Tuesday, February 07, 2006

Ironia: eu quero uma para escrever


O mundo, vez por outra, não me compreende. Não estou sofrendo nenhuma crise existencial, não se preocupem, a questão é absolutamente literal. Por diversas vezes, algumas pessoas não entendem o que estou falando, mesmo que se trate de um diálogo travado entre dois nativos em língua portuguesa. Admito parcela da culpa. Quem mandou usar a palavra “idiossincrasia” no meio da sala de musculação, lá da academia? Virei objeto de piada. Não que os freqüentadores de academia, por definição, não saibam o que é idiossincrasia, mas ali não era hora, nem lugar, de mencionar tal verbete. Nossos cérebros, ali, estão preparados para ouvir termos muito próprios do universo da malhação – como barra W, anilha ou albumina – coisas que parecerão grego para muita gente. Mas idiossincrasia, não.
Para além da questão do vocabulário, há uma outra situação que me incomoda ainda mais. Há pessoas, mais do que eu gostaria de supor, que não são capazes de entender ironias, piadas, brincadeiras. No final do ano, em entrevista ao programa Saca Rolha, da Rede 21, a jornalista Barbara Gancia comentou que “a gente só ri daquilo que conhece”, e usou como exemplo a mítica Amália Lucy, filha do ex-presidente Ernesto Geisel. Quem tem menos de 30 e muitos ou 40 e poucos anos certamente não achará graça em uma piada sobre a figura, que sumiu da mídia depois do governo do pai. E ela era alvo constante de piadas e historietas maldosas. Concordo com a Bárbara, mas acho que temos mais alguma coisa aqui. Aqui mesmo, neste blog.
Alguns posts atrás, coloquei a letra de um “samba enredo” composto em um churrasco, com pessoas da minha família. A letra é um amontoado de chavões de sambas-enredo de todos os tempos, uma brincadeira, um sarrinho à toa. Pois não é que teve gente que levou a piada a sério e até “criticou” a “poesia”?!
Essa questão se avolumou na minha cabeça depois que a Folha de S.Paulo publicou, na sexta, 3 de fevereiro, um texto intitulado “Não quero ver dois homens trocando beijos”, do comediante Larry David, co-criador da série Seinfeld, a respeito do filme recém-estreado no Brasil, “O segredo de Brokeback Mountain”, de temática homossexual. A íntegra do texto está aqui:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0302200608.htm

De cara, pode parecer uma manifestação homofóbica, um libelo de preconceito, mas é uma grande piada. Larry David está sendo irônico. Depois de ler, e de rir muito, tive um momento de temor: será que todo mundo entende isso como uma piada? O próprio seriado Seinfeld padeceu desse mal. Fez estrondoso sucesso, mas seguiu uma rota inusitada até se tornar mania nacional. Nas primeiras temporadas, tinha índices de audiência relativamente baixos. Pesquisas da NBC, que exibia o programa, mostravam que a platéia fiel de Seinfeld, naquele início, era formada pelo chamado “público qualificado”, gente com maior escolaridade e referências culturais mais amplas. Em um determinado momento da história do seriado, os episódios começaram deliberadamente a ironizar a tendência do politicamente correto. Sem fronteiras, sem amarras, ironizaram a nova postura social adotada frente a negros, homossexuais, hispânicos, deficientes físicos. Não se discute: o seriado é das coisas mais engraçadas que a TV já exibiu, mas há quem acredite que boa parte da audiência estadunidense gostava de Seinfeld porque o programa “fazia troça” dessas minorias. Ou seja, boa parte da audiência estadunidense não entendia a piada. Tudo muito na linha do texto de Larry David sobre o filme.
Fica o tema para o debate: estou condenada a só falar pão-pão, queijo-queijo, e garantir a compreensão ampla e irrestrita, ou continuo rindo sozinha das minhas ironias, piadas e brincadeiras?

30 comments:

Alessandra Alves said...

Fabrício, sei não, mas vamos fazer assim, então: toma aí a íntegra do artigo:

"Não quero ver dois homens trocando beijos"
LARRY DAVID
DO "NEW YORK TIMES"
Alguém precisa escrever isso, e por que não eu? Não assisti a "O Segredo de Brokeback Mountain" e não tenho a menor intenção de fazê-lo. Mesmo que caubóis me laçassem e arrastassem ao cinema, ainda assim me esforçaria para manter os olhos fechados e tapar as orelhas.
E eu adoro os gays. Ei, eu tenho até alguns conhecidos gays. Sou favorável ao casamento gay, ao isso e aquilo gay; só não quero ver dois homens heterossexuais se apaixonando, trocando beijos, caminhando de mãos dadas e sozinhos pela pradaria. É só isso.
Será que é algo tão terrível? Será que isso quer dizer que sou homófobo? Bem, se sou, lamento, mas não vou mudar. Porque as pessoas podem me chamar do que quiserem, e mesmo assim eu não vou assistir. Para minha surpresa, tenho alguns amigos heterossexuais que não só assistiram ao filme mas gostaram dele.
"Uma das melhores histórias de amor de todos os tempos", elogiou um deles. E outro disse: "Oh, meu Deus, você se esquece completamente de que se trata de dois homens. Acho que você, em particular, vai adorar". "Por que eu?"
"Porque sim, confie em mim."
Mas eu não confio. Se os dois caubóis, ícones da masculinidade e 100% machos, podem sucumbir, que chance teria eu, que valho no máximo entre 25% e 50% de um homem, a depender de quem esteja comigo no momento?
Sou uma pessoa muito suscetível, facilmente influenciável, nasci para seguir os líderes, e minha resistência a qualquer técnica de venda é zero. Quando entro em uma loja, os vendedores disputam a tapa o direito de me atender. Minha mulher não me deixa assistir a infomerciais devido à pilha de porcarias que já comprei e que estão lá, atulhando a garagem. Meu armarinho de remédios está repleto de vitaminas e de tratamentos contra a calvície.
Assim, quem é que pode garantir que eu não vou me encantar por essa história de ser gay? É preciso encarar os fatos: há algo de interessante na idéia. Eu sempre me dei muito bem com homens. Jamais tive que ficar caminhando de um lado para outro no meu quarto ensaiando o que dizer antes de convidar um homem a ir comigo ao cinema. E, quando saio com homens, não pago suas contas, o que evidentemente representa o maior atrativo da idéia.
Além disso, os homens gays sempre parecem estar se divertindo muito. Na festa de Natal a que compareci, eles foram os únicos que cantaram. Eu teria adorado cantar, mas o peso da minha heterossexualidade não me permitiu.
Tenho certeza de que, se assistisse ao filme, aquela voz que vive em minha cabeça simplesmente pelo prazer de me torturar teria momentos de imensa diversão. "Você gosta desses caubóis, não gosta? Eles parecem bonitinhos. Não tente me enganar, seu gay. Melhor desistir de combater essa vontade. Você é gay! Você é gay!" Não que haja algo de errado nisso.

Larry David criou e estrela a série "Curb Your Enthusiasm", da HBO, e é co-criador da série "Seinfeld"

Anonymous said...

Olá, Alessandra...


Eu tenho uma teoria a respeito do tema que vc abordou: a quantidade de inteligência existente no mundo é a mesma desde sempre, mas a quantidade de pessoas aumenta cada vez mais; logo, o coeficiente de "perspicácia" dos indivíduos está cada vez menor...

O pior é que o acomodamento com as coisas mais fáceis e digeríveis, que exigem raciocínio zero para melhor compreensão, é tanto que corremos o risco de nos tornarmos uma raça de semi-bovinos: mugiremos iguais, pastaremos do mesmo capim e seguiremos todos em rebanho para onde nos determinarem ir...

Daí, qual seria a melhor opção para um futuro próximo? Ler Wittgeinstein ou comprar o DVD do Calypso ao vivo? De repente, pra que esquentar a cabeça se o legal é estar no meio da massa contagiante, não... :)

Anonymous said...

alê, fiz o mesmo caminho que vc. primeiro odiei, depois rolei de rir. o curioso é que eu estava com um grande amigo (heterossexual liberal de esquerda) no messenger, e ele estava revoltado com o texto, dizendo que era homofóbico. daí eu disse: "mas ele está tirando um sarro da homofobia!". meu amigo retrucou: "é como se fosse o bussunda tirando sarro da situação. continua homofóbico do mesmo jeito".

sei lá. fiquei numa puta dúvida. e, pra ser sincera, ainda não consegui definir pra mim o que eu acho dos efeitos deste texto nas pessoas...

outro grande amigo (este sim, gay) me contou que fez o mesmo caminho que eu - primeiro odiou, depois achou divertido. mas também ele no final ficou com um gostinho amargo na boca, perguntando se o texto do seinfeld não escondia ali uma homofobia disfarçada de bom humor, o estereótipo batendo na porta de novo.

como eu conheço o seriado, portanto conheço a linguagem do autor, sei o sarro que ele está tirando da homofobia do americano médio - seu principal alvo e sua principal inspiração.

o que eu me pergunto é o efeito que o texto causa em quem não tem nenhuma referência dessas... e continuo na dúvida se o texto exala uma homofobia ou não. o que vc acha?

Anonymous said...

Ah, eu ri tanto com esse texto do Larry David que nem me passou pela cabeça que poderia haver quem o levasse ao pé da letra. Acho que é o vício de Seinfeld - juro que com um pouco de esforço pude imaginar essa situação como um plot excelente para o George!

Acredito que ligada a essa falta de percepção de ironia está também a moda do politicamente correto. Sei lá, quando gente no mundo inteiro começa a se matar por causa de uma charge de jornal é sinal que alguma coisa está bem errada.

Anonymous said...

Alessandra,

Com esse último post, teu layout ficou 'quebrado' no Firefox. Não sei se é culpa do Firefox, do próprio blogspot ou o quê, mas parece ter algo a ver com a imagem do post.

Era só pra avisar, caso tenha algum amigo entendido de html por aí pra dar uma ajudinha.

No mais, ótimo post. Como sempre, claro. ;-)

Véio Gagá - BH said...

Alê, o grande problema é o "preconceito inverso", que parte dos politicamente corretos contra tudo - até ironias, piadas e brincadeiras sem conotações ofensivas - que possa vir a suscitar um mínimo de dúvida ao leitor ou ao espectador. Achei ótimo o texto do Larry David. Leve, bem-humorado e nada homofóbico. Mas aí vêm os defensores do politicamente correto e criticam-no, chamando-o de "homofóbico", ao menor sinal de que algo possa vir, remotamente, a ofender alguém que não entenda com profundidade o conteúdo da informação ali contida.
Quer saber? Vou começar a chamar os gays de "heterofóbicos", os atletas de "obesofóbicos", os vegetarianos de "carnivorofóbicos", os feios de "belezofóbicos", os bonitos de "feiofóbicos", os cabeludos de "calvofóbicos", os carecas de "capilofóbicos", etc, só pra todo mundo ver como a mania do politicamente correto é um saco!
Ah! E continue escrevendo... certamente você vai ter companhia pra rir.

Anonymous said...

Olha só que "importante":

08/02/2006 - 14h31
Lula não bebe há 40 dias, diz Furlan
da BBC, em Londres

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não bebe há 40 dias, disse nesta quarta-feira o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, em Argel, a capital da Argélia.

"Ele vem seguindo à risca o regime dele, inclusive está abstêmio há cerca de 40 dias", disse Furlan, que, ao lado de outros seis ministros, acompanha Lula em um giro por quatro países africanos.

"Ele só toma coca light e a gente tem que acompanhá-lo", disse ele, rindo.



Clique aqui para ver um guia da viagem do presidente


Furlan disse que "Lula está muito bem-humorado" e que ficou muito contente com o último check-up médico, feito no sábado.

Polêmica

"O médico dele disse que ele está com corpinho de atleta. No teste ergométrico, por exemplo, ele teria dito ao médico 'pode acelerar que eu agüento'."

O ministro disse que Lula emagreceu 12 kg desde o início do regime.

Perguntado se a melhora da forma física seria uma preparação para a campanha presidencial, Furlan disse, sorrindo, que não "é para essa maratona de viagens".

Em maio de 2004 o correspondente do jornal americano The New York Times no Brasil, Larry Rohter, deu início a uma polêmica ao escrever um artigo no qual dizia que o consumo alcoólico do presidente Lula estaria preocupando a população brasileira.

Em represália contra o artigo, o governo brasileiro ameaçou cancelar o visto de Rohter.

Na época, Lula negou ter problemas com o álcool e disse que a reportagem de Rohter era infundada, difamatória e um exemplo de mau jornalismo.

http://noticias.uol.com.br/bbc/2006/02/08/ult2363u5782.jhtm

Alessandra Alves said...

Fabio: eu resisto à idéia de concordar com você, de que a quantidade de inteligência no planeta é fixa, só cresce a população, mas os fatos me demovem do meu eterno otimismo... Gostei do seu mix de Wittgenstein com Banda Calypso. Será que não rola um axé-filosófico, de repente?...

Gustavo, obrigada pelo toque, vou ver o que aconteceu!

Márcia, foi justamente por me debater com essa dúvida que quis acender a discussão. Nesse ponto, respondo também à Tati e ao Véio Gagá. Por um lado, acho normal e legítimo que tenhamos esse tipo de estranheza quando algumas pessoas não entendem a ironia e chegam a se sentir ofendidas com piadas e brincadeiras afins. É normal porque nós temos o hábito de pensar, porque fomos treinados para isso, forjados em anos de leitura, observação do mundo, reflexão, alfabetização pré-internet etc. Chega a ser meio irritante ter de se policiar o tempo todo para não parecer preconceituoso, admito. Mas volto ao tema central do post: muita gente simplesmente não entende a ironia porque não tem esse nosso perfil. É triste e cruel, mas é real: nem todo mundo tem o hábito de pensar. Quando estamos escrevendo "para as massas", como diz um amigo, temos de ter essa realidade sempre em mente: alguns vão ler, entender, refletir a respeito e eventualmente contestar e contribuir, outros vão ler e não serão particularmente tocados, porque aquilo pode não lhes interessar, e outros vão ler e não vão entender, ou vão entender algo totalmente diferente, fazendo uma leitura torta, seguindo os parâmetros que eles têm.

Qualquer hora dessa, vou retormar um texto que escrevi para o GPTotal, que é um exemplo ideal para isso. A que isso nos leva? À certeza de que temos de estar preparados para reações de todo tipo, quando emitimos uma colocação irônica, jocosa ou quando simplesmente fazemos uma brincadeira.

Por mais que soe exagerado ou irritante, Véio Gagá, acho que vale a pena ouvir os representantes dessas minorias. O relato da Márcia é bem semelhante a uma conversa que tive certa vez, com um amicíssimo gay, sobre piadas e termos pejorativos para os homossexuais. Ponderei que eventualmente essas colocações são brincadeira, ao que ele respondeu: "Brincadeira para você, que é simpatizante. Os outros - indiferentes ou homofóbicos - reforçam esses estigmas a todo instante com intenção de rotular, julgar, e isso vai se consolidando na cabeça das pessoas."

Dá o que pensar, não dá?

Anônimo, tudo bem você manter o anonimato, mas eu gostaria que você comentasse a notícia que você postou aqui. Se você o fizer, prometo que dou minha opinião também.

Pedro Alexandre Sanches said...

velho gagá, o que eu fico sempre sem entender é por que é que bastou alguém se posicionar contra algum preconceito, ainda que linguístico, para já choverem críticas ferozes contra os supostos politicamente corretos, que são inevitavelmente tratados como uns chatos de galocha que tinham mais era que ficar de boca calada...

quem tira sarro de careca não é chato, não? quem faz piadinha escrota sobre preto não é chato? quem xinga mulher no volante é superlegal? (e assim por diante, mil exemplos.) essa gente nunca vai calar um pouquinho a boca, não?

e o mundo, será que ficaria mesmo sem graça nenhuma se ninguém apelasse mais para a ridicularização dos outros pra fazer a boiada rir às gargalhadas? pessoalmente acho que não, acho que perigava até o mundo ficar mais divertido e menos violento...

Anonymous said...

Pessoas,
Tive a mesma reação de vocês... comecei achando homofóbico, mas terminei achando hilário, pois é clara a ironia do texto. Mas se eu aprendi alguma coisa dando aulas, é que ninguém entende as coisas da mesma forma.
E porque? Porque como disse o próprio Wittgenstein, "os limites do meu mundo, são os limites da minha linguagem"...
É um fato incontroverso, eu só entendo aquilo que eu consigo expressar em linguagem, e a linguagem que eu conheço é diferente daquela que é conhecida por cada um de vocês. Preciso deixar claro que quando falo em linguagem, não estou me referindo à língua portuguesa, mas sim de sistema de emissão e identificação de sinais, idéias e conceitos, construído por meio da experiência.
É por isso que quando o Larry David fala, ele é entendido só pela parte dos leitores que têm conhecimento desta mesma "linguagem", pela parcela de leitores que tenha mais ou menos a mesma formação, as mesmas idéias, a mesma moral, a mesma ética. E especialmente por aqueles que lembram das aulas de português da quinta ou sexta série, quando a chata da professora falava do recurso de linguagem chamado ironia.
E como o mundo está muito mais cheio de pessoas que esqueceram a quinta ou sexta série, do que daquelas pessoas que lembram do que a professora estava falando, que a gente enfrenta hoje um dos maiores problemas da humanidade, que é a incapacidade das pessoas interpretarem o que está dito.
Ler e ouvir é um exercício de interpretação, e pra isso a gente tem que pensar, E MUITO, naquilo que está sendo dito... Mas como as pessoas são mais ligadas no imediatismo e nos conceitos e pensamentos prontos, as pessoas não querem mais pensar e julgam as coisas ditas ou escritas, fazendo pré-julgamentos equivocados.
E é justamente como pré-julgamento equivocado que eu classifico a opinião de quem leu o texto e ao final ainda o considera homofóbico.
Pois independentemente do que possa estar escrito, a mensagem flagrantemente não é essa, a idéia do texto é outra!!! E isso vale pra quem é hétero, pra quem é simpatizante, pra quem é gay ou pra quem não tem bandeira nenhuma. Então, se algo no texto reforça o estigma homofóbico, é porque as pessoas não entendem por vício na sua linguagem, mas não é um defeito do texto.
É como culpar o carro quando ocorre um acidente por imprudência do motorista.

Anonymous said...

Continuando....

E é por isso que eu acho que a vigilância dos politicamente corretos podia dar um tempo, pois acho que nem tudo dito tem a intenção de ser sério, ou de magoar, ou de discriminar, ou de fazer valer uma opinião real.
Varia o sentido da mensagem, e se alguém não me entende, creio que o problema é mais dela do que meu.
Não acho que o pessoal do politicamente correto é chato e que o mundo estaria melhor sem eles, mas acho que TUDO deve ser devidamente pesado e interpretado na hora que se lê ou ouve alguma piada, algum texto, algum comentário.
Acredito que o uso da ironia, do humor, da sátira, das crônicas, das críticas não deve ser descartado por causa de um mundo que não as compreende ou se ofende, mas sim, deveriamos nos esforçar pra que as pessoas entendam mais, pensem mais, interpretem mais.

Anonymous said...

Olha, acho que o Guilherme deu um norte legal pra questão... o que vale é o sentido da mensagem; é o tal do raciocínio dialético, uma coisa nunca é aquilo que parece ser.

Talvez o problema passe pelo viés de quem se pretende atingir com determinada mensagem... por exemplo, o texto do Larry David com certeza foi direcionado para um público restrito, que já conhecia o seu estilo ácido de humor dos tempos do Seinfeld ou, mesmo pra quem não conhecesse, possui a mesma carga cultural a permitir seu entendimento.

Agora, e se alguém, utilizando esse recurso, vale-se de um mote "humorístico-irônico" para propagar alguma espécie de preconceito, buscando uma digestão mais fácil pela massa? Não ficaria como aquela situação que o amigo da Márcia apontou: "é como se fosse o bussunda tirando sarro da situação, continua homofóbico do mesmo jeito"? Aí, acho que vale o que o Pedro comentou lá em cima...

Enfim, a diferença é tênue, não é? Por um lado pode deixar a gente rindo sozinho (pode deixar, Alessandra, vou fazer força para continuar entendendo suas ironias) mas por outro lado pode acarretar uma série de reflexos negativos. Como balancear isso?

Véio Gagá - BH said...

Realmente, quando nos direcionamos a muita gente corremos o risco de sermos mal compreendidos. Quando eu comentei o texto, busquei propositadamente exagerar na dose, para dar um tom irônico na questão, além claro de criticar o que é absurdamente exagerado. O que eu quis dizer é que não é necessário procurarmos com lupa ciscos de preconceito em tudo o que lemos, sob pena de nos transformarmos em "polícia de opinião preconceituosa". Creio que se começarmos a ler ou a assistir qualquer coisa despidos desta espécie de senso crítico, mas buscando maximizar o que tem importância e minimizar o que não tem, essa questão do exagero do politicamente correto (o exagero é chato, não o respeito que é absolutamente ético e necessário que haja quando falamos de minorias, maiorias, indivíduos ou grupos) tomará a devida proporção, dentro dos limites da razoabilidade e racionalidade.
Querem um exemplo do que eu acho exagerado? "afro-brasileiro" Ora, se nasceu no Brasil é brasileiro, independente de qualquer outra coisa. O "afro" passou a designar os negros. Se os brancos nascidos na África são "africanos", os negros seriam "afro-africanos"? Ou os brancos seriam "euro-africanos" e os negros "africanos"? Viram o absurdo? Por que dividir a humanidade em "afros", "sinos", "lusos", "hispano", "euros", "latinos"? São africanos, chineses, portugueses, espanhóis, europeus, argentinos, brasileiros, uruguaios, mexicanos, etc. E dependendo do tom da conversa e do "animus" dos interlocutores, falar "afro-brasileiro" pode ser pior do que falar "negro".
Ou seja, depois de toda essa prolixidade, concordo com o Guilherme e peço desculpas se meu comentário gerou alguma confusão.

Vange Leonel said...

fabio, eu tenho um palpite de como balancear: é ter sempre em mente que não há fato sem contexto nem verdade que seja absoluta, bastando em si mesma. A "correção política" não é inerentemente boa nem má e, como a "ironia", poderá ser considerada boa ou má dependendo do uso que fazemos dela (não há fato sem contexto). A irresponsabilidade da Folha foi colocar o artigo do Larry David sem contextualizá-lo. Aliás, seria ótimo reformularmos o termo: em vez de "correção política", "responsabilidade política", já que ninguém aqui gosta de ser "certinho".

Alessandra Alves said...

Uau! Que bacana, o debate pegou! Na qualidade de dona da pensão, gostaria de fazer alguns breves comentários.

Guilherme, suas colocações atestam aquilo que eu sempre lhe digo, pessoal ou virtualmente: você é meu mentor. Seu diagnóstico quanto à compreensão da mensagem, ligada ao domínio da linguagem, teoriza sobre o que eu, e acho que muitos de vocês, sentem na prática. Mas mais alentador que o diagnóstico é o caminho que você aponta:

"(...)deveríamos nos esforçar pra que as pessoas entendam mais, pensem mais, interpretem mais."

Essa colocação é importantíssima, para mim, porque nos coloca no centro da nossa responsabilidade como cidadãos, produtores de cultura, formadores de opinião, o que seja.

Temos uma ferramenta nas mãos, com nossos blogs, fóruns, orkuts etc. Fico feliz em ver esse pequeno e recentíssimo espaço já botando suas asinhas para ensejar o debate, e de uma forma construtiva, como vi acontecer aqui entre as colocações do Pedro e do Véio Gagá (continuo rindo cada vez que escrevo esse nome, mas tudo bem), longa vida ao nosso debate, mas é mais que isso.

É em nossa atuação cotidiana, nosso relacionamento com nossos pares, filhos, amigos, colegas, empregada, manobrista etc. que precisamos exercer ainda mais essa busca por mais pensamento, mais reflexão, mais compreensão. É difícil? Talvez seja, mas você já pensou em falar com o porteiro do seu prédio sobre outra coisa que não o encanamento vazando ou a vitória do Timão? Será que ele não tem interesse, digamos, por um livro do Jorge Amado que está esquecido na sua estante? Quem leu a matéria da Folha, sobre a biblioteca dos sem-teto? A biblioteca bombou, e teve quem reclamasse a presença deste ou daquele título. Ou seja, interesse, sintonia, gente antenada. Será que se a gente contribuir, no nosso universo, para que as pessoas tenham acesso a leitura, a reflexão e debate, não estamos contribuindo para aumentar a capacidade de compreensão de mais e mais pessoas?

Vejam, eu tenho interesse nisso: quero continuar fazendo piada, escrevendo com ironia! (hehehe)

Mas voltando à questão do Flavio, a Vange foi no ponto, ao lembrar do contexto. Nós, né, Vange, sempre fugindo das dicotomias bom-mau, certo-errado?!

Alessandra Alves said...

ops! correção ao primeiro parágrafo: sentimos na prática, e não sentem.

Pedro Alexandre Sanches said...

guilherme, gostei de acompanhar seu raciocínio, mas embatuquei numa determinada frase: "varia o sentido da mensagem, e se alguém não me entende, creio que o problema é mais dela do que meu".

putz, com essa não consigo concordar, gosto de imaginar que, num diálogo, se alguém não entende o que eu disse, o problema é do outro E meu também! se não for assim, puxa, eu é que não tô entendendo nada, hahaha... porque senão vira monólogo, atiro minhas frases no mundo e dane-se onde é que elas vão cair...

puxando o fio do exemplo do "afrobrasileiro" que o véio gagá deu, mas já puxando mais para o direcionamento dado pela vange e pela alessandra, eu acho que posso dizer "negro", "afrobrasileiro" ou o que eu quiser, sem patrulhamento. o humor de fundo que estiver por trás da minha entonação, eu tenho certeza, será totalmente entendido pelo negro (ou afrobrasileiro, ou..., a gosto do freguês), principalmente se houver algum veneno por trás da nomenclatura que eu eleger. e, putzgrila, s eo subtexto for deletério, não tenha dúvidas que vai causar estragos mais que lingüísticos, tanto pro meu interlocutor quanto pra mim mesmo...

por essas e por outras, sigo confuso sobre os propósitos do tal do seinfield, que desconheço... e sigo achando que ninguém merece o título (titulos costumam ser freqüentemente deletérios, já perceberam?) com que a "folha" "sintetizou" o assunto. "não quero ver dois homens trocando beijos", francamente, ninguém merece e me soa, sim, levemente ofensivo. que é que a galera aí vai achar se eu disser, bem sério, "ei, parem de beijar, heterossexuais, que eu não gosto de ver homem beijando mulher". põe esse título na "folha", pra ver se não cai o mundo. do contrário, não, que pimenta nos olhos dos outros é refresco, né? francamente...

Anonymous said...

Realmente isso é um fato a ser considerado: a falta do pensar, da reflexão, ironias, etc. e tal...


Pior ainda é o assalto que recebemos mês a mês quando recebemos o contra-cheque com o desconto de 27,5% de Imposto de Renda. E no final das contas ainda o que nós é roubado (já que o dinheiro não tem a finalidade devida como consertar estradas, fazer piscinão, limpar o rio tietê, por exemplo) não é suficiente e ainda temos que pagar multas. Brasileiros somos todos uns éguas mesmos. Queremos ser melhores que nosso vizinhos argentinos, zombando e ridicularizando-os, mas nessas horas é que vemos que certos são eles, que fazem panelaço, vão as ruas, pressionam e derrubam presidente!!

Anonymous said...

Realmente isso é um fato a ser considerado: a falta do pensar, da reflexão, ironias, etc. e tal...


Pior ainda é o assalto que recebemos mês a mês quando recebemos o contra-cheque com o desconto de 27,5% de Imposto de Renda. E no final das contas ainda o que nós é roubado (já que o dinheiro não tem a finalidade devida como consertar estradas, fazer piscinão, limpar o rio tietê, por exemplo) não é suficiente e ainda temos que pagar multas. Brasileiros somos todos uns éguas mesmos. Queremos ser melhores que nosso vizinhos argentinos, zombando e ridicularizando-os, mas nessas horas é que vemos que certos são eles, que fazem panelaço, vão as ruas, pressionam e derrubam presidente!!

Véio Gagá - BH said...

Agora que o debate se aprofundou e todos chegamos a consenso (ou estamos próximos), só queria fazer dois comentários.

Pedro, concordo com você sobre o título, mas é que jornais têm que chamar a atenção e polemizar através das manchetes. Não os estou defendendo, ao contrário, sou a favor de manchetes menos polêmicas. O título realmente causa uma impressão que se pode manter ou não a quem lê o texto, e até mesmo induz o leitor a iniciar a leitura com uma disposição negativa. Se o texto integral não for lido, a impressão é péssima mesmo, mas isso faz parte da técnica jornalística, não é Alê?
Também para se contextualizar corretamente é necessário conhecer ao menos algo sobre o autor (será por isso que há uma brevíssima biografia dos autores nas orelhas dos livros? Nunca tinha pensado nisso...) Quanto ao real propósito do Seinfeld, não sei. O que sei é que o humor se faz também - talvez principalmente - com a disposição do receptor da mensagem, e por isso alguns se utilizam do humor como instrumento para propagar o preconceito - como você disse, piadas de carecas, mulheres ao volante, etc. Particularmente, acho o humor de Seinfeld de boa qualidade, afinal de contas é bom rirmos de nós mesmos, retratados em comédias de costumes.

Ainda sobre contextualização, disposição do receptor, etc, minha mulher, professora de literatura da rede pública, tadinha (hehehe - olha a piadinha aí!), ao passar para seus alunos o poema "Pronominais" de Oswald de Andrade "Dê me um cigarro / Diz a gramática / do professor e do aluno / E dio mulato sabido / Mas o bom negro e o bom branco / Da Nação Brasileira / Dizem todos os dias / Deixa disso camarada / Me dá um cigarro", teve questionada por um desses alunos se não estaria fazendo "apologia ao cigarro". Pode? Isto é um exemplo de que mais importante que a mensagem é o nível e a disposição do receptor.

Chega, cansei! Pra "fazer só dois comentários" já escrevi demais. Espero só comentar o próximo post.

Abraço a todos.

AHBC said...

O que vc escreveu sobre as razões de alguns acharem graça do Seinfeld quando se fazia piadas sobre o politicamente correto me fez lembrar de uma sensação que eu tinha quando assistia ao Sai de Baixo.
O público ria bastante das tiradas de Caco Antibes ( Miguel Falabella) sobre como ele tinha "horror aos pobres" e eu ficava com a impressão que o riso vinha porque talvez eles concordassem com tudo aquilo que o Caco dizia.Quer dizer,estavam ali,assistindo,um público classe média-alta,com seus casacos de couro,todo mundo arrumadinho e tal.
Talvez no fundo eles achassem que o Caco traduzia exatamente o que eles achavam e provavelmente só expressavam à boca pequena.

Véio Gagá - BH said...

Não posso resistir. Uma coisa era o público presente no teatro - seletos convidados da Globo, outra o nível da audiência média do "Sai de baixo". A audiência média do "Sai de baixo" ria de si mesma (pelo menos eu e meus conhecidos), ao fazer exatamente o que Caco definia como "coisa de pobre" - colocar bilhetes na geladeira, servir cajuzinho em festas infantis, nestas festas usar pratos e copos plásticos, preocupar com a conta telefônica, comprar à prestação, etc. Tudo isso eu já fiz - faço - ou já vivi - vivo - e achei muito bom! Então quando ele me retratava, eu ria e dizia a mim mesmo: "Putz, em casa fazemos isso!", como rio de uma caricatura minha (até tenho uma guardada). Ou a Globo ia fazer um programa só direcionado à "Classe A", incitando a graça em ofender os pobres?

Anonymous said...

ahbc, eu concordo plenamente com o Véio Gagá, quando o Caco Antibes falava aquelas barbaridades, eu ria de mim mesmo (eu adoro COCRETE), das situações descritas (as vezes ridículas), do deboche, da entonação, das caras e bocas que ele fazia...
Mas isso não quer dizer que eu concordava com o aquilo ou que repetia o que era falado à boca pequena.
Aliás, esse é um outro exemplo de mensagem não compreendida, como o texto do Larry, pois a tônica, a mensagem e a intenção de um programa humorístico não é ser sério, não é repetir a plenos pulmões aquilo que a gente pensa seriamente sobre determinado assunto. É descontrair, é rir do ridículo das situações, é se divertir com o exagero.... Ou você acha que todos as vezes que eles ridicularizavam a Magda eles estavam mostrando pro mundo todo como a classe média-alta dos pequenos burgueses lida com a burrice???

Anonymous said...

Sei que estou um pouco atrasado, mas tenho que comentar isso.
Mesmo levando o texto ao pé da letra, ignorando qualquer ironia, não encontrei nada de homofobia.
Em que ponto algum gay poderia se sentir ofendido em ouvir que alguém não gostaria de ver dois homens se beijando? Que não gostaria de ser homossexual? Não me sinto confortável quando um casal hetero troca carícias mais quentes em público.
O problema do politicamente correto é que ele não protege ninguém de ofensas (até por chamar quem discorda de homofóbico, nazista etc), mas obriga a todos a aceitar um estilo de vida que não lhe interessa/agrada.
Já fui taxado de homofóbico por recusar, educadamente, uma cantada homossexual. Mas por outro lado, aprendi palavrões que não conhecia neste episódio.

Anonymous said...

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Anonymous said...

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Anonymous said...

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Anonymous said...

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Unknown said...

Muito bom ler os textos e opiniões, pena que cheguei alguns anos atrasada.
:)

peter watson said...

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