Wednesday, June 28, 2006

O bom hedonista

Já está no ar mais uma coluna minha no GPTotal

O tema nasceu de uma notícia da semana passada, mas a reflexão é fruto de muitas discussões correlatas, no blog do Pedro Alexandre Sanches.

Achei interessante fazer essa ponte entre hedonismo (estoicismo, masoquismo e outros ismos) e esporte. Que tal?

Thursday, June 22, 2006

Black is beautiful!

A questão é meramente ideológica, nada esportiva. Minha torcida, em eventos esportivos, obedece à seguinte ordem de prioridades: Brasil, latino-americanos (Argentina inclusive), africanos, europeus do leste, asiáticos, países da Oceania, países do Oriente Médio, europeus ocidentais e, em último lugar, os Estados Unidos.

É certo que, nesta Copa, em dado momento me vi torcendo pelos Estados Unidos contra a Itália. Tentei me enganar, alegando que os estadunidenses mereciam minha vibração porque estariam jogando "com mais vontade" que os italianos. Balela: fato é que não superei ainda a tragédia do Sarriá, aquele maledeto Paolo Rossi, talvez nunca supere...

Eis que hoje, dia do desencanto de Ronaldo, horas antes vivi uma cena reveladora. Aula de bike na academia, eu só via metade do telão. Findo o jogo da Itália contra a República Checa, começam a transmitir o final da partida entre Gana e Estados Unidos. Sabia que os africanos estavam ganhando e me pus a festejar o momento em que o juiz apitou o fim da partida. E soltava uns gritos entusiasmados: "Lindos! Lindos!". Uma colega, mais bem posicionada que eu, começou a acenar para mim. "Não, não, quem ganhou foi Gana, não os Estados Unidos!"

Como se só pudesse ser engano meu chamar aquele time de ébano de lindos. Pois repito:
Lindos! Lindos! (mas só até terça-feira, meio-dia...)

Monday, June 19, 2006

Nunca te vi, sempre te amei

...




Dois toques.

Eventos como a Copa do Mundo dão vida a entidades habitualmente etéreas, como a "formação de opinião". Ser formador de opinião é exercer o poder de dizer alguma coisa - qualquer coisa - que rapidamente se transforma em voz corrente da maioria. Parece não existir maior formador de opinião que comentarista de futebol. E quase todos os comentaristas, desde o primeiro jogo do Brasil na Copa, clamam pela entrada do meia Juninho Pernambucano na seleção, como senha para "arrumar o meio de campo", "soltar mais a bola", "distribuir as jogadas", sem esquecer o potencial do homem em "fazer Ronaldinho Gaúcho jogar tão bem quanto no Barcelona". Caramba! Eu quero um Juninho Pernambucano para mim também!

A tese dos comentaristas parece bem embasada, mas o que me diverte de fato é ver meus amigos, parentes e conhecidos defendendo a entrada de Juninho Pernambucano no time, sendo que a maioria deles deve tê-lo visto jogar meio tempo de partida em toda sua vida. A verdade é que muitos dos jogadores convocados por Parreira são seres distantes até para quem é ligado em futebol. Adriano, por exemplo: quem viu Adriano jogar no Brasil? O homem foi para a Europa, parece-me, com menos de 20 anos. Há que ser bem antenado com o Campeonato Italiano para poder teorizar sobre a atuação de Adriano, esse Panzer em nosso time. E o Campeonato Francês, quem assiste a isso, meu Deus, para ansiar com tanta paixão pelo meia Pernambucano, astro do Lyon?

Outro toque: assisto muito pouco à TV, normalmente. Nesses tempos de bola, mais. De qualquer forma, só ligo na hora dos jogos e eventualmente em telejornais, para recuperar gols perdidos ao longo do dia (como meu trabalho atrapalha essa Copa...). De sábado para cá, no entanto, fiquei com a sensação de que a Globo falou com parcimônia da morte de Bussunda. Melhor assim, para seu espírito e para sua família, mas uma pergunta ficou fazendo cócegas no meu ouvido: não fosse tempo de "pra frente Brasil", imperaria a parcimônia ou a imagem do comediante estaria em todos os programas globais, do Caldeirão do Huck ao Fantástico, transmissão do enterro ao vivo e tudo o mais? Esforço-me para não ser maldosa, mas fico aqui pensando se, na falta de um campeão de audiência como a Copa do Mundo, tão comprometido com anunciantes cujas cotas foram garantidas com meses de antecedência, não teríamos uma overdose de funeral...

Monday, June 12, 2006

Todos, menos você

A imprensa espanhola, habitualmente venenosa, foi quem primeiro falou. Daí o mundo todo falou e a questão virou tema de segurança nacional. Ronaldo está gordo. Seguiram-se todas as variações possíveis da afirmação. Ronaldo está gordo? Ronaldo não está gordo, está fora de forma. Ronaldo pode até estar gordo, mas mesmo gordo é imprescindível. Ronaldo está gordo e não merece ser titular, que brigue com Robinho pela vaga.

Enquanto o mundo falava e debatia a adiposidade (ou não) de Ronaldo, o copo foi se enchendo. A gota fatal parece ter sido pingada pelo presidente, em quem o camisa nove entrou de carrinho com as duas chuteiras, travas altas de metal.

- Dizem que estou gordo, o que não é verdade. Dizem que ele bebe pra caramba, que também não deve ser verdade.

(Antes de prosseguir, quero deixar claro que não acredito em um suspiro de espontaneidade em eventos como aquela teleconferência entre o presidente e a seleção. Tenho convicção de que tudo é programado, que as perguntas são conhecidas antes, um teatrinho bem armado, o que me leva a concluir que a tal pergunta do presidente sobre o físico de rolha do centroavante não era surpresa, pelo contrário, uma bela levantada de bola para Parreira entrar e dizer que Ronaldo está pronto, acima do peso ou não é nosso homem de confiança, aquela papagaiada toda.)

Mas o que ficou para o público e para a história foi a resposta mal-educada do jogador. Uma leitura possível da reação desmedida do atacante: agora, chega. Todo mundo falou, eu engoli, mas vou aproveitar que não é qualquer um que está falando, mas o presidente, e vou responder à altura. Depois que se manda o presidente do país calar a boca, quem vai falar mais alguma coisa?

Outras leituras possíveis? Várias.

- Escuta aqui, meu compadre. Você é chamado de chefe da quadrilha, não tem estudo, tem fama de pinguço, já te botaram na capa da revista com um pé na bunda e vem perguntar se eu estou gordo?

Ou então, será que não?

- Presidente, se liga, não vem apontar o dedo para mim, não. Sou como você. Nós dois somos filhos de gente pobre, não fizemos faculdade, por pouco não viramos marginais, mas nos demos muito bem na vida, ao contrário do que se espera de gente pobre e sem estudo.

No fundo, a pergunta impertinente de Lula e a resposta destemperada de Ronaldo me soaram como um duelo entre iguais.

Thursday, June 08, 2006

Bola de cristal

A Copa do Mundo começa amanhã, na Alemanha, e o clamor por "previsões" se espalha. Desde o tradicional "bolão da firma" até análises acuradas de especialistas da bola, todo mundo dá seu palpite quanto a favoritos para vencer o torneio. Se todos já o fizeram, eu é que não faço, mas exerço minha porção vidente de outra forma.

Vislumbro, desde já, uma série de referências a Telê Santana, recém-falecido. Para dar uma mãozinha a locutores e comentaristas, ofereço aqui uma coleção de frases prontinhas, adaptáveis de acordo com a ocasião.

Se o Brasil for campeão, jogando bonito - "Essa Copa é sua Telê, você merecia ser o técnico dessa equipe, que mostrou ao mundo como ainda se pode ser campeão apostando no futebol arte!"

Se o Brasil for campeão, jogando feio - "Essa Copa é sua Telê, vencemos com um esquema fechado, retrancado, marcador, mas é na genialidade do jogador brasileiro, algo que você tanto valorizou, que fazemos a diferença!"

Se o Brasil não for campeão, jogando bonito - "Perdemos a Copa, Telê, mas encantamos o mundo, como seu time de 82, no Sarriá. Não levamos o hexa, mas talvez sejamos mais campeões que os vencedores, com nossa alegria, nosso jeito moleque!"

Se o Brasil não for campeão, jogando feio - "Perdemos a Copa, Telê, talvez porque tenhamos insistido em jogar duro, fechado, retrancado. Tivéssemos aprendido suas lições, velho mestre, e nosso futebol-arte hoje talvez nos desse outro título..."