Thursday, October 29, 2009

Petrodólares


Primeiro, foi o Bahrein. Ainda assim, resisti. Mas com tantas referências a Abu Dahbi, desisto. A Fórmula 1 definitivamente me fez ressuscitar na memória um jogo de tabuleiro chamado "Petrópolis", que eu jogava com meus primos quando era criança.

Bahrein, Abu Dhabi, Omã... Durante muito tempo, esses nomes eram apenas quadradinhos na minha lembrança. Neles, se tivéssemos alguns petrodólares, podíamos colocar torres de petróleo. Quando tínhamos mais dinheiro ainda, trocávamos as torres por plataformas.

Petrópolis, para quem não conheceu ou não se lembra, nada mais era quem um "Banco Imobiliário" ambientado no ramo petrolífero. A dinâmica era exatamente a mesma. Eu gostava mais do "Petrópolis" que do "Banco Imobiliário" por uma questão estética bem fútil - as torres prateadas e as plataformas douradas do "Petrópolis" me pareciam bem mais bonitas que as casinhas verdes e os hotéis vermelhos do "Banco Imobiliário". Além disso, o tabuleiro do "Petrópolis" era preto, o que fazia um contraste interessante com esses outros elementos.

O jogo, se bem me lembro, era da minha prima Claudia. O quarteto constante em torno do tabuleiro éramos eu, ela, sua irmã Debora e outro primo nosso, o Paulo. "Petrópolis" rendeu histórias inesquecíveis para mim. Claudia pronunciando "Omã" em voz alta e minha tia, lá da cozinha, respondendo: "O que é, Claudia, fala!" Paulo saindo para ir ao banheiro e nós duas - eu e Claudia - nos lançando febrilmente contra o banco, cheinho de petrodólares. Ah, desculpe... O Paulo era muito malaco em qualquer jogo. Nós tínhamos forte suspeita de que ele tinha roubado uma das notas de 500 mil petrodólares, cor de vinho, e não tivemos pudor em repor nosso prejuízo, lançando mão de várias notinhas de 100 mil, as beges.

Abu Dhabi saiu do tabuleiro para o calendário da Fórmula 1. Pelo que li, especialmente nos relatos do Ico, o prateado das torres e o dourado das plataformas espalhou-se e multiplicou-se em opulência naquele emirado. Amanhã, os carros irão para a pista, sem maiores atrativos além de definir quem será o vice-campeão. A tradição do local em automobilismo é nenhuma. Como a do Bahrein, da Malásia, da China, da Turquia. Eles não têm pilotos bons, mas têm dólares. Petrodólares, no caso. Isso, há muito tempo, eu e meus primos sabemos que conta muito.

Friday, October 23, 2009

Sobre Button, em 2005

Escrevi a coluna abaixo em 2005, no auge dos escândalos do mensalão. O objetivo era analisar as idas e vindas de Jenson Button, que primeiro queria ir para a Williams, depois não queria mais. Bateu o pé para ficar na BAR, que virou Honda, que virou Brawn. No fim da história, a persistência de Button rendeu-lhe o título mundial.

*



Talvez seja só fruto do desencanto. Ou porque muito se tem falado de ética ultimamente. Vai ver estamos todos desiludidos, achando que está tudo errado e nunca terá jeito. Mas, lembrando do passado recente, vejo-me tentada, no final de 2004, a escrever sobre Jenson Button. Não o fiz porque o enfoque não era Button como piloto, mas uma circunstância extra-pista, deixei para lá. Ele, agora, volta à carga. E talvez porque todos estejamos indignados, refletindo e dados a desabafos, acho que inglês Button cabe no contexto e chamo a discussão sobre a ética, a ética na Fórmula 1.

Button assinou contrato com a Williams em 2004, estando preso por outro compromisso à BAR até o final de 2005. O piloto e a nova equipe queriam passar por cima do atual empregador, efetivando a troca de time já neste ano. Chegaram a anunciar a mudança, a BAR quis valer seus direitos e a troca de argumentos e interpretações terminou na Justiça. Ganho de causa para a BAR, que manteve o piloto.

A briga do inglês com a BAR foi pública. Ele trocou acusações e insultos com o então chefe do time, David Richards. Mas, como decisão de juiz não se discute, Button reintegrou-se à equipe. Foi nesse momento do contencioso, no ano passado, que me assanhei a escrever sobre a ética segundo Jenson Button. Naquele momento, saltou-me aos olhos a naturalidade com que o piloto e a BAR deram continuidade às suas relações. Insatisfação, rompimento, brechas legais, ações judiciais, uma briga! E, no fim da conversa, Button ficou na equipe e até parecia bem contente. Deve ter contribuído, no armistício, a saída do desafeto Richards da BAR.

Mas, na minha visão algo provinciana e muito idealista do mundo e das relações humanas, essa naturalidade soou estranha. Imaginei-me naquela circunstância em um ambiente profissional, e não consegui absorver a perspectiva de continuar trabalhando em uma empresa contra a qual eu tivesse uma contenda. Coloquei-me na pele do empregador e tive certeza de que não gostaria de ter, em meus quadros, um colaborador insatisfeito que foi à Justiça para não trabalhar mais para mim.

Essa, admito, é a visão de uma pessoa idealista. É claro que acima das convicções pessoais está o interesse financeiro que rege o negócio, e a Fórmula 1, emoldurada como esporte, é na essência um grande negócio. Button deve ser gente boa, tem cara disso, pelo menos. Mas, como todo grande jogador ou aspirante a tal, eventualmente deve dobrar-se às circunstâncias e ir contra seus sentimentos mais íntimos. No fundo, ele queria ir para a Williams. No fundo, deveria estar constrangido por ter de ficar. Na prática, não há nobreza de sentimentos que vença os argumentos dos contratos e o veredicto dos tribunais.

Mas eis que a temporada de 2005 consolida-se como um grande e retumbante fracasso para a Williams. Na pista e nos negócios, a Williams vai mal, conseguindo pódio em Mônaco – a sempre imprevisível Mônaco – mas patinando no resto do mundo. Pior que o presente é a perspectiva de futuro, diante da ruptura com a BMW e a longínqua perspectiva de ter motores Toyota em 2007. Até lá, vai de Cosworth, vislumbrando uma temporada cumpre-tabela.

Não que Button e a BAR estejam em situação muito melhor. A equipe levou suspensão por duas corridas, abandonou qualquer aspiração ao título logo no começo do campeonato, por conta desse gancho. Mas a perspectiva da BAR – praticamente o braço esportivo da Honda – é muito mais alvissareira que a da Williams. Livre em 2006, Button pode concretizar o sonho de correr para a equipe de Frank. Pode, mas não deve ir. “Ser campeão vale mais do que ganhar muito dinheiro”, disse o inglês recentemente, explicando porque deve ficar onde já está.

A lógica é irrefutável: assumir o compromisso com a Williams certamente fará com que o inglês encha os bolsos de libras esterlinas, mas não lhe dará a mais remota chance de ser campeão. A Williams, que já subiu e desceu a montanha russa da Fórmula 1 por diversas vezes, parece ter encontrado o caminho definitivo da ladeira abaixo. Button, tido e mantido como potencial campeão nas últimas temporadas, começa a ver sua carreira entrar na zona perigosa da estagnação. Ou realiza as previsões logo ou se torna um piloto comum, entre tantas promessas que viraram fumaça depois de causar furor em suas primeiras aparições.

O limiar entre um campeão e um piloto comum não está necessariamente na habilidade ao volante, mas nas decisões acertadas. Quem viu o francês Jean Alesi desafiar Ayrton Senna no GP dos Estados Unidos de 1990 não pode duvidar de sua capacidade técnica. Alesi, no entanto, virou um piloto comum ao dar um mau passo na carreira: em vez de ir para a Williams, preferiu o caminho da Ferrari. Histórias como essa devem povoar a mente de Button quando ele se vê diante da encruzilhada de sua vida. Ir para a Williams – e manter o compromisso firmado – provavelmente vai lhe custar a carreira. É jovem, tem talento, quer vencer, rasguem-se os papéis. Quem pode culpá-lo?

Em um determinado momento de sua carreira, Button quis anular seu compromisso com a BAR. Agora, é a palavra dada à Williams que se desmancha no ar. Na essência das duas atitudes, o desejo de ganhar – dinheiro e títulos. Pela glória e pela grana, é isso que rege o mundo, por que esperar algo diferente na Fórmula 1? Como atacar um jovem piloto que se forjou esportista de elite ouvindo preceitos como “o segundo colocado é o primeiro entre os perdedores”?

Criamos nossos jovens repetindo, em casa ou nas universidades, que o importante é vencer. O bom executivo é um “rolo compressor”. O atacante que faz muitos gols é um “matador”. O competente, em qualquer área, é “fera”. Aquele que passa por cima, mata ou ataca suas presas é o vencedor. Como esperar o cumprimento da palavra dada, se isso contrasta tanto com a definição própria do conceito de vencedor, aquele que tudo pode, que não tem limites?

Sim, estamos falando de Fórmula 1, um esporte de altíssimo risco, de altíssimos investimentos. “Quem pode mais chora menos”, “Farinha pouca, meu pirão primeiro”, “Não quero saber se o pato é macho, eu quero ovo”. Quem está no esporte está para vencer, não para competir, que nos perdoe o Barão de Coubertain. Esse é o comportamento preconizado, o que leva aos títulos, paciência.

Mas, então, vamos parar de estranhar a torpeza do ser humano que se locupleta de toda e qualquer condição privilegiada para ganhar mais, para estar mais à frente que os outros. Vamos parar com a perplexidade diante da demonstração de força dos que têm poder, venham eles de onde vier. “Quem pode mais chora menos”, não é? É essa a lição que damos aos nossos jovens, em casa, na escola ou no paddock? Então, não vamos esperar que eles se comportem de outra forma se, em vez de pilotos, resolverem ser políticos. E não acredito na máxima de que “no esporte é diferente”. Ninguém é ético aqui e antiético acolá. Se Button está errado é porque todos estamos. Mude-se a sociedade e se revejam os conceitos do que é ser vencedor. Ou vamos continuar agüentando as conseqüências

Tuesday, October 20, 2009

Ainda sobre Interlagos

No programa de ontem, conforme o post abaixo, também perguntei ao secretário Caio Luiz de Carvalho sobre o lendário traçado antigo de Interlagos. Há planos para recuperar as curvas 1, 2, 3, 4, Ferradura e Sargento?

Ao fazer a pergunta, eu disse ao entrevistado que formulava aquela pergunta em nome de uma legião de amantes do automobilismo que, até hoje, não se conformam com o ostracismo a que foram submetidas essas partes do circuito.

Caíto começou sua resposta falando que o apego ao traçado antigo era puro romantismo, um saudosismo que já não se justificava.

Mas disse que trechos do traçado antigo serão reformados para "desafogar o traçado novo", recebendo provas menos, digamos, nobres. Sim, amigos. Parte do traçado antigo será usada, em breve, para provas de arrancada!

Eu até entendo que a Fórmula 1 use um traçado menor, padrão atual, mas continuo achando uma pena que o traçado antigo não tenha sido mantido para outras categorias.

Agora, na minha opinião, realizar provas de arrancada no traçado antigo é fazer caipirinha no cálice sagrado.

Mundial de Moto em SP

Ontem, durante o programa Magazine BandSports, o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho, revelou a Sergio Patrick, a mim e aos assinantes do canal que Interlagos deve receber uma etapa do Mundial de Motovelocidade a partir de 2011.

A prova, pelo menos a primeira, deve ser extracampeonato. A negociação, por enquanto, está emperrada no vil metal. Só veremos Valentino Rossi e seus colegas ao vivo se Carmelo Ezpeleta, presidente da Dorna, e Bernie Ecclestone, deus da Fórmula 1, chegarem a um acordo financeiro.

Caíto, como é conhecido o secretário, falou claramente: não podemos receber um evento que inviabilize a Fórmula 1. Ou seja, Interlagos é dirigido com competência pelo decano Chico Rosa, mas quem decide o que acontece ali ou deixa de acontecer é Bernie.

Cobri a única etapa do Mundial de Velocidade ocorrida em Interlagos, no paleolítico ano de 1992. Naqueles dias, choveu em Interlagos mais ou menos o mesmo que choveu no sábado passado. Interlagos parecia uma quermesse: eram tantas equipes - da antiga 500cc, da 250cc e da 125cc - que não cabia todo mundo no paddock, espalhando-se pequenas tendas para abrigar equipamentos em outras áreas do autódromo.

Perguntei ao secretário, ontem, se este cenário se repetiria caso tivéssemos uma nova etapa. Ele afirmou que não, pois a mais recente reforma no autódromo melhorou sensivelmente a área do paddock.

Perguntei, também, sobre a questão do sentido anti-horário da pista, descrito por alguns como um impedimento para a realização de uma corrida de moto ali. Ele admitiu que a questão é polêmica e que há grupos que defendem a manutenção do sentido atual, enquanto outros especialistas da categoria indicam a realização da prova na contramão da Fórmula 1, para mitigar os efeitos físicos aos pilotos.

Por enquanto, é esperar. Mas confesso que fico empolgada com a ideia de ver uma corrida da MotoGP aqui.

Monday, October 19, 2009

Interlagos, in loco 3

Algumas fotos do paddock.


Castilho de Andrade, assessor de imprensa do GP do Brasil (com um visual meio Zelaya) e meu brother (ou son?) Bruno Vicária. Guardem este nome!


As costas de Felipe Massa. E um repórter com uma camisa que faria morrer de inveja Michael Schumacher.


A turma da BMW bate um rango no domingo. Se fosse a derradeira corrida do ano, a legenda era fácil: a última ceia.


Di Grassi, quase encoberto, é cumprimentado pelo apresentador e piloto de Porsche Otávio Mesquita.


O tricampeão Niki Lauda, hoje comentarista, com se indefectível boné vermelho.


Kubica bate um pratão de frutas antes da corrida. O coitado é feio, mas tem uns bícepes, hein?


David Coulthard, atual comentarista da BBC. Agora, cantem comigo: que cara quadrada que ontem eu vi!

Sunday, October 18, 2009

Fênix




Ao final do GP do Brasil de 2008, a Honda de Jenson Button pegou fogo ao chegar à área dos boxes. Seu pai, o já lendário John Button, ao ver a triste cena, disse, em bom inglês, traduzido para um mau português: "Deixa queimar essa m...". Quem diria, um ano atrás, que aquele piloto sairia de Interlagos campeão, neste ano?

Eu não diria e dei risada quando, no começo do ano, Rubens Barrichello afirmou que o carro da Brawn poderia lhe dar o título de 2009. Até que a Brawn, muito depois das outras, foi à pista e aniquilou a concorrência nos testes de inverno. E continuou humilhando nas primeiras corridas, permitindo que Jenson conseguisse a façanha de vencer seis das sete primeiras provas. Foi ali, naquele começo de ano, que Button garantiu o título comemorado hoje em Interlagos.

Enquanto as demais equipes (se) debatiam sobre a regularidade ou não dos difusores de dois andares (lembra-se deles? ninguém falou mais do assunto, parece a gripe suína...).

Enquanto a Red Bull avançava timidamente, conseguindo estupendos resultados em pistas "frias" e perdendo-se inexoravelmente nas mais quentes.

Enquanto Barrichello duelava com o carro e saía de algumas provas dizendo doces palavras sobre a própria equipe, como "eles me fizeram perder a corrida".

Os difusores foram considerados legais pela FIA. As outras equipes correram atrás, enquanto Button dava tchauzinho lá na frente.

A Red Bull continuou alternando ótimas e sofríveis apresentações.

Barrichello, pelo que consta, leu "O segredo", mudou sua atitude, percebeu as vantagens de ser mais positivo e otimista, tendo atuações superlativas, como na Itália.

No entanto, era tarde.

Tarde para as outras equipes.

Tarde para a mais séria oponente, a Red Bull.

Tarde para o companheiro de equipe.

Button fez uma segunda metade da temporada "para passar de ano". Aplicando-se o suficiente apenas para ficar na média. Inteligentemente, aproveitando a enorme vantagem do início de 2009.

Era a fênix, recompondo-se a partir das cinzas do ano passado.

Em Intelagos, Button fez sua melhor corrida (em suas próprias palavras). Com uma corrida irrepreensível, aproveitou-se dos incidentes da largada e foi galgando posições. De 14º para 5º. Not bad at all, diriam na terra da rainha.

O GP do Brasil de 2009 foi, na minha opinião, a melhor corrida deste ano. Talvez como resultado do treino caótico de ontem, que jogou para as últimas posições muitos dos carros mais competitivos. Por isso, foi tão agradável ver o desempenho do próprio Button e de pelo menos outros dois pilotos que mostraram ser possível, sim, fazer ultrapassagens na F1 atual: Hamilton (de 17º para 3º) e Vettel (de 14º para 4º). E palmas também para Mark Webber, que conquistou aqui sua segunda vitória na F1.

Apesar da brilhante atuação em Interlagos, eu sigo com uma pulga atrás da orelha quanto à estatura de Button diante de outros campeões mundiais. Se não fosse um campeonato tão atribulado, no qual as grandes equipes pareceram pegas em uma armadilha na brecha de um regulamento, se Button tivesse sido realmente confrontado o tempo inteiro, como o foi a partir do meio do campeonato, ele seria campeão? No mano a mano, com carros equivalentes, ele venceria um campeonato contra Hamilton, Massa, Alonso, Raikkonen?

Eu acho que não. E você?

(Foto de Carsten Horst)

Interlagos, in loco 2

O sol brilha! As nuvens vão chegando, mas, por enquanto, a chapinha está garantida. Como prova a imagem abaixo.



Cheguei ao autódromo pouco antes das 11h, com grande facilidade no trânsito. Em anos anteriores, a pista tinha muito, mas muito mais gente. Muitos espaços vazios nas arquibancadas. A sala de imprensa está assim:















Entrei no paddock praticamente junto com Rubens Barrichello, que não vestia o manto sagrado alvi-negro desta vez. Vou dar uma passada pelo paddock e ver se pego mais imagens legais.

Enquanto isso, meu colega e tradicional leitor deste blog, Hugo Becker, hoje no Tazio, segura as pontas na sala de imprensa.

Saturday, October 17, 2009

Interlagos, in loco 1

Direto de Interlagos, para mais um GP do Brasil.

Breve consideração: por que alguns comunicadores se referem ao GP do Brasil como GP Brasil??? Por acaso alguém fala do GP Inglaterra ou do GP Mônaco? GP Brasil é turfe. Tá certo que alguns tipo aqui são meio cavalos, mas peralá...

Rezei bastante para Santa Clara, para não chover, porque aqui sempre se anda muito ao ar livre. Garoa e chapinha não combinam. Mas minha reza não está forte. Cheguei a Interlagos debaixo de uma típica garoa paulistana. O que já foi suficiente para detonar meu cabelo. Bad hair day! Damn...

Enfim, estamos na expectativa para o primeiro treino livre. Embora o tempo esteja melhorando, acho que pelo menos as primeiras voltas acontecem com pista molhada. Má notícia para a Brawn e para estreantes como o esquisitão do Romain Grosjean. Vamos nos preparar para rodadas e saídas de pista.

Friday, October 16, 2009

Twitter

Pronto.

Rendida ao Twitter. Você me encontra no /alvesalessandra

Mas confesso que ainda estou me achando lá!

Thursday, October 15, 2009

No verão, a primavera



Entre Monteiro Lobato e Érico Veríssimo, senhores da minha infância literária, e a descoberta de García-Márquez, uma autora frequentou a cabeceira da minha pré-adolescência: Lucília Junqueira de Almeida Prado. Escritora nascida em 1924, ganhou o Prêmio Jabuti por "Uma rua como aquela", que li naquela mesma época. Um de seus livros mais marcantes, para mim, foi "No verão, a primavera", que conta a história de uma moça que vivia uma arrebatadora paixão, do tipo adolescente, na vida adulta. O título tinha essa referência: no verão da vida, a personagem vivenciava sentimentos extemporâneos, e o mais tocante era acompanhar aquela explosão juvenil em uma mulher já madura.



As declarações de Rubens Barrichello, nesses dias pré-GP do Brasil, me fizeram lembrar do livro. Há um ano, Barrichello estava praticamente aposentado pela imprensa, sem contrato para 2009, em algo que parecia o ocaso de uma carreira decadente. O começo da atual temporada não foi assim tão alvissareiro para o veterano brasileiro. Enquanto o companheiro de equipe enfileirava vitórias, Barrichello lutava com o carro. Mas, ainda assim, somava pontos. Até que "vestiu" o Brawn na segunda metade da temporada e venceu duas corridas, conseguindo reduzir a distância para Button e, principalmente, ganhando algo que sempre pareceu faltar a ele: auto-confiança.

No verão de sua carreira, Barrichello renasceu em competitividade, com a vantagem da maturidade.

Hoje, falando à imprensa, Rubens reportou um "sentimento arrasador" ao cruzar o túnel de acesso à pista de Interlagos. Na reportagem de Luis Fernando Ramos, o Ico, no Tazio, ele diz: "Tive um sentimento de muita gratidão ao passar pelo túnel do autódromo. Porque no ano passado, quando passei pelo túnel no domingo, eu fiquei com aquela sensação de que poderia ser a última vez. Então, hoje, tive um sentimento arrasador de chegar e me sentir competitivo, em casa, então faça chuva ou faça sol, será um grande fim de semana."

Faça chuva, ou faça sol, será um grande fim de semana. Bingo, Rubens! Vai ser um grande final de semana porque, nesta altura da sua longa e respeitada carreira, você já se sabe vencedor. Não se trata, aqui, de apelar para aqueles chavões de livros de auto-ajuda. Mas parece evidente que, neste 2009 tão surpreendente, a maré virou para o seu lado porque, em dado momento, neste ano, você virou seu pensamento. Deixou de se apegar ao discurso vira-lata do brasileirinho contra o resto do mundo. E as coisas começaram a melhorar para você.

Sabe o que me lembra essa atitude de Barrichello? Todo mundo já passou por isso. Você perde alguma coisa, dentro de casa, e passa um dia inteiro revirando gavetas e armários, sem sucesso. Tempos depois, tendo dado o item por perdido, você o encontra, sem querer. Ou então aquelas mulheres que passam anos tentando engravidar, fazem tratamentos, até que desistem, adotam uma criança e, depois, acabam engravidando. Assim, sem querer. Basicamente, porque mudaram o foco, impedindo que o estresse continuasse boicotando suas células. Em resumo: desencanaram.

É isso aí, Rubens, desencana que a vida é bacana. Vá para o GP do Brasil sem pôr o peso das arquibancadas nas costas, como você fez tantas vezes, principalmente nos tempos da Ferrari. Assim, meio sem querer, você vai viver sua primavera em Interlagos.

(a foto de Barrichello é de Carsten Horst)

Tuesday, October 13, 2009

Dois talentos


Escrever sobre corrida, no Brasil, muita gente escreve - e admiro vários desses colegas. Mas o que Bruno Mantovani faz é diferente de tudo: original, bem concebido e bem acabado, além de extremamente trabalhoso, verdadeiro trabalho de artesão.

Suas charges animadas são aguardadas com ansiedade lá em casa. Depois de cada GP, Mantovani cria esses curtas animados com pouco mais de um minuto, protagonizados por seus "Pilotoons", sempre com os capacetes originais dos pilotos da temporada e um detalhe marcante - os olhos. Mantovani pinçou a única coisa que se consegue enxergar de um piloto de Fórmula 1 e fez disso a expressão maior de sua arte. Olhos tristes para Kovalainen e Fisichella. Olhos arregalado para Buemi. Olhos de monstro para Barrichello, uma espécie de morto-vivo renascido em 2009. Para cada dez segundos de ação, cerca de uma hora de trabalho. Haja dedicação!

Mas não são só as charges animadas que valem a visita ao seu blog. Seus desenhos são primorosos, com traços elegantes e cores idem.

Eu já achava isso tudo do grande chargista e desenhista, que me deixou sem alternativas depois de publicar o desenho acima em seu blog, desse jovem talento da blogosfera. Permitam-me o breve momento mãe coruja e, por favor, visitem o blog do rapaz.

Sunday, October 11, 2009

United Colors of Red Bull


Tomei o energético Red Bull duas ou três vezes na vida. Na última, em vez de tomar direto da lata, resolvi despejar um pouco do líquido em um copo transparente e notei que tinha cor de xixi. Nunca mais me apeteceu. Além do mais, costumo buscar minha energia em noites bem dormidas, em vez de ficar acordada durante a noite. Por isso, o boicote à Red Bull proposto por um movimento recém-instalado na web não vai modificar em nada meus hábitos.

A bronca dessa turma começou quando a assessoria de imprensa da Red Bull, a equipe de Fórmula 1, divulgou um release entre engraçadinho e agressivo, criticando a cidade de São Paulo. O contexto é o seguinte: a Red Bull sempre faz uma espécie de avant-première de cada corrida da Fórmula 1 e o tom é habitualmente de escárnio. Em vez louvar as belezas do lugar que recebe o "circo", a equipe abusa de alfinetadas. Até o ano passado, a equipe distribuía nos autódromos, nos três dias de GP, uma edição do irreverente "Red Bulletin", esforço editorial que brindava seus leitores com notícias e fotos frescas, em uma diagramação moderna. O tom era esse mesmo - sarrista, debochado, mas quase sempre inteligente e com boas sacadas. Neste ano, com a redução dos orçamentos, acabaram com o Red Bulletin, mas o espírito nas demais peças de divulgação do time continua o mesmo.

Como alguns dos meus colegas já escreveram (aqui e aqui, por exemplo), acho o boicote injustificado. Ora, São Paulo não é mesmo caótica em seu trânsito, suja, árida na maioria das suas vias públicas e marcada por uma humilhante desiguladade social? Sou paulistana, gosto de morar aqui, mas não fecho os olhos para as mazelas da minha cidade. Não acho descabido que um estrangeiro pense duas ou dez vezes antes de vir para cá. Eu não gostaria de viajar para o Cairo ou para Mumbai, por exemplo. Se meu trabalho me obrigasse a ir até lá, eu provavelmente criticaria o que visse de desagradável nesses lugares, por isso acho que um estrangeiro que vem até aqui também tem direito de reclamar do nosso caos urbano.

Mas nem é essa a tônica principal deste post.

Hoje, enquanto participava da 8ª Corrida pela Paz do WTC*, prova da Corpore disputada na Marginal Pinheiros, com largada a partir da Ponte Estaiada, lembrei da irreverência da Red Bull e logo associei este espírito com o de outra marca cujo nome frequentou a Fórmula 1 durante muitos anos - a Benetton.



Entre os anos 1980 e 1990, a Benetton adorava chamar a atenção - e até chocar - com suas peças publicitárias. Assinadas pelo fotógrafo Oliviero Toscani, as propagandas da Benetton lançavam mão de imagens étnicas, comportamentais, religiosas para, sem palavras, colocar o povo (os povos, no caso, pois eram campanhas globais) para pensar. Hoje, algumas peças da Benetton parecem óbvias, mas nos anos 1980, antes da invasão do discurso politicamente correto na mídia, nas escolas etc., uma prosaica imagem de um casal interracial era algo meio perturbador para algumas mentes mais retrógradas.

Toscani virou símbolo de provocação. Chegou a passar dos limites do bom gosto quando lançou uma campanha com um doente terminal de AIDS em seu leito de morte (encontrei a imagem na web, mas desisti de postá-la aqui, pela dureza da cena e por tudo que ela representa).

Benetton e Red Bull, cada uma a seu modo, usaram certa dose de agressividade para chamar a atenção. Ambas, vejam só, também usaram a Fórmula 1 para promover suas marcas. Ao fim e ao cabo, é mais para isso que serve a Fórmula 1 contemporânea. Não vale a pena comprar briga por nada disso.

(*Meu desempenho na prova de 8 km: 40min24, Classificação Geral: 878/2961, Classificação Faixa: 10/121, Classificação Sexo: 64/701, Ritmo: 05:03 min/km. Já fiz essa prova em 38min alto. Mas, mesmo assim, gostei do meu desempenho. Desse 10º lugar na faixa, principalmente!).

Thursday, October 08, 2009

Separados no nascimento


A correria, como vocês podem supor, está grande. Mas não posso deixar de fazer este breve registro.

Mika Hakkinen está em São Paulo, promovendo uma campanha de direção consciente patrocinada por uma marca de uísque.

Meu irmão chamou a atenção para isso, quando Mika apareceu no GP de Cingapura.

Ele não está a cara do Roberto Leal, lendário cantor português, radicado no Brasil?

Thursday, October 01, 2009

Caldo e fredo


“E é bom para a nossa equipe ter este espírito latino com Fernando e Felipe.”
(Stefano Domenicalli, chefe de equipe da Ferrari)

“É uma personalidade melhor, porque Kimi é o tipo de pessoa que demonstra poucas emoções, ele mantém tudo dentro de si"
(Luca di Montezemolo, presidente da Ferrari)

Os chefes da Ferrari, cada um a seu modo, louvaram a latinidade da dupla escolhida para 2010. Tudo bem. Entendi.

O problema de Kimi com a equipe era cultural, por ele não ter essa latinidade louvada como trunfo da dupla Fê-Fê. Mas isso vale para o sujeito abaixo?