Sunday, July 13, 2008

Mulheres na frente



Na noite de sábado, a brasileira Bia Figueiredo entrou para a história, tornando-se a primeira mulher do país a vencer uma corrida de carros fora da América do Sul. A vitória de Bia aconteceu na corrida de Nashville, válida pelo campeonato da Fórmula Indy Lights, categoria de jovens pilotos, aspirantes à Fórmula Indy.

Bia, que agora quer ser chamada de Ana Beatriz, para facilitar a pronúncia dos norte-americanos, tem mostrado potencial há alguns anos, destacando-se nas categorias de base do Brasil, como na Fórmula Renault. Chegou à Indy Lights neste ano e ontem conseguiu sua primeira vitória.

O dia foi histórico para o automobilismo brasileiro por conta da façanha de Bia, cuja corrida foi relatada com detalhes pela repórter Evelyn Guimarães, do site Grande Prêmio. (Outros sites também deram destaque para a vitória de Bia, como o Tazio, mas eu não poderia deixar de destacar este texto, escrito por uma mulher, concordam?).

As mulheres estão conquistando inequívoco espaço no automobilismo da América do Norte. Há pouco mais de dois meses, a norte-americana Danica Patrick tornou-se a primeira mulher a vencer uma corrida da Fórmula Indy, disputada no circuito japonês de Motegi.

Peço carona à Bia, desde já eleita heroína deste blog, para contar brevemente minha pequena façanha. Neste domingo, disputei a Corrida do Inverno do Circuito das Estações, no Pacaembu. Quem lê este blog pode se lembrar que foi na Corrida do Verão, há quase sete meses, que bati meu recorde para provas de 10 km, com a marca de 49min00.



Da esquerda para a direita: o palmeirense Nilton, Zoca, Simone, Zé Eduardo, Alessandra, Patrícia, Alexandra e Fábio

De lá para cá, não tinha conseguido igualar o tempo, chegando no máximo a 49min16, em prova disputada no bairro do Ipiranga, há quinze dias. A corrida do Pacaembu tem muito mais trechos planos que a do Ipiranga, o que me fazia ter esperança de chegar perto do recorde desta vez.

Na tarde de sábado, recebi um e-mail do meu colega Henry Hanada, o japonês que me “puxou” na prova de dezembro, dizendo que desta vez não poderia correr, mas que eu carregava a responsabilidade de fazer a prova na casa dos 48 minutos. Este, na verdade, já era meu objetivo, mas preferi ficar “na moita”, sem alardear os planos, principalmente porque meu técnico, José Eduardo Pompeu, não gosta que criemos esse tipo de expectativa.

A manhã estava bem fria na hora da largada, às 8h. Um termômetro público, na Praça Charles Muller, marcava 14°. Cerca de cinco mil pessoas largaram, o que não é nenhum exagero para essa prova, que é disputada a maior parte do tempo em vias largas, como o Pacaembu e o Elevado Costa e Silva, o famoso Minhocão, esse verdadeiro horror arquitetônico de São Paulo.

Seguindo a orientação do Zé, fui aquecendo nos dois primeiros quilômetros, sem forçar muito, mas já fazendo cada trecho de mil metros abaixo dos cinco minutos. Quando virei no quilômetro cinco, estava na faixa de 24 minutos, ou seja, era questão de manter o mesmo ritmo para ficar na casa dos 48 minutos.

Depois de fazer este percurso seis vezes, já tenho alguns conceitos bem definidos sobre ele. O mais óbvio, que no entanto só se percebe quando se corre a pé ali pela primeira vez, é o fato de que a chegada, na Praça Charles Muller, representa uma leve mas contínua subida. Outra constatação, cristalizada hoje, é a do ponto crítico da prova – entre os quilômetros seis e sete, ainda sobre o Minhocão, com uma subida forte e o componente psicológico contrário, de se começar a perceber o cansaço, com mais de quatro quilômetros para o final.

Mesmo ali, entre o seis e o sete, eu continuava com o ritmo forte, passando abaixo dos cinco minutos a cada quilômetro, mantendo uma freqüência cardíaca próxima dos 180 bpm o tempo todo. (Na prova do Verão, eu sempre diminuía o ritmo quando chegava a esse pico, para voltar ao estágio dos 177 bpm, que já é alto, mas me garantia mais conforto em dezembro. O que me deixou feliz na prova deste domingo, também, foi a constatação de que estou conseguindo manter um ritmo forte, traduzido na freqüência cardíaca, durante um longo período.)

Voltando à avenida Pacaembu, no quilômetro oito, chequei o cronômetro e encontrei 38 minutos, ou seja, eu poderia manter o ritmo pouco abaixo dos cinco minutos que atingiria a meta. Foi o que fiz, porque sabia que não conseguiria melhorar o desempenho com a ligeira subida do final da prova. Quando cheguei à Praça Charles Muller, percebi que havia passado a corrida inteira sem ter nenhum insight para escrever o relato, como habitualmente acontece. Eu estava cem por cento concentrada na corrida, o que talvez ajude a explicar o bom desempenho.

Bom, na verdade, não. Parei o cronômetro com a marca de 48min26, meu novo recorde para provas de 10 km! Fui 39ª entre todas as mulheres, a 6ª na minha faixa etária. Com a licença da Bia Figueiredo, que chegou à frente dos homens da categoria no sábado, eu fiz o mesmo em relação aos marmanjos da minha equipe. Com todo respeito, senhores, esqueçam aquela história de que “atrás de um grande homem” etc. etc....

(Com o tradicional agradecimento ao colega Nilton Hayashi da Cruz, pela foto.)

11 comments:

Alessandra Alves said...

o resultado completo, fornecido pela organização da prova:

Evento CIRCUITO DAS ESTAÇÕES ADIDAS - SP - 2ª ETAPA - INVERNO
Número de peito 1515
Sexo F
Categoria F3539
Equipe CONEXÃO
Tempo Final 00:48:26.45
Modalidade 10K
Tempo Parcial 00:24:55.75
Tempo Bruto 00:52:23.50
Classificação Total 731
Classificação na Categoria 6
Classificação por Sexo 39
Pace Médio 00:04:51
VelMedia(KM/H) 12,39

Gustavo Alves said...

Fantástico. E o incrível era ver você inteira ontem a tarde.

Anonymous said...

Corporativismo feminino hein????

Lógico, óbivio que você deveria destacar a vitoria da Bia, é justissimo!
Quando eu disse aqui mesmo que achava que a vitória da Danica no Japão era inconteste, porém fogo de palha você disse que talvez eu ficasse sozinho na opinião. Bem, até fiquei, mas também fiquei com a razão.
Já no caso da Bia não, esta vitória dela é só a ponta do iceberg e se ela tiver equipamento bom quando chegar a categoria principal - digo o mesmo que Danica tem agora - ela vai dar muito, mas muito trabalho mesmo aquela marmanjada lá. Ela tem muito mais a oferecer que a Danica, inclusive beleza.

Quanto a sua corrida...
Obstinação, seu pseudonimo: Alessandra Alves...
Abraços!

Celinho Boy said...

Fiquei surpreso quando vi na Band que a Bia Figueiredo vencera a Indy Ligth. Não imaginava que tu conseguirias bater o teu recorde particular.
Parecia que aquela perfomance da Ipiranga seria o presságio duma tarde daquelas pra ti. Imagino como foi estas belas coincidências.
Parabéns, Alessandra. Agora é ficar abaixo do 48, né?
Bjs e Abraços

niltonhc said...

Grande Alê! Parabéns pela sua determinação; os resultados são uma conseqüência natural!

E seu post serve de estímulo para nós, os "marmanjos" da equipe, criarmos vergonha e melhorar também :-D

Bjs.
Nilton

Anonymous said...

Ao contrário da Danica a Bia é bota das boas. Não precisa de sorte para vencer corridas.

E parabéns também para você Alessandra por cultivar um hábito tão saudável e prazeroso como correr e divulgar o esporte.

Wallace Michel

Alessandra Alves said...

gu: obrigada! quem sabe você não volta a se animar e participa de laguma corrida em breve?

ron: ok, você venceu. bia dá mostras de ser, de fato, muito melhor que danica. neste caso, dou o braço a torcer com muito gosto, porque admiro muito a brasileira. "guerreira", low profile, super focada. quem sabe não é ela a mulher que a fórmula 1 espera?

celinho: sim, rumo aos 47!

nilton: ah, mas era só uma provocaçãozinha, de leve, não leva a sério, não, viu?

wallace: obrigada!

Anonymous said...

Detalhe aparentemente besta: muito mais bacana ganhar guitarras que garrafas de champagne!

Jonny'O said...

Caramba!
Perdi o trem ,e vou ficar sem resposta!

Mas como o turma já comentou sobre tudo ,fica uma coisinha que sempre fica pra te perguntar mas nunca perguntei.

Me dá impressão que uma maratona o corredor fica focado somente em seu ritmo ou pensamentos ,totalmente solitario ,ou quase sempre.

Nunca li nada sobre aquela rival que está a frente ou que te está perseguindo ,aquela coisa de olhar para tras e ver que abriu ou diminuiu a diferença .

É assim mesmo?

Alessandra Alves said...

diego: sim, muito original esse troféu de nashville, totalmente temático.

jonny´o: que pergunta interessante! pena que eu não possa responder pela perspectiva de um corredor de elite, desses que correm mesmo para ganhar. nós, os amadores, temos uma relação muito diferente com a corrida. acredito que a maioria, ali, está correndo contra si mesmo, para melhorar o próprio tempo, sem se importar muito com quem está à frente ou ameaçando a sua posição. afinal, é um mar de gente e você não sabe, a rigor, se aquele fulano ali na frente está mesmo à sua frente na cronometragem, entende? afinal, ele pode ter saído muito antes de você. na corrida de domingo passado, por exemplo, veja meu tempo líquido (48min26) e o bruto (52min23). ou seja, quando passei pela largada, os líderes já tinham largado havia quatro minutos. por isso, eu não tenho como saber se aquela fulana ao meu lado, uma potencial adversária na minha categoria, está à minha frente ou atrás de mim no tempo líquido. lá na frente, imagino, a abordagem é outra. afinal, todo mundo está junto ali. na são silvestre, a gente vê, principalmente na subida da brigadeiro, que os líderes olham para trás para checar a aproximação dos outros. deve ser terrível manter a concentração na própria corrida e ainda se preocupar com os outros, não?

Anonymous said...

Não sei se você viu isso, mas eu achei muito interessante uma corrida de 10 Km dentro da fábrica da VW, passando inclusive na linha de montagem!!!

http://www.vwbr.com.br/vwrun/conteudo/percurso.htm