Fazia tempo que não falávamos de Mutantes por aqui. Pudera, os Mutantes estavam fora, excursionando pela América do Norte e pela Europa. Nesse meio tempo, saíram coisas interessantes sobre essa turnê, como este testemunho bastante revelador publicado no Blog do Bart, que motivou uma das perguntas da entrevista abaixo. Empolgado – com justíssima causa – ainda fora do Brasil, o baterista Dinho Leme me mandou a versão on line de uma reportagem muito elogiosa do New York Times.
Terminado o périplo, consegui finalmente entrevistar Aluizer Malab, o empresário dos Mutantes. Se você perguntar a Sergio Dias o que possibilitou a volta do grupo, mais de trinta anos depois, a resposta é habitualmente a mesma. “Foi uma mágica”, diz, esotérico. Pois então, se foi mágica, os poderes sobrenaturais pertencem a Aluizer Malab, que foi quem juntou todos os ingredientes dessa poção.
Mineiro, estabelecido em Belo Horizonte, Aluizer é empresário do grupo Pato Fu, além de já ter produzido uma pá de shows nacionais e internacionais e organizado eventos como o Eletronika – Festival de Novas Tendências Musicais. Nesta entrevista, ele explica como aconteceu a aproximação dele com o que tinha restado dos Mutantes e como eles se tornaram Mutantes novamente.
Algumas perguntas ficaram maiores que algumas respostas. Releve-se. É uma paulista que fala muito entrevistando um mineiro. Talvez, a resposta mais curta de Aluizer seja a que me deixa mais feliz, quando pergunto se podemos esperar material inédito dos Mutantes.
Já disse a ele pessoalmente e vou continuar dizendo, talvez até o fim da vida, que sempre me faltarão palavras para agradecer a enorme felicidade que vivi no dia 6 de março de 2007, quando vi Mutantes ao vivo pela primeira vez. Mas agradeço mesmo assim, e agora agradeço também pela gentileza com este humilde blog.
Senhoras e senhores, com vocês, o homem que fez acontecer, o mago Aluizer Malab.
Alessandra - Os Mutantes acabam de voltar de uma turnê pelo exterior. Desde que voltaram a se reunir, esta é a terceira viagem para fora do Brasil, ou seja, os Mutantes tocaram mais no exterior do que aqui. Por quê?
Aluizer - Na verdade, não tocaram mais fora. A turnê brasileira começou em fevereiro. O primeiro show foi aberto no aniversário de São Paulo e, em fevereiro, começamos a percorrer o Brasil, pelo Rio de Janeiro. Interrompemos o trabalho para aproveitar o verão no exterior. Agora, retomaremos o Brasil.
Alessandra - Como tem sido a receptividade do público estrangeiro aos Mutantes? Boa parte dos shows lá fora tem ocorrido em festivais, junto com outras bandas. Essa comparação imediata é boa para os Mutantes?
Aluizer - A receptividade tem sido maravilhosa, de público e imprensa. Tentamos aproveitar ao máximo o período fora. Por isso, os festivais, mas são muitos shows somente dos Mutantes, também. A banda está na ativa e não vejo porque ficar fora desses festivais. Temos feito shows com vários grupos também importantes. Há uma vantagem enorme de público e mídia nos festivais.
Alessandra - E qual tem sido a repercussão junto à mídia no exterior?
Aluizer - Os Mutantes têm sempre amplo espaço. Em Nova York, por exemplo, tivemos duas grandes matérias no New York Times, sendo uma capa.
Alessandra - Os Mutantes voltaram, em 2006, com um CD e um DVD gravados ao vivo em Londres. Voltaram em uma época de evidente crise do mercado fonográfico. A repercussão da volta dos Mutantes foi grande na mídia. Mas e em termos de vendas? O CD e o DVD venderam bem ou os Mutantes são como aqueles artistas da Vanguarda Paulistana dos anos 80, como Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção, que muita gente ouviu falar, mas pouca gente ouviu cantar?
Aluizer - Dentro da realidade atual do mercado, vendeu bem. O CD e o DVD saíram no início de dezembro e terminaram o ano como os mais vendidos. O lançamento aconteceu neste ano nos EUA e na Europa também. No geral, está bem e sendo trabalhado ainda.
Alessandra - Nos shows realizados no Brasil, é evidente a presença de jovens na platéia, talvez até de forma mais numerosa que o público mais velho. Isso se repete no exterior? A que você atribui essa veneração de alguns jovens pelos Mutantes?
Aluizer - Em geral, o público é mais jovem. No exterior, jovem e gringo. O público jovem teve um contato com o mito e não com a banda na ativa. Essa volta provocou grande curiosidade. Tem muito ídolo dessa garotada que idolatra Mutantes, como foi o caso do Kurt Cobain.
Alessandra - Na continuação da pergunta anterior: parece natural que as gerações jovens queiram ver Mutantes ao vivo, tocando clássicos do passado que nenhum de nós, com menos de 40, pôde ver. Mas e daqui pra frente, não é natural que esse público tenha expectativa por coisas inéditas? Podemos acalentar esse sonho também?
Aluizer - Sim. Eles estão de volta...
Alesandra - Gostaria de retomar um pouco essa "mágica" que proporcionou a volta dos Mutantes. Você poderia dizer em que medida o lançamento do CD de inéditas do Arnaldo Baptista, produzido pelo John Ulhoa, do Pato Fu, facilitou essa volta, já que você também é empresário do Pato Fu?
Aluizer - Como tinha produzido o CD do Arnaldo junto com o John e Rubinho Troll, recebi um convite para o Arnaldo fazer uma apresentação no evento da Tropicália de Londres, onde eles se apresentaram a primeira vez nessa volta. A partir deste convite veio um segundo para os irmãos Dias Baptista. Depois de entrar em contato com o Sergio, procurei os outros. Acabamos fechando com três Mutantes. Aí deu certo.
Alessandra - E ainda Pato Fu: muita gente sempre identificou traços inequívocos de Mutantes na banda mineira, inclusive no vocal da Fernanda Takai. Com a negativa da Rita Lee em participar do revival, parecia coerente tentar a Fernanda como vocalista nos Mutantes. Houve essa opção? Por que não aconteceu?
Aluizer - Não chegamos a fazer o convite. Era um nome dos mais cotados, mas Zélia fez uma visita antes e acabou ensaiando e deu muito certo.
Alessandra - Há quarenta anos, Mutantes eram três jovens músicos de São Paulo, que depois viraram cinco. Hoje, são dez. Essa "encorpada" na banda proporcionou que os Mutantes fizessem ao vivo coisas que não conseguiam antes, como Dom Quixote e Caminhante Noturno, que têm arranjos elaborados e que não se prestavam à formação enxuta de antes. Como essa banda nova foi formada? Você poderia dizer de onde vieram, e pelas mãos de quem, cada um dos jovens músicos incorporados ao grupo?
Aluizer - Basicamente sugerida pelo Sergio. Indiquei Simone Soul para a percussão.
Tuesday, August 07, 2007
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3 comments:
O detalhe, Alessandra, é que estas músicas citadas em sua última pergunta foram executadas em Festivais - Caminhante Noturno no FIC de 1968 e Dom Quixote no evento da Record, no mesmo ano. Com "grande orquestra", como era no caso destes eventos, era possível ao grupo se apresentar com os arranjos escritos por Rogério Duprat. Mas nos shows do grupo, aí o buraco era bem mais embaixo.
Naqueles tempos de pobres recursos tecnológicos 'ao vivo', este foi também um dos principais motivos que levaram os Beatles a abandonar os palcos... hoje, Paul McCartney consegue inserir, com extrema competência e riqueza de detalhes, musicas como Eleanor Rigby e Magical Mistery Tour ao seu setlist.
saco de gatos e marcio gaspar: como os comentários de vocês têm o mesmo teor, respondo a ambos. esse é o tipo de situação que me faz otimista, pensando que nem tudo, no passado, era melhor, como repetem os saudosistas. vejam que meu comentário restringe-se à questão dos recursos de som, não à qualidade dos mutantes ontem e hoje, OK? obrigada!
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