Friday, April 21, 2006

Telê


O jogo era contra a Itália e minha mãe inventou de fazer nhoque.
Meu pai achou por bem acompanhar com pão italiano.
Aquilo não me soou bem.
Tínhamos moído a Argentina, o mundo era nosso.
Não percebi que perder, ali, não podia.
O empate era nosso, mas que retranca?
Fechar o time? Botar na roda? Cera?
Mataria o time, alegando desonra.
Cerezo sozinho, de costas.
Nem um grito, um alerta.
"Cuidado, ladrão!"

Daí pra frente, sempre detestei perder por 3 a 2. E fiquei de bico com nhoque e pão italiano por um bom tempo. Chorei e sofri, como nunca antes, nem depois, pelas coisas da bola. E foi ali que a bola me fisgou. Devo essa a Telê Santana.

15 comments:

Alessandra Alves said...
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Anonymous said...

Brou,

Realmente aquele dia foi marcante. Lembro do clima de velório em casa.
Vi o Zico hoje falando que o Telê merecia ter tido a sorte de ganhar uma Copa. Mesmo assim ele entrou para história sendo o maior exemplo de bom técnico. Técnico que orienta o profissional. Dentro e fora do campo.

Claudio Costa said...

Vivi este drama, também. Engraçado como uma lembrança triste pode contaminar outras experiências simultâneas, da mesma forma que um perfume aspirado no momento de êxtase jamais será esquecido.

Marco Aurélio said...

Alessandra

Telê Santana foi sem dúvida o melhor técnico de futebol que o Brasil já teve. Pena que morreu cedo. Enquanto isso o Zagallo continua vivo com sua arrogância e antipatia habitual. Vale aqui a máxima:
Vaso ruim não quebra!

Um abraço

Marco Aurélio

Anonymous said...

O fato de a seleção do Telê não ter ganho aquela copa fez muito mal pro futebol. Reflexo disso foi a copa de 90, a copa de nível mais baixo de todos os tempos. O futebol depois daquele jogo no estádio Sarriá, ficou mais feio, retrancado. Se transformou em um futebol mais 1x0 e menos 4x3. Por fim, ficou menos Telê Santanna, mais Enzo Bearzot.

Anonymous said...

Eu tinha uns 9 anos na época. Não liguei muito e em casa ninguém deu bola. Lembro das cenas na TV das pessoas chorando. Nunca me identifiquei com a seleção de futebol, não consigo ver a tal pátria de chuteiras. Mas gosto de futebol, e considero o Telê entre os técnicos, o melhor de todos. Boa mudança de plano, Mestre Telê e vá em paz.

Alessandra Alves said...

Gu, esse lado do Telê, de segundo pai, foi exaltado por vários jogadores, como o Raí e especialmente o Cafu. O Cafu, no começo de carreira, queria jogar no meio de campo, e foi o Telê quem o plantou na lateral direita. É claro que isso não se faz sem uma boa dose de autoridade (diferente de autoritarismo). E é claro que isso foi determinante na carreira de sucesso do eterno Cafu (eterno mesmo, porque custou muito até aparecer um Cicinho para finalmente termos uma opção à camisa 2).

Claudio: essa associação de idéias e sensações é mesmo muito forte. Por isso evito escutar minhas músicas preferidas quando estou triste ou irritada, para não associá-las a um momento ruim!

Marco Aurélio: você foi muito cruel! Mas não se esqueça do que o Velho Lobo já dizia em 1998 - "vocês vão ter que me engolir!" hahahahahaha

Fábio: acho que você faz parte de uma geração de são-paulinos que teve a sorte de ver o Telê multi-vencedor, sem o estigma que nós, mais velhos e torcedores de outros times, ficamos do velho técnico. Mas quer saber de uma coisa? Eu até torci um pouquinho pelo São Paulo naquelas finais de Mundial Interclubes de 92 e 93, muito provavelmente por causa do Telê.

Cabelo: sua observação me inspirou um comentário à parte. Veja mais abaixo.

Alexandre: pois essa foi a última vez que sofri pela seleção. Hoje, definitivamente, sou muito mais Corinthians que Brasil. Na Copa de 98, creia, eu cheguei até a torcer contra (e quase apanhei depois daquele 3 x 0 na final).

Alessandra Alves said...

Sobre o comentário do Cabelo: muito interessante sua colocação, e eu acrescentaria outros aspectos.

De fato, aquela seleção brasileira parece ter sido o último time "romântico" do futebol mundial. Não gosto muito dessa expressão, mas "romântico" no sentido de que aquele time, com poucas exceções, era formado mais por artistas do que por atletas.

Visualmente, dá para perceber isso. Veja os tapes daqueles jogos e compare o físico dos jogadores com os de hoje. Começa pelo modelo de calção que eles usavam, bem mais curto que os atuais. E se completa com as pernas finas, sem a definição e hipertrofia muscular que virou padrão nos anos 90. Olhando de hoje, os atletas daqueles tempos parecem umas garças e os de hoje, uns touros.

O que você chamou de "bearzotização" do futebol me parece ser um movimento de culto à força e à resistência física. Se formos nos ater ao princípio da retranca, é isso: um time forte, que baseia sua ação na marcação, cansa o adversário e o vence no limite de sua própria capacidade. Sem riscos desnecessários, daí os placares magros.

Você tem razão quando identifica nesse jogo mítico das quartas-de-final, em 82, o marco de uma nova era. Foi como se o futebol arte estivesse definitivamente superado pelo futebol força, futebol de resultados ou qualquer outro nome.

No entanto, eu acho que o futebol viveu um daqueles movimentos pendulares tão comuns na atividade humana, seja qual for o campo de atuação. Vale para a política, para a ciência, para a cultura e também para o futebol. Vamos de um extremo a outro, até chegar ao equilíbrio.

A Copa de 90 talvez tenha sido o ponto mais distante do pêndulo na direção da força, contra o talento. Mas se nos lembrarmos do drible de Romário naquele jogo contra a Holanda, em 94, vamos ter de concordar que o pêndulo estava voltando um pouquinho mais para cá. Parreira, em 94, foi um totem do futebol de resultado, mas nem ele seria capaz de frear o talento natural do Baixinho (que além de tudo sempre foi um atleta meia-boca, na comparação com outros de sua geração!).

Eu acho que o pêndulo começou a encontrar o equilíbrio na Copa de 98, quando a França dosou a eficiência da força, passando na bacia das almas pelas primeiras fases, com o talento admirável de homens como Zidane e Henry. A Copa da Ásia, em que pese alguns jogos sofríveis da própria seleção brasileira, coroou o esquema cauteloso de Felipão com rompantes de talento inequívoco, como os de Rivaldo e Ronaldo, principalmente na final (de certa forma, repetindo o papel chave que fora de Zidane na Copa de 98).

Hoje em dia, quando vejo o Barcelona em ação, chego a pensar que é possível criar um esquema tão eficiente taticamente que una o melhor dos dois lados. A força e o preparo físico sustentando o poder de defesa do time, o talento, o gênio, os rompantes admiráveis encantando o mundo e fazendo gols de outro.

Que que vocês acham?

Anonymous said...

Continuo achando que a seleção de 82, com toda aquela dor que brasileiros e estrangeiros amantes do futebol sentimos, foi e é responsável pela permanência do sonho, quase obsessão, de jogar "bem" e ganhar. Se a gente tivesse levado a Copa, a discussão interminável seria se o time de 82 era melhor que o de 70, por aí. Porque perdeu, em nosso imaginário ela venceu. Peço desculpas a quem pensa diferente mas sequer reconheço os títulos de 94 e de 2002. Não quero mesmo meu Santos jogando desses jeitos. Não dá pra dizer que a vida imita a Arte, porque Vida é Arte. A seleção de 82 venceu, porque perdeu. Assim como o Telê, que já era imortal mesmo antes de morrer.

Anonymous said...

Alessandra, dá licença pra mais uma observação? Lembrando o Santos campeão de 2002, troca o Paulo Almeida pelo Maldonado. É aquele estilo, acho que o Telê assinaria embaixo.

Alessandra Alves said...

mauro, por que me odeias? você precisava citar aquele título do Santos? não quer pisar mais um pouquinho? lembra a pedalada do Robinho em cima do Rogério, assim me afundo de vez!

hehehehe, brincadeira

mas você tem toda razão. a ascensão do Santos, a aposta no time talentosíssimo de base que eles conseguiram formar deu um frescor novo ao futebol, uma esperança de que sim, é possivel jogar bonito e com eficiência.

é mais ou menos a minha opinião sobre o Barcelona. o time joga fácil, solto, apoiado no talento de algumas peças-chave. a bola corre fácil, não é um suplício de se ver jogar, como acontece com alguns times eficientíssimos mas ruins de doer os olhos no quesito habilidade.

agora, sobre reconhecer os títulos de 94 e 2002, duas observações. o de 94 foi uma dureza. aquele jogo contra os Estados Unidos deveria entrar para a galeria das vergonhas nacionais. e uma final 0 x 0 já diz tudo. e também foi uma forçada de barra fenomenal transformar aquilo numa catarse coletiva pós-Senna. só que era contra a Itália, o algoz maior de todos os tempos, não consegui torcer contra.

assistir a Copa de 2002, para mim, era como ver um jogo do Flamengo contra o Grêmio. aquela coisa não cheira nem fede.

Anonymous said...

A seleção de 82 assim com a Holanda de 74 e Hungria de 54, foram times inesqueçiveis que não ganharam, talvez se tivessem ganho seriam apenas mais uma seleção que ganhou o titulo. Sou fã do futebol arte sim, mais prefiro a eficiençia da vitória, Telê pois em prática o sonho de nós todos, e prvou pra nós todos que tem sonhos que são impossiveis. Obrigado Telê vc foi o maior treinador que eu vi pela coragem de acreditar nos seus sonhos!.

Anonymous said...

Em casa ficamos todos tristes pela morte de Telê. A primeira imagem que eu tenho de futebol é da final da Copa de 78, aquele campo cheio de papel (naquele tempo eu não ligava se a Argentina ganhava...). Mas depois de 82, tudo mudou, acho que também fui fisgada ali. Alê, não sei se você lembra, eu tinha uma camiseta do Brasil com o número 6 que misturava o 6 do vôlei ( o sempre lindo Renan Dal Zotto) e a seleção.
Chorei tanto no final do jogo contra a Itália que acabei batendo a cabeça num móvel na casa da minha avó. Também estávamos todos reunidos, só que a minha mãe fez feijoada, tudo tão brasileiro... Não sei se começou aí, mas até hoje eu não como feijoada.

Anonymous said...

Oi Alessandra, saudações tricolores... Estava no encontro de autos antigos em Águas de Lindóia e tentava imaginar qual seria o post, já que vc avisara que o faria desde a véspera....
Que grata surpresa esta nova e bela homenagem ao Mestre Telê, merecedor de tantas quantas lhe sejam prestadas.
Também assisti e chorei o Sarriá, mas, coisas da vida, o choro passou, a tristeza o acompanhou e na memória restou o encanto mágico do futebol clássico, limpo, revelador do talento de seus jogadores e da alma generosa de um técnico amante da arte, da ética, do espetáculo, da bola rolada de pé em pé direto a nossos corações...
Eu, pessoalmente, havia reconhecido o talento de Telê naquele emblemático 4x1 de Palmeiras e Flamengo no Maracanã, (acho que em 1979). Até Baroninho, modesto ponta esquerda, com Telê jogou bola naquele time. E o jogo foi um show... O Mengo tinha um timão.
Tricolor do Morumtri que sou, desde sempre, nada me é mais caro no futebol do que nossos times de 92/93/94.
Junto a Raí, compreendi que o herói, o grande responsável pelo antológico gol de falta, no ângulo, virando a história da partida e a nossa própria, era ele, Telê. Aqui, de longe, corri junto para o banco e participei d´aquele abraço emocionado e fraternal.
Telê, que aqui foi grande, agora junta-se a outros de nossos imortais.
Deixo aqui ao Mestre, meu reconhecimento e minhas homenagens.
Vai com Deus Telê! Valeu!!!!!!!

Anonymous said...

Alê, não sei se você tem ouvido a retrospectiva do Mauro Beting na Rádio Bandeirantes? Ele relembra o assunto principal que estava sendo falado à 4 anos atrás, a mesma quantidade de dias antes do ínício da Copa.

O Ronaldo fenômeno voltou a jogar 50 dias antes da Copa!! Se a seleção atual fizer tudo que pode, eu não sei não!

Este clima é que me deixa dsconfiado.