Friday, February 03, 2006

Obesos e blindados

A Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou uma lei que obriga a reserva de lugares adaptados para obesos em cinemas, teatros, casas de espetáculos e no transporte coletivo. O texto foi proposto pelo deputado Rogério Nogueira, do PDT. Ouvi, pela Rádio Bandeirantes, a justificativa do parlamentar, que se mostrou sensível ao apelo de amigos “gordinhos”, segundo ele, habitualmente constrangidos em situações nas quais precisam sentar em lugares cujo espaço não comporta suas dimensões.
Iniciativa de inclusão social: uma compreensão possível do ato. Qualquer circunstância que leve cidadãos a constrangimento e humilhação deve, no mínimo por uma questão humanitária, ser evitada. Mas convido a uma outra reflexão, retomando a fala da presidente da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, Maria Inês Dolci. Na mesma reportagem da Bandeirantes, ela louvou a lei que combate a discriminação, acrescentando que o número de pessoas obesas tem, de fato, aumentado em nossa sociedade.
É louvável que um legislador se preocupe em sanar problemas que atingem a população por ele representada. Mas não caberia também ao poder público, em qualquer de suas esferas, pensar mais na causa e menos no efeito? Qual é o problema maior aqui: o constrangimento dos obesos ou o fato de termos uma população crescente de obesos? Um cidadão entalado em uma cadeira de cinema provavelmente terá naquele momento de vexame um dos piores de sua vida – para ele, um assento maior seria a solução. E ponto. Mas e para a sociedade, isso resolve?
É também uma questão humanitária pensar nos malefícios que a obesidade acarreta, e nem vou me alongar nisso, todo mundo sabe. Mas é também uma questão de gasto lógico dos recursos. Mais obesos significam, no longo prazo, mais gastos com saúde e com previdência (mais infartos, mais acidentes vasculares cerebrais, mais aposentadorias precoces). O poder público não deveria se ocupar também de leis e medidas que contribuíssem para reduzir a obesidade?
A população está engordando porque quer ou porque é empurrada para esse estilo de vida? Pinçando dois exemplos do cotidiano de um trabalhador em uma grande cidade, como São Paulo. Ele recebe um vale-refeição, suponha, de R$ 8,00, suficiente para fazer uma refeição “leve” em um restaurante por quilo (“leve” imaginando que ele vá ocupar mais da metade do prato com folhas de alface, que de fato pesam pouco). Por R$ 1,50, ele encosta em uma Towner e se afunda em um cachorro quente, com massa o suficiente para lhe dar maior sensação de saciedade, ainda mais se insuflada por um copo de refrigerante “genérico”. O troco do vale-refeição faz enorme diferença em seu orçamento, já está incorporado a ele. Vá convencê-lo de abrir mão da diferença por uma vida “mais saudável”...
Aí, chega o final de semana e o trabalhador se vê entediado em casa. Poderia ir bater uma bolinha, dar um mergulho em um parque da prefeitura, mas faz as contas. Condução e lanche para a família toda, brincando, brincando, gasta uns R$ 20,00. Cadê R$ 20,00? Fica em casa mesmo, liga a TV. Não saiu, não bateu perna, não gastou caloria. Está engordando porque quer?
Não quero criticar nem mesmo desprezar a iniciativa do deputado Rogério Nogueira, mas cada vez mais me vejo mergulhada em uma sociedade que cuida dos efeitos e não das causas. E aí nos vemos aumentando assentos, subindo grades, blindando vidros.

12 comments:

Anonymous said...

Assentos maiores, vidros filmados e blindados, grades por todos os lados, infinitas senhas para identificar o cidadão correto, leis "obrigando" empresas a empregar deficientes físicos, vagas para negros em universidades, radares em avenidas para "tentar" educar no transito o motorista que sai atropelando e matando, e tantos outros ítens que seriam dias escrevendo.
Brasil, o país que remenda e não soluciona!

Pedro Alexandre Sanches said...

alessandra, deixa eu pensar... sim, sem dúvida os assentos maiores são um paliativo insuficiente, que roça nos efeitos sem cobiçar as causas... mas, por outro lado, fico pensando assim que, com esse paliativo, mais pessoas obesas e não-obesas irão passar a conviver com a questão da obesidade de um modo saudável e respeitoso, e não de um modo humilhante para os obesos e humilhador para os não-obesos ao redor. não é a solução de problema nenhum, mas será que não é a pavimentação pra chegar a um novo momento, em que os obesos, livres de um tanto de humilhação, possam partir para a exigência de ações mais diretas e efetivas dos tais poderes públicos?

num sei, acho que já é um ataque tímido e minúsculo às causas, como também ocorre em alguns dos casos citados aí em cima pela debora, dos deficientes que já podem ter empregos, dos negros que podem entrar um pouco menos humilhados na universidade etc.

Alessandra Alves said...

Pedro, sua colocação me fez lembrar uma fala do Caetano Veloso, sobre racismo. Ele comentava sobre o tal "racismo velado" do Brasil, tido por muitos militantes como ainda pior que o racismo declarado. A análise do Caetano, com a qual concordo, é de que não é pior, não. O racismo velado tem a crueldade da discriminação, mas tem uma cordialidade na convivência. O racismo declarado tem só a crueldade, e às vezes humilhação, e às vezes violência.

Pode ser um começo, concordo com você, mas o que me exaspera um pouco é ver um parlamentar se dedicar a um projeto como esse, eventualmente negociar a aprovação com seus pares, contentar-se e se orgulhar da vitória e nem de leve pensar no porquê. Os porquês disso parecem tão macro, tão longe de uma ação, da força de uma lei, que ficamos todos, poder público ou sociedade, só olhando para eles. Mas, reafirmo, tudo que possa ser feito para inibir ou punir qualquer tipo de humilhação deve ser louvado. Sou uma pessoa traumatizada com a fábula da Cigarra e da Formiga, tudo o que resvala em humilhação me dói profundamente!

Anonymous said...

Alessandra , fale um pouco sobre automobilismo

Véio Gagá - BH said...

Concordo com a Débora, mas ressalvo, Alessandra, que não obstante a obesidade já seja - em caráter preventivo - ou virá a ser - em caráter corretivo - caso de saúde pública, desta vez não serão os legisladores os culpados disso. O que fazer? Tolher a liberdade individual ao estabelecer cotas calóricas ou obrigar a exercícios? Aumentar a renda para que o lazer seja mais viável às famílias também não é solução, porque a renda extra só será benéfica à movimentação da economia e não à saúde. Com o aumento da renda serão comprados videogames, TV's de trocentas polegadas, jantares, computadores, etc., tudo para ficar em casa sentado em frente a alguma coisa.
Entendo que a obesidade não é um problema sócio-político, mas puramente "sócio-social" (gostou dessa?), criado e alimentado pela sociedade de consumo, do entretenimento e da praticidade - que mãe, tendo microondas, um pacote de salsichas e bisnaguinas vai fazer janta para a família, na hora da novela? Que pai sairia com os filhos a um parque na hora do esporte espetacular, da F1 ou do futebol de domingo?
Mas nem tudo está perdido. Há quem não se enquadra ao estereótipo acima: pelo menos minha mulher e eu!

Abraço,

Pedro Alexandre Sanches said...

hum, alessandra, o comentário do josé pedro me parece um ótimo exemplo de machismo velado...

não consigo concordar que racismo velado é melhor que racismo declarado, não, sabe? não vejo por que um seja menos hediondo que o outro (cordialidade?, bah...), e será que o racismo (& outros ismos) declarado não possibilitaria uma defesa mais efetiva (até mesmo judicial, se necessário) do(a) discriminado(a)?

tipo, manda o jorge bornhausen assumir o racismo dele, se for "homem". fica fácil, dá pra encher o cara de processo, chamar ele à responsabilidade da própria tacanhice dele...

ih, enfezei, hehehe.

Alessandra Alves said...

Ai, Pedro, você colocou a questão em um termo que eu não tinha pensado, nem resvalado. Olhando por esse ângulo, o da defesa efetiva do discriminado, sem dúvida o racismo (e outros ismos) declarado é muito mais digno que o velado. Eu acho que essas coisas têm mesmo que ficar às claras quando existe pré-disposição para um confronto, seja a situação que você expôs, como a de um eventual processo judicial ou seja em ações que repercutem socialmente, como é a ação dos meios de comunicação. Nós, que somos profissionais de comunicação, temos que ter isso sempre como foco, pois nossa atuação deve ser a do confronto. Quer dizer: não nos cabe passar recibo de uma atitude racista (ou de qualquer natureza preconceituosa). Aqui, não cabe preconceito escamoteado de forma alguma.

No entanto, insisto na fala do Caetano, e encontro uma lógica para ela, pensando no convívio social e na construção do modelo social brasileiro, que sempre se apoiou na co-existência pacífica de tantos povos que aqui desembarcaram. Não é uma coisa recorrente, em relatos sociológicos ou matérias singelas sobre, por exemplo, o aniversário de São Paulo, situarmos dois vizinhos na rua 25 de Março, que se conhecem e se dão há várias décadas, ainda que um seja judeu e o outro, descendente de árabes? Você mesmo, no seu blog, outro dia, não citou o relato de escravos e quilombolas de co-existência pacífica entre negros e brancos? Não quer dizer que o judeu e o árabe fossem armar uma grande festa se a filha de um resolvesse casar com o filho do outro (menos ainda se o filho de um resolvesse casar com o filho do outro...). Continuou havendo reservas de parte a parte, mas nem por isso um resolveu explodir a casa ou a loja do outro. Será que essa tolerância vesga, esse preconceito velado não nos foi útil para chegarmos até aqui como povo? Será que, de tanto conviver com diferenças, ainda que não as assimilando totalmente, não chegamos a um ponto de maturidade de, por exemplo, organizar uma das maiores Paradas GLTB do mundo? O melhor de tudo, claro, seria que não houvesse, que nunca tivesse havido intolerância, preconceito, discriminação de espécie alguma. Mas teria sido melhor que nos confrontássemos, sempre, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos, só para ficarmos num país da América, que também recebeu diversas correntes imigratórias?

Eu acho que isso que eu chamei de cordialidade foi, sim, responsável por termos criado, geração após geração, uma sociedade menos intolerante, menos preconceituosa. Quanto tempo ainda vamos levar para depurar tudo, eliminar de vez esses ismos odiosos, não sei. "A raça humana é uma semana do trabalho de Deus", não foi isso que o ministro disse para você, na já histórica entrevista? Eu tenho fé nisso. Vamos chegar lá, e acho que é melhor que tenha sido assim do que com bombas e barricadas, porque quem foi com bombas e barricadas não me parece, hoje, ser mais tolerante do que somos nós.

Mas eu ainda tenho que falar dos obesos. Peralá!

Alessandra Alves said...

Voltando à obesidade, então, para debater um tema que o Véio Gagá colocou. Será mesmo que a obesidade é uma conseqüência inexorável da sociedade de consumo e que estaremos, como sociedade, condenados a ela? Se atuarmos para que o cidadão tenha uma renda melhor ele vai necessariamente gastar tudo em itens que torne sua vida cada vez mais sedentária? Hummm, eu olho isso de outra forma. Vejo pelo prisma de uma coisa chamada auto-estima.

Vamos supor que esse mesmo cidadão, que hoje "não se mexe" porque lhe faltam todas as condições para isso, seja estímulo, seja dinheiro, progressivamente melhore de situação sócio-econômica. Diante de uma vida um pouquinho menos apertada, ele pode se atirar no sofá de vez, encantado com seu DVD, seu video-game, seu computador de mão ou pode pegar outra estrada, percebendo que tão factível quanto esses gadgets seja o hábito de freqüentar um Sesc ou um centro de convivência gratuito ou de mensalidade baixíssima ou simplesmente correr no parque. A escolha por essa via - a da vida saudável - ou a primeira - do sedentarismo - pode ser determinada apenas pela presença (ou pela ausência) de um estímulo. E é aí que eu acho que todos nós - e não só os políticos - podemos/devemos contribuir.

O Véio Gagá chegou num ponto com o qual eu concordo inteiramente: você e sua mulher são exemplos da contramão dessa atitude sedentária e de alimentação tipo junk food. Ótimo, pelo menos na sua família vocês já influenciaram algumas pessoas, acredito eu. Nós, no entanto, temos um poder de multiplicação para além da família e, na minha opinião, responsabilidade social também é isso. Permitam-se exemplificar com uma história verídica, atual e totalmente pessoal.

A filha da babá do meu filho (deu para entender?) é uma moça de 18 anos incompletos que, até o ano passado, tinha entrado em uma rota aparentemente sem volta de sobrepeso. Com 1,60 m de altura, pesava quase cem quilos. Uma adolescente com esse físico, não preciso me alongar no tanto de complexo que a cercava. Mas isso nem era o pior: a hipertensão passou a rondá-la também. Uma consulta a um cardiologista teve o poder de acender todos os sinais amarelos da menina e da mãe. "Tem que emagrecer, tem que fazer atividade física", o doutor decretou. O que parecia improvável, inverossímil, virou urgente. Encontrou-se uma academia de bairro a preço acessível, com acompanhamento de uma nutricionista, um programa estudado de exercícios. Começou. Lenta e gradualmente, a menina começou a emagrecer. A eliminação dos quilos a mais, no entanto, foi a conseqüência de algo muito maior que se processou: o aumento de sua auto-estima. Freqüentar a academia descortinou-lhe um mundo novo, com pessoas de faixa etária e interesses diferentes daquelas com as quais ela convivia até então.
Sim, em quase um ano, ela emagreceu 30 kg, mas nesse meio tempo, talvez a maior mudança tenha sido na atitude dela, que perdeu a vergonha crônica, que passou a se comunicar com desenvoltura, desabrochou. Tenho imenso orgulho de ter atuado como estimulante desse processo. Vejo o hábito de arraigar na família e se multiplicar. A irmã mais nova, de onze anos, também se influenciou pela reeducação alimentar e pelo hábito do exercício.

Temos esse poder de multiplicação, mas nem sempre estamos atentos para isso. E é coisa que nenhum político, sozinho, pode fazer. A eles, cabe só legislar, criar leis como as do deputado Rogério Nogueira. Mas e nós, como sociedade, não podemos "nos mexer" também?

Véio Gagá - BH said...

Alê, concordo com você quanto ao poder de multiplicação. Porém somos inferiores nessa batalha, o que não quer dizer que não possamos vencê-la, como mencionarei mais adiante. Primeiro vou falar da inferioridade na batalha. Enxergo duas espécies, por assim dizer, de auto-estima: aquela que a pessoa tem pelo que é e aquela que a pessoa tem pelo que pode possuir. Na sociedade de consumo do prazer e do conforto (sem vírgula, mesmo; consome-se o prazer e consome-se o conforto), também aumenta a auto-estima ter um arsenal tecnológico à disposição. Isso também impressiona os outros e traz ao "poderoso" uma sensação de bem-estar.
Vou dar também dois exemplos: a)-Como membro de uma banca examinadora de projetos de iniciação à pesquisa com jovens que cursam o ensino médio, ao acompanhar alguns trabalhos antes de sua conclusão vi que um dos garotos, aos 13 anos (e gordinho), levava para os trabalhos: 1 palm top com câmera, 1 celular de último modelo e 1 notebook. Tudo isso era dele e não do pai! Não é difícil concluir que a educação que ele recebe em casa é algo na linha: você é o que você tem.
b)- Nas corridas que eu gosto de dar em uma grande praça de BH, é mais fácil ver crianças andando num carrinho elétrico (com capacete, cotoveleiras e joelheiras, como se estivesse andando de F1)do que numa bicicleta; e as crianças nem conversam entre si, vão cada uma pro seu lado. Eu, que nasci e fui criado no interior de SP, fico triste ao ver isso. Cadê os rachas de bicicleta entre os amigos, nas praças? Por que as crianças de hoje brincam sozinhas?
Quanto ao esporte, hoje em dia o que vale é ser radical. E como nem todas as crianças e pais têm loucura suficiente para fazer o que se vê na TV, a emoção dos esportes (como atualmente todas as emoções) fica confinada à TV.
Por outro lado, ao ler e refletir sobre seu comentário, passei a acreditar que nós realmente podemos mudar este cenário, através do exemplo e de atitudes positivas em relação aos esportes que podem ser praticados por qualquer um (caminhada, corrida, peteca, natação, futebol, etc), chamando nossos amigos para nos acompanharem, transformando a atividade em algo agradável a eles e sem fomentar a competitividade (pelo menos no começo).
E aí passei até a acreditar que o Legislativo e até mesmo o Executivo podem contribuir em muito pra isso. Como? Através de "campanhas de utilidade pública" na mídia. Por exemplo, é cediço que as TVs para receberem a concessão se comprometem a prestar esse tipo de serviço. Você vê alguma das grandes redes aberta fazerem isso? Mas o Legislativo e o Executivo podem exigir que esse serviço seja feito, através de campanhas educativas positivas, que mostrem o prazer e os resultados de uma caminhada, de uma natação, e que há espaços (criem-se os espaços com o dinheiro que nos é roubado) para que as atividades sejam praticadas. Da mesma forma, há que se levar mais a sério a atividade dos professores de educação física nas escolas, reciclando-os e exigindo o cumprimento de um plano de curso sério e factível com os alunos, e não meras recreações onde participam apenas alguns.
Desculpe se falei demais. Antes estava pessimista e agora fiquei otimista.

Abraço,

Pedro Alexandre Sanches said...

sim, alessandra, e eu me embolei nas palavras se pareceu que eu quis recusar o lado bom e original da tal cordialidade brasileira. evidentemente ela nos construiu como somos, originais em grande medida, e isso é bacana à beça. o que me incomoda é aquele antigo lance que tanto temos falado, das "falsas dicotomias". me incomoda a retórica da cordialidade quando ela é usada como um espantalho para afastar qualquer reflexão sobre os racismos que de fato existem, ou para dizer que é "melhor" sermos racistas assim do que como os eua são - para botar panos quentes na questão, enfim (e não tô dizendo que é o que você faz, viu?, você sempre demonstra que não é). ok, mas o eua são como são e, mesmo naquela sociedade fundamentalista belicosa em que estão vivendo, têm uma classe média negra, têm mecanismos de proteção contra o racismo em funcionamento, têm um filme como "brokeback mountain" concorrendo ao oscar. cordiais ou não, nós ainda não chegamos a ter nada disso - e queremos chegar, à nossa própria maneira, né?!

o que falo sobre as "falsas dicotomias" é da dificuldade que temos em mirar, ao mesmo tempo, que a cordialidade é "boa" E "ruim" - ou seja, é complexa, confusa, atrapalhada... tipo, fiquei lendo o que você e o "velho gagá" (que nome, ahaha) falaram sobre obesidade, sobre auto-estima que cura um monte de males versus consumismo desenfreado que provoca outros tantos males e... concordei plenamente com os dois!!! não tinha dicotomia!, suas opiniões eram complementares, embora até pudessem parece opostas!

aliás, outra dessas falsas dicotomias não seria a do livre-arbítrio do indivíduo (e sua auto-estima) versus a inoperância dos poderes públicos (nossa eterna insatisfação com os governantes)? ela não vira um círculo vicioso a partir de quando começo a falar "não curo minha obesidade porque o poder público não faz a parte dele para me ajudar"? ou seja, será que interessa mesmo essa queda-de-braço pra saber quem é que vai começar a melhorar e a agir primeiro, se são os indivíduos ou os tutores da sociedade? ué, eles não podem começar a se mover juntos, ao mesmo tempo, independentes um do outro, cooperadores um com o outro?

nessas todas, fico com a filha da sua babá, que se moveu e, como você descreveu emocionada, moveu o mundo inteiro ao redor dela (possivelmente até mesmo você, não?)... essa menina vale por dez mil senadores!, hehehe...

Alessandra Alves said...

Pedro, touché! Você fincou a espada no ponto da contestação zero: "(...) ué, eles não podem começar a se mover juntos, ao mesmo tempo, independentes um do outro, cooperadores um com o outro?(...)". Podem. Devem!

O final do meu post, sem desenvolver com a simplicidade dessas suas palavras, era um apelo a essa participação ampliada: "(...) cada vez mais, me vejo mergulhada em uma sociedade que cuida dos efeitos e não das causas. (...)" Quem é a sociedade? Somos só nós? Só os políticos? Ou somos nós, eles, todos juntos?!

Vamos atacar as causas? Vamos começar incentivando as pessoas da nossa família, as que trabalham conosco, aquelas com as quais convivemos todo dia mas nem sempre nos damos ao trabalho de ouvir-lhes as histórias a se mover em direção a uma vida melhor (em todos os sentidos)?

Sem dúvida, sem nenhuma dúvida, a Gilmara, esse é o nome da minha metamorfosezinha ambulante, vale mais do que dez mil senadores, porque ela descobriu em si mesma o poder de mudar, de transformar e de mover o mundo à sua volta. Não quer dizer que o poder da pena - conferido aos senadores - seja desprezível. Mas ela sabe que uma boa medida dele, do senador, lá em cima (por exemplo, um incentivo público a um programa de qualidade de vida), provavelmente só vai refletir na vida dela se ela (ô, livre arbítrio, que bom ter você!) se ela e só ela quiser.

Touché, Pedro, touché!

Anonymous said...

Sou um obeso. E segundo a agência nacional de saúde sou um doente, e como todo "doente" nesse mundo sou tratado como tal pela sociedade. Inapto, digno de pena ou repgunância, inútil e bem como foi colocado, motivo de custos, um buraco-negro dos cofres públicos, que gasta o dinheiro dos contribuintes e o tempo de nossos reprensentantes. Não quero e nem vou fazer discurso sobre preconceito, ou mudança de hábitos ou modelos sociais, nem sobre a exigência estética dos dias de hoje. Só quero demonstrar a minha revolta, quando esse tipo de discussão acerca de obesidade começa a "RESVALAR" em gasto público, orientação social e toda essa conversa pseudo-intelectual, por motivos muito simples. O estado gasta muito mais dinheiro com gente que abusa de drogas (sejam calmantes com prescrição médica ou cocaína) e saem por aí matando ou destruindo patrimônio público e privado. Gasta muito mais pra satisfazer a "GULA" de deputados e empresários corruptos, perde mais tempo do sistema judicial já tão abarrotado com processos insignificantes. Enquanto, quem quer que seja, olhar pra sociedade e tentar fazer algo mesmo que "PALIATIVO" para tentar dignificar a vida dos cidadãos, vou apoiar. Pois, cada um tem seus monstros e seus demonios pra lutar, cada um escolhe como deve fazê-lo, e cada um encontram seus subterfúgios em prazeres momentâneos, em religiões, crenças, comida, seja lá o que for. Nos classificaram doentes, mas como uma sociedade COMPLETAMENTE doente pode dizer quem é ou não.