Saturday, December 13, 2008

São Silvestre bizarra

Com quase uma semana de atraso (muito trabalho, só isso) consigo agora registrar o treino que a Equipe Conexão fez no domingo passado. Alguns dias antes da São Silvestre, habitualmente fazemos um simulado da prova, percorrendo o mesmo trajeto em um domingo pela manhã. Tem que ser na manhã de um domingo por conta do Minhocão, que fica fechado aos carros nesse dia.

O resto do percurso fazemos preferencialmente pelas calçadas, embora alguns trechos (como o viaduto do Memorial da América Latina) não tenham calçada. Mas, sete e pouco da manhã, no domingo, geralmente é fácil percorrer os 15 km do trajeto que sai da Paulista e volta até ela.

É um treino de reconhecimento de terreno e de auto-avaliação. A preocupação com os carros nos faz, eventualmente, ter de esperar o fechamento de alguns faróis. Perdemos tempo com isso, mas ninguém está ali para buscar tempo. A auto-avaliação se dá mais no sentido de acostumar o corpo e o espírito às dificuldades dessa prova.

Engraçado, mesmo, é circular no Centro de São Paulo nas primeiras horas do domingo. O bando de corredores de camiseta laranja passa por vários grupos de boêmios em fim de noite. Boates caidaças, bares, danceterias moderninhas: todos vão despejando gente ávida por cama, um pessoal que nem disfarça aquela cara de gaveta de meia que não vê arrumação há uns seis meses.

Foi assim na avenida Rio Branco. Ali, os bares vão se enfileirando. Logo depois de cruzar a Duque de Caixas, passamos em frente a um bar bem movimentado. Uma senhora de cabelos loiríssimos (oxigenadíssimos, seria mais honesto dizer) sai do bar com um copo na mão e um cigarro na outra. A mão da coitada parecia uma garra, atrofiada na posição de segurar o bastonete de alcatrão e nicotina que deve lhe ser mais fiel que todos os outros companheiros de copo ali presentes. À nossa passagem, a mulher demonstra todo seu entusiasmo de fim de jornada de trabalho. Levanta os braços e vem em direção ao técnico José Eduardo Pompeu, que liderava o grupo. Na hora, lembrei do lunático que arruinou a maratona de Vanderlei Cordeiro de Lima, na Olimpíada de Atenas. O estado dela, no entanto, não parecia permitir tamanha agilidade. Apenas deu um tapa nas costas do técnico e profetizou: "Ah, cê vai ganhar!". Nilton, o autor da foto deste post, passou em seguida e eu, logo atrás. Nilton escapou, mas eu também levei um tapão da dita cuja. Depois, divagações diversas sobre o delírio da dama. "Nossa! Quanto tempo fiquei nesse bar? Entrei no dia 6 e, quando percebo, já está passando a São Silvestre!"




Pouco mais adiante, no Largo do Paissandu, paramos em um boteco para comprar água. É a única parada que fazemos no treino, e não dura mais de cinco minutos. Tempo suficiente para que eu notasse um plaquinha na geladeira do bar: "Aluga-se este espaço". Conjecturei sobre o que estaria posto à disposição. Se o bar inteiro ou apenas a lateral da geladeira, para algum anúncio. Creiam: a poluição visual do bar faria qualquer um supor que o dono de fato aluga a lateral da geladeira para publicidade.

Dali para frente, faltam pouco mais de três quilômetros para o fim, ou seja, um quinto da prova. Hidratados e com a perspectiva de terminar logo, aumentamos o ritmo no trecho final. Mais bizarrice. Ao lado do Teatro Municipal, um albergue ou bandejão concentrava grande número de moradores de rua pela calçada. Passando pelo grupo, despertamos o instinto primitivo de um deles. Saiu correndo atrás de nós, gritando: "Ei, volta aqui, seus caloteiros! Você está me devendo, não corre não!" Chegamos a temer pela agressividade do fulano, que não parecia estar brincando, mas logo ficou claro que ele não teria pique para correr mais do que até a esquina. Dito e feito.

Terminando o trajeto, fomos para a academia, onde o Zé nos deu um alongamento caprichado e onde tiramos a foto.

O dia estava bem quente, com sol forte pelo menos desde as oito da manhã. Quando chegamos à Paulista, o movimento de carros era bem maior do que no início do treino, mas, ainda assim, minha avenida preferida se mostrava acolhedora e familiar, como sempre surge aos meus olhos. A Paulista, por muitos motivos, é meu lar. Isso também ajuda a explicar por que gosto tanto de correr a São Silvestre.

Dia 31, tem mais.

7 comments:

Anonymous said...

Off-topic: você viu http://uk.youtube.com/watch?v=lCrJRgzTBCE ? É impossível não se emocionar.

Eu gosto de correr, mas meus tornozelos estavam me matando. Então comecei a pedalar. Admiro todos os que têm a coragem e determinação para se inscrever em corridas de rua como a São Silvestre. Parabéns.

Anonymous said...

Bela Alessandra. Corri uma única vez a São Silvestre.

Me preparei muito, mas "quebrei" na metade da prova.

Meu joelho direito doia tanto que cheguei a enjoar.

Mas, cheguei. Adorava correr. Participei de 19 corridas dentre elas 2 meias do Rio.

Parei de correr há 2 mas toda vez que vejo fotos e a empolgação do pessoal que corre sinto saudades.

Boa sorte pra você e nunca pare.

Gustavo Alves said...

Mano,

A vida é mesmo para ser vivida.

Gustavo.

Amanda Roldan said...

Agora lembrei: e o seu joelho esquerdo?

DERLY. said...

sinceramente não sei qual cena foi a mais engraçada,a senhora dando tapão em voces e pensando que já estava no ano novo de tanto tempo que ela ficou no bar ou o sujeito corrento atrás e chamando voces de caloteiros,cada figura hem,parabéns pela força de vontade de voces e sucesso na prova,moro em brasilia,e sempre assisto a prova pela tv,mas adoro caminhada,corrida em geral,muito legal,abraço,ronaldo.

Gabriel Pandini said...

Loucos demais principalmente a velha ter falado ah se vai ganhar
Mas os caras do albergue chamrem vc o Zoca o Sargento de caloteiros pe demais
beijos gabriel

Alessandra Alves said...

érico: algumas pessoas realmente sentem o joelho correndo. importante é encontrar alternativas, como você encontrou na bike, não é?

fabio: quebrou na metade da prova? você lembra onde, mais ou menos? arrisco um palpite - no viaduto que liga a avenida rudge à rio branco? mas, depois dessa experiência ruim, você não pensa em voltar?

gustavo: ;)

mandy: meu joelho, eu acho, é como o lada do flavio gomes. se auto-conserta!

ronaldo: será que você consegue me ver pela TV, no próximo dia 31?

gabriel: na verdade, na hora do albergue, o zé e o zoca não estavam com a gente. estávamos eu, o nilton, o henry, a lara, o fábio e a patrícia.