileiro", séria lacuna na minha biblioteca. preciso fazê-lo. passe sempre, o café estará sempre quente!

Anonymous said...

É verdade, para Amaranta, a morte seria nada mais do que um alívio, um prêmio: "... Como deve ser bela a morte! Jazer na escura terra úmida com a grama odeando sobre a cabeça. Escutar o silêncio, não ter ontem e nem amanhã, perdoar a vida, quedar em paz!..." palavras do fantasma de Canterville.

Aniversário de Orwel, bom lembrar os excelentes "1984" e "Revolução dos Bichos"; imperdíveis também estes!

Anonymous said...

olá!

Acaba de me acontecer o que Soninha relatou hoje em seu blog: num clique descompromissado, me deparei com essa coisa maravilhosa. Que sorte a minha!

Maravilha de blog! tentarei - sou a esquecida das esquecidas - acessar sempre. Eu gostaria de dizer que não pude ler ainda todos os comentários, mas percebi o teor da discussão e me animei pra comentar: das obras citadas, eu já li "Cem anos" e algumas coisas mais de Garcia Marquez; li pouco, mas com voracidade, Borges; crime e castigo; a divina comédia.

Partindo agora para a minha contribuição: que tal Zadig, o conto de Voltaire? E os contos de Isaac Bashevis Singer? Foram das coisas mais geniais que já me aconteceram.

Beijos e até logo!!

Anonymous said...

Pois é...Cem anos de solidão é o meu livro de cabeceira, mesmo que fisicamente meu exemplar tenha criado pernas (coisas que acontecem com os livros do Gabo...).
Sem dúvida um dos três livros mais importantes para mim. Os outros dois? Ulisses (joyce)e Jogo da Amarelinha (Cortázar). Belo blog, visitarei com freqüência...visite-me também.

Inté!!
Sérgio Luiz Rocha

Camila Gancho Portella said...

Olá! Vi o endereço do seu blog no blog da Soninha e passei pra conferir. O texto q ela exemplificou daqui é ótimo e adorei o restante! Muito bom mesmo! Com certeza estarei por aqui sempre que der!

Anonymous said...

Alessandra, dá licença de voltar enquanto não chega meu exemplar aquele de "Cien Años de Soledad"? É só pra dar um oi pra Joana. Puxa, que bom ler alguém citar "Zadig". E o Singer, também, ele é ótimo. Já reparou, Joana? O Isaac Bashevis Singer é o maior atraidor de demônios da literatura mundial. Tem um conto dele que tem dois, um masculino e um feminino morando em uma garota. Pior que ficam conversando e a pobre lá, sem reação.´Pra quem não leu o Singer, não me aceitem literalmente, ele é muito mais que esse comentário bobo que fiz, né, Joana? Alessandra, Joana, pessoal, excelente dia pra voces. Ah, já que falamos de Singer, deixa citar um cantor(ai) que estou ouvindo enquanto redijo: Joe Williams, "Lush Life".

Zeca said...

Também adorei o blog, já está no favoritos do meu browser. Li até hoje 3 livros do Garcia Marquez: amor nos tempos do cólera (lindo), putas tristes e contos peregrinos (sensacional - principalmente os contos "tramontana" e o "verao feliz da sra forbes"). Os 2 últimos li nao faz 2 semanas! Personagens... difícil escolher. Mas eu diria o Riobaldo, do Grande Sertao Veredas. Há alguns anos me coloquei o desafio de desbravar o Grande Sertao, tentei 2 ou 3 vezes e desisti. Fiz entao outra tentativa e encarei o bicho. Resultado: adorei, altamente recomendável! Clássico obrigatório da literatura brasileira. O que mais gosto do Riobaldo é a relacao dele com a fé. Eles diz ter tanta fé, mas tanta fé, que nao tem uma religiao, mas todas! Livro que li nos últimos 12 meses e que está nos meus top 5: "Cisnes Selvagens", da chinesa Jung Chang. A narradora conta a história de sua família através de 3 mulheres: sua avó, sua mae e ela. Desde o início do século XX até os anos 70, passando por todas as mudancas da China, mao, revolucao cultural etc., ela nos conta coisas incríveis sobre a cultura deste gigante desconhecido (ao menos para mim!), as mudancas políticas, o cotidiano. Um relato de quem viveu o período e estava no olho do furacao. Ler e aprender!
Mauro, adorei vossos comentários e as músicas! Compartilhando também (nao resisti), ouvindo agora "I Love's You Porgy", Nina Simone.

Zeca said...

Recebi um email hoje sobre o site Domínio Público (www.dominiopublico.gov.br), que contém conteúdo de literatura, música, vídeo e imagem. Ele pode ser consultado e qualquer documento pode ser baixado gratuitamente. Eu nao conhecia o site e resolvi visitá-lo. Existe conteúdo em várias línguas (de português ao finlandês), texto de escritores mais ou menos "famosos/conhecidos", busca por autor etc. Em resumo, muito conteúdo para todos os gostos. Como curiosidade, existe um ranking de obras mais acessadas... aí vao algumas: A Divina Comédia, Dom Casmurro, Manifesto Comunista (Karl Marx), A revolucao dos bichos e até a Carta de Pero Vaz de Caminha. O email comentava que o governo está pensando em desativar o site, uma vez que o número de visitas é baixo. Portanto, vamos usar e abusar!

Anonymous said...

Mauro,

o nome do conto: "O violinista morto"

maravilhoso mesmo! É raro, e muito estimulante encontrar alguém pra compartilhar isso!!!

maravilha! vamos ferver este blog!! hehe

Você leu "Amor velho" e "Gimpel, o bobo"?

bom dia a todos também :D

Anonymous said...

Oi Alessandra, tudo bem?
Primeiro gostaria de parabenizá-la pelo blog e dizer que, apesar de nunca ter comentado, visito-o sempre.
Agora vamos ao post, na minha escola tinha um projeto super parecido com o que existe na escola do seu filho. Ele se chamava Projeto Vai e Vem, a sala era dividida em 8 grupos, que compravam os livros indicados pela professora, e toda semana um grupo trocava de livro com o outro. A única coisa que eu não gostava era do método de avaliação sobre cada livro, sempre eram aqueles trabalhos superficiais sobre qual parte mais gostou, faça um resumo da obra...
Nada de discussões sobre o autor, sua linguagem, a densidade dos personagens e etc.
Sobre Cem anos de Solidão, ainda não li. Mas encomendei na livraria e ele chega sexta-feira.
E quanto ao fato da interferência dos tradutores na obra, eu acho extremamente provável. Não sei se você sabia que Guimarães Rosa, meu conterrâneo idolatrato, traduzia os próprios livros para diversas línguas. Mas para Rosa isso era quase uma necessidade devido a quantidade de neologismos, onomatopéis e metáforas empregadas em sua obra.Já pensou um gringo tentando traduzir Grande Sertões Veredas?
No mais gostaria de compartilhar o último livro que li e gostei: O Caçador de pipas.
Beijos

Anonymous said...

Oi, Alessandra, boa tarde. Boa tarde pessoal, boa tarde, Joana. Joana, "Amor Velho" ainda não, vou procurar. "Gimpel o bobo" te confesso, quase chorei. O Singer equilibra humor e dor, né? Não sei se vou conseguir traduzir o que penso, mas acho que um dos seus segredos é provocar emoção - no caso, dor - no humor. Estou me referindo só a este conto. A impressão que tenho é que ele tratava os contos, esse gênero, como punhais rápidos. Nos romances parece que ele chega numa praia e fica à espreita pra ver a hora certa de fisgar alguém. "A Família Moskat" é demais. Boa noite pra todas e pra todos. Puxa, queria falar também de "Cavalaria Vermelha", do Babel. Fica proutra hora. Ah, listening "Naquela Estação", Adriana Calcanhoto. Alessandra, voce que tem moral, fala pra Cultura entregar logo meu livro que tá demorando. Inté.

Anonymous said...

Mauro, adoro sua rádio! ;)

Não li Cavalaria Vermelha nem "A família Moskat", mas faço das suas palavras as minhas quando você descreve a escrita de Salinger.

Contos sempre me seduziram. Pensando bem, acho que foi a maneira que encontrei de aliar a vontade de ler com uma enorme preguiça de vencer os escritos muitos longos (preguiça ou vontade de terminar logo, porque sou lerda pra ler). Pequena, meu universo literário era Monteiro Lobato, e demorei um pouco pra mudar de "fábulas: estórias diversas" e "histórias de tia nastácia" para "reinações de narizinho", "a chave do tamanho"... Veja só!

Recentemente fui apresentada à "Bola de Sêbo", Guy de Maupassant (das coisas que tardam até demais pra chegar em nossas mãos, meu Deus...). Contos maravilhosos, pungentes, alfinetadas no nosso mundinho cotidiano. Livro que data de mais de um século, Paris, e mesmo assim fala tão perto daqui.

Mauro, um pouco da Bahia pra temperar sua rádio:
"Luiz Melodia - Questão de Posse"

boa noite a todos!

Alessandra Alves said...

quero agradecer a todos por tantas e tão elogiosas palavras. estejam sempre à vontade! agora, por partes:

gustavo m.: essa citação do fantasma de Canterville me lembrou de outro livro sensacional, "Pedro Páramo", do Juan Rulfo. vc leu?

joana: bem vinda! eu não li esses contos que você citou, agradeço a dica. e fico felicíssima de ver a troca de impressões e idéias entre os leitores deste humilde blog, como aconteceu em seguida às contribuições do nosso sempre musical mauro.

sérgio: livros que criam pernas são mesmo um problema... eu preciso confessar um defeito meu. tenho grande dificuldade em emprestar meus livros, justamente por isso. quando dá, acabo comprando outro e dou de presente para quem pediu. não é um gesto dos mais delicados (há que se confiar nos amigos!), mas pelo menos contribuo para que se vendam mais livros. vou visitar seu blog, prometo! é que a correria está grande esses dias.

mila: obrigada. vou aproveitar e convidar todos vocês a lerem outro texto. o primeiro deste blog, chamado "a parábola do tremoço". depois, digam o que acharam. vou gostar de ouvir os comentários!

mauro: esse papo entre você e a joana está me instigando muito a ler o zadig. o masculino e o feminino convivendo na mesma personagem? uau! preciso ser isso. vocês têm os nomes das obras que contêm esses contos? em tempo: duke ellington é tudo de bom!

zeca: eu não li "contos peregrinos", vou anotar como dica. acabei de comprar outro livro de contos do GGM que ainda não li, "a incrível e triste história de cândida erêndira e sua avó desalmada". está na fila. puxa! você falou em riobaldo... vc chegou a dar uma espiada no blog do Idelber Avelar? (o link está na home). lá, temos um clube de leituras que discutiu recentemente "grande sertão:veredas". olha, eu também fiquei fascinada pelo livro. riobaldo, como você mencionou, é um baita personagem, de uma universalidade espantosa e, no entanto, conservando toda a essência de um simples jagunço aposentado. vale a pena conferir as discussões e contribuições que estão lá.

não li ainda esse livro da autora chinesa. vai para as dicas! ainda não deu para checar o domínio público, mas vou lá. sensacional isso, hein?

priscila: obrigada pelos elogios e por se manifestar. é muito estimulante saber que algumas escolas cultivam esse tipo de prática, não é? depois, diga o que achou de "cem anos", tá? adorei suas observações sobre guimarães rosa e suas traduções. de fato, aquilo seria intraduzível por qualquer outra pessoa!

mauro: quem sou eu para peitar a cultura?! eu também sofri com o atraso deles, tempos atrás, quando comprei um romance sensacional, "duas vezes junho".

joana: sua observação sobre "lerdeza" para ler me deu uma idéia para um post! depois te conto!

Anonymous said...

Alessandra, no site que o Zeca lembrou - http://www.dominiopublico.gov.br - voce vai encontrar duas edições de "Zadig", do Voltaire. pra baixar. Sobre o Isaac Bashevis Singer, há uma edição nas livrarias intitulada "47 Contos". "Gimpel, o Bobo" está na antologia, não sei se "O Violinista Morto" está. Estou procurando, viu? Não estou é encontrando meu exemplar, onde li este conto. É uma edição em inglês, não consigo me lembrar do nome. Aproveitando a gentileza do Zeca, deixa passar uma dica de site legal também? http://www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php. Trocentas mil obras pra baixar, dá até pra ouvir livros falados. Por outra, mudando de assunto pra ficar no mesmo, não há nada que se compare ao livro, o objeto físico, né? Será que um dos segredos é seu aroma? Não "o" segredo, mas um. Putz, pra mim até o cheiro dos Sebos é atraente. Gen tem, Alessandra, a música aqui está demais, notaram? Tangos, Nina Simone, Luiz Melodia, Gil, Joe Williams, Duke Elliongton. Vou passar a me arrumar pra frequentar o blog. Abraços. Ah, Joana, todos, não se permitam ficar sem "A Cavalaria Vermelha", de Isaac Babel. Um livreto de 170 páginas de contos, Editora Oficina de Livros. É um clássico. Ouvindo "Vambora", Adriana Calcanhoto.

Anonymous said...

Alessandra, eu de volta só pra me penitenciar. Que "Elliongton" é esse que eu escrevi? O nome dele é Ellington. Eu que fui um "tonton" ao redigir. Ai, foi mal.

Alessandra Alves said...

mauro: relaxa, eu entedi! putz, me deu vontade de ouvir "take the A train"... aliás, devo confessar que ando com adriana calcanhoto na cabeça por obra e graça de vossa senhoria!

Anonymous said...

Alessandra, Mauro, todos: voces conhecem Big Maybelle? uma das maiores vozes do jazz na minha opinião. ela gravou "it's a man's world", de james brown, maravilhosamente! vale a pensa ouvir! beijos!!!!!

Anonymous said...

esse anônimo fui eu! beijos

Anonymous said...

Oi, Alessandra, pessoal, Joana. Puxa, já faz três dias que estou tentanto baixar "It´s a man´s world" com Big Maybelle e o treco não vem! Consegui por enquanto um "spiritual", "Joshua Fit The Battle of Jericho", fantástico, não conhecia ela não, thanks. Alessandra, relendo "Cem Anos..." por tua graça e inspiração, fiquei com uma dúvida. Esta versão que estou lendo agora tem a tradução assinada por Eliane Zagury, é uma edição da Record. Havia outra tradução ou estou enganado? Bom frio pra todas e todos, viva a Argentina que sempre nos manda um frio legal. Ah, escutando agora Diana Pequeno "Sinal de Amor e de Perigo".

Alessandra Alves said...

joana: embora adore cantoras e cantores de jazz, não conheço Big Maybelle. por sua inspiração, prometo ir atrás. fiquei meio desencantada com novas vozes de jazz, talvez pelo "efeito norah jones". um dia explico melhor. mas pelo jeito, e pelo retorno entusiasmado do mauro, vale muito a pena!

mauro: viva a argentina que nos mandou tevez, mascherano, alfajores, tantos tangos, vinho trapiche. mas o frio?! ah, eu detesto frio! escolhi em país tropical para nascer e, cada vez que o termômetro marca qualquer coisa abaixo dos 18°, sinto-me vítima de propaganda enganosa! quanto à tradução de "Cem Anos", me parece que essa versão da tradutora Eliane Zagury é mais recente mesmo, mas não consegui ter certeza. vou consultar minhas fontes literárias e depois mato nossoa curiosidade, tá?

Anonymous said...

realmente, Big Maybelle é pouco conhecida. Mas quem encontrar algo sobre ela, principalmente o álbum "the okeh sessions", pode comprar/baixar que eu recomendo ;)

Mauro, posso enviar o album pelo msn, se quiser (alias, pra quem quiser), adicione

eujojo@hotmail.com

beijos!

Alessandra Alves said...

joana: eu agradeço, mas primeiro vou atrás do cd. eu sou meio careta para esses formatos "novos". na verdade, ainda não me acostumei a usá-los! fica a dica para o mauro e quem mais quiser receber sua gentil oferta. obrigada!