Tuesday, January 13, 2009

Por toda a minha vida (Exaltação ao amor)


Um dos hits das minhas curtas férias foi o CD "Roberto Carlos e Caetano Veloso e a música de Tom Jobim". O CD nasceu dos espetáculos feitos pelos dois em 2008, como parte da celebração pelos 50 anos da Bossa Nova.

Cheio de clássicos, tem quatro músicas cantadas pelos dois. A melhor, na minha opinião, é "Wave". E tem essa apaixonada "Por toda a minha vida (Exaltação ao amor)", lindamente cantada por Caetano Veloso.

Letras de Vinícius de Moraes já são um clássico deste blog, e sigo achando uma enorme covardia alinhar Vinícius a outros letristas da música brasileira. Vinícius era um poeta fazendo letras de música, o que já lhe dá vários corpos de vantagem sobre todos os outros.

Ao ouvir Caetano, que aos 66 anos de idade parece cantar ainda melhor que na juventude, é natural lembrar da interpretação de Elis Regina para a mesma música, do mítico "Elis & Tom", de 1974. Ambos cantam como se fossem o noivo ou a noiva, exaltando o ser amado ao pé do altar. Um dado interessante é que a letra, com pequeníssimas adaptações, pode revelar o eu-poético feminino e o masculino.



Elis cantou assim:

Oh! meu bem-amado
Quero fazer de um juramento uma canção
Eu prometo, por toda a minha vida
Ser somente tua e amar-te como nunca
Ninguém jamais amou ninguém

Oh! meu bem amado, estrela pura aparecida
Eu te amo e te proclamo
O meu amor, o meu amor
Maior que tudo quanto existe
Oh! meu amor

Caetano, assim:

Minha bem-amada
Quero fazer de um juramento uma canção
Eu prometo, por toda a minha vida
Ser somente teu e amar-te como nunca
Ninguém jamais amou, ninguém

Minha bem-amada
Estrela pura aparecida
Eu te amo e te proclamo
O meu amor, o meu amor
Maior que tudo quanto existe
Oh, meu amor

Vinícius, seu bandido: por sua causa, e de gente como Drummond, é que desisti de ser poeta. Vocês escreveram em verso tudo o que eu gostaria de ter escrito.

6 comments:

Paulo C. said...

Alê
Costumo ter muita afinidade musical com você. A começar do "nosso" disco preferido dos Beatles: Rubber Soul.
Mas, desta vez vou discordar. Esse show e esse disco do Roberto e do Caetano foi, na minha opinião, a maior "não-homenagem" que fizeram ao insuperável Tom.
Feito num clima de auto-elogios e puxação de saco mútuas (até na foto da capa um está aplaudindo o outro), só serviu para as duas "divas" afagarem seus egos em público.
Qual foi a contribuição que deram para a música de Tom Jobim? Nenhuma. Arranjos pasteurizados. Orquestração clichê. Emissão (de voz) sem emoção. Criatividade nula. Energia zero!
E justamente de quem? Dois dos maiores revolucionários da música brasileira. Um, Roberto, nem tanto; mas, virou tudo de cabeça pro ar, com a famosa Jovem Guarda.
E o Caetano..., bem, quem escreveu os versos:

Pena de pavão de krishna
Maravilha
VixeMAria Mãe de Deus
Será que esses olhos são seus?


ou

Não me venha falar
Na malícia de toda mulher
Cada um sabe a dor
E a delícia
De ser o que é...


e disse que

"É proibido Proibir"

em plena ditadura,

não foi esse senhor ranzinza e rabugento em quem Caetano se transformou. O Caetano que amei já se foi.

Quero apenas dizer que era preciso um pouco mais de ousadia. Tom merecia que estes grandes ex-artistas, lhe fizessem jus, colocando um pouco da sua arte e da sua emoção naquelas canções.

Não! Ficou aquela coisa de karaokê de festa de aniversário. Até a letra mais banal e conhecida, Roberto Carlos precisava ler sem nem disfarçar.
E Caetano cantou bem... hummm... éééé.... Bem, isso era o mínimo, não? Não semitonar, pelo menos.

E aquele clima de compadrio, com o público servil e babão...
Não, desculpe, Tom merecia homenagem melhor do que isso.

Quer ver coisa que emociona, com frescor, energia, criatividade? Vai no You Tube e pega qualquer clip do programa global SOM BRASIL, todos sobre a obra de compositores consagrados. Só clássicos. Parecem canções feitas ontem.

Mas isso, a Globo só passa lá pelas onze e meia ou meia noite, antes do InteCine...

Ron Groo said...

Depois de ver o DVD fiquei com um sentimento estranho no peito.
Poxa... Adoro Caetano e gosto muito da fase soul de Roberto Carlos, você deve se lembrar do post que fiz sobre ele.
E só um surdo ou uma criatura sem coração no peito é que não gostaria da obra de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
Mas então o que me travava tanto na audição/visão daquele show?
Paulo de Tarso matou à pau e esclareceu meus sentimentos.
É muito clichê junto. É mesmo o compadrio - bela palavra Paulo! - entre os dois e a correção exagerada dos arranjos. Tudo muito bem feito e muito plastificado. Quase sem alma. Como se fosse um show anual de Roberto para a rede globo.
No dia imediato após assistir o DVD na casa de uns amigos fiquei pensando se a globo não está ja preparando o substituto do 'rei' para quando este se aposentar ou passar pro andar de cima...
Guardando as devidas proporções, as duas obras são intensas, cheias de frescor e relevancia em sua aurora e vão definhando agora quase no ocaso.
Caetano seria o herdeiro ideal para os shows de fim de ano da globo pois sua obra, assim como a do 'rei' tem 'gordura' suficiente para manter os espectadores entretidos por horas. É só plastificar e orquestrar os arranjos da mesma forma que se plastifica e orquestra as canções de RC.
Famoso fã dele é o que não iria faltar para preencher o teatro quando das gravações, não é?

Anonymous said...

Adorei seu comentário sobre o cd e dvd de Caetano e Roberto Carlos.Eu que sou da geração deles,que acompanhei o nascimento da bossa nova,da jovem guarda do tropicalismo e tantos outros movimentos musicais,assistindo shows no
teatro Paramount no teatro Record. Eu que sou de uma geração previlegiada que tive a oportunidade de acompanhar o aparecimento de ELIS REGINA,CHICO BUARQUE, MILTON NASCIMENTO GILBERTO GIL e outros grandes nomes da nossa música e pude assisti-los ao vivo.
E claro que os shows plastificados da Globo não podem ser comparados com aqueles shows, que apesar de serem feitos em teatros grandes tinham na época um ar ora intimista, ora de protesto, ora irreverentes para aquele tempo tão conturbado politicamente.
Mas ainda acho muito importante que sejam feitas homenagens a gente de tanto valor como TOM.
Afinal é oportunidade para outras gerações tambem conhecerem música de qualidade.
Quanto a Caetano continua cantando muito e Roberto mantem o seu carisma.
Zinzinha

Alessandra Alves said...

paulo: você e o ron se referiram ao dvd, que eu não vi. só ouvi o cd. aliás, breve parêntesis. não tenho quase nenhuma paciência para "ver" música. amo ouvir música, mas em geral não tenho interesse em dvd de show. ir ao show é uma coisa. ver pela tv não é coisa da minha preferência.

enfim, eu só ouvi o cd, que me pareceu leve, agradável, companhia ideal para uma viagem relax de férias. claro que o cd, sendo produto do mesmo show que rendeu o dvd, revela essa mesma falta de ousadia, esse espírito karaokê, mas, nessa altura da vida (da minha e, principalmente, da vida de caetano e roberto), não tenho a ilusão de esperar o ímpeto criativo de seus primeiros anos.

sobre caetano, engraçado que você tenha citado "é proibido proibir". também nessa viagem, levei um cd baseado no livro "A era dos festivais", do zuza. após a gravação em estúdio dessa música, foi anexado o discurso sob vaias que caetano fez em sua apresentação. meu filho, que nunca tinha ouvido aquilo, adorou. "mas então é essa a juventude que diz que quer tomar o poder?!?!?!", brada caetano.

ah, paulo, esses caras todos já estão com o burro na sombra... não vão ousar mais nada, concorda?

ron: sua mensagem, e a do paulo, me fazem pensar na célebre frase "o meio é a mensagem". sempre que presencio alguém criticando a produção televisiva, cobrando qualidade nos textos, nas interpretações, nos cenário etc., acabo com a sensação de que são demandas inócuas. o meio televisão é pasteurizado por si só. prima pelo imediatismo. minha percepção é a de que a gente não pode levar tv muito a sério. quer coisa séria? vai ler um livro. hehehe

zinzinha: já disse isso outras vezes e repito - sua geração foi privilegiadíssima por ser testemunha daquele boom criativo na música brasileira. só não lamento o fato de não ter nascido nos anos 40, para presenciar a efervescência cultural dos 60 porque, nesse caso, eu não seria sua filha!

Anonymous said...

Falando em música, olha essa aqui, feita com Tic-Tacs...
http://buzzcultural.com.br/blog/2009/01/15/tire-um-som-do-seu-tic-tac/

Sergio said...

Eu ouço até hoje o disco da Ellis com o Tom que considero uma das obras marcantes da música brasileira. Talvez o segredo daquela interpretação é um fato que você destacou: parecia que um estava cantando para o outro e eles iam se casar no momento seguinte. O clima era este. E no vínil que registra talvez 2 segundos a mais da gravação, tem até um suspiro da Ellis que completa perfeitamente o clima. Não gosto do Roberto Carlos. Gosto de algumas coisas feitas pelo Caetano. Como alguém escreveu acima: estão duas "matronas" que nunca ousariam. A gravação da Ellis e do Tom de 1977 dá de 1 bilhão a zero nesta coisa pasteurizada que os dois senhores criaram. A gravação de 1977 é definitiva, na minha opinião. E o Vinicius, nem fala: realmente, como alguém pode ousar ser poeta tendo estes espectros andando pela literatura brasileira ?...nem bebendo...