Thursday, August 16, 2007

O bode na sala

A atual temporada de Fórmula 1 tem levantado muitas comparações com o campeonato de 1986, um dos mais disputados de todos os tempos. De fato, naquele ano, como neste, quatro pilotos alternaram-se na liderança: os dois da Williams (Piquet e Mansell), um da McLaren (Prost) e um da Lotus (Senna). Este último tornou-se carta fora do baralho depois do GP de Portugal, antepenúltima corrida do ano. Na última, em Adelaide (Austrália), os três primeiros ainda mantinham suas chances.

Apesar de ser a melhor equipe e de vencer o Mundial de Construtores com folga, a Williams perdeu o título de pilotos para Prost, sendo que o inglês Nigel Mansell precisava apenas de um terceiro lugar para sagrar-se campeão na última corrida. Só que abandonou, com um pneu estourado. A disputa interna na Williams é reputada, por muitos, como uma das fortes razões para a perda do título. Isso tudo se parece muito com 2007. A McLaren também enfrenta uma luta fratricida entre Alonso e Hamilton, o que pode dividir as forças. Diferença significativa está no fato de que, do outro lado, entre os postulantes ao título, estão dois pilotos de uma mesma equipe – Raikkonen e Massa, separados na tabela de classificação por apenas um ponto.

Mas há uma referência bem mais recente de um título disputado até a antepenúltima corrida por quatro pilotos. Foi na temporada de 1999, que marcou o bicampeonato de Mika Hakkinen. Até o GP da Europa, disputado em Nurburgring, além de Mika, disputavam o título seu companheiro na McLaren, o escocês David Coulthard, o irlandês Eddie Irvine (Ferrari) e o alemão Heinz-Harald Frentzen (Jordan). Coulthard e Frentzen deixaram de ter chances após a corrida seguinte, na Malásia. Os dois remanescentes desembarcaram no Japão com chances de conquistar o campeonato, sendo Irvine o líder até então.

O que aconteceu de especial nesta referida temporada?



Michael Schumacher sofreu um forte acidente no GP da Inglaterra, bem na metade da temporada. Ficou fora de seis provas, voltando no GP da Malásia, como mero consorte de Irvine. Na primeira parte do campeonato, Schumacher havia obtido duas vitórias, um segundo e um quarto lugares. Ns duas últimas provas do ano, conseguiu dois segundos lugares. Ou seja, estaria na briga pelo título. Mas ficou fora, e o campeonato, com sua ausência, foi ultra-disputado.

Coincidência ou não, é na primeira temporada sem Schumacher que a competitividade volta com força na Fórmula 1, novamente com quatro pilotos brigando pelo título. Não vou discutir se o alemão é ou não o maior piloto de todos os tempos – cansei, tô cansadinha disso... Mas não posso deixar de reparar que a saída dele fez bem para a Fórmula 1. Schumacher era o bode na sala da Fórmula 1.

9 comments:

Anonymous said...

Uma coisa que pode fazer a F-1 voltar a empolgar o público são as recomendações desse tal Overtaking Working Group, revelado pelo Fábio Seixas esta semana, e que pretende mudanças aerodinâmicas dos carros para melhorar a possibilidade de ultrapassagens.

Porque, por mais disputada que esteja esta temporada, GPs que se decidem só em três momentos (treino, largada e pit stop) não estão com nada.

Anonymous said...

O Alemão tinha uma vantagem por ser o primeiro piloto da equipe ,esta vantagem seria esmagadora este ano ,realmente.
E digo que seria o primeiro piloto por merito proprio,na minha opinião.Só que ai seriam três pilotos brigando pelo titulo e assim 2003 entraria na comparação.

Jonny'O

Alessandra Alves said...

marcus: falou e disse. ouvi exatamente essa explicação há poucos dias, de um ex-entusiasta de fórmula 1 que se desencantou justamente por essa falta de ultrapassagens.

veja a crueldade. estamos comparando 2007 com uma temporada, a de 1986, que assistiu talvez a mais bela ultrapassagem já feita na fórmula 1, pela liderança de uma prova (piquet sobre senna, na hungria). neste ano que empurramos com a barriga, tivemos uma - uma! - ultrapassagem que valeu liderança e vitória (alonso sobre massa, em nurburgring).

jonny´o: ah, como eu gosto dos meus leitores! eu penso, eles escrevem. cheguei a pensar nessa questão do schumacher como primeiro piloto absoluto, de como isso teve influência nesses anos todos. mas adivinhei que alguém iria mencionar. touché!

e é isso mesmo. schumacher fazia valer sua condição de primeiro piloto, sabia agregar o time em torno dele, mas inegavelmente isso reduzia a competição, porque de cara já eliminava um postulante, no caso, o próprio companheiro de equipe.

Anonymous said...

O problema é que o Schumacher sempre foi um piloto muito superior ao resto da concorrência, tipo um Pelé. Ele se fosse marqueteiro (ao invés de profissional sério) seria considerado hoje o maior piloto da história pela maioria, pois o que vale mesmo no mundo é o que a mídia diz e não a realidade dos fatos.

Wallace Michel

L-A. Pandini said...
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Anonymous said...

wallace: mas, vem cá. será que a gente não tem uma visão distorcida por "ler" o schumacher pela mídia daqui, do brasil? é certo que ele não é nenhuma unanimidade mundial, mas a imprensa daqui fomentou um ódio implacável pelo alemão. primeiro, por ele ter "tomado o lugar do senna". depois, por ter sido "o tirano que imolou barrichello na ferrari". eu concordo com o seu ponto de vista, o schumacher sempre se preocupou mais em vencer do que em se mostrar um grande esportista, um herói, um salvador. mas acho que a nossa visão é meio turva em função do senso comum que se criou em torno de schumacher.

Anonymous said...

Tenho essa visão das coisas também. Mudando um pouco de assunto, vou sintonizar a Rádio Bandeirantes aqui no meu PC para ouvi-la comentar a prova da Turquia da F1. Boa sorte e que seja a primeira de muitas transmissões.

Um beijo.

Wallace Michel

Marcog "unoturbo" Oliveira said...

A expressão "bode na sala" está em alta ultimamente por causa de uma propaganda de bebida.

Se pararmos pra pensar, tem MUITA relação com a situação da Ferrari.

O "bode da sala" foi substituído pela "geladeira" de SKOL... :)

... se bem que devem estar com uma saudade do bode lá em Maranello...

Alessandra Alves said...

marcog: pois você acredita que só ontem eu vi essa propaganda? assisto muito pouco à tv e só vi ontem por causa do intervalo do futebol.

mas a "geladeira", ao que consta, parece preferir destilados. se bem que, caso o gorila fotografado seja mesmo o finlandês, pensando bem ele estava com uma garrafa de cerveja na mão, o que me leva a concluir que esse kimi é um legítimo total flex!