
O técnico Vanderlei Luxemburgo, atualmente no Santos, foi julgado e condenado a dois meses de suspensão pelo Tribunal de Justiça Desportiva. A acusação: ofender o árbitro Rodrigo Martins Cintra, que apitou o clássico entre Santos e São Paulo, pelo último Campeonato Paulista. O São Paulo venceu e Luxemburgo saiu do estádio dando a seguinte declaração:
"Ele apitava e olhava pra mim em toda falta que marcava. Ele [Rodrigo Cintra] não parava de olhar. Eu não sou veado. Talvez seja pela minha camisa [rosa]", disse Luxemburgo. Naquele mesmo domingo, já à noite, um programa de TV entrevistou o árbitro, que em princípio duvidou do conteúdo da declaração do técnico. Exibida a entrevista, Rodrigo não polemizou, nem “se defendeu”. Analisou o comportamento de Luxemburgo como um desvio de foco, já que seu time tinha perdido.
Oh, céus! Por onde começar?
A declaração do técnico, que ensejou todo o resto, tem evidentemente um teor ofensivo, além do risível reforço ao estereótipo de que rosa é cor de mulher (de gay também, deve-se supor). A intenção de Luxemburgo foi clara: ele quis atacar o árbitro e se valeu de um paradigma colossal no meio futebolístico, “acusando”, “xingando”, “levantando a suspeita” de que o outro era homossexual.
Apoiado na intenção de ofender, manifestada pelo técnico, o tribunal acertou em puni-lo. Mas isso resolve toda a questão? Não há também aqui o recrudescimento de uma posição preconceituosa, sectária, xiita do futebol (dos esportes, em geral, mas fiquemos apenas com o futebol) em relação à homossexualidade?
Há, sem dúvida, um significativo avanço em punir quem se vale de qualquer circunstância para ofender o outro, e nisso a “comunidade futebolística” parece estar, em sua maioria, de acordo.
Mas por que é ofensivo chamar um homem de gay (veado, viado, bicha, boiola, bambi, fruta, queima-a-rosca, salta-pocinhas, morde-a-fronha)? Se a sociedade já avançou a ponto de assimilar e respeitar as diferenças individuais em tantos campos, por que o futebol se mantém tão sectário?
O radicalismo sectário contra o diferente persiste em cada um até que o diferente invada sua casa. Terei preconceito contra homossexuais até o dia em que meu filho, meu pai, meu irmão, meu sobrinho, meu amigo resolva sair do armário. Se já somos capazes de lidar com respeito às diferenças em tantos setores, por que nos mantemos tão medievais no futebol?
Porque, cá entre nós, você não acredita de verdade que “essas coisas” não acontecem no futebol, acredita?