Friday, March 25, 2011

Boi voador



Os amigos vão me desculpar a demora e a desfaçatez de vir fazer previsões para uma temporada que, afinal, já começou. Mas, como disse no post anterior, apesar da antiguidade, este blog continua sendo espaço de mero diletantismo, e a necessidade de ganhar a vida me empurra sempre para outras atividades menos lúdicas. Vil metal, esse carrasco...

Faltam poucas horas para a largada do primeiro GP do ano, aquele que deveria ser o segundo, mas que acabou com as honras de estreia pela turbulência sócio-política no Bahrein. (Aliás, pouco tem se falado da situações dos países do Oriente Médio, depois da crise na Líbia e, mais ainda, da catástrofe natural no Japão. Países amigos do Ocidente sempre são tratados com complacência pela mídia, habitualmente pautada pelas agências internacionais, quase todas grandes potências de comunicação do Ocidente...).

Mas então a política nos deslocou novamente para a madrugada, e cá estamos, à espera do primeiro GP, novamente em Melbourne. Foi falta de tempo, mas agora vejo que comentar a pré-temporada teria sido... perda de tempo. O suposto equilíbrio entre Red Bull e Ferrari desvaneceu-se na parte final do treino classificatório da Austrália. Não só a Red Bull fez seus pilotos voarem, mostrando que havia passado o inverno europeu escondendo o leite, ou o energético. Também a McLaren parece ter gasto a temporada fazendo cara de paisagem, para depois colocar seus dois carros na duas primeiras filas.

Mas, ora direis, uma única volta rápida seria parâmetro para toda a temporada?

É claro que não. Os carros da Red Bull têm sido os mais rápidos há muito tempo. Não só em 2010, mas desde a segunda metade da temporada de 2009. No entanto, os bois voadores pularam miudinho até a última prova do ano passado, graças ao deperdício de pontos causado ora por erros de seus pilotos ora por estratégias inadequadas da euipe. Pode acontecer de novo. Ainda mais em uma temporada com uma gigantesca mudança de caráter técnico - a já tão comentada estreia dos pneus Pirelli.

Não foi à toa que a Pirelli desenvolveu compostos aparentemente bem menos resistentes que seus antecessores. O cliente - a FOM (Formula One Management), no caso - sabe que as corridas têm se decidido basicamente nos pit stops. Pneus mais frágeis, mais pit stops, mais chance de embaralhar as posições na corrida. Mas a fabricante de pneus parece ter se empolgado na tarefa de criar pneus que se desmancham no ar. Ainda que alguns pilotos tenham se declarado confiantes em relação ao tema, após os treinos em Melbourne, apontando que os pneus não são tão descartáveis assim, a imagem da TV foi nítida, ao registrar os pneus de Lewis Hamilton com partes que mais pareciam chicletes mastigados (bleargh!).

Talvez o ponto mais destacável dessa história não sejam exatamente os pneus, mas como os pilotos vão se haver com eles. Hamilton é o exemplo bem acabado do papa-borracha. Seu estilo de pilotagem, agressivo e afeito a subir nas zebras, sempre o levou a desgastar os pneus mais do que os companheiros de equipe. O que dirá em uma situação como esta, em que os compostos já são menos resistentes.

É possível imaginar que o conjunto carro-piloto que consuma menos pneus será capaz de fazer menos paradas, ganhando enorme vantagem. Mas é claro que isso só valerá para carros minimamente competitivos. Os franco atiradores do pelotão de trás que se agarrarem a esta teoria nem por isso vencerão corridas. Há que ter um mínimo de velocidade e técnica para locupletar-se da eventual parada a menor. Meus colegas comentaristas já levantaram a lebre: nesse contexto, olho vivo em Jenson Button, com sua condução limpa. Pode ser, mas não é só.

A mudança nos pneus já seria suficiente para bagunçar o coreto, mas a Fórmula 1 quis mais. Inventou a tal asa móvel que, em corridas, só pode ser usada em uma determinada "zona de ultrapassagem". Bem, como isso ainda não foi visto, não vou entrar no clima de "não vi e não gostei", mas que tem tudo para ser uma baita confusão, isso tem. De qualquer forma, a tal asa é outro efeito desestabilizador do carro. Vai se dar bem quem dominá-la melhor. Durante o treino, já deu para perceber como alguns pilotos ainda não aprenderam a reagir ao verdadeiro coice dado pela ação aerodinâmica da asa. Rodadas são esperadas. Em corrida, não costuma terminar bem. Mas não deixo de ficar otimista com o fato de que dois itens do carro tornam a ação do piloto mais determinante que antes.

Para terminar, "una palabra por la unidad de la America Latina". É frustrante ter apenas dois brasileiros no grid, e que apenas um tenha mais chances de brigar por vitórias. Mas meu coração latino-americano alegra-se ao ver mais dois representantes da América entre os inscritos. Pastor Maldonado e Sergio Perez - como todos os outros - garantiram suas vagas na Fórmula 1 graças à injeção de recursos. Não estão lá apenas por seus resultados anteriores, mas pelo dinheiro de empresas (a maior empresa pública da Venezuela, no caso de Maldonado). É a regra do jogo, e talvez ele nem valham os cobres despositados em seus ombros, mas não me peçam para ficar indiferente a dois hermanos correndo na Fórmula 1.

Pena que ainda falta uma mulher.

Boa temporada a todos e reforço o convite para acompanhar a transmissão das provas pelas rádios Bandeirantes AM e BandNews FM, com a equipe formada por Odinei Edson, Fábio Seixas, Jan Balder, Luiz Fernando Ramos e eu. Até lá!

Monday, March 21, 2011

PVAPF

O sempre divertido Mauro Chazanas - divertido e obstinado - resolveu fundar nesta segunda-feira o Partido Volta Alessandra Por Favor. Tal como em "Geni", posso dizer que "foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos", que resolvi tomar vergonha na cara e retomar o blog, depois de três meses de ostracismo.

Cumpre, digníssimo presidente do PVAPF, informar que este blog é exercício puro de diletantismo. Jamais recebi um mísero cobre pelas linhas traçadas neste espaço, lá se vão cinco anos. Se a grita já é grande quando alguém abre os cofres para Bethânia blogar, que poderia eu esperar desse universo virtual?

Minha lida é árdua, capinando em outras roças, correlatas ao jornalismo. Mas chega de desculpas. Aproveitando a volta da Fórmula 1, anuncio para logo meu post de previsão da temporada. E um outro sobre música, afinal, vossa excelência Chazanas transita mais pelos sustenidos e bemóis que por motores e pneus.

"Pode ir armando o coreto e preparando aquele feijão preto, eu tô voltando".