Na última segunda-feira, a Honda apresentou o carro que vai utilizar no Mundial de Fórmula 1 deste ano. O impacto causado pelos japoneses é justificável: os novos Honda trazem a imagem do planeta Terra, como visto do espaço. Sem nenhum logotipo ou nome de patrocinador (pelo menos, por enquanto), os carros trazem apenas um endereço virtual. Este site tem por objetivo atrair a atenção de outras empresas ou iniciativas para a questão ecológica.
Em tempos de intensos debates sobre aquecimento global e tudo o mais que cerca o tema ecologia, a Honda não poderia ter encontrado melhor forma de mostrar-se ao mundo como empresa engajada. Antes de parecer que é tudo apenas e tão somente marketing, cumpre-se informar que a Honda tem um longo histórico de pesquisa e desenvolvimento de produtos ditos "ecológicos", como aliás outras montadoras asiáticas. Recentemente, um estudo apontou os doze carros mais amigáveis com o meio ambiente. O primeiro colocado foi um modelo Honda (no total, foram nove japoneses e três coreanos - Ásia 10 x Resto do Mundo 0).
Ao utilizar a Fórmula 1 como veículo de conscientização, a Honda transfere para a categoria um princípio largamente difundido entre as empresas nos últimos tempos, a sustentabilidade. Esse conceito se apoia em um termo que consultores e especialistas costumam chamar de "triple bottom line" (ah, as maravilhas da linguagem corporativa e seus termos em inglês...). O nome é pomposo, mas a idéia é simples. Não adianta quererem ganhar dinheiro à custa de explorar pessoas e destruir a natureza, porque pessoas exploradas e natureza destruída geram uma droga de sociedade que não consome nada e não te deixa ganhar dinheiro. Dinheiro, pessoas, natureza. Ecoomia, sociedade, meio-ambiente, eis o "triple bottom line".
Tomara mesmo que a maioria das empresas esteja consciente de que a fórmula é essa. Se não resolver todos os problemas do mundo, pelo menos não atrapalha. Mas tem um dado incontestável nisso tudo. Ser e, principalmente, parecer engajado com esses preceitos é um marketing poderoso. A empresa que investe em responsabilidade social e, sobretudo, divulga isso aos quatro ventos, ganha a simpatia de uma parcela cada vez maior de consumidores. Belo marketing da Honda, ou não?
O Mundial de 2007 já pode ser considerado o campeonato mais socialmente responsável de todos os tempos. Antes que a Honda surgisse com seu eco-carro, a McLaren-Mercedes já havia anunciado a estréia de Lewis Hamilton, o primeiro piloto negro da categoria. Que fique claro: Hamilton não chegou à Fórmula 1 por ser negro, mas por ser bom piloto. De qualquer maneira, a inclusão de pessoas de várias etnias é outra ação bastante valorizada nas corporações globais, promovendo a diversidade (e nesse termo entram também as campanhas de inclusão de mão-de-obra feminina, de portadores de necessidades especiais etc.).
Bom ou ruim para a Fórmula 1 embarcar no marketing do politicamente correto? Patologicamente otimista, acho bom. Ainda que seja mais marketing que ação, não deixa de ser uma ferramenta para despertar pessoas, em todo o mundo, sobre questões relevantes do nosso tempo.
17 comments:
Concordo com você. Independente da intenção que leva a essa iniciativa, o importante é manter a questão da ecologia em evidência, fazer com que as pessoas pensem a respeito.
Quanto ao carro, eu fico imaginando o efeito que essa pintura vai ter na pista. Será que vai ser tão bonito quanto no ambiente da apresentação? Acho que vai ficar meio estranho.
Ainda nesse assunto das cores dos carros, vendo as fotos dos treinos ainda não consegui me acostumar com as novas cores da Renault, sei lá, parece que a equipe fica meio sem identidade...
Abraços.
Espero q não fique só na intenção. Pois o nosso querido planetinha azul está realmente precisando de cuidados, atenção e amor.
Se isso se traduzir em outras iniciativas, que levem a uma maior conscientização com o meio ambiente acho ótimo.
A melhor abordagem que eu li sobre este novo conceito (na F1...) iniciado pela Honda. Parabéns pelo texto.
Parabéns Alessandra,
Captou e transmitiu muito bem o que se passa nos ambientes empresariais do mundo a fora e que, a partir da ação da Honda, será também exposta por outras empresas e montadoras.
Parabéns pelo texto.
Abraços,
Bom Alessandra ,depois de fazer largos elogios a vc no blig do Gomes vou ser um pouco do contra sobre sua coluna.
Não que eu seja contra qualquer movimento ambiental ,pelo contrario,mas essas apelações marqueteiras me deixa maluco, claro que foi uma puta jogada da Honda ,chamou atenção,os blogs estão comentando,até ai tudo certo ,palmas para eles,funcionou.
Pra mim fica sempre a sensação de oportunismo e superficialidade sobre o assunto,que é serio e
urgente ,tomara que eu esteja totalmente enganado.
E o carro ficou muito feio!
Jonny'O
Oi Alessandra...
Concordo com o teu texto. Creio tambem que a Honda teve uma ideia genial com essa campanha para '07. Entrei no site que esta no aerofolio traseiro do carro. A coisa funciona mais ou menos assim... Voce faz uma doacao (em British Pounds, a moeda mais valiosa do planeta... Ta quase 2 pra 1 comparando com o dolar), e a Honda coloca teu nome no carro (minusculamente, eh claro...) junto com a opcao ecologica de seu interesse, tal como compartilhar o carro, desligar a agua enquanto escova os dentes, etc...
Ai que esta a tacada de mestre... Quem que nao gostaria de ver seu nome estampado num carro de F1, mesmo que minusculamente e por uma corrida? Os caras te enviam depois uma fotinho da parte do carro aonde esta o seu nome.
Na minha opiniao, a Honda vai arrecadar horrores com essa pratica.
Agora, se essa bufunfa vai toda para doacoes e projetos ambientais, nuca saberemos... Mas que foi uma baita ideia e uma iniciativa louvavel, isso foi...
Abraco!
Alessandra,
Gostei muito do seu post! Concordo com todas sua colocações mas tenho uma informação complementar que até foge um pouco do tema central.
Me refiro à sua citação sobre Lewis Hamilton. Concordo "gratuitamente" no que disse que Hamilton chegou à F1 pois era bom piloto, tanto que na GP2 ganhou de uma de nossas maiores promessa que atualmente também está na F1, Nelson Piquet Jr.. Mas, onde quero chegar?
A F1 (entende-se Ecclestone) não perde uma oportunidade de promoção.
um leitor aqui do blog também achou total jogada de marketing da Honda, acho que não é nem tanto ao céu e nem tanto à terra. Mas que o Hamilton está sendo "explorado" isso é fato. Por, exemplo, pouquíssima gente sabe que Kimmi Raikkonen quebrou todo um protocolo para entrar na F1. Saiu diretamente do Kart e sentou num F1. Sem passar pelas categorias de base. Isso não dá Ibope...
O Hamilton chegou lá e era questão de tempo um negro fazer isso já que alguns negros estão se interessando mais pelo esporte mas, há uns 10 anos atrás, era raríssimo encontrar um negro treinando num kartódromo. Hoje isso é mais comum.
Em termos empresariais, a Honda está correta. Mas se realmente se preocupasse com o meio-ambiente ela diria: não comprem carros, andem a pé ou no máximo de bicicleta de pneus biodegradáveis. Talvez o controle populacional seja a única maneira real de conter a degradação do meio ambiente. Lalalá.
Terceiro parágrafo, última linha: Ecoomia.
Muito embora eles ainda usem os mesmos pneus, combustível e demais componentes das outras equipes, já é um começo.
Pelo menos doei uma libra e terei meu nome no carro.
Não sei de outra equipe que permita um patrocínio tão em conta.
oi alessandra, bom dia!!!
que beleza de pintura ficou este carro, não é mesmo? gosto daquele tom azulesverdeado.
quanto a idéia, hoje mundialmente em difusão, de se fazer algo, o que quer seja, em prol do meio ambiente, e com isso ainda poder faturar algum, acho perfeita. ajude o planeta e fique rico. ajude a salvar o globo de nós mesmos e embolse um zilhão. perfeito!!!! quer notícia melhor do que essa, neste ambiente capitalista que nos permite tirar uma única semana ao ano para férias com a família? ganhar dinheiro para ser bom, honesto e saudável!!!
deveriamos ter descoberto isso antes, pois talvez o estrago fosse menor...
Marketing é sempre polêmico, muitas vezes irritante... mas é aquela coisa, às vezes é bom usá-lo como ferramenta para atingir bons propósitos. É claro que algum marqueteiro esperto da Honda percebeu que seria uma boa forma de ganhar dinheiro, mas por outro lado, por mais que seja apenas jogada de marketing, de alguma maneira isso pode tocar a cabeça das pessoas. E o importante é o despertar de consciências, seja de que forma for. Por isso é louvável a atitude da Honda na F1, mesmo que pareça contraditória com o intuito de uma fabricante de veículos motorizados responsáveis pelo estado atual do planeta.
Essa atitude da Honda com essa campanha lembra um pouco também a moda atual de "neutralização". No meu blog, escrevi isso: "É também um passo ainda pequeno diante de tanto estrago. Como os próprios estudos indicam, mesmo que as emissões de poluentes parassem por completo neste instante, o planeta ainda precisaria de séculos para se recuperar (se é que se recuperaria). Mas é ao menos uma forma de fazer com que as pessoas tenham consciência de que algo deve ser feito. E plantar árvore está ao nosso alcance, cada um de nós pode ao menos plantar uma (tem até aquela história de que uma vida está completa quando se tem um filho, escreve um livro e planta uma árvore). É bem verdade que vai faltar espaço para tanta árvore no mundo, mas é importante a atitude, o gesto. Então antes um pequeno passo, um de cada vez, do que uma paralisia diante do desastre".
É bem por aí... e desculpe o tamanho do comentário
Comentário pragmático:
O carro anda?
Se andar, aumenta (e muito) a publicidade. Sem falar nos possíveis desdobramentos futuros em termos de Publicidade na F1.
Bem, saberemos dentro de alguns dias...
Com todo respeito que eu tenho pela Honda, sincero, não me canso de pensar o porque ela fabrica motos no Brasil que poluem por vários carros.
A gente adora chamar os americanos de idiotas por causa de legislação dos SUV. Temos razão em tripudiar os americanos nesse aspecto, mas não reconhecemos que somos idiotas em relação as motos. Ainda a questão fica na mão de um lobby, dos fabricantes de catalisadores. A moto não poluí porque não tem catalisador, ela poluí porque é refrigerada a ar. E isso não é emissão somente de CO2, é emissão de CO, um gás venenoso.
Os motores refrigerados a água também reduziriam o problema de poluição sonora que elas causam. As motos ficariam mais caras, bem mais caras, mas não sei quanto. Em compensação haveria um aumento na eficiência do motor, mais potência e menor consumo, além dos benefícios ambientais. Não custava muito por na balança.
valéria mello: também estou curiosa para ver o carro na pista. acho que vai "sumir" no asfalto, mas até lá, a honda já terá aparecido bastante, cumprindo seu objetivo, concorda?
sobre a renault, parece que ela é a unanimidade da pré-temporada: ninguém gostou da nova pintura. o azul da mild seven foi muito marcante nos carros franceses nos últimos anos. foi um susto comparável a ver a mclaren sem marlboro, no final dos anos 1990, com a diferença que os ingleses acertaram em cheio com aquele carro, patrocinado pela west.
valeria: penso como você.
jansle: muito obrigada, e seja bem vindo!
augusto roque: seja bem vindo você também, e obrigada pelo comentário!
jonny´o: eu realmente acho que algo bom na essência não pode ser ruim. ou seja, conscientizar pelo meio ambiente é bom, então não pode ser ruim falar sobre isso. a intenção que se esconde por trás pode até ser oportunista, mas o efeito é positivo, então apóio. mas, naturalmente, respeito sua opinião e não vamos brigar por isso, mano!
rafael: putz, quantos dados interessantes você acrescentou, obrigada! e, olha, ainda que a honda arrecade um montão com isso, eu não duvido que ela reverta tudo para campanhas ecológicas porque, como bem lembrou o flavio gomes em sua coluna desta semana, o investimento em fórmula 1 é "dinheiro de pinga" para as montadoras. é tudo, em resumo, uma imensa campanha de marketing, a fórmula 1 inclusive.
anônimo: quem é você, apareça! bem lembrado o kimi. sabe, na minha opinião, por que não se fala mais sobre sua meteórica carreira? uma história como a dele tem potencial para esvaziar terrivelmente toda a estrutura que circunda as tais categorias de acesso. o piquet falou, certa vez, que tudo o que se faz entre o kart e a fórmula 1 só serve para estragar o piloto!
sucrilhos: obrigada pela correção! talvez tenha mesmo um pouco de hipocrisia ou de consciência pesada dessas empresas. mas ainda acho que é melhor fazer do que não fazer.
thiago: parabéns, novo patrocinador da fórmula 1. de repente, a moda pega, né?
mario lago: ah, meu amigo, nunca é tarde para o ser humano descobrir que o paraíso está logo ali, na outra esquina...
rogério: fique à vontade para escrever quando e quanto quiser. seja bem vindo! essa tendência é mesmo crescente entre as empresas, até entre algumas petrolíferas. contradição? talvez, mas abandonar o negócio é que eles não vão, concorda? que façam algo então!
marcelo: andar, andar, acho que não vai ser grande coisa não. mas ainda acho que vai aparecer bastante.
edu: você tem coragem de ir lá no blog do flavio e falar tudo isso sobre motores a ar? se você for, eu vou junto. ô coisa pavorosa!!!
É no mínimo estranho ver uma coisa que polui tanto o mundo, fazer uma propaganda a favor da ecologia. Acho que vale pela boa intenção. Mas se a equipe Honda não fosse de uma montadora que tem um faturamento anual gigantesco,se fosse uma Spyker da vida por exemplo, duvido que irião fazer esa campanha sem um mísero patrocinador.
oi alessandra, muito bakana seu blog, gostei! bj, spiritwalker
Oi Ale,
Eu já andei trocando umas farpas com ele. Falar mal do motor a AR aí que ele me esganaria de vez! ehehe!
Além do mais eu quero deixar claro que não sou um ecochato e sou contra a qualquer coisa politicamente correta.
A Honda é a maior fabricante de motores do mundo. De cortadores de grama a motores náuticos. E a grande maioria são motores fabulosos. O único, ou melhor, o maior problema são as motos vendidas no Brasil. Até onde eu sei...
O politicamente correto é uma forma de vender um adesivo a alguém que não entende nada do assunto, pra esse se achar importante. Pra mostrar pro mundo como ele é um homem de bons sentimentos. Assim a inteligência vai pras cucuias, desce pelo ralo. É sabido que nada mais anti-ecológico que a burrice humana, e fomentar a burrice é a forma mais macabra de agredir o meio-ambiente. Salvem o mundo do Greenpeace e compania.
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