Monday, December 10, 2007

The Police e nada mais



Foi um sábado e tanto aquele, a tarde inteira churrasqueando com a turma da equipe de corrida. Não tente procurar lógica nem incoerência. Somos fitness e fazemos churrasco, somos contradições ambulantes. Achei que não agüentaria acordada até o final. The Police na TV, que sono o quê. Olhos grudados na tela, do começo ao fim.

Para começo de conversa, registre-se: Stewart Copeland está velho, Andy Summers está gordo, Sting está lindo. Lindo como sempre, magro e sarado, cabelo um pouco mais ralo, nada que o despeje do Olimpo. Sempre preciso parar para lembrar como é o nome verdadeiro do cantor. Depois lembro. Ah, é Apolo...

Assisti ao show de abertura, com Paralamas do Sucesso, escolha acertadíssima. O trio brasileiro, como o inglês, nasceu da simplicidade espartana do conjunto baixo-guitarra-bateria. Não pára por aí a semelhança. Como The Police, os Paralamas caíram de boca na levada de reggae popularizada pelo trio inglês no final dos 70, começo dos 80. Bom o show do Paralamas, bom ver Herbert Viana, aquela fênix, tocando sua guitarra com a destreza de sempre.

Mas quando The Police assumiu o palco, o frisson deu lugar ao encantamento. Espartanos ingleses, baixo, guitarra, bateria. Nada de metais, de backing vocals, de passarelas que avançam pela platéia, de palcos que sobem, descem, abrem, de fogos de artifício. Sting, Copeland, Summers e um telão. Ou seja, The Police e nada mais. Para quê? O minimalismo do The Police disse tudo.



A voz de Sting pode não ser mais a mesma. Aos 55, com tudo em cima, há que perdoar a falha do famoso falsete. Mas ver Copeland correr da percussão para a bateria, como no início de "The king of pain", foi um show à parte. "Tiozão" Andy Summers nem quis brincar de sair do palco. Depois de "Every breath you take", enquanto os outros dois se refugiavam no backstage para escutar o pedido de bis, o guitarrista nem se deu ao trabalho. Lá ficou e solou, sozinho, anunciando o início de "Next to you".



Sting, que já veio ao Brasil várias vezes, inclusive por causas ambientais - lembram do cacique Raoni? - falou à platéia sempre em esforçado português. Há uns vinte anos, quando esteve por aqui e lançou uma música cantada em português ("Frágil"), Sting deu uma das melhores respostas que já vi alguém perpetrar em uma entrevista coletiva. O repórter do jornal moderninho, em sua pergunta-julgamento, comentou que o português do cantor era sofrível. Resposta de Apolo: "So is your English" ("Seu inglês também"). Toma, papudo!

Os que gostam de criticar costumam maldizer a volta de bandas em suas formações originais. Que não fazem nada de novo, que só estão aí para faturar uns trocados. Não tenho nada a ver com isso. Se já secou a fonte, toquem os velhos hits, não me importo, eu não vi nada disso ao vivo 25, 30 anos atrás. Aliás, quero mesmo os velhos hits, que sei cantar, que me povoam a memória, que me fazem lembrar de mim mesma. E se vão ganhar trocados, ora bolas, é disso que vivem, a música é deles, quem tem mais direito de dar uma faturadinha?

20 comments:

Anonymous said...

Boa, fitnes que churrasqueiam, adorei isto. E sim... Sting ainda parece o Sting do Police, mais velho, mas parece. Os outros dois não se parecem com o Police da capa dos discos. Mas como tocam.
Não consegui ver (um pouco de sono e um pouco de transe) se havia outros musicos no palco junto com eles. Musicos de apoio. Ao que me lembre a unica banda com mais de vinte anos de carreira que tocava sem musicos de apoio era o Queen. E achei este fato muito relevante. Enquanto o Pink Floyd se tornou uma cópia meio vagabunda de si mesma quando voltou, o Police não. Parecia que tinham apenas tirado umas férias pra poder voltar depois com a bateria regarregada.
Das canções não é necessario falar né... Não perderam um só pouquinho de seu brilho original. Apaixonantes.
Ah uma ultima constatação. Antes achava que o Sting era a cara do Mcgiver, aquele do 'profissão: perigo". Assistindo o show na tv perdi esta sensação...

Ico (Luis Fernando Ramos) said...

Eu vi, mas nao o da TV e sim o ao vivo mesmo, lá onde moro. Foi legal demais, mas nao tenho a menor dúvida que o show do Rio foi melhor que o de Viena. Já tive minha banda nos tempos do colégio e é óbvio que o que faz um grande show é um público. No meio de uma turnê gigantesca, é óbvio que o Maraca lotado representa bem mais para os músicos do que "mais uma" arena européia.

Agora eu quero ver o do Led!!!

Anonymous said...

Acho uma chatice essa patrulha em cima de bandas que resolvem voltar depois de desfeitas Ninguém tem nada a ver com isso. E se os shows ficam lotados é porque muita gente gosta ou, como dizem os estrategistas, há mercado para eles. Até porque, também, tem muita porcaria na atualidade.
Se gostaria de ver o Police, Led Zeppelin e tantas outras que fizeram sucesso no passado.

L-A. Pandini said...

No dia seguinte, o jornalista da "FSP" desceu a lenha no show do Maracanã. Mote: "show morno que não fez o público vibrar". Às favas a reação do público! Para mim, qualquer show vale pelas músicas e como elas são tocadas. Nesse aspecto, o show do Police no Maraca foi espetacular.

Você mencionou a resposta (ótima) do Sting ao jornalista brasileiro sabichão. Conheço outra boa do Sting em entrevista. Lá para 1983, algum dos Stones mencionou que não gostava das bandas (então) recentes e completou com uma frase do tipo "ninguém faz nada de interessante no rock há uns 20 anos".

Perguntaram a Sting o que ele achava daquela declaração. Resposta: "Foi infeliz da parte dele. Admitiu que os Stones também não fazem nada de interessante há uns 20 anos. Nós, pelo menos, não fazemos nada de interessante há apenas cinco anos". Tóóóóimmmm...

Anonymous said...

Nota mil pro show !
É claro que algumas coisinhas mudam com o passar do tempo ,agora alguém esperar ao contrario é que não é normal .
Não tenho dó da inveja, acho é bem feito para quem é pobre de espirito.Deve doer muito!

Jonny'O

Anonymous said...

É isso aí, falou e disse tudo. Já que não temos nada de novo e bom neste cenário mediocre, que venham as velhas bandas sempre atuais. Valeu! Ed/BsB

Anonymous said...

Bandas antigas só não fazem sentido em um país sem memória cultural como o Brasil. Não é preciso ir muito longe pra constatar esse fato.Aqui, não é raro ver gênios no ostracismo, pois se privilegia apenas o imediatismo. Somente quando o reconhecimento advém do exterior é que a imprensa nativa parece enxergar legitimidade no artista pátrio. Se não fosse ter cantado com Sinatra,Tom Jobim teria fim de carreira em barzinhos cariocas... Se não fosse um americano, o Tom Zé teria parado de cantar, e assim por diante.
Lá fora, clássico é clássico, não tem idade. cobrar de uma banda uma performance no mesmo nível de 30 anos atrás é de uma tolice sem propósito! Momentos assim, como a Alessandra bem disse, são para recordarmos, sentirmos velhos sentimentos sob a roupagem da experiência, assim como se revê fotos de velhos álbuns em tardes de domingo. Infelismente, alguns jornalistas culturais não sabem o que é sentimento poético, não sabem aprofundar-se no mistério das realções humanas, e vivem aferrados aos dogmas Uspianos, Folhianos etc. Síndrome de Paulo Francis: na falta do que falar, criticar, polemizar... deveras, Antônio Cândido não teria vez na redação da grande imprensa atual.

Anonymous said...

Ah sim! Um ultimo pitaquinho sobre esta parte dos que criticam as bandas por se reunirem só para ganhar uns trocos... O Iron Maiden, que eu gosto bastante se reuniu com sua melhor formação. E nos shows privilegiam as musicas novas, dos novos discos... Porém a galera só se empolga com os velhos hits. Sintomático? E Ico, que pena, foi só aquele show. Não vamos ter o prazer inenarravel de ouvir Plant cantar 'Since I´ve been loving you' e ficar emocionadissímo quando ele gritar:
"Don't you hear, Don't you hear them falling".,

Fabio said...

Eu já posso deixar de encarar o The Police como aquela banda que sempre ouvi mas que era do tempo dos meus pais, digamos assim. Fui no show e foi bom demais!!! Os 3 estão na mais perfeita forma, caramba. Já assisti Deep Purple, Roger Waters... que são mais velhos, tudo bem, mas sempre deixam claro que os tempos são outros, a jovialidade se foi. No sábado aqueles caras arrebentaram o Maracanã. Difícil explicar o que é... enfim, o Sting canta muito. Sobre o Olimpo eu não sei.

Abraço!
Fabio Cascardo

Anonymous said...

Alê, mudando de personagem, mas não de tema (a música), você falou do Andy Summers, que nem saiu do palco e me lembrei de uma história bem engraçada, mas do Itamar Assunção.

Há alguns anos meu pai tinha uma pequena casa de shows, focada em música brasileira. Era um espaço bem intimista, pra não mais que 80 pessoas. E o Itamar era figurinha carimbada, dava shows lá direto, aliás, shows fantásticos que tive a oportunidade de assistir.

E o homem, grande músico mas de uma simpática rabugice e acidez de humor imensas, sempre que chegava na hora do bis, dizia com aquele seu jeito atropelado dele:

- Vocês já sabem que eu vou sair, eu vou ficar atrás daquela porta esperando vocês baterem palma, eu vou voltar e sentar nesse mesmo banco que eu já tô sentado, com cara de surpresa. Então, vamos acabar com essa hipocrisia, eu vou ficar aqui mesmo e daqui em diante vocês já sabem que eu tô tocando o bis e depois vou embora.

E tocava mais duas ou três músicas espetaculares e se mandava, invariavelmente debaixo de muitos aplausos e risadas.

Faz uma falta tremenda esse cara, uma figuraça, puta músico, um dos grandes letristas e compositores brasileiros, com um reconhecimento público muito distante do merecido. Não sei se você curte, mas se sim, um dia merece um dos seus posts musicais.

E falando em corrida, vai fazer a São Silvestre esse ano?

Abraços,


Teo

André Gonçalves said...

chamei os amigos. preparei o ap. comes e bebes. teresina, bem longe do maracanã, mas bem perto do Police pelo Multishow. Paralamas, bom show. entram Sintg e cia. Em Teresina, desaba uma tempestade. Só deu temp de ouvir uns 3 ou 4 acordes. caiu o sinal. choveu durante uma hora e meia. acabou. o sinal voltou. edgard dava tchau e o police tocava a última música. nós merecemos, sinceramente, anticlimax. cerveja preta a balde, e sting no cd. patience.

Gabriel Pandini said...

Nossa o Police foi sensacional não é mesmo?
Seu blog é lindo e adoro seus posts mãe você é de mais e vou sempre te visitar no seu blog se quiser.
Beijos mágicos
Gabriel

Gabriel Pandini said...

Nossa o Police foi sensacional não é mesmo?
Seu blog é lindo e adoro seus posts mãe você é de mais e vou sempre te visitar no seu blog se quiser.
Beijos mágicos
Gabriel

Gabriel Pandini said...
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Alessandra Alves said...

ron: dois gatos, sting e mcgyver. claro que o sting não parece mais o mcgyver. perdeu bastante cabelo...

ico: o público do maracanã pareceu super empolgado mesmo. não sei de onde o repórter do jornal viu pouco entusiasmo. no espelho, talvez?

herik: bem lembrado. a mídia desce a lenha, mas o shows lotam. engraçado isso.

pandini: não conhecia essa outra história. é de uma lógica irrepreensível!

jonny´o: sabe aquela história de crítico que, na verdade, é músico frustrado? pois é.

ed: ah, eu sou doida pelos velhos. que venham, sempre!

fabrizio: o brasil é muito autofágico, se destrói a si mesmo, sei lá o que é isso, se falta de auto-estima, de educação ou o quê. os mutantes, mesmo, voltaram primeiro fazendo show no exterior. se não tivesse pintado aquele evento comemorativo à tropicália em londres, será que haveria outra
ocasião para eles se reunirem?
ron: putz, esse show do led... só para 18 mil pessoas? ah, que dó...

fabio: obrigada pelo relato! bom de ouvir de alguém que estava lá.

teo: fica a dívida - escrever sobre benedito joão dos santos silva beleléu, vulgo nego dito, o grande itamar assumpção. eu não conhecia essa história do bis, maravilhosa! ele era sensacional, a melhor coisa daquela vanguarda paulistana (ele, que de paulistano não tinha nada, como muitos daqueles, aliás). prometo que retomo.

andré: rapaz, que anticlímax! tomara que reprisem, uma hora vão reprisar. minha solidariedade!

gabriel: the police é sensacional, como vários outros músicos, não é mesmo? volte sempre que quiser!

Anonymous said...

Ainda não vi o show do The Police no Rio, mas um amigo meu gravou e eu certamente verei. Uma reunião como essa sempre vale a pena, ainda mais no Brasil, onde a platéia é sempre mais empolgada. Alessandra,vi o Rush em Toronto (mais um dos trios de simplicidade espartana, apesar do vocalista-baixista ser também tecladista) e escrevi um review para uma revista daqui. Publiquei no meu blog, dá uma olhada lá! tuvuca.blogspot.com

Abraços

Anonymous said...

Ainda não vi o show do The Police no Rio, mas um amigo meu gravou e eu certamente verei. Uma reunião como essa sempre vale a pena, ainda mais no Brasil, onde a platéia é sempre mais empolgada. Alessandra,vi o Rush em Toronto (mais um dos trios de simplicidade espartana, apesar do vocalista-baixista ser também tecladista) e escrevi um review para uma revista daqui. Publiquei no meu blog, dá uma olhada lá! tuvuca.blogspot.com

Abraços

niltonhc said...

Alê, como não tenho seu e-mail estou te mandando a mensagem por aqui: as fotos que tirei na corrida deste domingo estão no endereço http://niltonhc.spaces.live.com no álbum "Circuito das Estações 2007 - Verão". Em outro álbum neste mesmo site tem as fotos do churrasco.

Bjs.
Nilton

Alessandra Alves said...

Nilton, super obrigada! Já estão no ar! Depois a gente troca e-mails, beleza?

Anonymous said...

Olá..
bem...THE POLICE.....EU FUI!!!!!
Chorei algumas vezes.Eles estavam perfeitos!
Beijos e ótimo 2008 para todos!
Gaby