Thursday, April 27, 2006
GLS Futebol Clube
O técnico Vanderlei Luxemburgo, atualmente no Santos, foi julgado e condenado a dois meses de suspensão pelo Tribunal de Justiça Desportiva. A acusação: ofender o árbitro Rodrigo Martins Cintra, que apitou o clássico entre Santos e São Paulo, pelo último Campeonato Paulista. O São Paulo venceu e Luxemburgo saiu do estádio dando a seguinte declaração:
"Ele apitava e olhava pra mim em toda falta que marcava. Ele [Rodrigo Cintra] não parava de olhar. Eu não sou veado. Talvez seja pela minha camisa [rosa]", disse Luxemburgo. Naquele mesmo domingo, já à noite, um programa de TV entrevistou o árbitro, que em princípio duvidou do conteúdo da declaração do técnico. Exibida a entrevista, Rodrigo não polemizou, nem “se defendeu”. Analisou o comportamento de Luxemburgo como um desvio de foco, já que seu time tinha perdido.
Oh, céus! Por onde começar?
A declaração do técnico, que ensejou todo o resto, tem evidentemente um teor ofensivo, além do risível reforço ao estereótipo de que rosa é cor de mulher (de gay também, deve-se supor). A intenção de Luxemburgo foi clara: ele quis atacar o árbitro e se valeu de um paradigma colossal no meio futebolístico, “acusando”, “xingando”, “levantando a suspeita” de que o outro era homossexual.
Apoiado na intenção de ofender, manifestada pelo técnico, o tribunal acertou em puni-lo. Mas isso resolve toda a questão? Não há também aqui o recrudescimento de uma posição preconceituosa, sectária, xiita do futebol (dos esportes, em geral, mas fiquemos apenas com o futebol) em relação à homossexualidade?
Há, sem dúvida, um significativo avanço em punir quem se vale de qualquer circunstância para ofender o outro, e nisso a “comunidade futebolística” parece estar, em sua maioria, de acordo.
Mas por que é ofensivo chamar um homem de gay (veado, viado, bicha, boiola, bambi, fruta, queima-a-rosca, salta-pocinhas, morde-a-fronha)? Se a sociedade já avançou a ponto de assimilar e respeitar as diferenças individuais em tantos campos, por que o futebol se mantém tão sectário?
O radicalismo sectário contra o diferente persiste em cada um até que o diferente invada sua casa. Terei preconceito contra homossexuais até o dia em que meu filho, meu pai, meu irmão, meu sobrinho, meu amigo resolva sair do armário. Se já somos capazes de lidar com respeito às diferenças em tantos setores, por que nos mantemos tão medievais no futebol?
Porque, cá entre nós, você não acredita de verdade que “essas coisas” não acontecem no futebol, acredita?
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38 comments:
Alessandra, não sei de nenhuma pesquisa séria que tenha sido divulgada - ou sequer sido feita - para saber a porcentagem de homossexuais no futebol, ou no esporte em geral. Alguns casos tornam-se notórios até pela coragem que alguns e algumas têm em assumir públicamente suas posições. Acho que tem tanta coisa nessa discussão - invasão de privacidade e "obrigação" de defender uma bandeira de diversidade sexual, entre outras - que se ela não for feita com muita calma e inteligência só faz mais entornar o caldo, reforçando a homofobia. Fiquei surpreso naquele episódio pelo árbitro não ter simplesmente respondido:"Estava olhando pra ele porque mais uma vez em que ele atrapalhasse o jogo, não me importa seus motivos, seria expulso; aliás, vou pedir pro STJD analisar os tapes dos jogos onde aparecem o Sr. Luxemburgo e o Sr. Leão, que além de quererem ser técnicos, querem ser juízes e bandeirirnhas. O STJD têm que por eles nas arquibancadas." O Luxa quis desviar o foco e o árbitro aceitou. Só falta aparecer alguém pra dizer que jogador que não fica fazendo pressão na bandeirinha Ana Paula não gosta de mulheres. Por que é que o Luxemburgo, em vez de partir pruma discussão em que falta o Wilhelm Reich, não insinuou" Não gostei dele ficar me olhando daquele jeito fascista, temos que discutir o papel do Estado, que aquele juiz representa, em tolher a liberdade do cidadâo". Putz, agora viajei de vez(desculpaí, meu Santos empatou ontem em casa e provou mesmo que não presta, tô meio sem norte).
Alessandra, li seu comentário no blog do Flávio e estou cá para comentar.
Sinceramente, tá um pé no saco isso tudo. O mundo está muito "politicamente certinho!" só não está certinho o que os nossos políticos andam fazendo com o dinheiro que pagamos. Chamar alguém de bicha é caso de punição? ridículo! chamar alguém de negão também é? ridículo. Preconceito é uma coisa muito mais profunda e não é desse jeito que vamos consertar o mundo. Quando criança eu tinha um amigo negro e sempre na brincadeira chamava ele de macaco (hoje eu seria preso), somos amigos até hoje depois de mais de 30 anos.
Parece que a sociedade tem uma necessidade de censura, não se pode falar mal de judeus, de negros (de brancos acho que ainda pode), de bichas, de sapatões, que voce acaba sendo punido de alguma forma.
Cadê a minha liberdade de expressão?? Acho que realmente o que falta ao ser humano (principalmente o brasileiro) é cidadania. Pois aqui voce desviar verba pública, jogar lixo na rua, atrapalhar o transito, ignorar sinalizações, se prevalecer de cargo publico, etc, não são coisas graves. Mas vá chamar alguém de bicha!
Abraço
Boa tarde Alessandra!
O preconceito a diversidade, ou qualquer outro, seja qual for, é lamentável, e neste caso, como nos demais, repudiável.
Luxemburgo, a parte sua inteligência futebolistica, é uma pessoa que não acredito seja levada a sério fora das quatro linhas. Tem grana, muita, mas me parece apenas o estereótipo bem sucedido do personagem Fio Maravilha, que sentiu-se honrado a jogar em "Belém" do Pará, terra na qual, segundo ele, Jesus havia nascido. Em suma, na minha opinião, excepto pela grana, é um pobre coitado.
Este é o mesmo futebol que produz as torcidas organizadas, o ódio, o sangue jorrando nas estações de metrô.
Ao Mauro Chazannas: tive oportunidade de jogar uma partida com a Ana Paula, em início de carreira, auxiliando na bandeira. Moça bonita, simpatississima, e tão educada quanto fomos nós, os marmanjos boquiabertos ante aquela beleza morena. A época, ainda desacostumados com a novidade, fomos de uma gentileza que até hoje não vi repetida em campo. Grande jogo!!!!!!
Valeu!!!!!!!!!
Leia o Olavo de Carvalho e você obterá resposta aos seus questionamentos esquerdistas.
O professor Jean Paul Sartre, em "Reflexions sur la Question Juive" também fala desta suposta liberdade de expressão, o que ela ampara e o que não. Para quem se interessar, há uma edição antiga no Brasil, da Difel, onde também tem um estudo dele sobre o negro, com o título "Reflexões sobre o Racismo". Pra mim, protestar contra a violência irracional de usar palavras ou imagens para ofender não é tolher liberdade de expressão. Vale lembrar que na Alemanha de hoje - há lugar mais "civilizado"? - declarações antisemitas dão cinco anos de cadeia. Ku Klux Klan, nazismo, xenofobia, espírito de linchamento, ditadura, terror: Tô fora.
Ao Mário Lago: Mário, aceite minha modesta inveja e meus parabéns.
Parabens pelo assunto,Alessandra!Quando se xinga alguem de gay,judeu ou preto quer-se reduzir um ser humano,infinito em seus matizes,a reles condiçao de um genero "inferior",buscando assim incapacita-lo e subestima-lo.Outro dia vi a preocupaçao estressada de uma mae em logo por o filho pre-adolecente em uma escolinha de futebol,achando que ali sera um ambiente perfeito para se desenvolver e se afirmar o carater do verdadeiro "macho".
O preconceito e a discriminaçao, infelizmente, fazem parte da natureza do ser humano. Nunca ninguém ouviu a expressao "branco azedo"? Pior, relacionar isso a nao saber jogar bem futebol, por exemplo. Todos acabamos sendo enquadrados em algum estereótipo: se vc é fan do Senna, entao é "viúva", se gosta muito de tecnologia, é um nerd, se acredita em um mundo menos capitalista, entao é um esquerdista retrógrado. O Luxemburgo, mais de uma vez, mostrou que tem, no mínimo, um caráter duvidoso. Independente do gosto sexual do árbitro, este deveria ter dito algo assim: "vindo dele este comentário, nao se pode levar muito a sério". A verdade é que Luxemburgo, sem ter argumentos mais sólidos, apelou: se o cara é hetero, ofendeu sua masculinidade; se é gay, o pôs contra a parede, pq fica difícil, num mundo tao machista, se assumir. A nao ser que vc faça graça, como o Bianca, lembram dele? Esse, por sinal, é outro esteótipo: se vc é gay, obrigatoriamente tem que ter trejeitos ridículos.
Abçs
Alê,
O racismo contra os homosexuais será difícil de diminuir ainda nesta geração.
As "brincadeiras" no ambiente de trabalho, nos esportes, e principalmente nas escolas, fazem os garotos já crescerem com a idéia de que homosexual deve ser ironizados.
Felizmente as mudanças estão acontecendo.
O que o Gustavo disse é um tanto vago. Uma coisa é ironizar, outra é discriminar. Eu não sou contra a ironização de qualquer pessoa, seja ela branca, negra, judia, gay ou árabe. Ser irônico, humorístico, é muito diferente de ser preconceituoso. Mas, falando sobre o Luxemburgo, eu acho que ele foi preconceituoso e mereceu a punição.
vamos lá:
mauro, eu também não conheço nenhum estudo sobre a presença de homossexuais no futebol. se alguém souber e puder indicar, agradeço. concordo com você, essa discussão é multifacetada e a própria "saída do armário" pode representar um reforço ao preconceito, ainda mais nesse ambiente homofóbico e que costuma associar homossexualidade a figuras caricatas como do falecido juiz Margarida (lembra?).
eu tenho defendido sempre que cada um exerça seu papel da maneira que lhe for mais conveniente. quem quer assumir bandeira, que assuma. quem quer ficar no armário, que fique. mas outro dia, numa discussão virtual com a colunista vange leonel, ela colocou uma situação instigante para o meu marido. ele defendia que ninguém precisa sair do armário se não quiser, ao que ela respondeu: "ok, você tem razão. mas então pense em como seria você colocar a sua mulher no armário por um ano e viver clandestinamente sua relação com ela." em que pese o fato de que eu seria a "emparedada", gostei do tema para a reflexão (hehehe).
em tempo: adorei sua colocação "viajante" de Luxemburgo evocando o totalitarismo para protestar contra o árbitro. enquanto pensava sobre como escrever esse tema, cheguei a pensar num outro enfoque. lembra daquela história da "lei de gérson"? pois, para quem não lembra, isso ficou cristalizado na memória brasileira graças a uma propaganda de cigarro, nos anos 1970, com filmes e peças protagonizadas, cada uma, por várias personalidades da época. o slogan era "o importante é levar vantagem em tudo, certo?". sabe-se lá por que razão, a figura do gérson se destacou nessa campanha e essa máxima ficou conhecida como "a lei de gérson". o paralelo que eu fiz foi o seguinte: já imaginou se alguém começa a se referir pejorativamente a alguém como "ah, esse aí é meio luxemburgo" (para descrever alguém, sei lá, autoritário, polêmico ou arrogante?). já pensou se virasse moda "xingar" alguém de luxemburgo? da mesma maneira que ele se sentiria ofendido, por ter seu nome associado a um xingamento, de que maneira se sentem os homossexuais?
peraí que tem mais.
renato, eu não vou me alongar no tema que você levantou porque, há algum tempo, discutimos isso longamente aqui. se você tiver interesse (e paciência!) para ler, procure nos comentários do post "Assino embaixo". só para não deixar sem um registro, eu reproduzo uma frase que escutei recentemente: o julgamento da ofensa é do ofendido, não do ofensor. mas tem muito pano pra manga essa questão da liberdade de expressão, dos conceitos ligados ao "politicamente correto". vale a pena refletir.
mario: você não pára de me surpreender! quer dizer que, além de ser co-autor de "Amélia", a que era mulher de verdade, você também foi boleiro! mas veja só! eu nem vou entrar no mérito da personalidade/caráter do luxemburgo, porque acho que esse fato específico revela mais o pensamento de uma coletividade do que necessariamente uma postura pessoal. luxemburgo achou natural "ofender" o árbitro, "levantando suspeita" sobre sua sexualidade porque isso é presente e, de certa forma, normal nesse meio. reafirmo a minha maior estranheza nesse assunto: não me admira que um técnico derrotado xingue o juiz, ainda me espanta o fato de que chamar alguém de gay seja considerado uma ofensa.
alexandre, eu agradeço pela dica de leitura. se eu fosse uma escriba radical-raivosa, como aliás é o olavo de carvalho, eu responderia com algo como "vá você ler Jacob Gorender (ou Renato Janine Ribeiro, ou Octavio Ianni, ou Marilena Chauí etc.) para obter uma outra visão para o seu direitismo. mas não vou fazer isso, porque nem sei se você é "de direita", como aliás não me classifico "de esquerda", porque quem me conhece melhor sabe que não sou afeita a dicotomias. considero que o leitor minimamente capacitado tem de ter contato com o maior número possível de correntes de pensamento, mantendo uma postura crítica e eventualmente absorvendo conceitos que lhe pareçam pertinentes. ler este ou aquele autor para se doutrinar me parece uma atitude pouco construtiva. de qualquer forma, a maioria dos escritos que já li desses autores identificados com a chamada "nova direita" não se afinam com meu pensamento. o que não quer dizer que eu seja radicalmente contra tudo o que eles escrevem.
A questão é simples: se a pretensão foi ofender - como de fato foi - tem que ser punido. Luxemburgo já não acha mais que é Deus - tem certeza. E enquanto houver efeitos suspensivos que jogam por terra as decisões punitivas, tais absurdos vão continuar acontecendo. Dito isto, vou "esquartejar" o post e os comentários. E hoje eu estou a fim de escrever!
1- Alessandra, o sectarsimo no futebol existe até mesmo em decorrência da falta de instrução (ou de cultura, ou de educação - esta no sentido estrito) dos envolvidos. A maioria dos atletas de futebol de hoje, assim como os técnicos, preparadores, massagistas, etc. (daqui a alguns anos chegará a geração "escolinha" e acho que isso vai mudar) viveu em um meio onde o homossexualismo é veementemente reprimido - os bairros mais pobres. Sendo assim, os valores que eles têm são os seguintes: Pedreiro, peão, caminhoneiro, jogador de futebol, policial e traficante têm que ser "machos". Ainda neste contexto, chamar alguém que vive em um meio destes de gay é ofensivo, mesmo que "essas coisas" existam no futebol, como em qualquer outro meio.
2- E por que é ofensivo? Por que quem é hétero não admite ter sua sexualidade posta na berlinda.
3- O fato de alguém se sentir ofendido quando o chamam de gay não significa que o ofendido tenha preconceito, mas sim que o ofendido simplesmente não quer que uma inverdade a seu respeito seja dita. É o mesmo que acontece quando um jogador chama o juiz de bêbado (Junior Baiano X Oscar Godoy). Já houve punições por isso, inclusive na esfera comum. O próprio direito penal tipifica tais atitudes: chamar o juiz de ladrão é calúnia (imputar fato criminoso), de gay ou bêbado é difamação (imputar fato ofensivo à reputação). Ora, imputar fato ofensivo à reputação nada mais é do que dizer uma inverdade que pode, efetivamente, trazer algum prejuízo moral a alguém, induzindo os outros em erro quanto à avaliação que fazem daquela pessoa. E ter que explicar numa festa onde insistentemente oferecem bebidas que não é um beberrão, explicar a outras pessoas que não é gay, uma mulher ter que explicar que não é "fácil", um jornalista ter que explicar que não é de esquerda ou de direita... Todos esses exemplos não configuram ofensas graves como calúnias, mas ainda assim geram um ônus ao ofendido. Por isso qualquer afirmação falsa quanto à pessoa é uma ofensa. Pode ser quanto à sexualidade (gay) e quanto ao comportamento (bêbado, fácil, esquerdista...). Acredito que respondi seu antepenúltimo parágrafo.
4- Mauro, você viajou de vez, mas fico imaginando o Luxa politizando o jogo de futebol.
5- Renato, já escrevemos sobre isso nesse blog comentando o post da Alê "Assino Embaixo", aqui mesmo no blog: Liberdade de expressão como escudo pra ofender sem culpa.
6- Mário Lago, concordo com você, conforme pode ser visto linhas atrás. É a origem das pessoas do meio futebolístico que lhe dão essas características tão peculiares.
7- Alexandre, gosto do Olavo de Carvalho, no meu blog tem até um link pra ele. Mas a questão aqui não é de visão política, mas de uma realidade social, mas especificamente futebolística. Quer dizer que não há gays de direita? E todos os de esquerda são gays em potencial? Acho que o próprio Olavo não pensa assim.
8- Mauro, excelente seu comentário quando da volta da viagem.
9- Gustavo e Cabelo, o fato é que há uma linha muito tênue entre a bricadeira e a ofensa. Quem brinca deve ser responsável para não ultrapassar esse limite, sabendo com quem brinca e até onde vai a brincadeira. Tenho um amigo gay que, quando era abraçado por mulheres dizia: "Sai pra lá. Nasci de cesariana pra passar longe dessa coisa." Era uma pessoa com a qual certas brincadeiras podiam ser feitas. Já outro amigo gay não admitia sequer conversar sobre assuntos relacionados a sexualidade. O limite é sempre o outro.
10- Alessandra, podemos criar novas ofensas: Já pensou chamar alguém de Marcos Valério, José Dirceu, Roberto Jefferson? Só tenho pena dos homônimos.
Abraço a todos,
mauro, pois é. sua citação de sartre mostra como algumas discussões atuais já estão por aí há tanto tempo. às vezes, fica me parecendo que as pessoas só percebem a complexidade de alguns temas quando não estão nos chamados "regimes de exceção". porque é muito mais fácil posicionar-se sobre temas como liberdade de expressão quando se vive debaixo da chibata, concorda? você vive numa ditadura que tem como instrumento a censura. somos contra, claro. mas e como funciona num regime democrático? onde termina minha liberdade de expressão e começa o direito ao outro de se sentir ofendido?
rick! que alegria tê-lo por aqui! interessante esse caso da mãe que colocou o moleque para jogar bola e reforçar traços de macheza. se ela soubesse muito do que rola nas chamadas "categorias de base"... ai, ai. só que ninguém fala abertamente, né? êita hipocrisia!
fabio, bem colocada sua observação. somos todos "classificáveis". o ser humano tem uma tendência inequívoca a apontar o dedo para o outro, né? por conta deste último post, em outro blog fui chamada de lésbica e de prostituta, acreditem!
gu, pois é, outro dia discuti virtualmente esse tema também. você sabe como me preocupo com esse tipo de questão na criação do gabriel (podem tirar sarro da minha cara, mas eu acho aquele porquinho do disney um tremendo de um torturador fascista e tenho, sim, pena do lobo!). um dia, eu fiquei chocada quando o gabriel se referiu a vinícius de moraes como "aquele pinguço" e achei que era uma postura preconceituosa dele, coisa que em casa não cultivamos. e a vange leonel, de novo ela!, chamou a atenção para um estudo que aponta a influência dos pares (colegas de escola, de time etc.) como mais determinante que a influência dos pais (que tende a ser contestada pelos filhos) na formação do pensamento da criançada. por isso, realmente, é difícil se isentar desse tipo de influência. por isso todo mundo tem responsabilidade - casa, escola, clube etc. difícil (mas ninguém falou que ia ser fácil!).
cabelo, esses limites são mesmo muito, muito tênues. se você tiver interesse, leia o post "Assino embaixo" e a sua discussão, que foi muito interessante.
véio gagá: seu esquartejamento foi perfeito. obrigada pela aula de direito. depois da sua síntese, sinto que não tenho nada a acrescentar, pelo menos por enquanto.
mas vê se deixa o endereço do blog, pô! queremos ler também!
(véio, é que nem todo mundo está acostumado a clicar no nome e linkar direto, por isso posta o endereço aqui, tá?)
Alê, você me colocou numa saia justa. Meu blog não tem o conteúdo e "volume" do seu; é bem "light". Peço desculpas a quem esperava mais: www.veiogaga.blogspot.com
Abraço,
Alessandra, existem afirmações que realmente são muito estapafúrdias, para não dizer idiotas ou de extremado duvidoso gosto. O mesmo já falou outras pérolas, sendo uma sobre racismo que é de arrepiar a inteligência. No caso do árbitro ele criou um factóide, para desviar a atenção sobre a derrota do Santos, com base nessa besteira. Lamentável e não deveria demandadr tanta tinta. Mas, caso ele leia sobre o assunto vai perceber que não teve graça nenhuma.
Sou santista e por isso "tentado" a defender o Luxemburgo...
mas...
às vezes nosso estimado "professor" extrapola (aliás, muito frequentemente).
Pegando carona numa verdade foi dita em um dos posts anteriores, o comentário feito por ele apenas teve o impacto que teve por se tratar (ele) de uma pessoa pública e extremamente polêmica, mas retrata uma realidade de nosso país.
Posso fazer piadas com prostitutas, homossessuais, deficientes, portadores de HIV, negros, judeus e etc; desde que eles não façam parte do meu círculo de amizades....
é como a piada: você sabe a diferença entre homossessual e viado?
meu parente é homossessual, o seu é viado...
Alessandra, concordo com o que você e o Véio Gagá disseram: a linha que separa a brincadeira e da ofensa é mesmo muito tênue. Acima de tudo, como o Véio Gagá disse, quem define esse limite é o outro. Agora que o Véio Gagá tem um link aqui, vou aproveitar o bonde e indicar uma leitura do blog dele, num post em que ele escreveu justamente sobre esse assunto, sobre saber respeitar o próximo. Aqui vai o link:
http://veiogaga.blogspot.com/2006/03/franqueza-e-liberdade-de-expresso-x.html
Abraços e boa leitura!
Oi Alessandra, eu de novo.
Primeiro, meus cumprimentos aos debatedores pelas várias indicações bibliográficas, que me apontam a mim a urgência em seguir o caminho da biblioteca mais próxima caso queira permanecer em tão dileta companhia.
Ao véio gagá - bh: sensacional, além de sugestiva, a foto. Ao termos que engolir "guéla" abaixo tantas das mazelas que por aqui discutimos, a vontade que se tem, as vezes, é mesmo de enfiar a cabeça no buraco. Acabei por refletir um pouco sobre a difamação e me ocorreu que, dependendo do ponto de vista, a agressão luxemburguiana possa também ser uma injúria, pois enquanto uma é a ofensa a dignidade e o decoro de alguém, a outra é a ofensa a imagem que se tem e se quer ter perante os outros, de si mesmo. Poderia ser, não poderia?
A Alessandra: Crecemos em um país no qual nós, meninos, desde sempre aprendemos: "homem não chora", "não leva desaforo para casa", "o meu é maior do que o seu", e tantos outros legados que nos incutiram a premissa da macheza e força bruta em contraponto a delicadeza e a sensibilidade. Assim, pela nossa e talvez algumas das gerações seguintes, talvez ainda esteja arraigado nas pessoas este sentimento de superioridade sobre a diversidade de opção sexual da minoria, se é que é minoria mesmo, já que ninguem parou prá contar. Mas nas próximas gerações, que já enchergarão o mundo sob a ótica da igualdade emanada da constante presença feminina no núcleo das grandes questões e decisões, talvez exista melhor sorte nas relações entre os diferentes.
Valeu!!!!!!!!
Os errinhos de digitação foram resultado da pressa!!!!
Alessandra, já falaram sobre Olavo de Carvalho aqui e, lendo uma coluna recente dele, achei algo que pode ser útil na nossa discussão. Ser tolerante não significa aceitar aberrações impostas como nova cultura. Convém citar que "A normalidade não é o contrário da aberração, mas sim o ponto médio entre duas aberrações opostas".
O link:
http://www.olavodecarvalho.org/semana/060420dce.html
Pode parecer meio chato ficar colocando links aqui para dar a minha opinião, mas eu não conseguiria me expressar em poucas palavras sobre temas tão complexos.
Li tudo e me veio à cabeça dois aspectos interessantes... O primeiro, à parte do otimismo reinante aqui no blog sobre a próxima geração mais evoluída, fato é que o fator "cultural" do machismo não está tão perto de terminar. Pode ser que numa cidade como São Paulo, o pessoal seja mais politizado, mais antenado e mais consciente, contudo não se pode negar que na maior parte do Brasil o machismo é ainda cultuado, gays ainda são discriminados, espancados e mortos. Caso não haja uma ação concreta de maior escala para reverter essa situação, educando, informando, delimitando direitos e deveres e estabelecendo punições, ainda vai levar muito tempo pra deixarmos de estigmatizar o gay. Muito bom é o exemplo do STJD em punir o Luxa, mas é um fato isolado, num mar de ofensas.
Segundo ponto, será que o discurso acompanha a prática? Será que todo mundo que diz não discriminar ou aceitar, realmente age assim quando o problema é no próprio quintal? A experiência concreta serve justamente pra testar nossas convicções teóricas, e muitas vezes não conseguimos realizar na prática aquilo que falamos em discurso.
A política de mudança deve ser geral e irrestritra, mas o esforço para aceitar, compreender e respeitar deve ser individual.
O Gui Barranco tocou em um ponto interessante: estamos, pelo menos a maioria de nós, acostumados com a mentalidade metropolitana do Brasil e a nossa opinião não representa a maioria esmagadora da população. Em compensação, acho que em alguns aspectos já houve uma evolução. Escolher um homossexual como vencedor do Big Brother, por exemplo.
A alegria e minha,Alessandra.Pois e,ano de copa a bola ja rola com outra motivaçao e entusiasmo,nas ruas,nos pes de pobres,ricos pretos,brancos,meninos meninas,meninos gays e meninas gays,e etcs.Todos buscando suas alegrias e possiveis felicidades.Vamos entao respeitar a todos,ne?Apenas!
Alessandra, eu vi esses comentários ridículos no outro blog. O problema é que lá tem tanta gente que fica impossível filtrar as mensagens, precisaria contratar alguém só pra isso. Falando nisso, ter uma posiçao hoje em dia que vá em contra do que pensa a maioria é pior que nunca.
Abçs
Gui,
Não é a toa que você é um dos dez melhores que conheço. A sua colocação foi dez.
Realmente a grande diferença é "tolerar" o público do Shopping Frei Caneca e conviver com respeito com um amigo gay em casa, em viagens, etc.
Daí o ponto que coloquei acima sobre a ironia. Eu sou daqueles que perde o amigo mas não perde a piada. E isto é péssimo.
A naturalidade com que fazemos piada com a sexualidade torna praticamente impossível que certas pessoas saiam do armário.
Se o sujeito for artista, tudo bem. Se não for, já era.
as colocações mais recentes foram interessantes e complementares. o gui, como sempre, pontuou um aspecto importante. a gente tende a avaliar o mundo por si mesmo e, na medida em que convivemos de uma forma mais positiva com questões como essa, dá a impressão que isso já é regra, e de fato não é.
acho que estamos de acordo com um ponto: sermos "tolerantes" com as diferenças é um passo além na busca de uma atitude mais saudável, cidadã e responsável, mas isso não nos livra de preconceitos arraigados que se manifestam, por exemplo, na ironia que o Gustavo mencionou, nas piadinhas etc.
vou instigar mais um pouco, então: como cultivarmos essa atitude mais responsável sem perdermos nossa espontaneidade, nosso bom humor?
Alessandra, acho que sem humor a vida fica feia, chata e boba. Não é tão difícil levar a vida com humor, se a gente cultivar a capacidade de rir de si próprio, de si própria. É procurar sempre rir "com" alguém, não rir "de" alguém. Por que é que minhas filhas deram risada quando lhes contei que estou vivendo um processo interessante e intensíssimo de auto-descoberta, que isso é positivo, o negativo é que não estou gostando nada do que estou descobrindo? Porque há identificação, porque mostra desarme. A atitude do Luxemburgo não é nessa direção. Se quis fazer graça, foi no mínimo inepto. Aliás, escalar o Geilson ontem foi uma atitude de escárnio, a escolha da lista dos batedores de pênalti foi outra. Tem nada não, do jeito que vai a gente acerta o Ipatinga ano que vem, quando eles subirem pra segunda divisão e nós descermos pra lá. Por falar em futebol, meu sincero desejo de boa sorte pra vocês logo mais, tomara que o Tevez e o Nilmar apavorem.
Mauro, eu é que estou de cabeça quente e não consigo dormir após o fracasso do time e o vexame que um bando de bandidos realizou no estádio.
Voltando ao assunto, eu realmente acredito que certas brincadeiras não podem coexistir com aceitação verdadeira.
Não serei hipócrita a ponto de dizer que não faço piadas de gays. O que imagino é que isto deve realmente ofender pessoas que são gays, mas que pelo pragmatismo da vida, não podem se assumir.
As piadas reforçam o constrangimento, e demonstram que o prejuízo de sair do armário ocorrerá também naquele ambiente.
O círculo é vicioso, alimentado pela zombaria.
Mas para tudo há limite.
Falando em dicotomia, a mera possibilidade de que você pudesse sugerir a leitura de Marilena Chauí como resposta à sugestão de ler Olavo de Carvalho é absurda e até ofensiva...
Se você acha que os dois são escritores/pensadores de igual nível e que a opinião deles tem o mesmo peso, realmente o relativismo tomou conta desse espaço.
Surpreende-me a sua alegação de que Olavo é um escritor "raivoso". Tenho sugerido a leitura dos escritos dele em muitos espaços, muitas vezes com mais cuidado e trabalho do que dispensei no meu primeiro comentário aqui, e muitas vezes tenho recebido esse tipo de resposta. De que Olavo é "raivoso", ou "cão raivoso", ou a já clássica ofensa de "direitista" que se popularizou aqui no Brasil nesse últimos 30 anos, ou sua versão mais moderna "nova-direita".
Fico curioso em saber o quanto você já leu ou conhece de Olavo de Carvalho que lhe faça atribuir essa definição para ele.
Obrigado pela atenção, de qualquer forma.
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