Wednesday, February 21, 2007

Mitonaíma

"Feliz ano novo!", "Hoje, o ano começa", "2007 está começando agora"...

Três arghs! do âmago do meu ser para frases do gênero, ditas na quarta-feira de cinzas.

Mas, easy boy!, ainda ouviremos algumas delas na próxima segunda-feira, dia 26 de fevereiro, a primeira segunda-feira pós-Carnaval e, na opinião de alguns, o início real do ano.

Sinto engulhos com essa mania besta por dois motivos. Primeiro, porque definitivamente isso não vale para mim. Tirei uma semana de férias, entre os dias 6 e 13 de janeiro, e já trabalhei à beça desde então. Como meu trabalho pressupõe a atuação de várias outras pessoas - escrever e editar jornais e revistas não é, de maneira alguma, um trabalho solitário - concluo que muitos profissionais estavam trabalhando ao mesmo tempo que eu, em atividades correlatas.

Os clientes fornecendo informações e aprovando textos e layouts, os diagramadores criando páginas, os fotógrafos registrando imagens, os editores de arte finalizando publicações de todo tipo, o pessoal do suporte fechando CDs, os motoboys levando material daqui pra lá, os técnicos gerando provas heliográficas, o pessoal da gráfica rodando páginas. Juntos, fizemos isso várias vezes, entre o começo de janeiro e hoje, quarta-feira de cinzas, na qual já estou trabalhando, tendo a companhia de muitos deles, também já no batente.

O outro motivo que me leva à irritação com essas frases bobas é a perpetuação do mito. A preguiça ancestral de nosso povo. O Carnaval, a folia, o culto ao prazer. Vá à quadra de uma escola de samba, hoje, e pergunte lá se ninguém trabalhou ainda, este ano. E dê um pulinho no Olodum, no Timbalada, nas estruturas dos camarotes do circuito Barra-Ondina e pergunte lá se ninguém fez nada, ainda, este ano. Até para haver o culto pagão, há que trabalhar. E tudo o que se trabalhou na 25 de Março para vender fantasias, e nas agências de turismo, para garantir o pacote de Carnaval dos mais endinheirados, e nas lojas e barracas e junto aos ambulantes, na praia, para assegurar a cerveja gelada, o queijo de coalho na brasa, o chicabom que seu filho lambuzou na bochecha enquanto rolava na areia do Guarujá.

Isso vale para você? Seu ano só começou agora?

15 comments:

Andréa said...

Vixe, meu ano comecou dia 1- trabalhando em casa e dia 2- trabalhando no trampo. Esse papo de soh depois do carnaval tambem me irrita muito (e desde que eu morava no Brasil). Coisa de gente preguicosa MESMO.

Zeca said...

O meu também começou lá em Janeiro! Não no dia 2, pois estava de férias, mas dia 8. Pior do que isso só mesmo em ano de Copa do Mundo e de eleição, como em 2006. "Todos" dizem: "Esse ano não acontece nada, carnaval e Copa do Mundo, já viu! Ainda mais com eleição...". Concordo contigo, que papinho chato!

Anonymous said...

pior que meu ano só vai começar agora mesmo, prestei vestibular, passei e minhas aulas só começam quarta feira (28/02)...
Mas eu também não concordo com essas frases, pra mim esse foi um ano atípico.

Alessandra Alves said...

andréa n.: imagino mesmo que, aí em ny, não cola essa história de dizer que o ano só começa depois do carnaval. na prática, o carnaval marca o fim do nosso verão, aqui no hemisfério sul. então, será que o ano só começa em ny depois de setembro, quando acaba o verão aí? quanta bobagem, né?

zeca: putz, essa de ano de eleição e copa do mundo é outro chute no saco. mais do que pentelhas, essas frases para mim são preconceituosas. mania de ficar reforçando mitos de que brasileiro não trabalha. ou de valorizar apenas o próprio esforço, jogando nas costas dos outros a falta de capacidade de realizar. "vejam, bem que estou tentando, mas o ano não começa antes do carnaval...". sei, sei...

anônimo: ah, bom, estudante em fase de vestibular são outros quinhentos. lá na paleolítico, quando prestei vestibular, também vivi essa situação. estava fazendo provas em janeiro, quando a maioria das pessoas da minha família estava em férias. daí eles voltaram às aulas e ao trabalho e quem entrou de férias fui eu. chato isso. não nasci para outsider. pior foi que, no primeiro ano de faculdade, tivemos uma greve longuíssima e fomos obrigados a repor aulas em janeiro. maldição! dois janeiros seguidos sem férias!

Márcia W. said...

Alessandra,
vocês disseram tudo. Mas para mim a cereja no bolo são aquelas matérias de jornal coladas e copiadas ano após ano com as receitas para desintoxicar o organismo pós-carnaval.

Anonymous said...

Tou trabalhando, e muito, desde 2/1. Essa história pra mim tb não cola.
A Márcia W. lembrou bem das receitas pra desintoxicar que hj atulham os jornais.

Anonymous said...

Sempre esse mito de que o brasileiro é indolente, perpetuado pela nossa "elite" que tanto ama o jeito Miami de ser, que volta e meia elege um FHC e que tem orgasmos lendo um Mainardi ou uma Mriam Leitão. Quando estive nos EUA como professor visitante, via no verão o mesmo que ocorre na UERJ: nenhuma viva alma na universidade, todos de férias ou correndo atrás de outros interesses (consultorias, etc). Irritante essa síndrome de vira-latas que o Nelson Rodrigues tão bem descreveu...

Anonymous said...

buenas dona alessandra!!! saudações tricolores do alto da tabela!!! hé! hé!
olha, acho que tirando aquela meia dúzia de deputados suplentes, que devidamente remunerados passearam pelo planalto central no doce janeiro, e alguns outros afortunados -ou sem fortuna, depende da ótica-, o resto de nós esteve mesmo, este tempo todo, é ralando. Como sempre!!!!

Anonymous said...

Sei lá... Mas que nas considerações após as férias de janeiro pensamos sinceramente no carnaval, a isso sim! O que eu acho uma maravilha. Agora não há ilusões, não há mais nada a fazer até chegar o Natal e o ano novo, quando a maior preocupação será.. O carnaval!

Afinal, tem um monte de gente que trabalha no carnaval o suficiente pra sobreviver o resto do ano!

Vixe, o Nelson Rodrigues é a maior referência entre os reacionários brasileiros, certamente depois da figura global Winston Churchill, o reacionário que salvou o mundo dos Nazistas. O Diogo Mainardi, que já dedicou uma coluna pra defender que o brasileiro gosta de trabalhar a uns 4 ou 5 anos atrás, fica tão a esquerda do Nelson Rodrigues que poderia até militar no PC do B! hehe!

[i]No Brasil, só se é intelectual, artista, cineasta, arquiteto, ciclista ou mata-mosquito com a aquiescência, com o aval das esquerdas.[/i]

[i]Como a nossa burguesia é marxista! E não só a alta burguesia. Por toda parte só esbarramos, só tropeçamos em marxistas. Um turista que por aqui passasse havia de anotar em seu caderninho: — "O Brasil tem 100 milhões de marxistas".[/i]
- Nelson Rodrigues

Anonymous said...

Edu, verdade que o Nelson Rodrigues era um reaça, mas neste caso estava certo. E se o Mainardi tivesse 1/100 do talento dele, seria até tolerável. Mas ele alia o direitismo subserviente a uma mediocridade gritante.

Anonymous said...

Pois é Wagner... Mas o próprio Nelson Rodrigues previu isso, o que esperar de um reacionário num país de 100 milhões de marxistas? (100 milhões na época do Nelson Rodrigues...)

Eu nunca fui de esquerda, é algo instintivo. Mas apesar disso reconheço que durante 20 anos tudo que passou pela minha cabeça analisei pela ótica esquerdista, e sempre encontrava um buraco. As idéias conservadoras por analisarem os problemas olhando para o inidividuo e não pra sociedade, diminuiram o vazio na linha de raciocínio.

Assim o Diogo mesmo não sendo a melhor expressão reacionária cumpre seus objetivos. Um de irritar os militantes da esquerda e o outro de incentivar a busca por novos pontos de vista.

Eu espero sinceramente que isso desvie a discussão de provocações patéticas pro centro das ideologias. Provocação por provocação, o PT tomou a Bahia e no primeiro carnaval a violência aumentou em 30%, isso que dá um partido com tanto defensor de bandido. Mas destruir o dogma esquerdista da relação pobreza e violência de longe dá muito mais trabalho.

Anonymous said...

Só para dar mais um exemplo:

Quando eu era criança aprendi que os conservadores eram contra a escravidão e os progressistas (hoje dito liberais) eram a favor. Eu achei mó engraçado, pois os conservadores não conservavam e os progressistas não progrediam!

De fato José Bonifácio, o patriarca da independência, era conservador e foi o primeiro homem público a se declarar contra a escravidão. Foram os conservadores também que aprovaram a Lei do Ventre Livre.

É muito engraçado ver assim a história, e ver que uns sempre tentam roubar o feito dos opositores. A "ciência" de qual os céticos se arrogam, por exemplo, teve no seu parto a oposição dos próprios céticos.

Os Céticos sujiram na Acadêmia do Platão, assim como o Aristóteles. Aristóteles foi ignorado pelos Céticos, assim ele deixou a Acadêmia. E foi ele que individualmente deu as maiores contribuições para o processo cientifíco.

Anonymous said...

Estou trabalhando direto (e muito) desde que voltei do hospital. Descansei nesta semana do carnaval, porque trabalhei bastante no começo do ano. Esse papo de que o ano só começa depois do carnaval tá virando lenda...

Anonymous said...

Edu, será que a violência na Bahia aumentou de fato no período pós Jacques Wagner ou a mídia local, de propriedade de ACM Corleone, botou a boca no trombone. Eu, sinceramente, fico com a segunda hipótese...

Anonymous said...

Como assim? Quem disse que aumentou em 30% a violência foi a polícia. E o jornalismo não controla a emissão de B.O.s...

Uma boa pergunta seria porque o ódio ao carlismo. Carlismo que colocou a Bahia na frente do RS em importância econômica, enquanto o Olívio Dutra dava as cartas por lá. Aliás, grande parte dos "neo-colonizadores" da Bahia fujiram do RS. Os agricultores da Bacia do São Franciscos, plantando aquelas uvas, etc, são na maioria gaúchos.