Thursday, December 24, 2009

Feliz Natal



Nem Papai Noel, nem renas. Neste blog, a imagem do Natal é sempre John+Yoko, por várias referências - a música Merry Christmas à frente.

Nestes últimos dias, acabei refletindo um pouco mais sobre o Natal. Já faz alguns anos que procuro em mim o fascínio que o Natal exercia na minha imaginação. Na infância e mesmo depois, já adolescente, eu entrava em férias no final de novembro e dedicava o mês de dezembro inteiro a curtir de fato o Natal.

Confeccionava meus próprios cartões, escrevia-os e os enviava a minhas amigas de escola, folheava a revista Claudia em busca de ideias novas para enfeites (alguém aí se lembra da árvore de macarrão feita sobre um cone de isopor, depois colorida com spray dourado?). Em alguns anos, tinha também a novena de Natal, da qual eu gostava basicamente por dois motivos - pelas músicas natalinas e porque toda reunião invariavelmete terminava com um lanche!

Tinha o LP com músicas de Natal cantadas por um coro (austríaco, eu acho). E tinha um ritual que eu sempre repetia na tarde da véspera do Natal. Um disquinho da coleção Disney chamado "O Natal do Tio Patinhas", versão da história do velho avarento que é visitado pelos espíritos do Natal passado, presente e futuro.

E depois tinha a família chegando cada um com seu prato, com sacolas cheias de bebidas em vasilhames de vidro. Confusão de mulheres na cozinha, esquentando peru, tender, farofa e um detestável arroz com champanhe que, felizmente, só era feito no Natal e que eu odiava com todas as forças, porque a iguaria chique era sempre um arroz todo empapado, e eu detesto arroz empapado.

E, já na adolescência, demos de fazer sempre uma batida de sonho de valsa que virou hit eterno dos meus Natais (hoje, vai ter. É só bater uma lata de leite condensado, a mesma medida de pinga e cinco bombons sonho de valsa.) Na versão sem álcool, é só substituir a pinga por leite, fica bom também.

À meia noite, brinde. Sempre tinha alguém que pedia guaraná para brindar com o champanhe alheio "porque estava tomando remédio". Brinde e lágrimas. Como se chorava em Natal na minha família! Oração, sobremesa, amigo secreto (nove entre dez dos convivas começava sua dissertação acerca do amigo oculto com o indefectível "é uma pessoa muito especial"). Houve um tempo em que o amigo secreto perdeu ibope, ou em tempos de grana curta, sei lá. O genérico da brincadeira era um sorteio feito na hora, e cada um entregava ao outro uma barra de chocolate como símbolo de amizade. Não era incomum o sujeito tirar um papel e devolvê-lo, alegando ter tirado a si mesmo, ainda que outro alguém já o tivesse tirado também, evidenciando que o fulano estava apenas e tão somente selecionando quem queria e, principalmente, quem não queria tirar.

No fim de tudo, o desânimo diante das sobras daquele banquete pantagruélico. Sempre me impressionei muito mal com aquelas carcaças carcomidas, com aquele resto evidenciando o desperdício. E o cansaço tomando conta de todos, e a irritação para fazer caber na geladeira aquelas sobras. Quando criança, eu nem percebia esses bastidores da grande noite. Queria mais era dormir logo, para chegar logo o dia seguinte e poder brincar com os presentes ganhos na véspera.

Pensando bem, não é tão difícil descobrir porque o Natal perde seu charme na vida adulta. E, agora, com licença, que tenho de arrumar espaço na minha geladeira!

Feliz Natal, John. Feliz Natal, Yoko. Feliz Natal!

Tuesday, December 22, 2009

Na contramão



A foto que ilustra o post é manjada. Retrato do artista quando jovem, traz Schumacher em seus tempos de Mercedes, ao lado de Wendlinger e Frentzen, antes de Gachot lançar gás paralisante em um adversário durante uma briga de trânsito e catapultar Michael para a glória. Leio em sites, blogs e no Twitter que o anúncio da contratação do alemão pela equipe neoalemã é questão de horas. Portanto, começo me desculpando se estou falando em hipótese e o fato já está consumado enquanto você lê.

(Em quase quatro anos de blog, nunca fiquei mais de um mês sem escrever. Desculpem pelo abandono. Há alguns meses, lancei-me em um duplo compromisso - escrever mais no blog e retomar meus bons desempenhos nas corridas. E pedi para ser cobrada! Vocês também esqueceram de fazer isso...)

Anyway...

Confesso grande dose de expectativa com a eventual volta de Schumacher. Se eu me inquieto com essa perspectiva, o que dizer de pilotos como Hamilton, Vettel, Kovalainen, Buemi, Kobayashi, Alguersuari, Grosjean? E ainda mais de Bruno Senna, Lucas Di Grassi, Hulkenberg? Há pouco, Di Grassi escreveu no Twitter que, quando Schumacher ganhou seu primeiro título na Fórmula 1, ele (Di Grassi) tinha apenas dez anos e começava no kart. Jovens pilotos, de variados calibres, terão a chance de correr ao lado do maior vencedor da história da Fórmula 1 e isso é coisa para, no mínimo, colocar no currículo. Desafiá-lo e eventualmente vencê-lo certamente são desejos nada secretos dessa moçada mal saída das fraldas quando Schumacher alinhou pela primeira vez, no já distante GP da Bélgica de 1991.

Vem um pouco dessa data parte da minha ansiedade pelo revival do alemão. 1991 foi a primeira temporada que cobri profissionalmente, na retaguarda da Folha de S.Paulo. Já escrevi aqui: quando a Jordan viu-se sem piloto, pela inusitada prisão de Bertrand Gachot, redigi uma nota curta (um módulo 200, como chamávamos na época) sobre o substituto, um tal Michael Schumacher de quem eu, confesso, nunca tinha ouvido falar. As informações estavam em um telex, também bastante curto, evidenciando que Schumacher estava longe de ser um superstar na época. Voltar 19 anos no tempo é algo de um valor quase afetivo, um mergulho no tempo, uma sensação de também estar começando de novo e isso, crianças, por alguma razão, nos revitaliza.

Mas há uma ansiedade esportiva ainda maior a me aquecer neste quesito. Vislumbro um campeonato, como no caso de 2009, com muitas limitações para o desenvolvimento dos carros ao longo da temporada. Testes quase nulos repetem a cantilena do campeonato terminado em novembro: para ser vencedor, o carro precisa nascer bom. Desenvolvê-lo ao longo do ano? Sem testes? Difícil. E a Mercedes parte de um projeto muito bom. Se o modelo de 2010 for uma evolução do carro da Brawn, é certo que teremos Schumacher em um carro candidato ao título. Ou seja, sua volta não terá nada de café com leite. Com o perdão da expressão, ele vai pro pau.

Mas terá uma Ferrari que praticamente recolheu as armas na metade da temporada passada, hibernando para 2010, com uma dupla de pilotos tida, até agora, como a melhor do grid. Difícil imaginar que Maranello fará figuração pelo segundo ano consecutivo. Terá, também, uma McLaren, agora sem Mercedes, mas com outra dupla de pilotos fortes (dois campeões do mundo, afinal). Terá uma Red Bull amadurecida na briga pelo título, com um mini-Schumacher cada vez mais sedento por se firmar no Olimpo da Fórmula 1.

Outro fator que pode pesar a favor da competitividade em 2010. As mudanças aerodinâmicas impostas pelo regulamento em 2009 foram muito mais radicais que as do próximo ano. Na temporada passada, a Brawn acertou a mão, com aquele difusor duplo que tanta vantagem lhe deu no início do ano (e que, dizem por aí, nasceu das informações privilegiadas de Ross Brawn ainda no comando da extinta Honda). As outras literalmente correram atrás. É de se supor que esse desequilíbrio não seja tão grande em 2010. Minha perspectiva - que talvez seja até uma esperança, reconheço - é ver Schumacher em um ambiente muito mais equilibrado do que em seus tempos de Ferrari. Um verdadeiro tira-teima a que um homem de 41 anos vai se impor. Estou louca para ver.

Last, but not least, gostaria de falar da série de decisões dissonantes que envolvem Mercedes e Schumacher neste final de 2009, início de 2010. É a tal contramão que dá nome a este post. A primeira contramão é o próprio reforço da Mercedes em sua permanência na Fórmula 1. Justamente quando as montadoras saíram em debandada da categoria, a empresa alemã reafirmou seus investimentos. A segunda está na própria constituição do time.

Enquanto a maioria das equipes sempre busca mesclar pilotos de estilos e nacionalidades diferentes (até como recurso para atrair diferentes patrocinadores e parceiros), a alemã Mercedes está em vias de investir em dois pilotos alemães. Essa decisão, se confirmada, revela mais que uma opção esportiva. Desnuda uma postura neonacionalista à qual nos desacostumamos em relação à Alemanha do pós-guerra. Equipe alemã, com dois pilotos alemães. Uau! Acho que as feridas finalmente começaram a cicatrizar.

Por fim, a evidente contramão na faixa etária. Em 2010, celebramos mais um recorde de precocidade na Fórmula 1, quando Jaime Alguersuari tornou-se o mais jovem piloto a estrar na categoria. Este rapazinho poderia ser filho do provável (eventual, possível, especulado...)piloto do carro número 4 no ano que vem.

Oh, lord... Falta muito para a temporada de 2010 começar?

Tuesday, November 17, 2009

Procuram-se repórteres


Antes de qualquer coisa, desculpem pelos dias sem atualização. Excesso de trabalho, apenas isso (mas, como prometi alguns meses atrás, continuo me esforçando para não abandonar o blog nem meus treinos de corrida. Well, pelo menos aos treinos eu tenho comparecido...).

Foram dias intensos, com apagão, rodoanel e muitas notícias na Fórmula 1. Compra da Brawn pela Mercedes, namoro sério entre Button e McLaren, anúncio de Timo Glock na Manor.

Assim que li esta última, hoje cedo, pensei a mesma coisa que o Ico: se Glock está confirmado na Manor, e era dado como provável na Renault, será que isso significa a retirada da Renault, como se especulou nas últimas semanas?

O pensamento seguinte me levou à divagação que compartilho com vocês. Este mundo cibernético, online, virtual em que vivemos tem me possibilitado coisas incríveis, como falar frequentemente com meu amigo que mora em Salvador, coisa que seria inviável nos tempos do interurbano. Ou editar, aqui em São Paulo, um jornal que é diagramado, composto e impresso em Erlangen, na Alemanha. Ou, ainda, pedir a meu irmão, que mora em Belo Horizonte, para consertar, de lá, a configuração do computador da minha mãe, aqui em São Paulo.

Se Tia Nastácia visse tudo isso, diria que era assombração, arte do "coisa ruinzinha". Dona Benta, mais antenada, balançaria divertida a cabeça e explicaria à cozinheira que estávamos apenas diante das maravilhas da tecnologia contemporânea.

No mundo cibernético, online, virtual, o universo está ao alcance de um clique. Em segundos, descubro quantos metros tem o circuito de Jerez de la Frontera. Ou a idade de Maximiliano Papis. Ou quantos milhões de dólares a ex-mulher de Bernie Ecclestone arrancou-lhe no divórcio. Em segundos, sigo volta a volta todas as provas de Fórmula 1, acompanhando a cronometragem oficial em qualquer lugar do planeta. Poucos minutos após cada treino ou corrida, tenho acesso a um sem número de fotos de todas as equipes e de todos os pilotos.

A sensação de estar perto de tudo, estando a qualquer distância, é quase palpável. Qualquer um tem elementos para falar com propriedade sobre praticamente qualquer assunto, graças à avalanche de informações que se tem de tudo. Estamos perto de tudo.

Estamos muito preguiçosos, isso sim!

Nas décadas de 70 e 80, havia jornalistas especializados na indústria automobilística que montavam tocaia para flagrar novos modelos em testes. Houve quem fosse perseguido por seguranças de fábrica, chegando a levar tiros por conta dessa atividade de risco. O prêmio para tal ousadia era produzir uma capa de revista com a foto do novo carro, que estaria nas ruas só depois de muitos meses. O prêmio era o orgulho do jornalista por ter dado o que, no nosso jargão, se chama "furo".

Fico me perguntando onde estão os repórteres especializados em automobilismo da Europa. Especula-se que Glock vá para a Renault. Especula-se que a Renault anuncie sua saída no final do ano. Especula-se que a Renault se torne apenas fornecedora de motores a partir de 2010. E não tem um infeliz que se digne a fazer tocaia na porta da fábrica!

A circular por ali durante uma manhã ou uma tarde, nem que seja para ver gente entrando e saindo, caminhões entregando material. Nem um papinho com o vizinho, com o comerciante da esquina. Nem uma frase pescada: "Ah, seu moço, gente entrando e saindo tem sempre, e ontem mesmo saiu um caminhão enorme lá de dentro, levando um troço enorme, que parecia uma turbina de hidrelétrica." Nada. Nessa altura, podem ter desmontado o túnel de vento da Renault que ninguém sabe, ninguém viu.

Tocaia na frente da fábrica? Faz-me rir. Estão todos perto de tudo, à distância de um clique, linkados no universo, longe da notícia, esperando a coletiva oficial, a ser transmitida ela internet, onde todos nos encontramos.

Monday, November 09, 2009

Uni(tali)ban



Geisy foi à faculdade com um vestido curto (?). Hostilizada pelos colegas (?), teve sua imagem divulgada pelo youtube. Confusão generalizada, polícia chamada. Dias depois, a faculdade resolveu expulsar Geisy. Alegou atitudes inadequadas da aluna.

Quais seriam tais atitudes, senhores diretores da Uniban?

Ela usa roupas provocantes habitualmente?
Ela se insinua para seus colegas?
Ela não dá bola para o que acham de seu vestuário?
Todas as anteriores? Nenhuma das anteriores?

Talvez só Geisy sabe o que fez de tão condenável (se é que fez!), e neste caso vale a máxima de que os vândalos que a hostilizaram podem nem saber por que a agrediram, mas ela sabe porque foi humilhada em público.

Nada justifica a atitude anônima de bullying praticada por essa gangue. Machismo, preconceito, desrespeito extremo, independente de quais atitudes condenáveis Geisy tenha tomado (se é que tomou!).

De imediato, pensei que a Uni(tali)ban além de referendar a atitude criminosa de seus alunos, também conduziu muito mal a história, em termos da imagem da instituição. Depois, reconsiderei: será que a universidade está preocupada com sua imagem?

Wednesday, November 04, 2009

O último que sair...


Em um ano, três empresas japonesas anunciaram sua saída da Fórmula 1. Começou com a Honda, continuou com a Bridgestone, culiminou com a Toyota. No meio tempo, os alemães da BMW também puxaram o carro. Há algum tempo, rumores apontam para a revisão dos planos da Renault na categoria. Mas, depois do escândalo de Cingapura 2008, a empresa francesa deve se manter pelo menos para limpar a imagem.

De qualquer forma, uma impressão dos últimos tempos consolida-se como certeza: naufragou clamorosamente o conceito de uma Fórmula 1 transformada em Mundial de Marcas, com as principais montadoras duelando entre si. Bernie apegou-se a essa ideia e quase excluiu os demais times, os chamados garagistas. O pequeno dirigente um dia deve ter olhado para um grupinho formado por Frank Williams, Eddie Jordan, Peter Sauber, Giancarlo Minardi e pensou: "Vocês são pequenos demais para meus planos".

Virou as costas e vislumbrou as sedes da Honda, da Toyota, da Mercedes, da BMW e teve a certeza de que aquela era sua turma. Corporações poderosas, com orçamentos estratosféricos. Bernie elevou os custos da Fórmula 1 ao ponto de praticamente alijar os pequenos da categoria. E deve ter tido a certeza de que havia agido certo durante os primeiros anos desde século. As montadoras entraram com tudo na Fórmula 1, ajudando-o a faturar como nunca na história desta competição!

Só que 2008 varreu o mundo com uma crise econômica brava. As grandes corporações, com orçamentos estratosféricos, perderam dinheiro. Nessas horas, não há boa intenção, compromisso com o esporte blá-blá-blá nenhum que disfarce o sorvedouro de dinheiro que é a Fórmula 1. Uma após a outra, as equipes foram batendo em retirada.

Não deixa de ser intrigante o objeto maior do contencioso entre FIA e Fota no primeiro semestre - o teto orçamentário estabelecido para 2010. A FIA, ainda sob o comando de Max Mosley, insistia na contenção de despesas, tendo em perspectiva a inviabilidade da categoria se a gastação desenfreada continuasse. As equipes batiam o pé: queriam gastar mais e mais. Venceram o duelo. Perderam dois times de lá para cá, e a fornecedora de pneus, já com data marcada para a despedida.

A Fórmula 1 não vai morrer. Pelo menos três times novos já estão inscritos para 2010. E ainda há a nebulosa perspectiva de mais dois. Times com formatos garagistas, sem a opulência das montadoras. Difícil é imaginar que Bernie dará a mão à palmatória, admitindo que sua aventura no mundo das grandes corporações foi um retumbante fracasso.

Mas ele, de fato, não parece estar muito preocupado com isso. No Oriente, nas Arábias, Bernie parece ter encontrado gente disposta a continuar despejando dinheiro na Fórmula 1. Se é que isso ainda pode ser chamado de Fórmula 1.

Monday, November 02, 2009

Fim de feira


Depois de dezoito anos cobrindo automobilismo, reforço, a cada corrida, uma sensação permanente: um autódromo, terminada um GP, é um cenário desolador. Tem ar de fim de festa, fim de feira, uma pré-ressaca. É a sensação que reina em mim hoje, especialmente pelo final do campeonato e pela perspectiva de quatro meses sem Fórmula 1.

A vida é muito mais do que corrida, eu sei. E ergo as mãos para o céus quando lembro que o intervalo entre uma temporada e outra acontece, aqui no Brasil, em pleno verão. Saem os treinos e GPs, entram o sol, o calor, praia e piscina. Amo muito tudo isso e sou daquelas pessoas que não entendem os que preferem o frio.

O GP de Abu Dhabi intensificou a sensação de fim de feira. Corrida chatíssima. Repito o que disse durante a transmissão, pelas rádios Bandeirantes e Band News FM. A corrida me lembrou um episódio familiar: ao ser perguntado sobre do que mais tinha gostado em um circo a que tinha ido, meu primo Lucas pensou e respondeu: "de chutar pedrinhas no estacionamento!". É o que pareceu, para mim, esse circuito fake em cenário fake dos Emirados Árabes. Tem a marina, tem o hotel, tem parque temático da Ferrari, tem até um autódromo, mas todo mundo só falava do pôr-do-sol de Abu Dhabi.

Falarei mais da temporada de 2009. Por enquanto, fica minha homenagem a Kamui Kobayashi, grande sensação das duas últimas corridas. Há quem diga que, na Fórmula 1 atual, não se faz ultrapassagem. esqueceram de avisar ao japonês, que deu show ontem e em Interlagos.

Enquete do Mundial 2009

Como já fez no ano passado, o Saco de batatas convida os leitores a votar nos melhores e piores da temporada. Vai !

Thursday, October 29, 2009

Petrodólares


Primeiro, foi o Bahrein. Ainda assim, resisti. Mas com tantas referências a Abu Dahbi, desisto. A Fórmula 1 definitivamente me fez ressuscitar na memória um jogo de tabuleiro chamado "Petrópolis", que eu jogava com meus primos quando era criança.

Bahrein, Abu Dhabi, Omã... Durante muito tempo, esses nomes eram apenas quadradinhos na minha lembrança. Neles, se tivéssemos alguns petrodólares, podíamos colocar torres de petróleo. Quando tínhamos mais dinheiro ainda, trocávamos as torres por plataformas.

Petrópolis, para quem não conheceu ou não se lembra, nada mais era quem um "Banco Imobiliário" ambientado no ramo petrolífero. A dinâmica era exatamente a mesma. Eu gostava mais do "Petrópolis" que do "Banco Imobiliário" por uma questão estética bem fútil - as torres prateadas e as plataformas douradas do "Petrópolis" me pareciam bem mais bonitas que as casinhas verdes e os hotéis vermelhos do "Banco Imobiliário". Além disso, o tabuleiro do "Petrópolis" era preto, o que fazia um contraste interessante com esses outros elementos.

O jogo, se bem me lembro, era da minha prima Claudia. O quarteto constante em torno do tabuleiro éramos eu, ela, sua irmã Debora e outro primo nosso, o Paulo. "Petrópolis" rendeu histórias inesquecíveis para mim. Claudia pronunciando "Omã" em voz alta e minha tia, lá da cozinha, respondendo: "O que é, Claudia, fala!" Paulo saindo para ir ao banheiro e nós duas - eu e Claudia - nos lançando febrilmente contra o banco, cheinho de petrodólares. Ah, desculpe... O Paulo era muito malaco em qualquer jogo. Nós tínhamos forte suspeita de que ele tinha roubado uma das notas de 500 mil petrodólares, cor de vinho, e não tivemos pudor em repor nosso prejuízo, lançando mão de várias notinhas de 100 mil, as beges.

Abu Dhabi saiu do tabuleiro para o calendário da Fórmula 1. Pelo que li, especialmente nos relatos do Ico, o prateado das torres e o dourado das plataformas espalhou-se e multiplicou-se em opulência naquele emirado. Amanhã, os carros irão para a pista, sem maiores atrativos além de definir quem será o vice-campeão. A tradição do local em automobilismo é nenhuma. Como a do Bahrein, da Malásia, da China, da Turquia. Eles não têm pilotos bons, mas têm dólares. Petrodólares, no caso. Isso, há muito tempo, eu e meus primos sabemos que conta muito.

Friday, October 23, 2009

Sobre Button, em 2005

Escrevi a coluna abaixo em 2005, no auge dos escândalos do mensalão. O objetivo era analisar as idas e vindas de Jenson Button, que primeiro queria ir para a Williams, depois não queria mais. Bateu o pé para ficar na BAR, que virou Honda, que virou Brawn. No fim da história, a persistência de Button rendeu-lhe o título mundial.

*



Talvez seja só fruto do desencanto. Ou porque muito se tem falado de ética ultimamente. Vai ver estamos todos desiludidos, achando que está tudo errado e nunca terá jeito. Mas, lembrando do passado recente, vejo-me tentada, no final de 2004, a escrever sobre Jenson Button. Não o fiz porque o enfoque não era Button como piloto, mas uma circunstância extra-pista, deixei para lá. Ele, agora, volta à carga. E talvez porque todos estejamos indignados, refletindo e dados a desabafos, acho que inglês Button cabe no contexto e chamo a discussão sobre a ética, a ética na Fórmula 1.

Button assinou contrato com a Williams em 2004, estando preso por outro compromisso à BAR até o final de 2005. O piloto e a nova equipe queriam passar por cima do atual empregador, efetivando a troca de time já neste ano. Chegaram a anunciar a mudança, a BAR quis valer seus direitos e a troca de argumentos e interpretações terminou na Justiça. Ganho de causa para a BAR, que manteve o piloto.

A briga do inglês com a BAR foi pública. Ele trocou acusações e insultos com o então chefe do time, David Richards. Mas, como decisão de juiz não se discute, Button reintegrou-se à equipe. Foi nesse momento do contencioso, no ano passado, que me assanhei a escrever sobre a ética segundo Jenson Button. Naquele momento, saltou-me aos olhos a naturalidade com que o piloto e a BAR deram continuidade às suas relações. Insatisfação, rompimento, brechas legais, ações judiciais, uma briga! E, no fim da conversa, Button ficou na equipe e até parecia bem contente. Deve ter contribuído, no armistício, a saída do desafeto Richards da BAR.

Mas, na minha visão algo provinciana e muito idealista do mundo e das relações humanas, essa naturalidade soou estranha. Imaginei-me naquela circunstância em um ambiente profissional, e não consegui absorver a perspectiva de continuar trabalhando em uma empresa contra a qual eu tivesse uma contenda. Coloquei-me na pele do empregador e tive certeza de que não gostaria de ter, em meus quadros, um colaborador insatisfeito que foi à Justiça para não trabalhar mais para mim.

Essa, admito, é a visão de uma pessoa idealista. É claro que acima das convicções pessoais está o interesse financeiro que rege o negócio, e a Fórmula 1, emoldurada como esporte, é na essência um grande negócio. Button deve ser gente boa, tem cara disso, pelo menos. Mas, como todo grande jogador ou aspirante a tal, eventualmente deve dobrar-se às circunstâncias e ir contra seus sentimentos mais íntimos. No fundo, ele queria ir para a Williams. No fundo, deveria estar constrangido por ter de ficar. Na prática, não há nobreza de sentimentos que vença os argumentos dos contratos e o veredicto dos tribunais.

Mas eis que a temporada de 2005 consolida-se como um grande e retumbante fracasso para a Williams. Na pista e nos negócios, a Williams vai mal, conseguindo pódio em Mônaco – a sempre imprevisível Mônaco – mas patinando no resto do mundo. Pior que o presente é a perspectiva de futuro, diante da ruptura com a BMW e a longínqua perspectiva de ter motores Toyota em 2007. Até lá, vai de Cosworth, vislumbrando uma temporada cumpre-tabela.

Não que Button e a BAR estejam em situação muito melhor. A equipe levou suspensão por duas corridas, abandonou qualquer aspiração ao título logo no começo do campeonato, por conta desse gancho. Mas a perspectiva da BAR – praticamente o braço esportivo da Honda – é muito mais alvissareira que a da Williams. Livre em 2006, Button pode concretizar o sonho de correr para a equipe de Frank. Pode, mas não deve ir. “Ser campeão vale mais do que ganhar muito dinheiro”, disse o inglês recentemente, explicando porque deve ficar onde já está.

A lógica é irrefutável: assumir o compromisso com a Williams certamente fará com que o inglês encha os bolsos de libras esterlinas, mas não lhe dará a mais remota chance de ser campeão. A Williams, que já subiu e desceu a montanha russa da Fórmula 1 por diversas vezes, parece ter encontrado o caminho definitivo da ladeira abaixo. Button, tido e mantido como potencial campeão nas últimas temporadas, começa a ver sua carreira entrar na zona perigosa da estagnação. Ou realiza as previsões logo ou se torna um piloto comum, entre tantas promessas que viraram fumaça depois de causar furor em suas primeiras aparições.

O limiar entre um campeão e um piloto comum não está necessariamente na habilidade ao volante, mas nas decisões acertadas. Quem viu o francês Jean Alesi desafiar Ayrton Senna no GP dos Estados Unidos de 1990 não pode duvidar de sua capacidade técnica. Alesi, no entanto, virou um piloto comum ao dar um mau passo na carreira: em vez de ir para a Williams, preferiu o caminho da Ferrari. Histórias como essa devem povoar a mente de Button quando ele se vê diante da encruzilhada de sua vida. Ir para a Williams – e manter o compromisso firmado – provavelmente vai lhe custar a carreira. É jovem, tem talento, quer vencer, rasguem-se os papéis. Quem pode culpá-lo?

Em um determinado momento de sua carreira, Button quis anular seu compromisso com a BAR. Agora, é a palavra dada à Williams que se desmancha no ar. Na essência das duas atitudes, o desejo de ganhar – dinheiro e títulos. Pela glória e pela grana, é isso que rege o mundo, por que esperar algo diferente na Fórmula 1? Como atacar um jovem piloto que se forjou esportista de elite ouvindo preceitos como “o segundo colocado é o primeiro entre os perdedores”?

Criamos nossos jovens repetindo, em casa ou nas universidades, que o importante é vencer. O bom executivo é um “rolo compressor”. O atacante que faz muitos gols é um “matador”. O competente, em qualquer área, é “fera”. Aquele que passa por cima, mata ou ataca suas presas é o vencedor. Como esperar o cumprimento da palavra dada, se isso contrasta tanto com a definição própria do conceito de vencedor, aquele que tudo pode, que não tem limites?

Sim, estamos falando de Fórmula 1, um esporte de altíssimo risco, de altíssimos investimentos. “Quem pode mais chora menos”, “Farinha pouca, meu pirão primeiro”, “Não quero saber se o pato é macho, eu quero ovo”. Quem está no esporte está para vencer, não para competir, que nos perdoe o Barão de Coubertain. Esse é o comportamento preconizado, o que leva aos títulos, paciência.

Mas, então, vamos parar de estranhar a torpeza do ser humano que se locupleta de toda e qualquer condição privilegiada para ganhar mais, para estar mais à frente que os outros. Vamos parar com a perplexidade diante da demonstração de força dos que têm poder, venham eles de onde vier. “Quem pode mais chora menos”, não é? É essa a lição que damos aos nossos jovens, em casa, na escola ou no paddock? Então, não vamos esperar que eles se comportem de outra forma se, em vez de pilotos, resolverem ser políticos. E não acredito na máxima de que “no esporte é diferente”. Ninguém é ético aqui e antiético acolá. Se Button está errado é porque todos estamos. Mude-se a sociedade e se revejam os conceitos do que é ser vencedor. Ou vamos continuar agüentando as conseqüências

Tuesday, October 20, 2009

Ainda sobre Interlagos

No programa de ontem, conforme o post abaixo, também perguntei ao secretário Caio Luiz de Carvalho sobre o lendário traçado antigo de Interlagos. Há planos para recuperar as curvas 1, 2, 3, 4, Ferradura e Sargento?

Ao fazer a pergunta, eu disse ao entrevistado que formulava aquela pergunta em nome de uma legião de amantes do automobilismo que, até hoje, não se conformam com o ostracismo a que foram submetidas essas partes do circuito.

Caíto começou sua resposta falando que o apego ao traçado antigo era puro romantismo, um saudosismo que já não se justificava.

Mas disse que trechos do traçado antigo serão reformados para "desafogar o traçado novo", recebendo provas menos, digamos, nobres. Sim, amigos. Parte do traçado antigo será usada, em breve, para provas de arrancada!

Eu até entendo que a Fórmula 1 use um traçado menor, padrão atual, mas continuo achando uma pena que o traçado antigo não tenha sido mantido para outras categorias.

Agora, na minha opinião, realizar provas de arrancada no traçado antigo é fazer caipirinha no cálice sagrado.

Mundial de Moto em SP

Ontem, durante o programa Magazine BandSports, o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho, revelou a Sergio Patrick, a mim e aos assinantes do canal que Interlagos deve receber uma etapa do Mundial de Motovelocidade a partir de 2011.

A prova, pelo menos a primeira, deve ser extracampeonato. A negociação, por enquanto, está emperrada no vil metal. Só veremos Valentino Rossi e seus colegas ao vivo se Carmelo Ezpeleta, presidente da Dorna, e Bernie Ecclestone, deus da Fórmula 1, chegarem a um acordo financeiro.

Caíto, como é conhecido o secretário, falou claramente: não podemos receber um evento que inviabilize a Fórmula 1. Ou seja, Interlagos é dirigido com competência pelo decano Chico Rosa, mas quem decide o que acontece ali ou deixa de acontecer é Bernie.

Cobri a única etapa do Mundial de Velocidade ocorrida em Interlagos, no paleolítico ano de 1992. Naqueles dias, choveu em Interlagos mais ou menos o mesmo que choveu no sábado passado. Interlagos parecia uma quermesse: eram tantas equipes - da antiga 500cc, da 250cc e da 125cc - que não cabia todo mundo no paddock, espalhando-se pequenas tendas para abrigar equipamentos em outras áreas do autódromo.

Perguntei ao secretário, ontem, se este cenário se repetiria caso tivéssemos uma nova etapa. Ele afirmou que não, pois a mais recente reforma no autódromo melhorou sensivelmente a área do paddock.

Perguntei, também, sobre a questão do sentido anti-horário da pista, descrito por alguns como um impedimento para a realização de uma corrida de moto ali. Ele admitiu que a questão é polêmica e que há grupos que defendem a manutenção do sentido atual, enquanto outros especialistas da categoria indicam a realização da prova na contramão da Fórmula 1, para mitigar os efeitos físicos aos pilotos.

Por enquanto, é esperar. Mas confesso que fico empolgada com a ideia de ver uma corrida da MotoGP aqui.

Monday, October 19, 2009

Interlagos, in loco 3

Algumas fotos do paddock.


Castilho de Andrade, assessor de imprensa do GP do Brasil (com um visual meio Zelaya) e meu brother (ou son?) Bruno Vicária. Guardem este nome!


As costas de Felipe Massa. E um repórter com uma camisa que faria morrer de inveja Michael Schumacher.


A turma da BMW bate um rango no domingo. Se fosse a derradeira corrida do ano, a legenda era fácil: a última ceia.


Di Grassi, quase encoberto, é cumprimentado pelo apresentador e piloto de Porsche Otávio Mesquita.


O tricampeão Niki Lauda, hoje comentarista, com se indefectível boné vermelho.


Kubica bate um pratão de frutas antes da corrida. O coitado é feio, mas tem uns bícepes, hein?


David Coulthard, atual comentarista da BBC. Agora, cantem comigo: que cara quadrada que ontem eu vi!

Sunday, October 18, 2009

Fênix




Ao final do GP do Brasil de 2008, a Honda de Jenson Button pegou fogo ao chegar à área dos boxes. Seu pai, o já lendário John Button, ao ver a triste cena, disse, em bom inglês, traduzido para um mau português: "Deixa queimar essa m...". Quem diria, um ano atrás, que aquele piloto sairia de Interlagos campeão, neste ano?

Eu não diria e dei risada quando, no começo do ano, Rubens Barrichello afirmou que o carro da Brawn poderia lhe dar o título de 2009. Até que a Brawn, muito depois das outras, foi à pista e aniquilou a concorrência nos testes de inverno. E continuou humilhando nas primeiras corridas, permitindo que Jenson conseguisse a façanha de vencer seis das sete primeiras provas. Foi ali, naquele começo de ano, que Button garantiu o título comemorado hoje em Interlagos.

Enquanto as demais equipes (se) debatiam sobre a regularidade ou não dos difusores de dois andares (lembra-se deles? ninguém falou mais do assunto, parece a gripe suína...).

Enquanto a Red Bull avançava timidamente, conseguindo estupendos resultados em pistas "frias" e perdendo-se inexoravelmente nas mais quentes.

Enquanto Barrichello duelava com o carro e saía de algumas provas dizendo doces palavras sobre a própria equipe, como "eles me fizeram perder a corrida".

Os difusores foram considerados legais pela FIA. As outras equipes correram atrás, enquanto Button dava tchauzinho lá na frente.

A Red Bull continuou alternando ótimas e sofríveis apresentações.

Barrichello, pelo que consta, leu "O segredo", mudou sua atitude, percebeu as vantagens de ser mais positivo e otimista, tendo atuações superlativas, como na Itália.

No entanto, era tarde.

Tarde para as outras equipes.

Tarde para a mais séria oponente, a Red Bull.

Tarde para o companheiro de equipe.

Button fez uma segunda metade da temporada "para passar de ano". Aplicando-se o suficiente apenas para ficar na média. Inteligentemente, aproveitando a enorme vantagem do início de 2009.

Era a fênix, recompondo-se a partir das cinzas do ano passado.

Em Intelagos, Button fez sua melhor corrida (em suas próprias palavras). Com uma corrida irrepreensível, aproveitou-se dos incidentes da largada e foi galgando posições. De 14º para 5º. Not bad at all, diriam na terra da rainha.

O GP do Brasil de 2009 foi, na minha opinião, a melhor corrida deste ano. Talvez como resultado do treino caótico de ontem, que jogou para as últimas posições muitos dos carros mais competitivos. Por isso, foi tão agradável ver o desempenho do próprio Button e de pelo menos outros dois pilotos que mostraram ser possível, sim, fazer ultrapassagens na F1 atual: Hamilton (de 17º para 3º) e Vettel (de 14º para 4º). E palmas também para Mark Webber, que conquistou aqui sua segunda vitória na F1.

Apesar da brilhante atuação em Interlagos, eu sigo com uma pulga atrás da orelha quanto à estatura de Button diante de outros campeões mundiais. Se não fosse um campeonato tão atribulado, no qual as grandes equipes pareceram pegas em uma armadilha na brecha de um regulamento, se Button tivesse sido realmente confrontado o tempo inteiro, como o foi a partir do meio do campeonato, ele seria campeão? No mano a mano, com carros equivalentes, ele venceria um campeonato contra Hamilton, Massa, Alonso, Raikkonen?

Eu acho que não. E você?

(Foto de Carsten Horst)

Interlagos, in loco 2

O sol brilha! As nuvens vão chegando, mas, por enquanto, a chapinha está garantida. Como prova a imagem abaixo.



Cheguei ao autódromo pouco antes das 11h, com grande facilidade no trânsito. Em anos anteriores, a pista tinha muito, mas muito mais gente. Muitos espaços vazios nas arquibancadas. A sala de imprensa está assim:















Entrei no paddock praticamente junto com Rubens Barrichello, que não vestia o manto sagrado alvi-negro desta vez. Vou dar uma passada pelo paddock e ver se pego mais imagens legais.

Enquanto isso, meu colega e tradicional leitor deste blog, Hugo Becker, hoje no Tazio, segura as pontas na sala de imprensa.

Saturday, October 17, 2009

Interlagos, in loco 1

Direto de Interlagos, para mais um GP do Brasil.

Breve consideração: por que alguns comunicadores se referem ao GP do Brasil como GP Brasil??? Por acaso alguém fala do GP Inglaterra ou do GP Mônaco? GP Brasil é turfe. Tá certo que alguns tipo aqui são meio cavalos, mas peralá...

Rezei bastante para Santa Clara, para não chover, porque aqui sempre se anda muito ao ar livre. Garoa e chapinha não combinam. Mas minha reza não está forte. Cheguei a Interlagos debaixo de uma típica garoa paulistana. O que já foi suficiente para detonar meu cabelo. Bad hair day! Damn...

Enfim, estamos na expectativa para o primeiro treino livre. Embora o tempo esteja melhorando, acho que pelo menos as primeiras voltas acontecem com pista molhada. Má notícia para a Brawn e para estreantes como o esquisitão do Romain Grosjean. Vamos nos preparar para rodadas e saídas de pista.

Friday, October 16, 2009

Twitter

Pronto.

Rendida ao Twitter. Você me encontra no /alvesalessandra

Mas confesso que ainda estou me achando lá!

Thursday, October 15, 2009

No verão, a primavera



Entre Monteiro Lobato e Érico Veríssimo, senhores da minha infância literária, e a descoberta de García-Márquez, uma autora frequentou a cabeceira da minha pré-adolescência: Lucília Junqueira de Almeida Prado. Escritora nascida em 1924, ganhou o Prêmio Jabuti por "Uma rua como aquela", que li naquela mesma época. Um de seus livros mais marcantes, para mim, foi "No verão, a primavera", que conta a história de uma moça que vivia uma arrebatadora paixão, do tipo adolescente, na vida adulta. O título tinha essa referência: no verão da vida, a personagem vivenciava sentimentos extemporâneos, e o mais tocante era acompanhar aquela explosão juvenil em uma mulher já madura.



As declarações de Rubens Barrichello, nesses dias pré-GP do Brasil, me fizeram lembrar do livro. Há um ano, Barrichello estava praticamente aposentado pela imprensa, sem contrato para 2009, em algo que parecia o ocaso de uma carreira decadente. O começo da atual temporada não foi assim tão alvissareiro para o veterano brasileiro. Enquanto o companheiro de equipe enfileirava vitórias, Barrichello lutava com o carro. Mas, ainda assim, somava pontos. Até que "vestiu" o Brawn na segunda metade da temporada e venceu duas corridas, conseguindo reduzir a distância para Button e, principalmente, ganhando algo que sempre pareceu faltar a ele: auto-confiança.

No verão de sua carreira, Barrichello renasceu em competitividade, com a vantagem da maturidade.

Hoje, falando à imprensa, Rubens reportou um "sentimento arrasador" ao cruzar o túnel de acesso à pista de Interlagos. Na reportagem de Luis Fernando Ramos, o Ico, no Tazio, ele diz: "Tive um sentimento de muita gratidão ao passar pelo túnel do autódromo. Porque no ano passado, quando passei pelo túnel no domingo, eu fiquei com aquela sensação de que poderia ser a última vez. Então, hoje, tive um sentimento arrasador de chegar e me sentir competitivo, em casa, então faça chuva ou faça sol, será um grande fim de semana."

Faça chuva, ou faça sol, será um grande fim de semana. Bingo, Rubens! Vai ser um grande final de semana porque, nesta altura da sua longa e respeitada carreira, você já se sabe vencedor. Não se trata, aqui, de apelar para aqueles chavões de livros de auto-ajuda. Mas parece evidente que, neste 2009 tão surpreendente, a maré virou para o seu lado porque, em dado momento, neste ano, você virou seu pensamento. Deixou de se apegar ao discurso vira-lata do brasileirinho contra o resto do mundo. E as coisas começaram a melhorar para você.

Sabe o que me lembra essa atitude de Barrichello? Todo mundo já passou por isso. Você perde alguma coisa, dentro de casa, e passa um dia inteiro revirando gavetas e armários, sem sucesso. Tempos depois, tendo dado o item por perdido, você o encontra, sem querer. Ou então aquelas mulheres que passam anos tentando engravidar, fazem tratamentos, até que desistem, adotam uma criança e, depois, acabam engravidando. Assim, sem querer. Basicamente, porque mudaram o foco, impedindo que o estresse continuasse boicotando suas células. Em resumo: desencanaram.

É isso aí, Rubens, desencana que a vida é bacana. Vá para o GP do Brasil sem pôr o peso das arquibancadas nas costas, como você fez tantas vezes, principalmente nos tempos da Ferrari. Assim, meio sem querer, você vai viver sua primavera em Interlagos.

(a foto de Barrichello é de Carsten Horst)

Tuesday, October 13, 2009

Dois talentos


Escrever sobre corrida, no Brasil, muita gente escreve - e admiro vários desses colegas. Mas o que Bruno Mantovani faz é diferente de tudo: original, bem concebido e bem acabado, além de extremamente trabalhoso, verdadeiro trabalho de artesão.

Suas charges animadas são aguardadas com ansiedade lá em casa. Depois de cada GP, Mantovani cria esses curtas animados com pouco mais de um minuto, protagonizados por seus "Pilotoons", sempre com os capacetes originais dos pilotos da temporada e um detalhe marcante - os olhos. Mantovani pinçou a única coisa que se consegue enxergar de um piloto de Fórmula 1 e fez disso a expressão maior de sua arte. Olhos tristes para Kovalainen e Fisichella. Olhos arregalado para Buemi. Olhos de monstro para Barrichello, uma espécie de morto-vivo renascido em 2009. Para cada dez segundos de ação, cerca de uma hora de trabalho. Haja dedicação!

Mas não são só as charges animadas que valem a visita ao seu blog. Seus desenhos são primorosos, com traços elegantes e cores idem.

Eu já achava isso tudo do grande chargista e desenhista, que me deixou sem alternativas depois de publicar o desenho acima em seu blog, desse jovem talento da blogosfera. Permitam-me o breve momento mãe coruja e, por favor, visitem o blog do rapaz.

Sunday, October 11, 2009

United Colors of Red Bull


Tomei o energético Red Bull duas ou três vezes na vida. Na última, em vez de tomar direto da lata, resolvi despejar um pouco do líquido em um copo transparente e notei que tinha cor de xixi. Nunca mais me apeteceu. Além do mais, costumo buscar minha energia em noites bem dormidas, em vez de ficar acordada durante a noite. Por isso, o boicote à Red Bull proposto por um movimento recém-instalado na web não vai modificar em nada meus hábitos.

A bronca dessa turma começou quando a assessoria de imprensa da Red Bull, a equipe de Fórmula 1, divulgou um release entre engraçadinho e agressivo, criticando a cidade de São Paulo. O contexto é o seguinte: a Red Bull sempre faz uma espécie de avant-première de cada corrida da Fórmula 1 e o tom é habitualmente de escárnio. Em vez louvar as belezas do lugar que recebe o "circo", a equipe abusa de alfinetadas. Até o ano passado, a equipe distribuía nos autódromos, nos três dias de GP, uma edição do irreverente "Red Bulletin", esforço editorial que brindava seus leitores com notícias e fotos frescas, em uma diagramação moderna. O tom era esse mesmo - sarrista, debochado, mas quase sempre inteligente e com boas sacadas. Neste ano, com a redução dos orçamentos, acabaram com o Red Bulletin, mas o espírito nas demais peças de divulgação do time continua o mesmo.

Como alguns dos meus colegas já escreveram (aqui e aqui, por exemplo), acho o boicote injustificado. Ora, São Paulo não é mesmo caótica em seu trânsito, suja, árida na maioria das suas vias públicas e marcada por uma humilhante desiguladade social? Sou paulistana, gosto de morar aqui, mas não fecho os olhos para as mazelas da minha cidade. Não acho descabido que um estrangeiro pense duas ou dez vezes antes de vir para cá. Eu não gostaria de viajar para o Cairo ou para Mumbai, por exemplo. Se meu trabalho me obrigasse a ir até lá, eu provavelmente criticaria o que visse de desagradável nesses lugares, por isso acho que um estrangeiro que vem até aqui também tem direito de reclamar do nosso caos urbano.

Mas nem é essa a tônica principal deste post.

Hoje, enquanto participava da 8ª Corrida pela Paz do WTC*, prova da Corpore disputada na Marginal Pinheiros, com largada a partir da Ponte Estaiada, lembrei da irreverência da Red Bull e logo associei este espírito com o de outra marca cujo nome frequentou a Fórmula 1 durante muitos anos - a Benetton.



Entre os anos 1980 e 1990, a Benetton adorava chamar a atenção - e até chocar - com suas peças publicitárias. Assinadas pelo fotógrafo Oliviero Toscani, as propagandas da Benetton lançavam mão de imagens étnicas, comportamentais, religiosas para, sem palavras, colocar o povo (os povos, no caso, pois eram campanhas globais) para pensar. Hoje, algumas peças da Benetton parecem óbvias, mas nos anos 1980, antes da invasão do discurso politicamente correto na mídia, nas escolas etc., uma prosaica imagem de um casal interracial era algo meio perturbador para algumas mentes mais retrógradas.

Toscani virou símbolo de provocação. Chegou a passar dos limites do bom gosto quando lançou uma campanha com um doente terminal de AIDS em seu leito de morte (encontrei a imagem na web, mas desisti de postá-la aqui, pela dureza da cena e por tudo que ela representa).

Benetton e Red Bull, cada uma a seu modo, usaram certa dose de agressividade para chamar a atenção. Ambas, vejam só, também usaram a Fórmula 1 para promover suas marcas. Ao fim e ao cabo, é mais para isso que serve a Fórmula 1 contemporânea. Não vale a pena comprar briga por nada disso.

(*Meu desempenho na prova de 8 km: 40min24, Classificação Geral: 878/2961, Classificação Faixa: 10/121, Classificação Sexo: 64/701, Ritmo: 05:03 min/km. Já fiz essa prova em 38min alto. Mas, mesmo assim, gostei do meu desempenho. Desse 10º lugar na faixa, principalmente!).

Thursday, October 08, 2009

Separados no nascimento


A correria, como vocês podem supor, está grande. Mas não posso deixar de fazer este breve registro.

Mika Hakkinen está em São Paulo, promovendo uma campanha de direção consciente patrocinada por uma marca de uísque.

Meu irmão chamou a atenção para isso, quando Mika apareceu no GP de Cingapura.

Ele não está a cara do Roberto Leal, lendário cantor português, radicado no Brasil?

Thursday, October 01, 2009

Caldo e fredo


“E é bom para a nossa equipe ter este espírito latino com Fernando e Felipe.”
(Stefano Domenicalli, chefe de equipe da Ferrari)

“É uma personalidade melhor, porque Kimi é o tipo de pessoa que demonstra poucas emoções, ele mantém tudo dentro de si"
(Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari)

Os chefes da Ferrari, cada um a seu modo, louvaram a latinidade da dupla escolhida para 2010. Tudo bem. Entendi.

O problema de Kimi com a equipe era cultural, por ele não ter essa latinidade louvada como trunfo da dupla Fê-Fê. Mas isso vale para o sujeito abaixo?

Tuesday, September 29, 2009

Button = Scheckter?


O campeonato atual da Fórmula 1 pode entrar para a história como um dos mais estranhos de todos os tempos. A começar pela sucessão de polêmicas e escândalos: a discussão sobre a validade (ou não) dos difusores de dois andares, a mentira de Lewis Hamilton na Austrália (custando a cabeça de Ron Dennis na McLaren), a briga entre FIA e Fota, a farsa denunciada do GP de Cingapura de 2008.

Estranho por ver uma equipe, que não existia em janeiro, ser a virtual campeã de Construtores, com enormes chances de fazer também o campeão entre os pilotos. Estranho por ver pilotos mais fortes e/ou experientes (Alonso, Raikkonen, Hamilton, Massa) excluídos da briga pelo título, restrita a pilotos mais limitados e/ou inexperientes (Button, Barrichello, Vettel e, até Cingapura, Webber).

Mas algo me soa familiar nesta temporada, remetendo ao campeonato de exatos 30 anos atrás. O título de Jody Scheckter, em 1979 foi, durante mais de vinte anos, a referência vitoriosa mais recente da Ferrari. Só em 2000, Schumacher e sua turma puseram fim ao jejum do time italiano. Em 1979, como em 2009, o campeonato pareceu viver fases distintas de domínio, com quatro equipes se alternando nas vitórias.

Começou com a superioridade da Ligier (duas vitórias de Jacques Laffite), seguida por duas consecutivas da Ferrari, mas não a Ferrari de Scheckter, e sim de Gilles Villeneuve. Nova vitória da Ligier, com Patrick Depailler, na quinta prova. Scheckter só venceria a sexta corrida daquele ano, na Bélgica, assumindo a liderança para não mais perdê-la, sagrando-se campeão no GP da Itália, quando ainda faltavam duas provas para o final. Duas equipes mais venceriam naquele ano - a Renault, com Jean-Pierre Jabouille, e a Williams, com Clay Regazzoni e Alan Jones (este com quatro vitórias, prenúncio de seu título, conquistado no ano seguinte).

Em 2009, até agora, quatro equipes alternaram-se nas vitórias. O começo irresistível da Brawn sofreu breve hiato apenas na terceira corrida, com a vitória de Vettel na China, interrompendo a série de vitórias de Jenson Button, que venceu seis em sete corridas. A Red Bull voltou a mostrar força por duas provas seguidas - Inglaterra e Alemanha. Na Hungria, renasce a McLaren do campeão Hamilton, seguida de outro renascimento bastante aguardado, com a primeira vitória de Barrichello em cinco anos, emendando em outra ascensão até então inesperada - a da Ferrari de Raikkonen. Novo triunfo para Hamilton em Cingapura, dividindo ainda mais os pontos.

Diferenças entre Button e Scheckter?

Button liderou o campeonato desde o começo. Scheckter, só a partir da sexta prova.
Button tem como principal oponente ao título seu companheiro Barrichello e o discurso oficial da Brawn reza pela liberdade de disputa entre ambos. Em 1979, no GP da Itália, Scheckter foi escolhido por Enzo Ferrari para ficar com o título. (A história conta que Enzo escolheu Scheckter por sua maior experiência, prometendo a Gilles a primazia na oportunidade seguinte. A chance viria em 1982, mas daí o companheiro Didier Pironi resolveu não fazer o jogo da Ferrari, azedou o clima entre eles, Villeneuve morreu no treino para o GP da Bélgica e desandou de vez a macarronada ferrarista.)

Como Scheckter, Button também pode se beneficiar da divisão de pontos entre os oponentes e se sagrar campeão com duas corridas de antecipação. Eu não acredito que isso aconteça, neste próximo final de semana, em Suzuka. E você?

Thursday, September 24, 2009

Sinistro


As empresas de seguro costumam contar com especialistas em fraude. Quem faz seguro honestamente, apenas para preservar um patrimônio como carro ou casa, pode custar a acreditar. Mas há quem simule danos a seus próprios bens com o objetivo escuso de receber o dinheiro do seguro. Você já ouviu falar disso, claro.

Mas você percebeu um detalhe sinistro nessa história da batida de Piquet em Cingapura? O principal patrocinador da Renault, no ano passado e neste, é o banco holandês ING. Aqui no Brasil, a tradicional seguradora SulAmerica passou a fazer parte do grupo há algum tempo. Além do ING, a Renault tem o patrocínio da seguradora espanhola Mutua Madrileña.

Já pensou como pegou bem, para essas duas instituições, que investem muito dinheiro no combate a fraudes, ver seus nomes associados ao que pode ser considerada como a maior fraude da história da Fórmula 1?

O ING já tinha anunciado que não renovaria o contrato com a Renault para 2010. Deve sair antes do fim da atual temporada. E a Mutua Madrileña... bem, este parece ser o típico caso de "aonde a vaca vai, o boi vai atrás". Foi para a McLaren com Alonso, voltou para a Renault com Alonso e agora vai sair da Renault. Rumo à Ferrari?

(E espero, com este post, encerrar meus comentários sobre o caso Nelsinhogate.)

Monday, September 21, 2009

"We got him"


Em 14 de dezembro de 2003, um alto funcionário do governo norte-americano pronunciou a frase título deste post, referindo-se à captura do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein.

Na ótica dos EUA, seu exército estava proporcionando ao mundo um momento de rigozijo pela liberdade de um povo em relação a um tirano. A discutir.

É mais ou menos o sentimento que prevalece entre o público da Fórmula 1, neste histórico 21 de setembro de 2009.

Flavio Briatore está banido da Fórmula 1 e de qualquer competição com a chancela da FIA. A punição à Renault foi branda, com dois anos de suspensão, caso a equipe se envolva em mais alguma maracutaia nos próximos dois anos. Ou seja, nada.

Os pilotos Nelson Ângelo Piquet e Fernando Alonso foram inocentados.

Sujou brabo mesmo para o italiano e para Pat Symonds, chefe de engenharia do time, que levou gancho de cinco anos.

O histórico de mau-caratismo de Briatore é longo, não escondendo de ninguém, nunca, que seu único interesse nas relações esportivas era ganhar dinheiro. Nada contra ganhar dinheiro, mas seus métodos truculentos e sua pose arrogante davam engulhos em qualquer pessoa "de bem".

Arrivederci, Flavio!

Thursday, September 17, 2009

Sorry, guys


Depois do GP de Cingapura do ano passado, perpetrei este texto:

(...)Mas seria injusto definir o GP de Cingapura, o primeiro grande prêmio noturno da história de Fórmula 1, a corrida de número 800, como “a prova em que Massa saiu do box com a mangueira”. Cingapura 2008 foi a vitória da obstinação, da estratégia perfeita, da condução segura, da maestria de Fernando Alonso. Vê-lo sair do carro quebrado, no Q2, foi desalentador. A Renault vinha muito bem nos treinos livres, o que pode não significar muita coisa na maioria das vezes. Mas Alonso garantia – nunca estivemos tão bem em nenhuma outra pista, neste ano. Porém, o carro parou.

O asturiano chegou a declarar que a corrida estava perdida. Acreditava, mesmo, na possibilidade de uma pole position, e se agarrava a isso como promessa de vitória. Pista de rua, estreita, estreitíssima, por onde ultrapassar? Para ganhar, só saindo na frente. Mas a madrugada deve ter sido longa no box da Renault. Alonso não é de jogar a toalha assim, facilmente. Deve ter se reunido com Briatore e com a trupe de engenheiros e ficaram lá, antevendo situações e escolhendo estratégias. Alonso, entusiasta das mesas de pôquer no box da Force India, deve ter desfalcado o carteado na madrugada de sábado para domingo.

Apostaram que alguém, cedo ou tarde, estamparia o muro, fazendo entrar o safety car. A honra coube a Nelson Piquet, companheiro do próprio Alonso, mas levo apenas como brincadeira a idéia de que o brasileiro possa ter feito isso como jogo de equipe. Alonso beneficiou-se amplamente, pois tinha acabado de fazer seu pit stop, arrancando do carro os pneus extra-macios que não rendiam tão bem, trocando-os pelos compostos macios e reabastecendo o combustível.

Lembrou, vagamente, a estratégia de Nelson Piquet, o pai, em Kyalami 1983. Na ocasião, Piquet sumiu na frente, com pouco combustível no carro, parou antes de todo mundo e garantiu ali seu segundo título mundial. Alonso não largou com tão pouco combustível, mas traçou uma estratégia igualmente inteligente ao fazer uma primeira perna da corrida bem curta, livrando-se logo dos pneus “ruins” e, naturalmente, aproveitando-se da sorte de ter parado no momento certo, exato, pouco antes da entrada do safety car.

Robert Kubica e Nico Rosberg devem ter pensado parecido, calculando um primeiro pit stop precoce, mas não tiveram a sorte de fazê-lo imediatamente antes da entrada do safety car. Ficaram na mão, sob risco de pane seca, e entraram no box quando ainda não podia. Pagaram seus pênaltis com dois stop & go, coisa que não se tem usado com freqüência na Fórmula 1 atual.

Sorte, sim, muita sorte. Estrela: a sorte costuma acompanhar os grandes campeões. Grandes campeões costumam ousar mais, passando mais perto do muro do que os outros. Os outros até passam, mas a diferença, em geral, está no fato de que os outros habitualmente batem.(...)

Desculpem-me, prezados leitores. Sorry, guys. Esta veterana, no fundo, ainda é uma criatura crédula.

Monday, September 14, 2009

Presa e predador



Rubens Barrichello subiu ao pódio de Monza, ontem, acrescentanto um gesto ao seu repertório de sinais corporais. Imitou um atirador de flechas, dando vida ao conceito de franco atirador que este campeonato lhe impôs.

Barrichello fez uma primeira metade de temporada bem apagada em comparação ao companheiro de equipe, Jenson Button. Enquanto o inglês ganhou seis em sete corridas, marcando 61 pontos no campeonato até o GP da Turquia, Barrichello somou 35.
Em compensação, de lá para cá, Button marcou apenas 19, contra 31 do brasileiro.

A diferença, que era de 26 pontos, caiu para 14. Barrichello tem que descontar 3,5 pontos por corrida, nas quatro que faltam, para superar Button. Não é impossível. Sempre vale lembrar a espetacular reação de Kimi Raikkonen em 2007, que descontou 17 pontos em relação a Lewis Hamilton em apenas duas provas.

Como Raikkonen, Barrichello agora é o caçador. Uma posição bem mais confortável que a de Button, que desde o início do campeonato é a caça. O problema, para Button, é que a distância entre ele, presa, e o predador, Barrichello, está cada vez menor. O problema, para Barrichello, é que o campeonato está se afunilando. Faltam apenas quatro provas e ele precisa que Button sofra algum revés significativo para se aproximar mais na classificação. Algo como aconteceu com Raikkonen e Hamilton no já citado 2007 (para descontar os 17 pontos, Raikkonen contou com um abandono de Hamilton, na China, e com um humilde sétimo lugar do inglês, no Brasil).

Uma diferença fundamental entre o Raikkonen de 2007 e o Barrichello de 2009: o finlandês tinha uma equipe inteira brigando por seu título, inclusive com a solidariedade de Felipe Massa, que abriu mão da vitória, no Brasil. Ali, era uma Ferrari inteira, em bloco, contra uma McLaren fratricida. Agora, é uma Brawn contra outra.

O que será que vai dar?

Saturday, September 12, 2009

Nelsinhogate Quiz



O lado bom de ter quase 40 anos é se chocar menos com alguns acontecimentos. Os fatos vão se repetindo, com pequenas variações, e a gente se acostuma à ideia de que a vida é uma sucessão de escândalos.

O caso Nelsinho Piquet x Renault não me chocou como a algumas outras pessoas com quem tive contato. Não que eu ache bonito bater no muro para o companheiro de equipe se locupletar e vencer a corrida. Mas já vi pilotos provocarem acidentes de propósito, vi outros deixando o companheiro vencer, vi artimanhas e mutretas diversas. É triste, mas é a vida.

Vários ângulos do affair Nelsinhogate levantam polêmica e chocam em maior ou menor grau. Fiquei curiosa para saber a opinião dos leitores do blog. Listo abaixo alguns desses aspectos e peço a opinião de vocês.

O que lhe parece pior nessa história?

a) o fato de Nelsinho ter supostamente aceitado a ordem da equipe para provocar o acidente?
b) o fato de Nelsinho ter se calado enquanto considerava que essa obediência lhe garantia um lugar na Renault?
c) a atitude vingativa da família Piquet contra a ex-equipe?
d) a reação destemperada do chefe de equipe, Flavio Briatore, negando a suposta farsa e atacando Nelsinho pessoalmente?
e) o fato de Briatore usar uma suposta relação homossexual de Nelsinho como forma de desabonar sua imagem?
f) a postura da FIA, antecipadamente garantindo imunidade a Nelsinho, oferecendo ao piloto a chamada delação premiada?
g) a postura de Fernando Alonso, vencedor da prova, alegando desconhecer a suposta farsa?

Votem, fiquem à vontade para argumentar, para acrescentar outros ângulos. Só não vale apelar para o velho "todas as anteriores".

Wednesday, September 09, 2009

Doctor/Donkey


Não tenho tido muita sorte com as corridas de Moto GP neste ano. Assisti a poucas provas e mesmo estas foram chatinhas. Perdi, por exemplo, o já histórico pega entre Valentino Rossi e Jorge Lorenzo na última volta do GP da Catalunha. Domingo passado, chovendo cães e gatos em São Paulo, deixei-me ficar à frente da TV, assistindo ao GP de San Marino, disputado no autódromo italiano de Misano.

A corrida teve poucas disputas, com Valentino Rossi largando mal, como faz habitualmente, mas reassumindo a ponta antes da metade da prova. Confesso que comecei a folhear alguns livros enquanto espiava a TV, esperando mesmo pelo show que acontece, paradoxalmente, ao final do espetáculo. As vitórias de Valentino não raro reservam o melhor para depois da corrida, com suas comemorações extravagantes.

Na semana anterior, Vale havia perdido a corrida de Indianápolis para Lorenzo graças a um raro, porém severo, erro cometido por ele mesmo. Desceu da moto nos EUA e decretou: "Fui burro!". Desembarcou em Misano literalmente vestindo a pele do quadrúpede. No alto do capacete, pintou a figura do Burro, personagem do filme Shrek. The Doctor virou The Donkey por livre e espontânea vontade.

Finda a prova, mais burrice. Seus mecânicos o esperavam com orelhas de burro na cabeça e ele mesmo lançou mão do inusitado ornamento, subindo ao pódio com um par de enormes orelhas. Correndo em casa, bancando o clown, Vale mais uma vez levou o enorme público à ovação. A multidão gritava "Vale, Vale" e ostentava bandeiras amarelas com seu número, o mítico 46.



Quem há de criticar o erro de Valentino, em Indianápolis, depois de tão sincero mea culpa? Não bastasse rir de si mesmo, ainda sacramentou a redenção com uma vitória incontestável na semana seguinte.

E sempre fico me perguntando: haveria espaço para a espontaneidade de Valentino na Fórmula 1? Senão vejamos:

- para pintar o Burro no capacete, é bem provável que ele tivesse de abrir negociações entre a FOM e a DreamWorks, distribuidora do filme. Afinal, na Fórmula 1 não é assim, vai chegando e vai mostrando qualquer coisa. Ali, para aparecer, há que pagar.

- se subisse no pódio com orelhas de burro, poderia levar uma punição ou uma multa. Perder dez posições no grid da corrida seguinte ou morrer com uns 10 mil euros. Não se ridiculariza a imagem da Fórmula 1 assim, impunemente (ah, não resisto à piada: os dirigentes da Fórmula 1 exigem exclusividade na avacalhação da categoria...)

- se parasse na pista para pegar uma bandeira das mãos de um fã, correria o risco de ser suspenso, sob alegação de promover a insegurança na pista, encorajando intrusos no ambiente sagrado da velocidade.

- seus mecânicos, ao esperá-lo com orelhas de burro, seriam arrolados como cúmplices de uma ação orquestrada para manchar a imagem de seriedade da categoria. Isso sem mencionar a baderna promovida na frente dos boxes por mecânicos e demais membros das equipes, além do atraso habitual na cerimônia do pódio, verdadeiro veneno para uma categoria rigorosamente cronometrada e vendida como show de TV como a Fórmula 1.



É... Acho que a Fórmula 1 não é o habitat de Valentino, The Doctor.

Tuesday, September 01, 2009

Ouverture



Leio nos sites de notícias que Fernando Alonso negou categoricamente que vá correr no lugar de Felipe Massa ainda em 2009.

Na semana passada, antes do GP da Bélgica, a Ferrari lançou uma nota, entre irritadiça e bem humorada, listando todos os pilotos já cogitados pela imprensa para correr no lugar do brasileiro. O nome de Alonso é óbvio por já circular associado à Ferrari recentemente. Os repórteres que acompanham a Fórmula 1, como meu colega Luis Fernando Ramos, dizem que esse é o boato mais absorvido como verdade dos últimos tempos. Uma triangulação entre Alonso, Ferrari e o Banco Santander parece certa, colocando o bicampeão no lugar que já foi de Michael Schumacher.

Ora, Alonso há de entrar na Ferrari com pompa e circunstância, como cabe a um bicampeão do mundo (como, aliás, entrou Schumacher, em 1996).

Há de ser anunciado entre flashes e um aglomerado de microfones, em cerimônia formal na sede da equipe, com discurso do presidente e juras de amor de parte a parte.

Se fosse uma ópera, a chegada de Alonso à Ferrari seria o clímax do primeiro ato, com violinos em crescendo, metais pontuando a melodia acelerada, o coro de vozes sobrepostas preenchendo a acústica do teatro, arrematando com o vigor de um toque de pratos, a anunciar a entrada da grande diva, a prima donna.

Supor que Alonso possa estrear na Ferrari no apagar das luzes de 2009, substituindo Felipe Massa, é assumir que ele vai entrar na equipe pela porta dos fundos. Que ele está de pires de mão, clamando por uma chance de pilotar um dos carros vermelhos. Que vai chegar de mansinho, como se a prima donna pudesse entrar em cena em plena ouverture. Não, este não é o estilo de Alonso.

Monday, August 31, 2009

Vingança



"(...)enquanto houver força em meu peito
Eu nao quero mais nada
Só vingança, vingança, vingança
Aos santos clamar (...)"

Os versos dor-de-cotovelo de Lupicínio Rodrigues parecem expressar o que há por trás da investigação da FIA em relação à Renault. Se Flavio Briatore mandou mesmo Nelsinho Piquet bater em Cingapura, para provocar a entrada de um safety car e assim favorecer Fernando Alonso, a casa pode cair para o chefe de equipe italiano. E fica bem evidente de onde poderia ter partido a denúncia - do desprezado Nelsinho.

"Atiraste uma pedra no peito de quem só te fez tanto bem
E quebraste um telhado, perdeste um abrigo
Feriste um amigo(...)"

A tática de Nelsinho, se for isso mesmo que se especula, soa pouco inteligente. Assumindo a farsa, Nelsinho também se assume como réu. Jogo de equipe doloso esse. Saindo da Renault, o piloto rasgou o verbo contra o antigo chefe. A letra de Herivelto Martins e David Nasser, em "Atiraste uma pedra", resume o sentimento da decepção que detona o revide.

"(...)Mas, se existe ainda
Quem queira me condenar,
Que venha logo
A primeira pedra
Me atirar."


O Trio de Ouro, formado por Nilo Chagas, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins


Herivelto Martins, aliás, era casado com a cantora Dalva de Oliveira. Findo o caso de amor, vieram as brigas e os recados públicos, por meio das letras de música. Herivelto lançou "Atiraste uma pedra", e Dalva lançou mão de "Errei, sim", de Ataulfo Alves, remetendo à passagem bíblica, pela qual "quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra". Nelsinho pode se valer dessa lógica, sabendo que, na Fórmula 1, como em qualquer esporte de alta competitividade, não há inocentes. Mais que isso: Nelsinho pode estar servindo a uma causa maior, orquestrada por outro ofendido - Max Mosley - que assim aniquilaria o segundo desafeto, após ter jogado para o ostracismo o inimigo Ron Dennis. De réu confesso, Nelsinho passaria a delator premiado.

"Seu mal é comentar o passado
Ninguém precisa saber
O que houve entre nós dois
O peixe é pro fundo das redes
Segredo é pra quatro paredes
Não deixe que males pequeninos
Venham transtornar os nossos destino (...)"

Dalva falava, Herivelto respondia. Dalva replicava, Herivelto treplicava. Briatore poderia apelar para a letra de "Segredo", de Herivelto e Marino Pinto, tentando convencer Nelsinho (leia-se Nelson Piquet, o pai) a deixar os acontecimentos de Cingapura no passado. Não o fez no tempo certo, agora parece tarde.

Será que a casa vai cair para Briatore?

Monday, August 24, 2009

Devagar, devagarinho



Oh, turba de homens ingênuos! Multidão de seres humanos desavisados! Vós que estais diante das câmeras de TV e não entendeis por que o jamaicano Usain Bolt parece sempre desleixado nos últimos metros de suas provas!

Olhai os passos débeis do magnífico atleta, depois para o cronômetro. Por que será que, depois de 60 ou 70 metros, no caso da prova dos 100 metros rasos, Bolt parece simplesmente se desinteressar da disputa? Por que ele perde centésimos de segundos preciosos olhando para os lados, mexendo a cabeça, gesticulando com os braços?

Ora, qualquer um que tenha informações mínimas sobre o esporte de alto nível sabe o quanto essas distrações fazem diferença no tempo final. Cheguei a escutar, de comentaristas gabaritados, falando em tom de brincadeira, que o ideal seria programar Bolt para uma prova de 200 metros e computar apenas os 100 primeiros, para que ele pudesse relaxar no final sem comprometer o resultado de fato medido.

Parece evidente que Bolt pode fazer muito melhor do que já fez, por mais assombroso que isso pareça. Então, perguntariam os ingênuos, por que ele não faz logo de uma vez?

Ah, é? Para quê?

Para bater os recordes mundiais dos 100 e dos 200 metros rasos apenas uma vez?

Bolt tem noção do quanto pode alcançar. Lembra o ucraniano Serguei Bubka, que subia o sarrafo de centímetro em centímetro, chegando a bater o recorde de salto com vara por 35 vezes. Tantas vezes quantas puder bater o recorde dos 100 metros, a prova mais nobre do atletismo, tanto mais rico e famoso Bolt ficará.

É por isso que ele desencana no final. Para não dar tudo numa única vez. Vai baixar esse recorde mais um monte de vezes. Sem pressa. Devagar, devagarinho.

Sunday, August 23, 2009

Brasil 100, Blog 400


Juro que não estava guardando o post de número 400 deste blog para a centésima vitória do Brasil, mas aconteceu.

A décima vitória na carreira de Rubens Barrichello foi o 100º triunfo do Brasil na Fórmula 1. E foi uma vitória merecida, em uma corrida chata, o GP da Europa, disputado em Valência, como no ano passado.

Uma vitória de estratégia, predicado tão bem exercido pelo chefe de equipe de Barrichello, Ross Brawn, o mesmo que ajudou a arquitetar suas outras nove vitórias, na Ferrari.

Algumas breves considerações sobre a corrida de Valência:

- a combinação pista travada + alta temperatura parece ter sido a fórmula mágica para a ascensão da McLaren nas duas últimas corridas. A conferir: as duas próximas provas, em Spa e Monza, manterão o time de Hamilton nas primeiras posições?

- o calor também parece forte aliado da Brawn. Terá a equipe mais dificuldades na Bélgica, com aquele tempinho habitualmente miserável das Ardenhas?

- mortinha da silva, em Valência, acho que a Red Bull volta a cantar de galo em Spa, por conta do traçado, que privilegia a velocidade. O duelo ali é um quebra-cabeça para chefe de equipe nenhum botar defeito. Webber à frente de Vettel, com quatro pontos e meio de vantagem. Dá para escolher um deles para lutar pelo título?

- ume menção honrosa ao improvável Timo Glock que, quietinho, quietinho, fez a melhor volta da corrida em Valência.

- o tom de Barrichello, na entrevista coletiva, me pareceu extra-emocionado, com agradecimentos a várias pessoas que o ajudaram na carreira. No ar, pelas rádios Bandeirantes/ Band News FM, eu disse que o tom me parecia de despedida. Sei lá, acho que Rubens está pensando em parar no final desta temporada.

- nas abreviaturas que usa para a transmissão de TV, a FIA identificou Luca Badoer como BAD. Bad como ruim, em inglês. Bad, mas bad mesmo. Pede pra sair, Luca!

Monday, August 17, 2009

Bote fé no velhinho

Pedro De La Rosa, Alexander Wurz, Jacques Villeneuve... Os nomes destes três ex-pilotos em atividade rondaram o noticiário nas últimas semanas, como prováveis ocupantes de assentos nas novas equipes da Fórmula 1. Por um momento, pensei que tinha voltado uns dez anos no tempo.



O espanhol De La Rosa, 38 anos, fez sua estreia em 1999.



Wurz, o austríaco de 35 anos, começou na categoria em 1997.



O campeão Villeneuve, canadense de 38 anos, debutou na Fórmula 1 em 1996.

A notícia da volta de Michael Schumacher era superlativa demais para se alinhar a esse espírito de baile da saudade, ainda que fosse o retorno de um piloto de 40 anos, que fez sua estreia em 1991.



Daí veio o forfait do alemão e foram buscar o italino Luca Badoer, mais um da safra de 1971 (38 anos, portanto), que fez sua estreia em 1993.

Como contemporânea dessa turma toda, não deixo de estar satisfeita com a valorização dos "velhinhos". E não deixo de pensar que estamos ouvindo falar de De La Rosa, Wurz, Villeneuve e Badoer em parte por suas habilidades ao volante. Entre eles, um campeão do mundo. Inquestionável. Mas também me parece óbvio que estes nomes ganharam relevância com a esdrúxula regra da proibição de testes.

Como promover jovens a titulares da Fórmula 1 sem lhes permitir ganhar quilometragem com os carros? Esta me parece a razão mais evidente para que os "velhinhos" estejam mais bem cotados que nomes como Niko Hulkenberg, Vitaly Petrov, Lucas di Grassi, Pastor Maldonado, Javier Villa, jovens estrelas da GP2 atual.

De La Rosa, Wurz, Villeneuve e Badoer são melhores que a atual geração da GP2? Não há como saber, pois os jovens não foram postos a prova e, se depender do regulamento atual da Fórmula 1, não o serão. Há três semanas, vimos o temor espalhado entre os próprios pilotos, diante da inexperiência do espanhol Jaime Alguersuari. Nesta semana, mais uma estreia provável, a do francês Romain Grosjean, verdinho como o outro. Entre os verdes e os velhinhos, as equipe podem apostar nos cabelos brancos contra a total inexperiência.



Na eleição presidencial de 1989, a primeira eleição direta para presidente do Brasil em 29 anos, o jingle do candidato Ulysses Guimarães entoava os seguintes versos: "Bote fé no velhinho, que o velhinho é demais/ Bote fé no velhinho, que ele sabe o que faz/ Vai mudar o Brasil, do Oiapoque ao Chuí/ E acabar com a molecagem que tem por aí". A principal plataforma do "Sr. Diretas", do deputado que promulgou a Constituição Cidadã de 1988 era, vejám só, a experiência contra a molecagem. Estaria a Fórmula 1 caminhando para se tornar uma categoria de velhinhos?