Sunday, March 02, 2008
In Zé we trust
Quinze minutos para a largada. Zé acondiciona nossos pertences em sua enorme sacola, uma espécie de mãe-de-todos que acomoda pequenas sacolas e mochilas de quase todos os integrantes da Equipe Conexão. Não se precisa de muito para participar de corridas de rua, mas sempre é bom levar uma camiseta sobressalente, uma toalha, essas coisas. Antes de seguir para o guarda-volumes, Zé me diz: "Espera que tem um negócio para você", e logo abre um zíper lateral, sacando de dentro da bolsa um copo d´água e um frasco de comprimidos. Tira três deles e me manda tomar. Pego um. "Os três", corrige. Pergunto o que é aquilo. Está quase na hora, depois te explico. Técnico tem que ser como pai e mãe para um atleta. Você pode não saber por que ele faz, mas tem que saber que é para o seu bem. Tomei.
A prova eram os 12 km de abertura do circuito da Corpore. O cenário, nossa velha conhecida Cidade Universitária. Quem acompanha este blog sabe que, em dezembro passado, obtive minha melhor marca para 10 km, fazendo o percurso do Circuito das Estações em 49 minutos. Uma prova não tem nada a ver com a outra, a começar pelos locais. Mas é óbvio que eu tinha a expectativa de fazer os 12 km em menos de uma hora, para repetir a marca de dezembro, ou pelo menos ficar dentro de uma hora. Aviso logo: não deu. Fiz em 1h03, mas não desista da leitura, porque a experiência dessa corrida foi muito enriquecedora.
Largamos às oito, com céu azul e sol forte. A organização do evento anunciou 12 mil inscritos. A crônica da muvuca anunciada previa congestionamento nos arredores da USP, por isso procuramos otimizar as caronas. Éramos quatro no carro do Zoca. Chegando à ponte, sobre o Rio Pinheiros, o trânsito parou. Meia volta, estacionamos para além do rio, caminhamos um bom trecho e tivemos a aprazível sensação de respirar o odor fétido do Pinheiros. Pouco antes da largada, o tradicional pit stop nos detestáveis banheiros químicos. Eu e Lara esperávamos nossa vez sem nos dar conta de que aqueles banheiros eram apenas para homens. Um tiozinho nervoso nos expulsou de lá. "A farra do boi acabou, o banheiro de vocês é lá!" Achamos o "lá" e levamos imensa vantagem, porque não tinha fila e os banheiros estavam até limpinhos, para o padrão de um banheiro químico.
Oito em ponto, soa a sirene. O habitual trânsito congestionado de cotovelos e pisões. Primeiro quilômetro em seis minutos. Ruim, mas normal. No segundo quilômetro, a única subida de fato da prova. Com muita gente, o ritmo caiu ainda mais. E o calor era cada vez mais forte. O percurso saía da USP e pegava um trecho de uns dois quilômetros e meio praticamente sem sombra nenhuma. Nesse pedaço, três experiências para me distrair a atenção. Primeiro, um corredor jovem, que se postou ao meu lado por um bom tempo. O menino era a cara do Kurt Cobain. Não resisti e falei: "Puxa, Kurt Cobain não morreu!", ao que ele respondeu, espirituoso e ofegante: "Ah, mas vai morrer já, já!" Lembrei do meu colega Henry, o grilo falante da prova de dezembro. Ele me daria uma bela bronca se me visse falando durante a prova. Na verdade, se ele estivesse me puxando, eu não ousaria olhar para o lado, e é bom que se diga que o Zé também não estava perto de mim nesse momento.
Depois do Nirvana, um odor estranho. Do nada, a pista começou a exalar cheiro de sabão de coco, um perfume que eu detesto. Forte, muito forte. Deve ter fábrica de sabão de coco por ali. E como se não bastasse Kurt e o coco, ainda me aparece um motoqueiro com uma espécie de lambreta dos infernos, queimando um óleo desgraçado, enchendo de fumaça a pista ao lado de onde corríamos. São Paulo, essa selva...
Não vou dizer que eu estivesse alheia ao efeito dos comprimidos. Só estava tentando não me influenciar por eles. O que quer que fosse, não estava me fazendo sentir mal. Depois da metade da prova, comecei a conjecturar o que seria aquilo. Cheguei a pensar que podia não ser nada. Se fosse um mero placebo, e o objetivo era apenas me estimular psicologicamente, o alvo do Zé naturalmente teria sido certeiro. Porque sou de fato muito influenciável por esse tipo de coisa. Tendo tomado "alguma coisa", eu me sentiria comprometida a ter um rendimento melhor. Mas não criei nenhuma neurose em torno do assunto.
No entanto, comecei a sentir, lá pelo quilômetro oito, que meu corpo era capaz de responder sem cansar ao estímulo maior. Meu ritmo na corrida foi de 5min17 por quilômetro. Considerando que fiz os primeiros trechos acima dos 6min, eu de fato estava recuperando bastante tempo naquele final. Apertei bastante o ritmo, a ponto de fazer os dois últimos quilômetros em estado ofegante, o que para mim significa batimento cardíaco acima dos 180 bpm. Outro detalhe era o calor, ainda mais forte perto das 9h do que na largada. Naquele sprint final, eu podia não saber o que eram os comprimidos, mas tinha certeza de que haviam me ajudado.
Cruzei a linha de chegada ao som de "Start me up", dos Stones, outra velha habitué das corridas. Depois, uma surpresa para as mulheres, antecipando a comemoração pelo Dia Internacional, em 8 de março. Após receber a medalha, todas ganhávamos um botão de rosas e um cosmético de uma empresa patrocinadora. Os rapazes que entregavam as rosas eram bem bonitinhos, mas o cosmético era um creme anti-celulite, o que achei politicamente incorreto!
Depois de reunir a turma, bater os retratos e comemorar a primeira prova do ano, Zé me explicou o que eram os comprimidos. Aminoácidos de Cadeia Ramificada (Branched Chain Amino Acids, BCAA, em inglês). O suplemento reúne os três principais aminoácidos requeridos pelo músculo durante o exercício: Valina, Leucina e Isoleucina. Zé explicou que, durante exercícios prolongados, a queda de concentração dos BCAA no sangue está relacionada à perda de massa muscular. Os BCAA atuam como fonte de energia durante o exercício e são importantes para a recuperação. Por isso eu me sentia mais "inteira" no final da prova.
Sou uma verdadeira xiita quando se trata de remédio. Só tomo com prescrição médica e fico horrorizada quando vejo gente tomando toda sorte de medicação por conta própria. Não era o caso. José Eduardo Pompeo, técnico da Equipe Conexão, é professor de Educação Física graduado pela Unesp, professor de uma das mais importantes redes de academia de São Paulo, atleta de alto desempenho e, sobretudo, estudioso e consciente. Se o Zé mandou, eu não discuto. Não contesto especialistas.
Acho que esse recado é fundamental: tomei o BCAA porque meu técnico, um estudioso do assunto, indicou, porque ele tinha certeza de que me faria bem. Este texto não é uma apologia da suplementação nutricional, por mais que, neste caso, estejamos falando de algo não agressivo à saúde. Se você faz atividade física e se estimulou com esta história, fale com seu treinador, com um especialista em nutrição ou com um médico e veja se vale a pena tomar.
O próximo desafio deve ser a Meia Maratona Corpore, em 13 de abril. Até lá, muito treino, sob a orientação segura do Zé.
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11 comments:
com um agradecimento ao colega nilton, o primeiro da foto, à esquerda, dono da máquina fotográfica. que apesar de palmeirense é gente boa...
Hehehe... Valeu, Alê!
Parabéns pelo resultado e vamos treinar forte para a Meia Maratona!
Bjs.
Nilton
Quando comecei a ler tive a impressão de algum tipo de dopping, mas você usou ao termo "suplementação nutricional" que é bem diferente.
Quando você começou a sentir os cheiros estranhos durante a prova eu pensei: '-Ih... Será?'
Mas é como você disse mesmo, o técnico é pai e mãe do atleta, e se a gente não confia neles, melhor trocar. Não é teu caso né? Mostrou isto.
Agora só fiquei sem saber se é pra dar os parabéns pelo tempo ou lamentar. Foi bom ou ruim este tempo aí?
nilton: valeu!
ron: que doping, o que, rapaz! sobre o tempo, eu fiquei satisfeita, porque o calor estava mesmo muito forte. fora que ainda é a primeira prova do ano, é natural não manter o mesmo ritmo do final da temporada passada.
Por favor Alessandra,nos proximos capitulos de nossa veloz heroina coloque seu resultado final e posição no ranking,sabe como é ,aumenta a torcida.
Outra coisa ,estou exigente hoje,fale o resultado ou tempo só no final do texto ,é uma delicia ler e criar uma espectativa!Hehe..
Mudando de assunto ,fica aqui uma sugestão,bem que podiamos fazer uma reunião do pessoal que frequenta seu Blog em uma dessas provas ,um farnel ao estilo do 96,é claro ,muito liquido e pouca comida!
Jonny'O
Alê, já falei na Academia e vou repetir aqui no blog....parabéns pela discíplina, dedicação e competência nas corridas....é realmente inspirador. Abraços. Ammar
jonny´o: prometo manter o suspense até o final nos próximos relatos. especialmente se eu superar meu recorde ;)
quanto aos farnéis, é só aparecer. o problema é que nessas provas a muvuca costuma ser enorme e não há muitas atrações para quem vai só assistir. de qualquer forma, vou começar a postar também antes das corridas. quem quiser aparecer já está convidado!
ammar: obrigada, colega! estaremos juntos na próxima, não?!
Oi Alessandra!
Aqui é o Charles, o triatleta que comentou aqui sobre a São Silvestre...
Bom, eu também faço uso de suplementos e também sou razoavelmente estudado no assunto... Acho que 3 comprimidos de BCAA de uma só vez é meio dose pra cavalo... O ideal seria você ter "dividido" eles ao longo da prova... O ruim é que a gente não tem como carregar, né?! (depois você inventa um jeito)
Bom, é o seguinte, eu recomedaria que você conversasse com um nutricionista... Você vai ver que tem MUITO potencial guardado aí dentro de você, bastando você fazer uma alimentação melhor e suplementando corretamente...
Ligue para ele ou escreva:
Luis Meirelles: 9746-6231 ou lmdiets@gmail.com
Qualquer dúvida, avise-me:
charles.schweitzer@bol.com.br
charles: putz, rapaz, obrigada pelo comentário e pela dica. eu tenho pensado muito nessa questão da nutrição, até porque minha alimentação é muuuuuuuuito bagunçada. vou entrar em contato com o luis, sim. muito obrigada!
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