Thursday, March 26, 2009
Velha roupa prateada
"No presente, a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais."
Os versos de Belchior, em "Velha roupa colorida", na voz de Elis Regina, ecoaram na minha cabeça quando li as declarações de Lewis Hamilton feitas nesta quinta-feira, na Austrália. O atual campeão deu nota 4 para o MP4-24, modelo da McLaren para o Campeonato Mundial de Fórmula 1 que começa amanhã (hoje à noite, no horário de Brasília), em Melbourne.
Hamilton fez coro às palavras do chefão da Mercedes, Norbert Haug, que vislumbra a McLaren do meio do pelotão para trás. Os tempos obtidos por Hamilton e Heikki Kovalainen nos testes de inverno sinalizam a ruindade do carro. Nota quatro é nota vermelha, abaixo da média, não dá para passar. Hamilton, Haug e o time encostaram na parede e deram o alerta. "Estamos lascados!"
O atual campeão arriscou uma justificativa. A McLaren perdeu muito tempo, em 2008, trabalhando no carro que o levaria a seu primeiro título. Justificativa aceitável. (Embora não faltem sorrisos maliciosos e tiradas sarcásticas, reputando o desacerto do carro deste ano, totalmente novo, à falta das "dicas" escorregadas pelo ex-engenheiro da Ferrari, Nigel Stepney, pivô do caso de espionagem de 2007).
Enquanto a McLaren malhava no carro de 2008, a Honda entregava o campeonato para Deus e focava no modelo de 2009, baseado no novo e altamente modificado regulamento técnico. Ao que parece, o carro da ex-Honda, agora Brawn, nasceu bom, e assombrou o mundo. E o carro da McLaren é um pau torto, que deve morrer torto depois de consumir muita grana dos alemães. Porém...
Até agora, todo mundo correu contra um único adversário - o cronômetro, nos testes de inverno. Não que seja de se jogar fora. Afinal, a brincadeira de mostra-esconde nesse tipo de teste, dos anos anteriores, não faz muito sentido neste ano. Não haverá testes ao longo da temporada, portanto, a oportunidade ali era valiosa. Não tem muita lógica ir tão mal numa ocasião como aquela, para esconder o jogo. De qualquer maneira, a McLaren pode se locupletar do uso do KERS (desde que ele funcione bem, desde que ela consiga compensar o peso da geringonça), equipamento que a Brawn não terá tão cedo. Isso pode fazer alguma diferença?
Durante uma corrida, é provável que sim. Ao acionar o KERS, o piloto ganha velocidade. É como se o carro de Fórmula 1 tivesse sido "tunado", ganhando uma espécie de boost, como um turbo acionado ao comando do piloto. É uma baita novidade na Fórmula 1, embora o princípio seja comum no universo dos transportes (vou escrever mais sobre isso futuramente). E ninguém sabe direito como vai funcionar. De qualquer forma, a McLaren vai usar, e a Brawn não. Mas, ainda na bruma de incerteza que cerca o pré-GP da Austrália, não consigo imaginar que a McLaren vai salvar seu ano com o KERS nem que a Brawn vai perder o seu, sem o difusor da discórdia, caso seja considerado ilegal.
Pouco mais de doze horas nos separam do início do Mundial! Que venha o 60º Campeonato de Fórmula 1!
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2 comments:
Alessandra, ontem procurei responder ao "será?", conforme sugeriu.
Hoje observo um novo post, contendo dados analisados por uma especialista (you!), complementando o tema e as polêmicas.
As respostas serão apresentadas de forma empírica, ou seja, só o experimento prático oferecerá a certeza, durante o campeonato. Mas é muito divertido "brincar" com todas as hipóteses.
Deixo algumas perguntas que ainda não vi respondidas em nenhum blog especializado: se o projeto da Brawn é tão espetacular, por que a Honda desistiu do campeonato? O retorno financeiro que obteria com a certeza de vitórias ou, no mínimo, com o carro no pelotão da frente não justificaria as eventuais perdas ocasionadas pela crise? Afinal, os maiores investimentos já tinham sido contabilizados em 2008. A temporada atual serviria para colher os frutos e contabilizar lucros em marketing. E esses não são poucos. As indústrias automobilísticas não estão lá só por diletantismo.
Além disso, com um projeto tão bom e rentável, não seria muito mais lógico ter contratado ao menos um piloto jovem como Senna ou Di Grassi?
E, por fim, a tão grande demora na sucessão da Honda não se justifica, sendo Ross Brawn uma das mais respeitadas figuras da F1 atual.
Teria, portanto, a Mercedes feito melhor negócio ao fornecer motores para a Brawn GP que para a McLaren, que utiliza as cores do Silberpfeil (flexa de prata)?
Naturalmente, essas são questões para reflexão e nos divertem. Não me atreveria a um comentário com tantos poréns se não soubesse de seu gosto pelo tema.
Abraços.
PS. Obrigado, por sua visita. Discorde sempre que o desejar. O contraditório, nas questões políticas, permite o debate e a constante lapidação de idéias. Suas opiniões serão sempre tratadas com respeito e fruto de liberdade democrática.
O link pro blog da Soninha tá desatualizado.
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