
Notaram a ausência de postagens sobre minhas corridas nos últimos tempos? Não foi falta de escrever sobre elas, não. Eu simplesmente não fazia uma corrida desde o segundo domingo de agosto, quando encarei a Corrida do Centro Histórico. Desde então, minha equipe, capitaneada pelo treinador José Eduardo Pompeu, fez três corridas, e perdi as três por conta da Fórmula 1. Deixei de fazer a Corrida da Paz, no dia do GP da Bélgica, a Corrida das Estações/Primavera, no dia do GP de Cingapura, e a Meia Maratona do Rio, que aconteceu no mesmo dia do GP do Japão.
Lamentei perder todas, especialmente a Meia do Rio. Seria a chance de fazer mais uma meia maratona este ano (fiz uma em abril), além de ter sido uma viagem muito divertida feita pela Equipe Conexão. Durante esse período, não deixei de treinar religiosamente toda semana mas, prova mesmo, necas. Neste domingo, 23 de novembro, voltei a disputar uma prova de rua, e ela veio cercada de desconfiança.
Há pouco mais de duas semanas, senti algo estranho no meu joelho esquerdo, depois de um treino na esteira. Pensei que fosse uma dor de esforço qualquer, que normalmente passa em um ou dois dias, mas a danada ficou. Melhorava com gelo, pomada e, sobretudo, quando eu não corria. Bastava correr que a dor voltava. Nada lancinante, nada que me impedisse de correr. Depois de aquecido o corpo, eu nem me lembrava da dor. O problema era depois. De fato, até agora não sei o que está motivando a dor, e como ela não me inutiliza, tenho treinado. Fui nesse espírito para a Corrida Zumbi dos Palmares, da Corpore, que tradicionalmente acontece no final de novembro, sempre na região do Ibirapuera.
O local é um dos mais bonitos de São Paulo. Largamos em frente à Assembléia Legislativa, corremos em direção à avenida República do Líbano, talvez a minha preferida na cidade, por seu corredor de árvores e por margear o parque. Passamos ao lado do lago e seguimos em direção à avenida Rubem Berta, quase chegando ao aeroporto. Um trajeto simples, com longas retas, e várias subidas e descidas. Nada de arrancar o couro, mas um trajeto desafiador.

No ano passado, com muito calor e largando no fim do pelotão, fiz um tempo que me decepcionou - 53min. Este ano, a organização da prova dividiu os corredores pela expectativa de tempo de cada um. Mandei ver 50 minutos e, com isso, fui parar lá na frente. Uma bela ajuda, pois a largada foi tranquila, ninguém me atropelou e consegui imprimir um ritmo forte desde o primeiro quilômetro.
Cumpri os dois primeiros quilômetros em rigosos cinco minutos cada, coisa rara de se fazer em provas tão concorridas quanto essa, que costuma reunir mais de 10 mil atletas. A partir do terceiro quilômetro, comecei levemente a aumentar a velocidade, de olho no relógio e ligada no joelho. Não sentia nada, vambora.
No primeiro posto de água, uma cena me tocou. Passei direto pelas mesas, pois não estava sentindo sede nem necessidade de me refrescar. No entanto, um senhor, atleta amador como eu, estendeu seu copo de água pela metade, provavelmente achando que eu não tinha conseguido me abastecer. Peguei o copinho e agradeci. Molhei os pulsos e a nuca e lamentei, naquela hora, que provavelmente não encontraria o colega depois da prova para agradecer-lhe novamente. A corrida às vezes me leva a essas divagações e pensei que expressões como "nunca mais" e "para sempre" podem ser um tanto angustiantes. Não sei se vou encontrar o senhor novamente, querido colega, mas saiba que seu gesto me tocou muito. Obrigada, do fundo do coração.
O clima contribuiu bastante, sem sol e até um certo friozinho extemporâneo. Fiz a prova inteira sem sentir nada, nadica no joelho. E o ritmo forte, na casa de 4min50 por quilômetro. Faltando dois quilômetros, tive certeza de que melhoraria muito o tempo do ano passado e não teve erro. Contra os 53min de 2007, 48min48 (correção: pelo tempo oficial da Corpore - 48min42. yeah!) em 2008. E sem dor. Para falar a verdade, o bom tempo obtido foi um bônus. Meu foco, de verdade, era sentir como se comportaria o joelho. E mesmo agora, quatro horas depois de terminada a corrida, não sinto nada.

Por isso, assim que cruzei a linha de chegada, fiz meu tradicional agradecimento mental, acrescentando um nome importante, desta vez. "Obrigada, meu joelho esquerdo!"