Monday, June 19, 2006

Nunca te vi, sempre te amei

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Dois toques.

Eventos como a Copa do Mundo dão vida a entidades habitualmente etéreas, como a "formação de opinião". Ser formador de opinião é exercer o poder de dizer alguma coisa - qualquer coisa - que rapidamente se transforma em voz corrente da maioria. Parece não existir maior formador de opinião que comentarista de futebol. E quase todos os comentaristas, desde o primeiro jogo do Brasil na Copa, clamam pela entrada do meia Juninho Pernambucano na seleção, como senha para "arrumar o meio de campo", "soltar mais a bola", "distribuir as jogadas", sem esquecer o potencial do homem em "fazer Ronaldinho Gaúcho jogar tão bem quanto no Barcelona". Caramba! Eu quero um Juninho Pernambucano para mim também!

A tese dos comentaristas parece bem embasada, mas o que me diverte de fato é ver meus amigos, parentes e conhecidos defendendo a entrada de Juninho Pernambucano no time, sendo que a maioria deles deve tê-lo visto jogar meio tempo de partida em toda sua vida. A verdade é que muitos dos jogadores convocados por Parreira são seres distantes até para quem é ligado em futebol. Adriano, por exemplo: quem viu Adriano jogar no Brasil? O homem foi para a Europa, parece-me, com menos de 20 anos. Há que ser bem antenado com o Campeonato Italiano para poder teorizar sobre a atuação de Adriano, esse Panzer em nosso time. E o Campeonato Francês, quem assiste a isso, meu Deus, para ansiar com tanta paixão pelo meia Pernambucano, astro do Lyon?

Outro toque: assisto muito pouco à TV, normalmente. Nesses tempos de bola, mais. De qualquer forma, só ligo na hora dos jogos e eventualmente em telejornais, para recuperar gols perdidos ao longo do dia (como meu trabalho atrapalha essa Copa...). De sábado para cá, no entanto, fiquei com a sensação de que a Globo falou com parcimônia da morte de Bussunda. Melhor assim, para seu espírito e para sua família, mas uma pergunta ficou fazendo cócegas no meu ouvido: não fosse tempo de "pra frente Brasil", imperaria a parcimônia ou a imagem do comediante estaria em todos os programas globais, do Caldeirão do Huck ao Fantástico, transmissão do enterro ao vivo e tudo o mais? Esforço-me para não ser maldosa, mas fico aqui pensando se, na falta de um campeão de audiência como a Copa do Mundo, tão comprometido com anunciantes cujas cotas foram garantidas com meses de antecedência, não teríamos uma overdose de funeral...

4 comments:

Anonymous said...

Excelente o post. Essa coisa de "formadores de opinião" é o que faz a gente ler/ouvir argumentos idênticos sobre quase tudo, do futebol à política.

Mas o Juninho é um grande jogador mesmo. Gostava muito dele no Vasco, e fiquei muito puto com a forma como o clube o tratou, antes dele se transferir para o Lyon.

Alessandra Alves said...

marcus, a característica do Juninho que mais me agrada é o fato de ele ser um volante com habilidade. a gente se acostumou com a realidade de ter cabeças-de-área cabeças-de-bagre. como se todo volante tivesse de ser grosso, como se para "tomar conta" da área tivesse de dar botinada e chutão pro lado.

o Juninho, além do mais, mostrou uma capacidade de adaptação fantástica, porque ele é um meia nato que se moldou a jogar mais recuado na Europa e se deu muito bem na França. agora, cá entre nós, o modus operandi do vasco é abaixo da crítica, né? eu não vou nem sujar meu blog citando nome daquele senhor...

queria saber a sua opinião e a dos demais visitantes sobre uma tese minha. eu acho que boa parte da culpa pelo mau desempenho dos atacantes brasileiros está nas laterais. a gente pouco tem ouvido falar, mas na minha opinião o roberto carlos e o cafu estão jogando com o nome. no jogo contra a austrália, o cafu estava perdendo todas as bolas com os atacantes adversários, tanto que até fez falta mais dura e até tomou cartão.

só que ele tem aquele sorriso simpático, aquela autoridade de capitão, aquela experiência e dá uma enrolada em todo mundo (até na mídia, na minha opinião). e o roberto carlos também está apoiando muito mal.

e o que aconteceria se os dois alas estivessem se apresentando mais para o jogo, no ataque? obviamente, iria se dissipar a marcação tão acintosa em cima dos atacantes e do ronaldinho gaúcho.

eu não acho que o ronaldinho esteja sentindo falta de alguém para lhe passar bolas redondas. o ronaldinho está sentindo mais falta daquele espacinho no meio, para ele entrar com a bola dominada, enfileirar a defesa, dar passes curtos, receber a bola de volta. alas apoiando o ataque funcionariam para ajudar a abrir esse espacinho que lhe faz falta.

mas se os alas apoiarem, a defesa não terá a segurança que tem hoje, provavelmente aparecerão as deficiências de lucio e juan. e isso, meus amigos, é o oposto do que se pode esperar de parreira. ele sacrifica o estilo de um jogador (ronaldinho gaúcho, no caso), mas não abre mão dessa segurança para a zaga.

Anonymous said...

- buenas alessandra!!! se o assunto é futebol... saudações tricolores!!! hé!! hé!!
- juninho é craque dentro e fora do campo. com capacidade intelectiva e preparo intelectual diferenciado a jogadores de futebol, foi dos primeiros a se socorrer da lei pelé no que tange aos contratos dos atletas profissionais. com isso, deu um pé na b... daquele senhor que foi assaltado, por conicidência, justamente quando portava a polpuda renda de uma partida de time de são januário. segundo os anais policiais, também por coincidência não portava a própria carteira, que assim não foi levada. mas, voltando a juninho, em cinco temporadas na frança, cinco vezes campeão da liga, e algumas copas nacionais. artilheiro do time, tem sempre relevante destaque na champions league. tenha certeza, é para poucos.
- parreira, fase corintiana a parte, sempre foi retranqueiro. na seleção, com todo material humano que dispõe não consegue voltar as suas origens, embora toda força que lhe dê zagallo para tanto. raí, a época preferência nacional, teve o contrato com a antarctica cancelado pois o esquema retranca de 94 acabou com o futebol vistoso que desfilava no são paulo e que só retomou depois da copa, já em paris. ronaldinho, na alemanha, até aqui deu três chutes a gol e todos no primeiro jogo.
- vou parando por aqui, embora com enorme vontade de palpitar que mesmo ainda amarrados como ronaldo e o resto do time, nossos laterais, experientes, ainda são bons o suficiente e ao longo da competição farão a diferença. só espero que para melhor. até!!!!!!!!!!!!

Alessandra Alves said...

mario: até a fase corintiana do parreira foi marcada pela cautela (ok, não diria retranca, mas dizer que aquele time jogava no ataque é que não dá!). costumo dizer que ter parreira como técnico foi uma terapia coletiva para a torcida corintiana. foi um aprendizado, um esforço sobre-humano em busca da paciência. ficamos zen, naqueles tempos, superando a impaciência de primeiros tempos desesperadores, jogando de ladinho, sem nenhuma objetividade em relação àquele detalhe, mero detalhe do futebol, o gol. no segundo tempo, depois de sua segunda metade, aí o time se aventurava timidamente no ataque, para arrancar 1 x 0 do adversário (e se o empate bastasse, para quê mais?!). isso é parreira, conhecemos isso, talvez por isso a torcida mais indulgente com o técnico, nesses tempos de expectativa pelo hexa, seja a alvi-negra do parque são jorge.

muitíssimo bem lembrado, mario, o caso do raí naquela copa de 94! seria ronaldinho gaúcho o raí de 2006? tomara que não. nos dois casos, temos uma coincidência de personalidade: nenhum dos dois é afeito a rebeldias, a chutar o balde. talvez por isso raí tenha aturado aquele esquema engessado calado. talvez por isso ronaldinho também aguente. espero que não seja sacado do time para dar lugar a algo como gilberto silva. seria triste...

kowalski: será? a seleção, o técnico, a cbf, todo mundo se dobrando em busca de recordes pessoais? não sei, não consigo acreditar. o que vale mais no currículo de um jogador? ser campeão mundial duas vezes ou ter jogado trocentas vezes com a camisa da seleção? concordamos quanto à falta de condição dos laterais atuais, mas questiono a opção robinho. para mim, ele é titular de segundo tempo. não vejo nele tanta eficiência para se manter uma partida inteira. ele é bem a opção que o parreira gosta de fazer, para cansar adversários já esbaforidos na etapa complementar. eu também não apostaria em 90 minutos de um jogador que, por enquanto, ainda não tem a regularidade de jogadores mais experientes, como o ronaldinho gaúcho. robinho pode vir a ser um melhor do mundo, mas por enquanto ainda se destaca por lampejos de genialidade, o que não me parece suficiente para um jogador completo.