Friday, May 12, 2006

Evo, o mundo é um moinho - primeiro ato

Palco vazio. Escuro. À esquerda, um facho de luz avermelhada ilumina Índia, em pé, segurando uma mala em cada mão.

Índia (segura e serena) - Chega. Foram anos, décadas, séculos de exploração. Você, talvez seja apenas o último, o mais recente. Mas isso tinha que acabar. Já arrumei suas coisas. Vá embora ou me trate como acho que seja justo.

Luz avermelhada esmorece. Palco escuro. Áudio:

"Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar"


À direita, um foco de luz branca incide sobre uma bancada de telejornal. O âncora dá a notícia.

Âncora - O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou ontem a nacionalização da produção de gás do país, ordenando a ocupação da sede da Petrobras. Vamos saber de nosso analista de política o que esse ato significa.
Analista - É uma atitude radical, baseada em promessas de campanha de um político populista, eleito presidente de um dos países mais pobres da América Latina. O ato revela a imaturidade de um líder despreparado, que parece desconhecer as proporções da crise em que pode mergulhar a Bolívia após essa decisão.

Foco de luz se apaga. Palco escuro. Áudio:

"Preste atenção querida
Embora eu saiba que estás resolvida
em cada esquina cai um pouco tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és"

Centro do palco. Luz verde-amarelada sobre homem de barba, vestindo terno. Fala dirigindo-se à esquerda.

Homem (sereno)- Reconheço que você tem esse direito. É uma questão de auto-afirmação, soberania até, eu diria. Mas vamos conversar. Você sabe que depende de mim, que não vive sem mim.

Luz verde-amarelada esmorece. À esquerda, luz avermelhada sobre a Índia.

Índia (demonstrando irritação) - A verdade é que nossa relação nunca foi justa! Eu talvez dependa mesmo de você, mas isso não lhe dá direitos irrestritos sobre mim. Você não trata os outros como a mim! Na verdade, deixa-se explorar também pelos outros e parece concentrar em mim toda sua capacidade de explorar, e humilhar.

Luz avermelhada esmorece. Palco escuro. Áudio.

"Ouça-me bem amor
Preste atenção o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões à pó"


À direita, um foco de luz branca incide sobre uma bancada de telejornal. O âncora dá a notícia.

Âncora - Após a nacionalização, a Bolívia suspende os contratos com a Petrobras, exigindo reajuste nos valores praticados atualmente. A palavra do nosso analista político.
Analista - É uma afronta ao contrato firmado entre os países. O governo brasileiro precisa tomar atitudes enérgicas, no sentido de fazer valer os interesses de nossa multinacional.

Foco de luz se apaga. Centro do palco, luz verde-amarelada sobre homem de terno.

Homem (entre defensivo e resignado) - Eu não diria isso para os outros, mas devo confessar que estou me sentindo traído. Nunca me neguei a discutir nossa relação. Pelo contrário, dei-lhe todo meu apoio. Você radicaliza e me deixa sem alternativas...

Luz verde-amarelada esmorece. Palco escuro. Áudio.

"Preste atenção querida
Em cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés"


Luz avermelhada na esquerda.

Índia (resoluta, soltando as malas) - Talvez cheguemos a um acordo. Talvez eu só esteja mesmo fazendo isso para me afirmar. Talvez eu não tenha fôlego para ir além da esquina. Mas me responda: seria justo que continuasse tudo como estava?

Fim do primeiro ato.

44 comments:

Alessandra Alves said...

de maneira menos "dramática", reproduzo abaixo um artigo assinado pelo jornalista mair pena neto, extraído do site direto da redação, que joga luzes interessantes sobre o tema:

A BOLÍVIA E A VOLKSWAGEN

Os liberais defensores das regras de mercado, que condenaram a Bolívia por rasgar contratos firmados com a Petrobras, e o governo brasileiro por tibieza na defesa de uma empresa nacional, não estrilaram quando a Volkswagen anunciou esta semana um programa de demissões em massa, que custará o emprego de 5.773 trabalhadores brasileiros. A Volkswagen, que tem fábricas desfrutando de incentivos fiscais e há um mês obteve um crédito oficial de quase meio bilhão de reais do BNDES, não está rasgando um contrato? Ou a montadora alemã pode receber benefícios com o dinheiro dos brasileiros e não oferecer nenhuma contrapartida?

O financiamento do BNDES foi para ampliar a produção de veículos com elevados índices de nacionalização e com projeto e desenvolvimento “realizados por profissionais brasileiros”. Um mês depois de sua concessão, a Volkswagen anuncia o corte de 27% de sua força de trabalho no Brasil. Se formos mais atrás no tempo, de 1995 até agora, a Volkswagen recebeu R$ 3,73 bilhões do BNDES, parte destes créditos com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador.

A Volkswagen alega problemas cambiais que prejudicam suas exportações e a necessidade de recuperar a rentabilidade. A montadora quer reduzir em 25% o custo da mão-de-obra em seus novos projetos até 2008. Para tanto, os cortes de milhares de empregos “são inevitáveis”, segundo nota oficial da empresa.

Pelo que se depreende da atitude ou da omissão dos analistas de mercado, com espaços generosos na mídia brasileira, o capital pode rever seus compromissos, mas os países não. O que o governo boliviano busca é uma adequação dos contratos de gás à realidade do mercado internacional. O preço do gás vendido ao Brasil estava defasado até porque o petróleo triplicou de preço desde que os valores foram contratados, ainda na construção do gasoduto. A Petrobras paga pouco mais de US$ 3 por milhão de BTU, quando na Califórnia o preço do milhão de BTU está em US$ 10. A Bolívia fala em aumento de US$ 2 por milhão de BTU, o que não parece nenhum exagero.

Relações comerciais devem se basear na justiça e na solidariedade, Ou será que os defensores do mercado defendem uma relação de espoliação? Um comércio no qual uma parte leva vantagem e a outra se estrepa. Os liberais parecem se apegar à máxima do “pacta sunt servanda” de que os contratos devem ser obrigatoriamente cumpridos. Este princípio, que não considera as circunstâncias e pode levar um dos contratantes à ruína, já foi rompido no início do século passado como conseqüência dos efeitos da Primeira Guerra Mundial.

Foi preciso um conflito de grandes proporções para constatar a injustiça nele contida. Defender a imutabilidade dos contratos é uma posição leonina e colonialista, que revela o caráter dos donos do capital e de seus representantes. O conflito entre Brasil e Bolívia deveria servir de base para um avanço nas relações comerciais e não para um retrocesso no direito social.

Pedro Alexandre Sanches said...

uau!, fenomenal!

mui romanticamente, torço para que eles terminem se amando muuuuuito!!!, de igual para igual!!!, hahaha.

Pedro Alexandre Sanches said...

ah, e esse artigo sobre a volkswagen me fez lembrar as cartas de dois leitores na "folha" de ontem, olha só se não é meio a mesma coisa:

Juros
"Folha de S.Paulo, caderno Dinheiro, edição de ontem. Página B2: "Inadimplência segura juro, diz Itaú". Página B11: "Itaú tem lucro recorde de R$1,46 bi no primeiro trimestre". Sem comentarios."
Pierre René Weber (São Paulo, SP)

*

"Achei curiosa a explicação do banco Itaú de que os juros não baixam devido à inadimplência ("Inadimplência segura juro, diz Itaú", Dinheiro, 10/5). Como os empréstimos são analisados pelos profissionais do banco, seria mais lógico que as prevenções contra a inadimplência fossem tomadas pelos próprios financiadores para que não fiquem relegadas, como alegado, às condições conjunturais de mercado e da economia. Mesmo porque, quem entende mais de mercado do que os bancos? Além disso, inadimplência não existe, pois ela é simplesmente repassada aos demais tomadores de empréstimos. Ou seja, os bons pagadores e o país que se danem. E as autoridades monetárias ainda engolem tal absurdo."
Sérgio Caiuby Novaes (São Paulo, SP)

Anonymous said...

Não vejo diferença entre o VW e o Evo, todos dois foram sacanas e traiçoeiros, flaram uma coisa e fizeram outra, não concordo com nenhum dos dois, o Evo fez uma patuscada , colocando exercito, rasgando contratos, não tá satisfeito negocie, mas ele fez tudo no grito, alêm de falar um monte sandices, o Evo é uma versão boliviano do Garotinho, populista que só.
A VW tb foi traiçoeira demite, mas pega dinheiro para "ampliar" a produção, se isto não é uma contradição eu não sei o que é, demite por causa do dólar, mas hora, ela tb não aumentou o preço dos carros aqui por causa do dólar mais alto ?
agora que baixou por que não houve redução nos preços ? afinal o custo em dólar para eles tb não caiu ?

Ou seja não tem santo nesta história, há interesses.

Como diria Nelsoin Rodrigues "se a humanidade acabasse, não se perderia absolutamente nada !"

Anonymous said...

Não defendo nem um nem outro, só acho que ficar comparando que se um faz o outro pode fazer, não traz nenhuma luz no assunto, tinha era que punir os dois, estrepem a bolívia e a VW !!!!

Anonymous said...

No caso da Bolívia, por que não tentar negociar antes? Não é por isso que se critica tanto o Bush por invadir o Iraque? Se o proprietário do ímóvel que eu alugo achar que o valor do aluguel está defasado ele deve simplesmente invadir com capangas e me expulsar de lá?

Já no caso da VW há pelo menos 2 pontos. Qual a necessidade de um banco estatal para fazer empréstimos a juros muito mais baixo que os do mercado para uma grande multinacional (poderia ser nacional também, uma Votorantim)? A redução (ou baixo aumento) na venda de veículos está ligada ao aumento de importações ou à altíssima carga tributária e baixo poder aquisitivo da população?
Quanto à primeira questão, acho que o Estado não deveria financiar o mercado, não às minhas (nossas) custas. Não tenho carro da VW nem tenho intenção de comprar um. Por que tenho que financiar a empresa? e mesmo que tivesse um VW, já teria pago muito por ele.
Já uma redução geral de impostos aumentaria o poder aquisitivo de todos, aquecendo a economia e aumentando a oferta de empregos (que não devem ser tomados como a finalidade das empresas, mas uma conseqüência).

Já a justificativa da VW é fraquíssima, pois veículos importados para a classe média, só da Argentina.

Anonymous said...

Lindíssimo, Alessandra!!!!

Anonymous said...

A respeito do caso da Volkswagen, eu acho que toda empresa que tem um desenvolvimento tecnológico, e necessita de um perfil diferente de profissionais, deve tanto investir na qualificação dos funcionários, como, para os que serão dispensados, qualificar para outras funções que o mercado poderá absorver. E dar suporte para as mudanças inevitáveis.



Também fico muito indignado com este tipo de situação. Acho um absurdo que empresas deste porte tenham ações de responsabilidade social e não se preocupem com o assunto da requalificação da mão-de-obra. Certamente esta preocupação que apresento não é também a preocupação dos sindicatos dos trabalhadores. Porque não tem apelo político nenhum. Fará seu sindicato menor e com menos poder.



Os bancos brasileiros, com lucros que batem recordes a décadas, tem cada vez menos volume de funcionários nas agências. E o perfil do bancário também muda. É fácil apoiar ações de responsabilidade social, fazer um oba-oba na mídia e na hora de cortar custos, que se dane os funcionários. E a sociedade junto. Uma parcela da população é vomitada, por estar “estragada”, e é forçada à adaptação. Adaptação de funções, de qualificação, de remuneração. Concordo totalmente com o autor neste aspecto.



Agora a respeito do gás boliviano, o autor podia ser um pouco mais imparcial. A citação de que o preço do gás na Califórnia é de US$ 10,00 pelo milhão de BTUs é mentirosa. O valor atual é de quase US$ 7,00 na boca do poço na Califórnia. Vou estudar melhor o assunto, já que os valores subiram muito nos últimos 10 anos. O preço chegou no patamar de US$ 10,00 no ano passado, devido à sazonalidade do produto. Este valor foi o recorde.



O link abaixo mostra os valores dos últimos 30 anos: http://tonto.eia.doe.gov/dnav/ng/hist/n9190us3m.htm

Os valores acima são para o produto na boca do poço.



A negociação, ou renegociação é legítima. Se acho que alguém está pisando no meu calo, devo reclamar.Lutar por uma situação melhor é necessário. Do contrário, esperamos o mundo terminar em barranco. Se uns podem lutar por seu espaço, eu também devo proteger o meu. É legítimo. Ceder é realmente lindo.



A pobreza do país fazia com que o impacto das exportações do gás para o Brasil fossem gerar muito crescimento para a Bolívia. Mas o gás na Bolívia vale o mesmo do que o gás na Califórnia? Não. Exportar o gás boliviano para qualquer país que não fosse o Brasil e a Argentina seria inviável. Para o custo da rede de distribuição ser viável economicamente, foi acordado um preço na boca do poço para o gás.



Vou estudar melhor este assunto, porque ainda sinto minhas fontes muito fracas. Nas pesquisas que fiz nos últimos dias, não vi nenhuma opinião da época da construção do gasoduto que apontassem problemas estratégicos, etc. Nem mesmo após o início das operações da distribuição. Apenas após o primeiro período de operação, muitos especialistas apontaram o fato de que a Bolívia se beneficiava de receber por um volume maior do que o consumido.



Tudo bem. Eu sei que argumento de viabilidade econômico significa para alguns uma “desculpa esfarrapada” para espoliação, como diz o autor do texto abaixo. Então justifica que a descordância de um acordo seja feito de forma radical por uma das partes.



Onde fica o Estado de direito? Não havia recurso sério para renegociar?



No seu Blog sobre a questão da violência nos Estádios, muito se falou sobre o exemplo e a educação para as próximas gerações. Pois bem, você se imagina chegando para um parceiro seu de negócio e dizendo que agora o pagamento para ele não será mais em dinheiro? Será em prestação de serviço. E o valor do serviço quem determina é você! Fantástico!



Aliás, eu acho que vou comprar um apartamento de algum cliente meu incorporador e pagar em serviço. Ao invés de cobrar os R$ 60,00/hora, vou cobrar mais, porque é o meu valor! Assim aproveito e quito a dívida mais rápido! Pensando bem, acho que vou propor este negócio ao autor do texto abaixo. Acho que ele topa.



E onde vai parar esta história do Evo Morales? Nos produtores rurais de soja que exploram terras bolivianas? Nas terras do Acre? Em conseguir uma saída para o Mar?



Será que a próxima do Evo será citar o duque de Caxias?



Gustavo.

Anonymous said...

Às vezes procurar adjetivos para atitudes não contribuem para entendê-las, enfrentá-las, crescer com elas. Que fatos objetivos ocorreram? Um país rico em recursos naturais e com um povo tão miserável que sequer acesso tem a estes recursos informa, a sério, que precisa rediscutir suas relações comerciais. Temos capacidade e vontade para participar desta discussão? Por outra, é até muito bom que todas as divergências que há na América Latina venham à tona agora, ano de eleições pelo continente afora e também no México. Cabe, creio, serenidade pra gente puxar a discussão pra este ponto também, geopolítica, não ficar apenas escarafunchando pra ver quem é mais ou menos corrupto, quem é direita e portanto mau ou bom, quem é esquerda e portanto mau ou bom. Por isto considero-me mal informado, a imprensa não está cumprindo "o contrato que tem comigo" de informar. É muita opinião travestida de informação. Alessandra, parabéns e obrigado, lindos teus texto e idéia. Quem sabe logo mais, no segundo ato, teremos estes dois personagens e mais alguns tomando um cálice de vinho em algum café de Buenos Aires ao som de "Gracias a La Vida", pano lento.

Alessandra Alves said...

agradeço pelos elogios. vou deixar o debate correr um pouco mais para comentar o que já foi postado por aqui, mas queria fazer algumas observações.

"o mundo é um moinho", de cartola (em que pese ser uma linda canção) sempre me soou como um libelo contra a emancipação, seja de que ordem for (parece que ele compôs a música para a filha, disposta a sair de casa. alguém conhece essa história direito?). sob esse olhar, é a visão do pai que não acredita/confia na capacidade do filho de viver longe de suas ordens. ou do marido em relação à esposa que quer trabalhar ou voltar a trabalhar. o de qualquer um que domine o outro, seja em que esfera for.

personificar a bolívia como mulher e o brasil como homem não é um reforço nem uma referência machista. é apenas o fato de que temos "a" bolívia, assim como a colômbia, a venezuela, a argentina, as guianas, a nicarágua, a guatemala, todas meninas. e de outro lado temos "o" brasil, assim como o paraguai, o uruguai, o chile, o peru, o méxico.

só cuba que não é nem "a" nem "o". oh, língua portuguesa!

Anonymous said...

Em Cuba tem "o" Fidel e "a" população.

Anonymous said...

Como a Bolívia estava sendo tungada ? nos pagamos o preço de 30 milhões metros cúbicos e só consumimos 18 ! estamos pagando mais e levando menos ! e o Evo ainda diz uqe o Brasil não é solidario !!! deve ter se esquecido que o Lula deu perdão da dívida que a bolívia tinha com o brasil ! e ainda veio desencavar uma questão de sei lá quantos milênio atrás da venda do Acre, acho até que eles sairam no lucro.
Agora estão levantando esta bandeira de "coitadinhos", "explorados" , não tá satisfeito negocie, agora botar o exercito, fazer esse teatro bufão, não é postura de um país, para com o outro, ainda mais pq a a petrobras não está lá de graça, investiu e invetiu muito ora ! isso é roubo ! ninguem é contra o direito que a bolívia tem com seus recursos naturais, mas o que fizeram não tem outra palavra e roubo mesmo, quem tenta dizer ao contrário não vive neste mundo.

Pedro Alexandre Sanches said...

Nossa, eu sinceramente não entendo tanto ódio contra o Evo Morales, pessoal. Agressividade parecida, ultimamente, só tenho visto nas torcidas de futebol...

Credo, de onde vem tanto ódio?

Pedro Alexandre Sanches said...

Alessandra, Cuba é "a" ilha, né? Acho que ela também é menina...

Anonymous said...

Pedro não é ódio contra o Evo, mas o tipo de gente que ele representa, e que infelizmente tb é muito comum aqui no brasil, o populista que vive de factóides e bravatas, que não está nem um pouco preocupado com a população, já temos que aturar isso aqui imagine então temos que aturar tb um populista "importado", vc confunde ódio com indignação, com este tipo de gente que ´gosta tanto dos pobres que não quer que eles deixem de se-lo.

Pedro Alexandre Sanches said...

é, sei lá, eu mal conheço o evo morales e, em termos bem gerais, só sei três coisas sobre ele: a) ele é índio, b) ele é presidente da bolívia, e c) ele nacionalizou o petróleo do país dele. não é o suficiente para eu achar que a bolívia (país sobre o qual nunca prestei atenção antes) está próxima do apocalipse, ou para eu crucificar o evo, ou para eu querer malhar ele feito judas. mas o tanto de vaticínio e vitupério e achincalhe e desrespeito que eu já ouvi... desculpa, mas me parece, no mínimo julgamento e condenação sem qualquer fundamentação que não seja vinda de disse-me-disse e de intrigas propagadas por jornais - leviandade, ou indignação pré-fabricada, ou (ainda temo, embora me alivie se você diz que não, marayl) ódio, ou sei lá o que, mas de todo modo desmedidamente belicoso e agressivo...

de todo modo, "esse tipo de gente", desculpa, é uma expressão que me causa calafrios. no mínimo, me cheira a caça às bruxas (ou à "índia" da ficção da alessandra?), coisa medieval...

Pedro Alexandre Sanches said...
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Anonymous said...

Pedro,

Acho que o Evo tem indignado muito as pessoas pela forma que ele encontrou para renegociar. Se isto pode ser chamado de renegociação.

Fui atrás de informações sobre os dados do comércio/produção/consumo de gás no Brasil e no mundo. Você pode dar uma olhada no meu comentário acima.

Os dados, sintetizados são:
- as exporação de gás da Bolívia para o Brasil representam 10% do PIB, que é baixíssimo (8 bilhões de dólares)
- o consumo de gás boliviano só aconteceu depois de 50 anos dos primeiros estudos do gasoduto
- o preço acordado era o preço que possibilitou os investimentos
- o incentivo ao uso do gás natural ocorreu após a criação do gasoduto.
- o preço que o governo boliviano quer vender o gás é quase o mesmo dos poços de gás localizados na Califórnia. A Califórnia é o local no mundo que mais consome gás.
- o volume de consumo de gás natural no Brasil subiu de 7 trilhões de pés cúbicos para 18.
- a importação de gás da Bolívia é de 6 trilhões de pés cúbicos.
- o lucro da Petrobrás no último ano foi de 17 bilhões de Reais (lembra do PIB da Bolívia?)
- as reservas de gás natural encontradas na Bacia de Campos em 2003 e 2004 possibilitam o Brasil extrair todo o gás que consome
- os investimentos em infra-estrutura (gasodutos) necessários para o transporte deste gás podem ficar prontos em 3 ou 4 anos.

E se o Brasil não importar o gás boliviano? A Bolívia irá fazer um gasoduto até a Venezuela, para conseguir vender gás para os Estados Unidos?

Anonymous said...

Evo: fantoche do ditador de araque Chavez. Está aprendendo direitinho a como mobilizar o exército para intimidar civis - empresas não deixam de ser - e mostra o seu "estilo" de negociação. Fidel: 900 milhões de dólares de patrimônio, realmente o socialismo é excelente para ele....a esquerda está perdida neste continente!!

Anonymous said...

Não sei se sou esquerda, direita, centro, acima, abaixo... Só penso que se Evo Morales queria renegociar, não precisava nacionalizar. Em outras experiências pelo mundo, a nacionalização não contribuiu para o desenvolvimento econômico e social do povo. E porque na Bolívia será diferente? Confesso que tenho medo das bravatas de Lula, Chavez, Fidel, Morales, Garotinho. E mesmo sem ter nada a ver com o assunto, confesso que estou com muito medo do terrorismo em São Paulo.

Anonymous said...

Pedro,

Não sei porque esse medo de caça as bruxas ?

Vc é um político populista, que sobrevive da miséria e exploração do povo ?

creio que não ! até porque não se trata de caç as bruxas, tracei um paralelo entre um populismo aqui no brasil, com o da bolívia, comentando que nos dois casos essas pessoas não estõa nem ai para população, querem na verdade é que todos continuem pobres e miseráveis, para poder se aproveitar disso, e desculpe se minha indignação o assustou, mas é assim que penso, são pessoas despresíveis que vivem as custas das desgraças dos outros, que não ligam a minima para seus problemas e farão de tudo para que tudo permaneça da mesma forma, se isto não o choca e acha que tudo que o Evo faz é uma maravilha, que a maneira que ele conduziu as coisas foi a melhor possível, com exercito e com um discurso feroz contra a petrobras e o Brasil, que tudo não passa de disse me disse da oposição, desculpe mas quem me causa calafrios é vc, por sua passividade e torpor e ou cegueira devido a certas convicções políticas.
Ninguem discute do que a bolívia te mou não direito, mas sim da menira que foi feita e até as consequencias que isso terá para os bolivianos, que tem mais a perder com as patuscadas do Evo, do que o Brasil.

Pedro Alexandre Sanches said...

marayl, não, eu sou um cidadão tentando exercer o meu direito à plena cidadania. é difícil à beça, mas é o único caminho em que encontro algum tipo de motivação. algo em que concordo com você é no repúdio a agressividade passiva (ou passividade agressiva, sei lá) - a coisa tá ficando grave, e eu acho que as classes médias e altas (nós?) não estão entendendo que o excesso de agressividade passiva (essa que se dedica ao índio da bolívia, por exemplo), além de nos lançar numa arena de hostilidade, tá ajudando a trazer a violência cada vez mais para perto. há três dias, os bairros de classe média alta de são paulo estão vivendo sob ataque, como todo mundo está acompanhando, e acho que isso é algo novo (e aterrorizante) para qualquer um de nós, não? grave, chocante, inadmissível etc. mas... será que a "mensagem" por trás é de que "agressividade com agressividade se paga"? alguém vai sair ileso do ajuste de contas, se a sociedade dita "civilizada" continuar cuspindo sangue e bile e veneno contra qualquer formiguinha que atravessar o seu caminho?

(só pra constar, marayl, você não me causa calafrios, até porque eu nem te conheço... mas a expressão "esse tipo de gente", vinda de quem vier, me causa, sim, calafrios.)

gustavo, poxa, nesses termos argumentados e ponderados é bem mais legal discutir, né? pode crer que eu compartilho de várias das ressalvas que se possa fazer ao Evo, inclusive talvez as mesmas que você fez - mas daí a tratá-lo numas de "índio filho-da-puta", eu acho baixaria, sensacionalismo, racismo, incivilidade.

Alessandra Alves said...

em face dos últimos acontecimentos...

amigos, passo rapidamente para registrar meu entusiasmo com a discussão, mas sem condições para fazer parte dela por hora. a situação em são paulo é, no mínimo, de apreensão. estive fora boa parte do dia e pretendo estar cedo em casa, daí a falta de tempo de escrever por enquanto.

(esta justificativa talvez fosse dispensável, mas no mínimo ilustra um momento importante que estamos vivendo. que fique eternizada na blogosfera...)

Anonymous said...

que jeito fantástico de falar sobre o assunto, alê. índia quer apito se não der pau (não) vai comer.

Anonymous said...

Legal este assunto vir à tona agora. No último sábado estive cobrindo a Contra-Cúpula de Viena para a BBC Brasil, um evento que tinha em Hugo Chávez sua grande estrela. Impressionante como seu discurso é, ao mesmo tempo, insuportavelmente populista e espantosamente vazio. Ele vai soltando frases ao vento, sem nenhum tipo de preparacao, tentando criar um clima de intimidade com o público, fazendo piadinhas carinhosas com Fidel, debochando do imperialismo norte-americano, mas tudo meio sem conteúdo, sem uma crítica fundamentada por A+B, sem uma explicacao do que é e de como funciona seu projeto de governo. Enquanto isso, bandeiras venezuelanas tremulavam sem para no auditório, militantes se descabelavam mais que inglesas diante dos Beatles nos anos 60 e um exército de segurancas cuidava para que ninguém chegasse perigosamente perto do palco. Para quem prega governar para o povo, me pareceu um sujeito bem inacessível.

Já o Evo, que também estava lá, fez pelo menos um discurso onde existia um raciocínio lógico, sem muitos rodeios e indo direto ao ponto da mensagem que queria passar. Curiosamente, uma mensagem bem parecida ao do velho Lula, o de 1989, mas bem distinta da versao atual. É um cara inteligente, jovem e cheio de idealismo, mas que admitiu ainda estar "aprendendo a governar". Deu a impressao de ainda estar em dúvida se segue o caminho do Chávez ou do Lula, embora esteja mais pendendo para a primeira opcao.

Pelo menos, a banda típica que ele colocou para tocar no final do seu discurso era ótima. Música andina de primeira linha!

Anonymous said...

É incrível o sucesso que sujeitos como o Chaves fazem diante de jovens metidos a revolucionários....será que sempre tentarão encontrar alguém como substituto a Guevara? Quais os motivos dessa adesão? Nada ter a ver com ideologia - aliás, se esses jovens "letrados" fossem se informar um pouco - veriam que esse socialismo (Fidel e seus US$ 900 milhões) e populismo barato (Chaves - mordaça da imprensa), anda diretamente na contramão de um governo pelo e para o povo. Não amigos, torcer por esse tipo de esquerda é chique, dá status de intelectual não compreendido a essas pessoas.

Vamos lá agitar bandeiras por um país sul-americanos que conhecemos em algum perdido livro de geografia; vamos manifestar apoio a um novo Bolívar (alguém lá sabem quem é?), a este solitário guerreiro que enfrenta o império americano. Sim, é bonito fazer o papel de contestador, colocar uma mochila nas costas - abandonar a massa importada, o palm ganho do papai, as aulas de tênis - e partir rumo a uma cruzada pelo bravo povo sul-americano...e, pedir uma passagem de avião de primeira classe quando o negócio se tornar muito real.

Como esse abomináveis programas de televisão que tornam pessoas famosas pelo simples fatos que elas aparecem lá, na mídia - a pessoa não deveria crescer por seus méritos e só depois ter o reconhecimento? - Chavez é mais um dos eleitos desse grande BBB político global. Como Ico disse, ele faz barulho, ama os holofotes, mas conteúdo que é bom.....

Desculpem me afastar um pouco do tópico,

Pedro Alexandre Sanches said...

ei, gustavo... eu tô pra completar 40 anos daqui a pouco, mas se tolerar o chávez é um fenômeno "jovem" (essa é nova para mim...), então eu tô é com os "jovens"!

eu prefiro seguir batendo na mesma tecla: pra que tanta raiva passivo-agressiva dos não-direitistas da américa latina? é questão de classe, é vício de não escutar o discurso do outro, é birra, é medo, é o quê?

Anonymous said...

Oi Pedro, quando eu falava de jovens tolerantes ao discurso do Chavez, eu referia-me aos militantes que aparecem na televisão agitando bandeirinhas. Não precisa ser - necessariamente - jovem para militar em nome do Chaves, mas o que se percebe, é que a maioria pertence a uma faixa etária mais baixa. Normal ao pensarmos que o pensamento de contestação do Chaves (!!!!), encaixa perfeitamente em uma época da vida que nos fazemos muitas perguntas também.

Birra, medo? não amigo, procuro ler bastante e acompanhar ao máximo os fatos que gravitam em torno de tal personagem (qualquer que seja)....não sou de nenhuma corrente política mas não posso crer que as idéias do Chaves (amordaçar a imprensa, lembra?), chamar um outro governante de ladrão, mandos e desmandos, uma política populista de ditador de curral sejam realmente alicerces suficientes para transformá-lo em um verdadeiro líder da américa latina. São idéias bem particulares eu sei, Chavez na minha opinião, é mais uma estrela de tv - que adora os holofotes - do que um governante sério.

Pode ter certeza que ouço o discurso de todos, se estou certo? se a imprensa é tendenciosa? realmente é uma pergunta pertinente...

Em tempo, não sou o mesmo gustavo que usou predicados agressivos sobre o Morales.

Alessandra Alves said...

a todos, um pedido de desculpas pela demora. a vida anda corrida, apesar de dizerem que são paulo parou. mas vamos lá.

pedro: eu não apenas torço para que eles acabem se amando muito (sonho de integração latino-americana que espero não morrer sem ver realizado) como acho que a destemperança do início, de ambas as partes, já está dando lugar à ponderação. não há saída que não seja a negociação. temos, nós e eles, muito a ganhar. nós, brasil/petrobras talvez lucremos menos do que lucrávamos e queríamos continuar lucrando, mas ainda ganharemos muito. eles, reajustando os valores de forma a tornar a relação menos injusta.

ainda você, pedro, na esteira das cartas de leitores da folha, sobre os lucros do itaú. há alguns dias, o flavio gomes, em seu blog, lançou uma idéia interessante. pouco factível, mas interessante. a sugestão dele: o presidente, depois de cada anúncio de balanço desses, convoca uma reunião com cada presidente dessas empresas poderosas e triliardárias para fazer uma sugestão. legal, vocês tiveram 1,5 bi de lucro? então tá sobrando, faz o seguinte: pega 10% (150 milhões) e constrói duzentas escolas. ah, você aí lucrou menos? só 800 milhões. não tem problema, pega 10% e constrói (e equipa!) cem hospitais. vocês não gostam tanto de falar em responsabilidade social? pronto, está dada a oportunidade. pensou?

ah, mas os bancos já recolhem impostos, o governo é que não administra direito, porque é um bando de corruptos. eu fico revoltada com a corrupção, mas também fico com os juros que os bancos privados praticam. vejam: há alguns dias, eu estava pensando em fechar uma conta num banco público, idéia da qual fui demovida por um comentário da gerente. ela me explicou que, caso eu resolva tomar um empréstimo, as taxas do banco público estão baixas, e cada vez mais baixas, na comparação com os privados. não é coisa de ponto percentual! é metade da taxa! ou seja, o cliente do BB ou da Caixa, pequeno comerciante que precise de uma graninha para incrementar seu negócio, consegue levantar esse dinheiro pagando menos da metade dos juros que pagaria na rede privada. o governo ESTÁ fazendo sua parte na geração de capital para o pequeno empresário, na movimentação da economia (depois, muita gente não entende por que o lula lidera as pesquisas!). e o resto da sociedade, não vai fazer sua parte? ou vai continuar deitada em cima de lucros recordes, regozijando-se de suas cifras e correndo para casa com medo do toque de recolher?

ufa, me empolguei. continuo abaixo.

Alessandra Alves said...

anônimo e marquito: o texto do mair não diz "desculpem a bolívia porque a vw fez igual". ele apenas chama a atenção para o fato de que a grita da imprensa foi bem maior no caso da decisão do evo morales.

sim, os dois estão partindo de um mesmo princípio - o descumprimento de um contrato prévio, mas enxergo uma diferença fundamental nos dois. um é um país pobre, com histórico de exploração centenário, talvez uma resposta desmedida a quase dois séculos de opressão. como diz minha sábia mãe: não justifica, mas explica. a outra, a vw, é uma multinacional que, em grandes proporções, dita regras de mercado, se locupleta de dinheiro público e age estritamente segundo a lógica do lucro, a lógica capitalista, no momento de fechar seu balanço. de novo, cadê a responsabilidade social?

daniel: eu concordo com suas colocações e acho, como disse antes, que a negociação será o caminho. morales talvez tenha lançado um factóide, para "ficar bem" com a população que o elegeu (vem aí uma eleição para o legislativo boliviano, há que se destacad). não descarto essa hipótese, mas também não descarto a idéia de que essa violência no gesto boliviano é uma resposta à violência de quase dois séculos. de novo: não justifica, mas explica.

danilo: obrigada!

gustavo: repito as palavras do pedro. assim dá gosto discutir! tomara que o lula, o ministro das minas e energia e o presidente da petrobras tenham essas informações na hora de sentar e negociar com o evo. no quesito vw, você chamou atenção para um aspecto fundamental, o da capacitação dos demitidos. nós sabemos que um emprego numa multinacional como a vw, décadas atrás, tinha contornos de benefícios e estabilidade próximos aos dos empregos públicos. era muito comum o funcionário cumprir décadas de trabalho da empresa, sairde lá aposentado. hoje, definitivamente, a situação mudou. o profissional corre o risco de ir para a rua ainda jovem, na faixa dos 30 e poucos anos, tendo passado mais de dez na "firma" e ainda longe da aposentadoria.

ah, mas as empresas investem em treinamentos e vários programas de capacitação. investem, sem dúvida, mas freqüentemente em programas tão específicos de sua própria cultura que não servem para além dos muros de suas fábricas e escritórios. e para além da questão da capacitação técnica, há o componente psicológico, na medida que a auto-estima do funcionário praticamente desaparece quando ele se vê de uma hora para outra solto na multidão. nesse sentido, um corte gigantesco como o da vw representa quase uma epidemia de depressões e outras formas de desajuste psico-comportamental numa comunidade.

mauro: obrigada pelas palavras, pelo otimismo e pela referência a "gracias a la vida". eu também me sinto seguidamente enganada ou no mínimo impedida de conhecer os vários lados de uma situação, de acordo com que a grande mídia nos proporciona. mas ainda bem que estamos aqui, né? promovendo a reflexão, acrescentando elementos, formando nossas opiniões e não reproduzindo o senso (???) comum.

já tem mais, já, já.

Alessandra Alves said...

marayl: confesso que, como o pedro, também senti grande desconforto quando você usou a expressão "o tipo de gente que ele representa". depois, entendi que não era o que eu tinha pensado, mas a primeira impressão que tive foi a que "o tipo de gente" é o povo boliviano, em grande parte vivendo hoje como imigrante no brasil.

você já teve contato com esse "tipo de gente"? eu circulo em bairros aqui de são paulo nos quais muitos deles moram ou trabalham, como o brás, o pari, a vila guilherme, vila maria, tucuruvi etc. são pessoas pobres, com aspecto de sofrimento, vivendo em condições sub-humanas, muitos deles trabalhando em condição de semi-escravidão.

num primeiro momento, nós, classe média, podemos pensar que não temos obrigação de "sustentar" esse povo, garantindo assistência médica gratuita para eles, escolas para seus filhos etc. mas, por que erá que esse "tipo de gente" veio parar aqui, deixou seu país, veio se aventurar num lugar estranho em condições tão sub-humanas e ainda assim, prefere ficar aqui?

deve ser pelo mesmo motivo que os nordestinos vêm para o sul maravilha: pela ausência total de condições em sua terra natal. não é melhor, de uma vez por todas, promover o desenvolvimento nesses rincões de miséria e garantir uma vida melhor para todos? todos! eu, você, eles...

eu entendo, marayl, que o teor da sua colocação não era esse. você se referia a um tipo de político populista e afeito a frases e gestos de efeito, mas achei importante coloca esse aspecto do (estranho) povo boliviano entre nós (estranho porque tudo o que não é igual à gente é estranho, né?).

Alessandra Alves said...

depois, volto para comentar a seqüência de comentários!

Anonymous said...

Era isso mesmo que eu quis dizer Alessandra, "esse tipo de gente" de jeito nenhum me referi ao povo boliviano, que é quem mais deve sofrer com esse "tipo de gente" ao qual me referi, aos políticos populistas sejam eles brasileiros, bolivianos e de qualquer outro lugar, pois me revolta um pessoa tomar partido da falta de esperança e perspectiva para vender falsos sonhos e esperanças com o unico intuito do proveito próprio.

Pedro Alexandre Sanches said...

ei, alessandra... peguei para ler o clássico "as veias abertas da américa latina", do eduardo galeano, em parte movido pela discussão daqui e por essa minha não-compreensão da agressividade verbal que despenca todo dia sobre a cabeça dos atuais governantes latino-americanos (e, gustavo, quando falo isso não estou retrucando especificamente a você ou ao outro gustavo ou a qualquer pessoa aqui da discussão - é que ouço isso tantas vezes, todo dia, em tantos lugares diferentes, que já tô me sentindo empanturrado, sabe?).

aí nem foi preciso ir longe, é só pegar o primeiro parágrafo do livro, que diz o mesmo que intuitivamente a alessandra abordou diversas vezes nos últimos comentários (esse texto é de 1976, ou antes):

"Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializam em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta".

e o que eu vejo o evo morales tentando fazer em 2006? estancar a sangria, suspender a espoliação, trazer de volta para a bolívia os recursos naturais que são autóctones da bolívia e/ou produzidos na bolívia. e o que eu ouço a manada furiosa gritando, o tempo todo, sem parar? que ele merece o porrete, que o evo e o chávez e o lula vão instalar o apocalipse no planeta, vão deflagrar a quinta guerra mundial, vão dizimar a espécie humana da face da terra.

ora, só porque evo quer que o petróleo da bolívia seja da bolívia???? que interesse cada um de nós tá defendendo quando pede o porrete na cacunda do evo? desculpa, mas os da bolívia ou do brasil ou da américa latina é que não são. os da independência, liberdade e autonomia é que não são.

mais que isso, vou ser incisivo: eu acho que isso é racismo, racismo, racismo, racismo. néstor kirchner, na argentina, tem adotado posições tão radicais quanto (e às vezes até mais radicais que) as dos "índios" chávez e evo, ou as do "bugre nordestino" lula. mas tem aquela estampa branca-européia, aquele jeitão de aristocrata de país do primeiro mundo, então não tem grita contra o kirchner, não tem grita contra a argentina, ao menos não tem agressão verbal animalesca. a manada que me desculpe, mas o nome disso é racismo, sim, e dos mais grosseiros.

novamente, repito: tô aqui desabafando minhas opiniões pessoais, como todo mundo que participa das discussões aqui. nenhuma intenção de agredir ninguém nem de desrespeitar suas opiniões - concordo até mesmo com elementos de várias argumentações contrárias às minhas, inclusive do pessoal que se identificou como "de direita" na discussão (e trouxe, às vezes, contribuições valiosas). mas, igualmente, não suporto e não tô mais a fim de me calar diante desse desrespeito generalizado que já está ultrapassando qualquer limite civilizado - sociedades que se acham no direito de desrespeitar grosseiramente os governantes populares de suas nações são fatalmente sociedades "produtoras" de rebeliões, de PCCs e de violência física e verbal para tudo quanto é lado e camada social. e isso, sim, é o que me causa os piores calafrios.

Anonymous said...

Oi Pedro,

Aqui no sul não estamos vendo esses ataques virulentos ao Morales como você descreve ali de São Paulo (estou certo?). Na verdade, a imprensa daqui trata o caso com a seriedade que tal momento exige. Felizmente, o ato do Morales não é visto pelas pessoas como um ato condenável de "um índio mascador de coca" - como imagino que tratam esse governante ali (pelo que imagino por suas palavras/racismo) - mas ato condenável de um político populista qualquer. Concordando ou não com o que ele fez, não concordo mas não coloco em pauta agora, realmente a questão do racismo é preocupante se de fato ela exitir. Mas fica uma pista: na Revista Veja dessa semana, foi publicada uma foto do ministro de energia deles com o dedo no nariz em "momento introspectivo"....realmente desnecessário não? Saudações latino-americanas!

Pedro Alexandre Sanches said...

pois é, gustavo, aqui em são paulo a espiral de violência (a física, mas também a verbal) andou mesmo num crescente aterrorizante, como tá todo mundo sabendo, né? (ei, legal!, eu também sou do sul, de maringá, e você?)

ainda sobre o "caso evo", hoje encontrei um formidável artigo sobre a bolívia na agência carta maior, assinado pelo mesmo Eduardo galeano que, por coincidência, eu tinha citado acima. é um site "de esquerda", muitos dos que se manifestaram devem desgostar dos tons empregados por ali. mas, ah, nada que impeça a gente de ler um artigo de elevadíssimo conteúdo e raciocinar sobre o assunto sob prismas provisoriamente divergentes dos do george bush e da revista "veja", né? mando aqui o link, junto com calorosos abraços aos de direita, aos de esquerda e aos muito pelo contrário sempre presentes no acalorado blog da alessandra:

http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=11163

Anonymous said...

não vou tecer comentários sobre a politica externa do governo Lula, se que é que têm alguma, pois já deixei anteriormente claro minha posição adversa ao próprio.
mas como a discussão por aqui pega fogo, já me desculpando pelo palavreado chulo utilizado pelo mesmo, vou lembrar a frase que melhor traduz o anseio de parte considerável da nação, proferida pelo humorista bussunda, no caceta&planeta último: "dá um pau neste índio lula"....

Pedro Alexandre Sanches said...

eu vi, mario lago, aquilo foi de uma baixeza ímpar, tanto pelo lado "índio" como pelo lado "lula", você não achou? depois ninguém consegue entende por que é que os moradores favelados do Jardim Filhos da Terra estão incendiando ônibus quando a polícia mata os filhos daquele chão...

Pedro Alexandre Sanches said...

eu vi, mario lago, aquilo foi de uma baixeza ímpar, tanto pelo lado "índio" como pelo lado "lula", você não achou?

depois ninguém consegue entender por que é que os moradores favelados do Jardim Filhos da Terra incendeiam os ônibus, depois que a polícia mata os filhos daquele chão...

Alessandra Alves said...

estou devendo um moooooonte de comentários nesse tópico, inclusive um d´álem mar, sobre o ico que esteve na conferência de viena, mas prometo que retomo. desculpem, por enquanto.

Pedro Alexandre Sanches said...

e eu tô adorando, alessandra, que este tópico não se desacelera nunca, mesmo já estando láááá embaixo na rolagem desenfreada da blogosfera... isso é um dos meus maiores sonhos pro meu blog, me ensina como é que faz?, haha.

Anonymous said...

Vejam a matéria do Terra no link abaixo:
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1011661-EI306,00.html

(É vergonhoso mas não conheço nada de HTML. O link deve ser copiado para a barra de endereço do navegador para ser acessado.)

É a constatação de que a Bolívia irá perder negócios com o mercado consumidor do produto que possui.

Anonymous said...

pedro alexandre, neste momento completamente rubro, pois não gosto de embates apesar de viver inserido neles, e apesar de não concordar com a disseminação da baixeza via tv e ser 110% paz e amor e contra as guerras, confesso achar, até de forma machista, mas absolutamente sincera, que acredito ser, sim, o caso de mostrar quem é mais forte, de estacionar tanques e aviões caça na fronteira ainda que não se pretenda usá-los; de falar firme e cortar investimentos desde já, de posicionar-se contra e rugir, ou seja, tudo que nosso presidente não fez. com todo respeito a seus simpatizantes, e ao próprio, acredito eu, hoje, embora nele tenha votado, que para exercer a função de presidente do brasil lula prova, a cada dia, não estar preparado.

Pedro Alexandre Sanches said...

hahaha, mario, tudo bem, eu acho justamente o contrário, e a gente continua dialogando, né?

para mim, como disse no tópico de cima, a explosão atual de violência é filha "legítima" da opção do brasil pelo "não" ao desarmamento no referendo do ano passado. se o exército tivesse ido para as ruas agora (bendito lembo!, do pfl que eu odeio!, que não o permitiu!, contrariando o próprio lula que eu adoro!) não acho que íamos ter só os cadáveres amontoados de agora (certamente mais que os que já se amontoaram, sem participação do exército) - cadáveres "extra" apareceriam mais à frente, sei lá como, porque a história é mesmo feita de ações & reações, né? nenhuma agressão fica jamais sem revide, e não é por outra razão que tem sido tão sangrenta a história da nossa espécie animal...

ei, puxa, eu em geral me sinto bastante constrangido em fazer marketing do meu blog em blos alheios, mas... queria me auto-desmentir e convidar os interessados nessa estranha discussão entre "direitas" e "esquerdas", aqui no primeiro ato de evo & alessandra, a ler o tópico "'subversivos', nós?", lá no meu pedacinho. é sobre a multidão de "comunistas" (êita, termo antiquado!) que fizeram esta rede globo que a gente até hoje nunca parou de ver:

http://www.pedroalexandresanches.blogspot.com/

obrigado, mais fortes abraços desarmados para vocês!