Saturday, January 26, 2008

ECA e a estátua de sal

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Tinha tanta fixação em estudar na Universidade de São Paulo que prestei vestibular duas vezes. Uma, ainda no segundo colegial, só para ver como era. E, naquela época, não havia a figura do "treineiro", o estudante sem diploma que tenta a sorte só para ganhar experiência. Prestei para valer, para o curso de História, e passei. No ano seguinte, quando tentaria a sorte em Jornalismo, 45 míseras vagas, fiz nada além de estudar. Meu colégio, de freiras, era rígido como um Ratzinger, exigia média sete, de forma que não me animei a fazer cursinho junto com a escola. Achei que a divisão de esforços só me atrapalharia e decidi arriscar.

No colégio, todo ano, as freiras preparavam um cartaz enorme, escrito à mão, com aquela letra perfeita de professora primária. No conteúdo, os nomes das alunas aprovadas nos vestibulares. Não era incomum encontrar referências à USP naquele rol, o que me animava e, mais ainda, me estimulava. No fundo, eu acho que queria passar na USP principalmente para ver meu nome no cartaz do colégio.

Depois da primeira fase, fiquei tranqüila. Eu havia conseguido pontos suficientes para passar em Medicina, baseada nas notas de corte do ano anterior. Na segunda fase, meu estado de espírito não era o mesmo. As provas, dissertativas, não me davam certeza quanto à interpretação dos avaliadores. Só relaxei mesmo no último dia, depois da prova de redação. Eu senti que tinha acertado o tom, tanto que pedi licença para a professora que nos vigiava para copiar meu texto original em um outro papel, pois quis levar a redação comigo.

Depois das provas da Fuvest, prestei outros três vestibulares, para garantir. Não me lembro quando saíram os resultados. Naquele tempo, não havia internet e era preciso ir conferir as listas na própria USP ou em cursinhos, como o Objetivo, da Paulista. Apesar da ansiedade, não me aventurei em ir até lá. Eu não queria ser vítima de trote, porque sempre tive nojinho dessas misturas de farinha, ovo, tinta e outras melecas. Já não me lembro se alguém viu meu nome e me contou ou se tive o espírito zen de esperar pela publicação no jornal, no dia seguinte.

Faz vinte anos que entrei na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, a ECA/USP. A lembrança me veio à mente num desses sábados, enquanto treinava pelas ruas da Cidade Universitária. Vou à USP todo sábado para correr e nunca - nunca! - mais passei na frente da ECA.

Jovens estudantes, colegas acadêmicos, por favor, não se choquem com minha afirmação mas, de fato, a ECA foi, para mim, como aquela definição de sítio, de buggy ou de barco. Duas alegrias. Uma quando entrei, outra quando saí. Não vou dizer que o ensino era fraco, que os professores eram ruins, que a estrutura era falha. Eu simplesmente não me achei naquele lugar.

Por seu diminuto número de vagas, a ECA era formada pela elite da elite, ou seja, os alunos mais CDFs das melhores escolas. Ou seja, tudo filhinho de papai, inclusive eu. Então, ficava tudo muito sem nexo, para mim, ver aquele monte de boyzinhos, de Escort XR3 e Gol GTS na porta, discutindo os rumos da revolução lá dentro. Pior era a dinâmica do curso. Eu tinha prestado Jornalismo para exercitar minha escrita, aprender a fazer rádio e TV, e só me via às voltas com textos impenetráveis, que deveria ler à exaustão, e o fazia, porque não deixei de ser CDF, embora me sentisse mastigando areia a cada página devorada.

Fui aluna de professores excelentes, gente que dedicou a vida à carreira acadêmica e sabia, de fato, muito sobre comunicação social. Eu admirava, e admiro, a devoção daqueles profissionais ao estudo detalhado da lingüística, da sociologia, da antropologia, da lógica, mas não conseguia me excitar com a idéia de passar um semestre, ou vários, tentando decifrar seus textos com vocação para esfinge. Hoje, admito, aquela areia duramente mastigada deve ter contribuído para a argamassa do meu conhecimento, mas como era duro, na época...

Tive dois ou três amigos na turma. Um deles talvez seja meu amigo mais íntimo até hoje, apesar de morar muito distante de mim. Os demais, gente que nunca me fez nada, sumiram na poeira do meu tempo, como eu na vaga lembrança deles. Na São Silvestre de 2006, enquanto corria pela Paulista, de repente divisei um ex-professor na multidão, assistindo à nossa passagem. Nossa, que incrível, pensei. Nunca mais vi esse cara, e de repente vejo-o na multidão, tão fora de contexto.

Findo o quarto ano, fui até a secretaria da escola para saber o que deveria fazer para pegar, e logo, o meu diploma. Informaram-me que tudo seria automático, após a colação de grau. Por mim, nem iria à tal cerimônia, mas a secretária me aconselhou a fazê-lo, porque eu precisava colar grau. Era regimento, burocracia, tinha que ir. Fui, sem fazer grande alarde na família. Mera formalidade. Peguei o diploma e nunca mais voltei à ECA, sem passar em frente nem em meus treinos semanais. Não acho que tenha me traumatizado, eu só não gostei de passar quatro anos lá. Por via das dúvidas, acho que vou continuar distante. De repente, numa olhadela à toa, ainda acabo virando uma estátua de sal.

23 comments:

valéria mello said...

Cursei Letras numa faculdade particular que fica a alguns metros aqui de casa. O curso não era nenhuma maravilha, até mesmo porque estava reabrindo depois de muitos anos. Mas foi uma experiência muito rica, a turma era pequena, muito unida, os professores muito camaradas. Fazíamos saraus literários, líamos e escrevíamos muito, pude desfrutar de uma ótima biblioteca.
Os amigos não estão muito distantes, mas nos vemos raramente, cada um ocupado com suas atividades.
O que posso dizer é que a faculdade foi o melhor período da minha vida. E eu passo diante dela, com boas recordações, todos os dias.

Anonymous said...

Penso na Usp como prêmio. Quem consegue entrar lá é porque mereceu. Talvez alguns menos que outros, mas vou lhe dizer...é barra entrar lá. Entrar na ECA então deve ser ainda pior...
Sinceramente achei engraçada sua colocação sobre os filhilhos de papai - inclusive você rsrsrs - E sei que a educação é direito de todos, independente de classe social, cor, posses.
Só que agora, ainda mais,a Usp tornou-se uma falculdade pública apenas para os que podem pagar outras... Não sei se fui claro. Mas com a qualidade do ensino público que temos neste país, mais precisamente neste estado, é muito difícil que alguém que venha dele -portanto de uma classe mais baixa - consiga entrar lá. Acontece, eu sei, mas é um numero reduzido. Entra lá quem veio de bons colégios pagos e particulares, alguns gênios e um ou outro assalariado as vezes num esforço sobre-humano, entende?
Ah sei lá to complicado e sociólogo demais... De repente passa um aqui e vai dizer que sou do pt, comunista...
Vá lá! Uum ultimo esforço pra ser claro.
A Usp para o povo menos preparado, ou menos endinheirado!
Deixa quieto to enrolado mesmo...

Celinho Boy said...

Muito legal esta tua história dos tempos de facul. Legal pela história de vida, mas vc deu um tom de arrependimento. Esperava fazer amigos, ter prazer no teu curso, mas se viste num lugar incompreensível, num lugar que não era o que queria. Ah, sim, isto é profundamente chato. eu já fiz curso técnico e tive apenas um grande amigo, de nome Gérson, além de uma ou outra pessoa. Talvez seja um pouco da minha personalidade, já que sempre considero que meus melhores amigos não moram em Pinheiro Machado.
Mas vejam como são as coisas: quando eu estava me enturmando, o curso terminou, ou melhor, conclui o ensino técnico. Me deu profundos momentos de nostalgia e tristeza do tipo era feliz e não sabia e que queria voltar aqueles tempos, com as aulas e as instrospectivas viagens e ida e volta, sempre acompanhada duma leitura se possível. Mas aparte das relações humanas, eu fui muito feliz no curso técnico, conheci uma cidade e seu povo(Pelotas), me deu motivação para escrever(também tenho profundas saudades de minha professora de português, a Suzana).
Então não sentiu bem com o pessoal da elite, hein? e olha que a gente vai encontrar muita gente graúda nas facul, infelizmente. Mas um país de educação deficiente e desigualdade socila grande só poderia dar nisso.
Falando nisso. minha irmã passou na Ufrgs. Estou muito feliz. Muito mesmo. Beijos Alessandra

Anonymous said...

Ah sim! Refletindo um pouco me lembrei do porquê da pequena revolta: Não consegui a vaga, ficando atrás de uns trocendos japoneses e alguns abastados. E não foi falta de esforço...

Felipe Atch said...

Não dá pra negar o período de faculdade é marcante para o bem ou para o mal!
As particularidades se é pública, ou privada aos alunos as experiências e vivências de uma faculdade contribuem muito na vida de cada um.
Alessandra colei grau na 2ª passada, e tirei minhas fotos de formatura na 6ª. Já não falo com a maioria dos colegas de classe (normal né).

Gustavo Alves said...

Brou,

Semana passada peguei meu diploma, depois de estar pronto à 11 anos. A FGV foi inesquecível para mim. Muito eu aproveitei de lá, e será sempre um diferencial enorme na minha vida profissional.
Mas o Colégio Santana sempre será muito mais marcante na minha vida.

Alessandra Alves said...

valéria: essa relação que você tem com a faculdade eu tenho em relação ao meu colégio. faz tempo que não entro nele, mas sempre que o fiz, nesses vinte anos desde que me formei no colegial, foi como se nunca tivesse deixado de estar lá. uma familiaridade total. na época da faculdade, também cursei três anos na aliança francesa. ali, eu me identifiquei muito com a turma. foi a minha verdadeira turma na juventude.

ron: pois é. depois a gente resvala nesses assuntos e somos chamados de comunistas! mas que as universidades públicas hoje são uma casta não se discute. se fosse apenas uma casta intelectual, vá lá, ainda que discutível. só que eu falo de casta sócio-econômica mesmo. um paradoxo imenso nessa questão: só entra na universidade gratuita quem pôde arcar com os custos das melhores escolas, salvo raras exceções. a alternativa das cotas fere de morte aqueles que defendem os argumentos da tal "meritocracia". talvez não seja mesmo a melhor saída. claro que o melhor é equiparar os ensinos de base - público e privado - para que todos tenham condições semelhantes, mas quanto tempo isso vai levar? enquanto isso, o que assistimos, e eu me assusto com isso, é o crescimento de um argumento baseado nessa lógica perversa. já que a universidade pública só é freqüentada pela elite, não há sentido em que ela permaneça gratuita. daqui a pouco, vão privatizar as universidades...

celinho: não é bem um arrependimento, mais uma desilusão. você passa anos da sua vida idealizando uma coisa e, quando ela acontece, você percebe que o sonho era bem melhor que a realidade. por algum tempo, eu pensei que talvez sentisse falta do colégio porque lá eu me diferenciava muito das minhas colegas. você há de convir que meus hábitos e preferências eram bem diferentes dos costumes das minhas amigas. eu lia de forma quase obsessiva, ouvia MPB e jazz num tempo em que elas só queriam saber do nascente rock nacional, gostava de futebol e de fórmula 1, assistia a filmes "difíceis", enfim, eu era muito diferente delas. quando cheguei à faculdade, tive a ilusão de que eu iria, finalmente, encontrar eco às minhas preferências e ao meu modo de ser. embora o perfil dos meus colegas na eca de fato se aproximasse do meu, não senti a afinidade que sentia com minhas amigas, que eram bem diferentes de mim, e talvez por isso, complementares. parabéns à mana pela aprovação na federal! boa sorte a ela.

felipe: parabéns pela formatura! concordo com você sobre a importância da faculdade na formação de um profissional. não nego que absorvi muitas coisas boas na eca, eu é que devia estar esperando demais...

gustavo: brou, o santana, nas nossas épocas, tinha mais do que formação escolar. no seu jeito rígido, ensinava noções humanistas fundamentais para a vida. não é à toa que nossas amizades, daquele tempo, perduram até hoje. aquilo era realmente uma família, com tudo o que isso pode ter de bom e de ruim.

Anonymous said...

fiz jornalismo na puc, mas já trabalhava (com jornalismo) na época. fiz um ano, parei outro, fiz outro, parei outro, foi assim até o fim. tive a sensação de que passei uma eternidade naquela puc, explorado pelos padres e comprando um diploma à prestação. sinceramentem não aprendi nadica de nada na faculdade. e nem fui buscar meu diploma, até hoje.

Anonymous said...

momento marketing pessoal: texto legal sobre tom jobim no www.quasepoucodequasetudo.blogspot.com

Anonymous said...

Foram os piores anos de minha vida ,não gosto nem de lembrar dos tempos de faculdade .
Acredito que ,como as pessoas são profundamentes diferentes ,também diferente é o tempo de maturidade de cada um ,sempre lamento quando vejo jovens tendo que decidir seu futuro em um momento as vezes totalmente errado.
Como também é lindo quando vejo um jovem decidido realizando um sonho ,algo que está em suas veias .
E assim vamos vivendo.
Tem gente que tira uma boa lição de tudo ,tem gente que não.

Jonny'O

Gabriel Pandini said...

Mãe,
mil desculpas por não ter te visto no messenger mas outra hora a gente se fala pelo messenger estpu escrevendo com muito amor e espero que veja este comentário.
beijos
Gabriel
Gosto muito de vc sabia disso?
vc me agrada muito vc é a malhor mãe que poderia pedir.

Gabriel Pandini said...

Mãe,
mil desculpas por não ter te visto no messenger mas outra hora a gente se fala pelo messenger estpu escrevendo com muito amor e espero que veja este comentário.
beijos
Gabriel
Gosto muito de vc sabia disso?
vc me agrada muito vc é a malhor mãe que poderia pedir.

Anonymous said...

Acabei de passar no vestibular na federal aqui de Minas(UFMG).Tb tive nota pra passar em medicina, na primeira fase.
Passei pro curso que eu sempre quis.Mas sei lá, eu sinceramente não entendo o porque das pessoas fazerem tanta festa por isso.Eu passei e...nada.Meus familiares estão mais felizes que eu!hehe.Não que eu não esteja feliz.Estou.Mas é longe daquilo que eu imaginava.A mesma coisa foi quando eu tirei carteira de motorista.Eu via as pessoas chorando, se abraçando...a minha nota foi a maior da turma que fez prova comigo, a maior que eu já ouvi dizer até hoje, mas de novo não senti nada especial.Assim como a Alessandra disse que no inicio uma das motivações era ver o nome na lista das freirinhas, o meu era ver meu nome no site e poder dizer pra uma certa pessoa que eu tinha passado,rs.
Pretendo estudar muito, gosto de estudar, crescer muito.Mas não é isso que eu preciso pra ser feliz de verdade...hehe...Ops, to viajando aqui, hehe.
Alessandra, eu nunca escrevo por aqui.Hoje o fiz só pelo assunto tão atual no meu contexto.Mas adoro seus textos.E sou apaixonado por sua voz!rss

Cabral said...

Hmmm. Ainda me falta 1,5 ano pra pegar meu diploma. Mas a turma é bacana, várias pessoas especiais. Tamém posso dizer que aprendi minha profissão lá.

Nem sempre foi assim... Acho que só a partir do 4º ano (dos 6 anos do curso) é que tive certeza que ali era realmente o lugar que eu queria estar. Antes disso a sensação era de estar polindo carros e pintando muros, sem ver nem um pouco de karatê.

Tem uma japinha nerd, linda a menina. Dessas que passam com facilidade de tudo, sempre. Outro dia mesmo ela falou que nunca aprendeu nada lá, e que quando perguntam se a escola onde estuda é boa ela diz que não... Ela trabalha como secretária.

[faltadeeducação]Eu diria que para um secretária crescer na vida seria mais produtivo estudar o kama sutra do que engenharia.[/faltadeeducação]

Ptz, perdi a cabeça.... Desculpa, desculpa... Mas eu tinha que desabafar.

Anonymous said...

Alessandra,

eu assino embaixo no seu texto, trocando a USP pela UnB e a ECA pela FAC.

E no meu caso não foram quatro anos, mas cinco.

De resto, sei perfeitamente o que é essa sensação.

Abraço,
TA

Anonymous said...

Alessandra, hoje liguei para a LetraDelta, pra comprar um livro do FG, pedindo para confirmar meus dados, etc.Fiquei com uma impressão que a voz da pessoa que me atendeu era a sua,rs.Era mesmo?
abs

Alessandra Alves said...

rafael: a própria!

Alessandra Alves said...
This comment has been removed by the author.
Eloisa said...

Eu também fiz ECA, durei dois anos, era minha segunda faculdade. Só fazia os cursos que não cursei na faculdade de administração.

As amizades da turma ficaram, várias, mesmo morando em partes distante do globo.

Eu sou a PR mais PR sem se formar da terra, mas não tinha como, não conseguia gostar de lá. Tinha uma professora que me odiava, só porque eu faltei às aula de reposição da GREVE pode???

Eloisa said...

Ops! PR é RP em portugues!!

Anonymous said...

Também fiz USP. Sinceramente a única coisa que me agradava lá era o CEPEUSP.

Acho que faltou algo para dar liga àquela universidade.

Anonymous said...

Eu também não me sentia parte da ECA. Os funcionários do CAP (bloco de Artes Plásticas da época) pareciam não ir com a minha cara, talvez os "ricos" fossem mais "alto-astral" para eles. Segui por três anos e me senti a pessoa mais solitária da face da terra. Não é autopiedade, é uma constatação. Fiz poucos amigos, dos quais apenas um mantém contato comigo até hoje.
Vi colegas estudantes de Artes Plásticas fazendo parte de um bando de arrogantes. E cada vez mais o que eu esperava no início de uma faculdade foi se esvaindo. Obrigada, Silvestre, Carmela Gross, Regina Silveira, Antônio e outros, por fazerem com que eu me sentisse tão "em casa". Hah.

Anonymous said...

S� mais uma patricinha que a t�o sonhada USP abre as portas...

Alessandra Alves, s�cia da LetraDelta Editora, empresa que trabalha com a cria�o de publica�es para p�blicos espec�ficos, carentes de um meio de comunica�o de qualidade. Entre as publica�es da editora, algumas empresas de renome na �rea da sa�de, clientes que possivelmente foi conquistado com muito suor, atrav�s de um �nico telefonema dado pelo seu pai, um poss�vel executivo de neg�cios bem sucedido, e conhecido nacionalmente. Outros na �rea automotiva, conquistados pelo do seu namorado, um filinho de papai, que anda de kart todo final de semana, e adora cantar pneus em meio � avenida paulista com seu carr�o blindado, at� porque ele pode. Clientes na �rea de moda, que chegaram a ela pelas intermin�veis compras pessoais, feitas nas lojas sofisticadas da Rua Jo�o Cachoeira. E outros na �rea de eventos, pela vida badalada de solteira, onde freq�entava as baladas mais caras de S�o Paulo, com o intuito de achar um amor pra vida toda, e caso n�o desse certo, voltar com pelo menos meia d�zia de cart�es pra casa, para futuros contatos profissionais.

Ou seja...

Uma patricinha mimada, que estudou em um col�gio �timo, mas que ela odiava, passou na USP porque queria ser o orgulho da fam�lia, virou uma empres�ria bem sucedida, com �timos clientes que vieram todos de m�o beijada, e ainda arruma tempo para ler, escrever em blogs, e CUSPIR NO PRATO QUE COMEU com um texto mal feito, e em tom de arrependimento.

Isso � Brasil.. infelizmente a patricinha mimada � o retrato do Brasil, da desigualdade social, da fome, da mis�ria, do rid�culo... t�o rid�culo quando a fome dos miser�veis, � a sua hist�ria de vida contada em um tom de �devia ter sido diferente�.. POUPE-ME!

Cara colega Patr�cia,
Em algumas linhas eu te descrevo a vida de um jovem de 26 anos, que aos 14 foi obrigado a sair da escola para trabalhar, e ganhar uma mixaria de R$ 200,00 por m�s para ajudar a sua fam�lia, um jovem que aos 20 anos e gra�as h� um diploma do segundo grau falsificado, entrou em uma faculdade, uma faculdade n�o reconhecida pelo MEC, e com uma mensalidade de R$ 180,00 por m�s, que o seu emprego de operador de call center n�o o ajudou a pagar. Um jovem que almejava muito, que sabia muito, e que era muito capaz para ser um operador de call center a vida toda, e ser supervisor do tal call center n�o o interessava, porque ele queria muito mais, ele podia muito mais, mas ele nunca teve o mesmo ber�o de ouro que voc� nunca teve oportunidade, nunca teve governo, nunca teve estudo, nunca teve apoio. E aos 22 anos virou supervisor respons�vel de uma das maiores empresas de avia�o do pa�s, tamb�m com um diploma falsificado aos 26 estava formado em administra�o de empresas pelo Mackenzie, e p�s graduado, tudo de brincadeirinha, nada verdadeiro, tudo falsificado, ilegal, porque o tal jovem que hoje trabalha em uma das maiores multinacionais do pa�s como Gerente Comercial, nunca teve a sua oportunidade de vida, mas tamb�m nunca teve esse seu tom de arrependimento, ou sequer escreveu um texto t�o mal feito e melanc�lico como esse seu... O retrato, e a vergonha do pa�s desordenado, e mal feito que vivemos n�o sou eu, esse jovem que foi malandro e se deu bem, mas sim voc� uma patricinha mal criada pelos pais, uma empres�ria bem sucedida porque nasceu em ber�o de ouro, ou uma escritora de blogs melanc�licos na internet....

Mil desculpas, mas depois do que eu li, fui obrigado a escrever as linhas acima, voc� deveria sair na rua em um dia de chuva, levantar os bra�os, e dizer am�m pro cara l� de cima... e depois disso dormir tranq�ila no seu travesseiro com plumas de ganso.

Sorte na sua jornada..

Felipe ... Melhor n�o citar o meu sobrenome, vai que algu�m descobre que eu sou uma farsa.