Minha avó Maria era uma trasmontana com grande talento para a liderança. Isso eu diria se estivesse traçando um daqueles perfis psicológicos de empresa. Em português de Portugal, eu diria que ela gostava de mandar e exercia enorme influência sobre os seus. O pendor para comandar tanto podia ser traço inato quanto forja da vida. Consta que perdeu a mãe muito cedo e se esmerou na criação dos irmãos menores. Por conta disso, só se casou aos 26 ou 27 anos, idade já crítica para uma mulher desencalhar na primeira metade do século passado. Conheceu meu avô no Brasil, ele também lusitano e bem entrado em anos. Devia ter uns quarenta quando juntaram os tamancos.
Talvez pela dureza da vida, ou por ser mesmo muito prática, Vó Maria tinha especial metodologia quando o assunto era comida. Não parecia muito afeita a pensar no tema. Comida era para ser comida e ponto final. Suspeito que tal abordagem fosse típica da geração de imigrantes a que pertenceu. A avó do meu marido, também de Trás-os-Montes, respondia curta e grossa quando uma das filhas questionava acerca de alguma iguaria sobre a mesa. “O que é isso, mãe?”. “É de comer e calar.”
Minha avó portuguesa fazia sempre o mesmo prato a cada dia da semana, como se a casa fosse um restaurante tipo prato feito. Com isso, não esquentava a cabeça nem na hora de fazer as compras. Era sempre tudo igual. Mantivemos o hábito de almoçar com ela todos os domingos, até sua morte, em 1981. Enquanto meu avô era vivo, o encontro era em torno da mesa caseira. Depois, ela passou a preferir restaurantes.
Lembro-me pouco, mas sei que nesses almoços privados havia sempre um macarrão de forno. Coisa prática de se fazer antes e finalizar na hora de servir. Cozinhava um talharini. Pegava uma forma de buraco, untava e passava farinha de rosca. Revestia a forma com fatias de presunto. Acomodava ali a massa cozida, intercalando camadas de macarrão com pedaços de queijo. Depois, batia uns ovos e jogava por cima. No forno, gema e clara batidas amalgamavam tudo, virava uma espécie de torta. Todo domingo, sempre.
Com as mães e avós daquela época, não tinha essa história de não gostar. A comida era aquela e pronto. Se gostava, comia. Se não gostava, fazia birra, apanhava antes e comia depois. Nunca levei dela nem palmadinha na bunda nem vi minha avó bater em ninguém. Mas, com aquela autoridade no olhar e no discurso, desconfio que nem precisava.
Terça-feira era dia de bife à role, que devia ser feito com coxão duro, recheado de várias coisas, entre elas, lingüiça. Meu pai sempre detestou carne de porco e, na certa, torcia o nariz para a brachola lusitana por conta do embutido suíno. Problema dele. Já adolescente, começou a ganhar asas nas rodas de uma bicicleta. Certa terça, já sentindo o refogado chiar na panela, resolveu livrar-se do desafeto gastronômico da semana. A única irmã, nove anos mais velha e já casada, morava uns bons quilômetros distante da casa materna, mas inventou de ir visitá-la. Um pouco para fugir do bife à rolê, muito mais para rever a mana. A diferença de idade não impedia o enorme afeto entre os dois, que fazem muita falta entre nós hoje.
Subiu na magrela e rumou para o Jardim da Glória, um simpático recanto entre a Aclimação e o Ipiranga. Sobe ladeira, desce morro, chegou à casa da irmã. Era terça-feira e, se você prestou atenção ao talento para influenciar pessoas da minha avó e ao título desta crônica, já sabe o que tinha de almoço na casa da minha tia, naquele dia.
Monday, September 18, 2006
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14 comments:
"se não gostava, fazia birra, apanhava antes e comia depois"... hé! hé! hé, dona alessandra, desta parte eu também lembro!!! hé! hé, só que eu levei, sim, umas bifas... hé! hé!
mas, nunca de minha vó maria, de quem sempre me orgulhei, primeiro pelas estórias, depois pelas aulas de história, e ainda mais pois saber toda família ser eu seu neto favorito...
bons tempos aqueles em que dormia em sua casa para acordar com café com leite e bolo quente com manteiga, para depois viajar ao som de seu piano que, pena, não teve tempo para me ensinar...
- alessandra, nada como as lembranças da infância, não é mesmo? e vc, minha cara, é perita em ativá-las!!!! que bom!!!
Hello, Alessandra, olá, pessoal. Alessandra, me responda uma pergunta, por favor. No bife à rolê, era mesmo obrigatório deixar o palito, aliás, dois ou três, espetados? Eu voltava da escola esfomeado, aquilo era uma delícia, mas volta e meia tinha um palito a incomodar. Sabe, era difícil comer olhando o prato, como é que eu iria ler o gibi, ou o rótulo da lata de ervilhas? Eu era apenas uma criança, eu então só tinha dois olhos! A receita da minha mãe estava errada, Alessandra? Please, answer me. Enquanto estou aqui ouvindo Big Maybelle, dica de uma amiga, deixa perguntar: o que é que tem pra jantar? Desde quinta-feira passada é macarrão, macarrão, macarrão. Hoje melhorou, tem bife à rolê. Com macarrão, né? Mas, e pra janta? Inté.
faz uns cinco anos que não como bife à rolê. agora deu vontade. minha tia faz uns deliciosos. mas, ao contrário da tia aí, ela mora a 3000 km de distnaic.a não dá pra ir hoje.
a dúvida sobre os palitos é pertinente, e, nessa receita aqui, não fala sobre tirar os palitos!
acho que eles fazem, mesmo, parte da receita, e não devem ser tirados a não ser quando já devidamente "degustados".
vejam:
Bife a rolê
INGREDIENTES:
6 bifes de alcatra
6 tiras de bacon
óleo
1 cebola picada
1 lata de purê de tomate
manjerona
cheiro verde
sal
pimenta do reino
Veja a tabela de conversão de medidas.
(gramas para xícaras, colheres, etc.) 40min 8 porções
MODO DE PREPARO:
Tempere os bifes e coloque a fartia de bacon no meio.
Enrole e prenda com um palito.
Em uma panela de pressão frite os bifes, todos juntos, virando de vez em quando.
Frite em seguida a cebola.
Acrescente o purê de tomate, a manjerona, o sal e a pimenta.
Coloque água e deixe cozinhar por 30 minutos.
Abra a panela, veja se o molho está denso e a carne macia.
Ferva mais um pouco com a panela aberta.
Acrescente o cheiro verde.
Sirva com arroz e legumes.
André,
Estou de molho por causa de uma cirurgia de apendicite e ficar em casa vendo programas de receitas é uma auto penitência que me forço.
A sua receita só está ajudando a aumentar o suplício.
Alê,
Esta história reforça o argumento de que não adianta tentar fugir da cruz.
Alessandra, tadinho do teu pai. Estou imaginando a cara de decepção dele ao chegar na casa da tua tia. E rindo muito, também.
Eu tb não gosto muito de bife a rolê, ou brachiola como diz minha mãe. Ela põe tanto recheio que o palitinho não basta pra fechar o bife, precisa de agulha e linha. O bife a rolê da mamma é bordado,rss.Dá muito trabalho pra tirar a linha e desmota o bife. Eca!
E em casa também não tinha essa de "não gosto", tinha de comer e acabou-se.
Na minha infância ,minha avó quando fazia algo diferente e a molecada não comia ,ela não falava nada.Tirava o prato.
Na semana seguinte repetia-se o prato para os rebeudes,até comer.
Teve uma vez que demorei dois meses até ter coragem de encarar uma ostra.
Meu Deus!Como aquilo foi escorregadio,liso,resvaladiço,lúbrico!
Menina,fique contente com seu bife à rolê.
Jonny'O
Na minha casa o bife a rolê sempre era servido com arroz e purê de batata. Eu ficava louco com minha mãe, pois sempre que ela preparava meu prato, ela colocava o molhinho de tomate do bife sobre o arroz e o purê... e eu odiava! Nunca coloco qualquer molho por cima do arroz...
By the way, quando como arroz com feijão, o feijão vai por baixo e o arroz por cima. O mesmo com feijoada. Minha esposa faz o contrário, assim como toda família dela e todos os nossos amigos. Qual a forma correta? Sempre que me sirvo desta forma, os amigos e família comentam que sou a única pessoa que elas conhecem que come assim... felizmente meu pai faz igual!
Quanto a minha mãe, acho que vocês podem imaginar como ela se serve, né?
Zeca
Ale,
Tem uma coisa que meus pais contam da sua avó que pra mim é a marca registrada dela.... Eles dizem que ela fazia o almoço, aí contava as pessoas na mesa e dividia cada travessa pelo número de pessoas na mesa, pra não sobrar nada... E a pessoa tinha que comer, independentemente de estar com fome ou não. Meu pai disse que sua mãe queria morrer quando ela fazia isso, pois enchia o prato dela... hehehehehe
Olha Alessandra, eu gosto muito de bife a rolê, mas seus textos são muito mais saborosos.Você escreve muito bem, são perfeitos.Costumo mostrar para minha filha, textos bem escritos, mesmo sabendo que o assunto não a interesse muito.Mas mesmo assim eu recomendo,só para que ela conheça estilos diferentes de se expressar.Parabéns,escrever é uma arte e vc o faz muito bem.
Bj grande
Carlos Miguel
alessandra, parecemos ser todos uma grande família e única família: minha mãe, que não é oriundi nem descendente, também bordava o bife a rolê ou brachiola, e, acho que pela falta de familiaridade, ainda colocava, para garantir, aqueles palitos horríveis, camuflados com molho de tomate, e com os quais, mais de uma vez, espetei o céu da boca. até hoje tenho medo, ou paúra, como diriam os da bota.
com sua licença, solidariedade ao zeca, para que não se sinta esquisito e único: meu filho também prefere feijão, strogonoff e molhos em geral sob o arroz.
- alessandra, somos ou não somos uma grande familia tribal, apesar de tão diferentes orígens????
pessoal: escrevi respostas a cada um dos comentários, mas perdi o texto todo! desculpem. assim que possível, respondo a todos novamente, OK?
como promessa é dívida e eu não me chamo josé serra, aqui vão minhas respostas (depois de ter perdido o comentário que cheguei a escrever...).
mario: obrigada pelas palavras. acho que todo mundo teve uma vó maria, né?
mauro: os palitos são mesmo ameaçadores, mas sem eles, não teríamos bife à rolê, mas bife demanchadê! além do mais, menino, quem manda ler enquanto come?!
andré: olha, sua receita de bife à rolê parece apetitosa, mas me lembra mais uma legítima bracciola do que o bife à rolê da minha mãe. ela fazia uma receita que não levava molho de tomate. o molhinho que regava o purê - companheiro de chapa habitual do bife - era aquele molhinho de refogado da própria carne, característico das carnes de panela.
gu (brou): acho que a história mostra que não adianta fugir da cruz e mais - que as mães exercem uma influência inexorável na vida dos filhos.
valéria: que paciência da sua mãe, hein?! costurar os bifes?! eu também não sou muito amiga de carnes perfuradas e costuradas. reforça em mim a impressão de que estou comendo animal morto. ou como me disse uma conhecida, vegetariana, certa vez, sobre o ato de comer carne: "parece que estou mordendo alguém".
jonny´o: ai, ostra é de doer, né? nunca comi, nem pretendo.
zeca: eu coloco o arroz por baixo, sempre, mas já vi gente fazendo como você. além do mais, não faz a menor diferença para o estômago, né?
carlos miguel: muito obrigada! agora, você aumento minha responsabilidade...
mario: claro que somos uma mesma família! eu e você somos neto da vó maria; seu filho e o zeca colocam o arroz por baixo, como a mãe!
daniel: não é à toa que essa figura é tão forte na nossa cultura, né? outro dia mesmo, falamos de ana terra, de o tempo e o vento, e de ursula iguarán, de cem anos de solidão.
Essa "responsa", vc tira de letra.
Vc tem 1:54 hs, mas seu talento passa de
2:00 hs, com certeza.
Bj grande
Carlos Miguel
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