Estávamos vendo TV, eu, meu irmão e minha avó. Férias, quase hora do almoço. Minha mãe vem da cozinha, passada. “A Elis morreu.” Depois do alvoroço inicial, não registrei nada de grande monta nos minutos seguintes. Fim do dia, rádio ligado na Jovem Pan, Zuza Homem de Mello faz seu programa diário. Estranhei. “Puxa, eles eram tão amigos, achei que hoje ia faltar.” Ao que minha mãe explica, dizendo algo como a vida continua, ou o show não pode parar. Eu tinha onze, quase doze anos. Elis, 36. Ontem, dia 12, fiz 36. A idade ficou na minha cabeça como as imagens do velório e do enterro, pela TV. E as sucessivas matérias/homenagens, que terminavam, em expressiva maioria, com Elis, olhos arregalados, cabelos encaracolados, magra, de saia comprida e botas, cantando “Travessia”. E martelavam o verso final, o braço no ar: “Vou fechar o meu pranto, vou querer me matar”. Naqueles primeiros dias, nada de overdose, nada de cocaína. Uma pessoa que morre sozinha no quarto, madrugada, depois de uma conversa tensa pelo telefone com o homem que ama. “Vou querer me matar”. Fazia sentido e fechava legal a reportagem. A cobertura da morte de Elis Regina ainda nos brindaria com uma das (primeiras?) capas safadas de Veja. Foto dramática de Elis, agora na temporada de “Trem Azul”, macacão bege-dourado, cabeça pendendo para trás, braços abertos. “A tragédia da cocaína”. Quem lembra disso? Quem se impressionou com isso? Enfim, cheguei aos 36, espero ter mais tempo que Elis, pelo menos o dobro! Obrigada a todos que ligaram. Na ordem: Marcelo, Naná, Lucas, Tiago, Felipe, Debora, Dora, Adriano, Silvio, Marisa, Paulo, Guida, Claudia, Edson, Márcia, Milly, Junior, Cynthia, Rosa Paula, Gê. Os e-mails e recados orkutianos: Rosane, Tales, Claudia, Dani, Andréa, Patrícia, Perrone, Thomas, Mauro, Karina, Ico, Alessandro, Bruno, Eduardo, Paula. Beijos! |
Monday, February 13, 2006
Cheguei, espero passar
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13 comments:
Bem,dona Alessandra,não nos conhecemos mas parabéns também!!!
E quanto à morte da Elis,eu tenho uma vaga lembrança.Hoje estou com 31 anos na,epoca eu tinha..deixa eu ver....(Foi em 82,não?)Talvez eu tivesse 8 anos.Me lembro que à tarde começaram a passar especiais dela na TV.Ou talvez fosse só num canal.
Eu não entendi bem a dimensão da coisa.Só percebi que havia morrido uma cantora importante.
Ah,e será que voce podia me dar uma luz?Como faço pra colocar links no lado direito do blog?O sr. Blogger dá umas intruções mas eu não entendi lhufas.
ahbc, obrigada!
Eu também penei para acrescentar esses links. Você tem que abrir a pasta modelos e ir naquela grande mensagem que aparece cheia de endereços e configurações. Role a barra da direita quase até o final, onde você encontrará links com a inscrição "edit me". Você deverá inserir ali os endereços do seus links.
Na morte da Elis eu tinha, hm, -2!
E os parabéns foram merecidos, a uma das melhores cronistas e colunistas que conheço!
:)
parabéns atrasado alê!
ei, ce tá no orkut? vou te achar!
eu tô com meu heterônimo número 2, jewel blake, hihihih.
eu tinha 8 quando a elis morreu, não me lembro de grandes impressões da época, apenas de uma matéria no fantástico, acho...
mas aos 16 já comecei a me horrorizar com as capas horrorosas da veja que vendem tragédias (e às vezes inverdades) na primeira página, com aquela capa horrível do cazuza, lembra?
Ale,
Da Elis eu não lembro de nada... Também, nessa época eu só me preocupava com meus cachorros, meus playmobils, minhas aulas de alemão e mais algumas superficialidades... hehehehe
Mas de vicê eu lembro bem, viu? E apesar de ter te ligado depois, deixo aqui meus PARABÉNS!!!!
Alessandra, faltou vc citar os parabéns bloggnianos.... eheheh.
Um Super-Parabéns pra vc!!!!
Bjo.
Márcia, se lembro da capa do Cazuza! "Uma vítima da Aids agoniza em praça pública". Eu estava no segundo ano de faculdade, aquilo deu um pano pra manga violento. Lembro que parte do mundo acadêmico tendia a se alinhar com a propalada liberdade de expressão e o respeito incondicional a ela. Os argumentos dessa ala se apoiavam, por exemplo, no fato de que Cazuza tinha posado para as fotos, portanto sabia que elas seriam publicadas, como se ele fosse co-autor daquela produção , como se não fosse o contexto que desse a tônica de julgamento, comiseração e alerta moralista daquela edição. Outra, menor mas muito mais contundente, tendo como um dos membros o falecido professor Freitas Nobre, alertava para o sensacionalismo, o desvirtuamento das palavras (lembro que ele dizia: "a imagem de agonizar em praça pública dá a sensação de que ele está abandonado, sem família e sem amigos, como um pária da sociedade, o que não deixa de ser um julgamento, talvez um desejo recôndito do pensamento pequeno burguês que a revista expressa").
Esse caso me marcou particularmente pela fase universitária que eu atravessava. Mas a Veja ainda faria mais, e talvez pior.
Bem, a história da capa do Cazuza é contado em detalhes no livro da Lucinha Araújo,o "Só As Mães São Felizes".
Ela contou que a Veja procurou o Cazuza pra uma entrevista nas páginas amarelas,e assim foi feito.Mas à revelia dele a revista mudou todo o esquema,resolveu publicar uma matéria tipo "perfil",e claro,totalmente sensacionalista e injusta com ele.Pois se a última coisa que estav acontecendo com Cazuza era ele estar "agonizando em praça pública"!de jeito nenhum!Ele estava era mostrando toda uma força e vontade de continuar vivo!
E no livro é dito que o responsavel pela entrevista inicial,um tal de Alessandro Porro ficou tão envergonhado com o que fizeram que resolveu sair do país.
Olá, gostei muito do seu texto, e não só deste, mas dos outros também.
Porém - talvez não seja algo relevante tenho que ler os seus posts de uma cópia, pois o seu template tem um probleminha com o navegador Firefox... Só uma dica ;)
fizeram com a cássia também né? credo, medo. fizeram com a roseana sarney, haha (quase mataram politicamente a moça). quem mais?
fizeram com todo mundo né?
márcia, eu sempre dizia isso para meus clientes, quando fazia assessoria de imprensa. quer aparecer? foco na caras, nunca na veja. na caras, é todo mundo lindo e, se der certo, você ainda emplaca uma capa "fulana, quatro quilos mais magra blá-blá-blá". hahahahaha na veja, nove entre dez dos alvos são julgados, ridicularizados, rotulados.
uma das vinganças mais lindas foi a do miguel falabella, capa da veja como "a loira má". na peça que escreveu para a claudia gimenez ("como encher um biquíni selvagem"), em dado momento do monólogo ela falava, na pele de uma dona de casa bem classe média tapada: "...tá pensando o quê?! eu sou muito bem informada, eu leio a veja!"
HAHAHAHAHAHAHAHA
A morte da Elis... Além do choque (só não foi maior porque eu havia, digamos, "aprendido" a lidar com isso desde a morte de John Lennon), duas coisas me marcaram naqueles dias: a manchete do Jornal da Tarde ("Perdemos nossa maior cantora") e as cenas da multidão no velório.
Elis foi enterrada vestindo uma camiseta com uma bandeira do Brasil com a inscrição "Elis Regina" na faixa branca. Os repórteres explicaram que aquela camiseta deveria ter sido usada em algum show (acho que "Saudades do Brasil"), mas a censura havia proibido. "Proibiu por quê? O que tem de mais nisso?", eu me perguntava, e perguntava aos adultos que me cercavam.
Ali, na virada dos meus 13 para os 14 anos, comecei a descobrir e entender o enlace entre história, política, arte, nossas vidas. Dez meses depois da morte de Elis, aconteceram as primeiras eleições diretas para governador desde 1966. Diante dos meus amigos de escola, afirmei que, se pudesse, votaria em Lula. Resposta quase em uníssono: "Você é louco! O Lula é comunista!"
Puta que pariu. Estou arrepiado.
Elis Regina foi assassinada.
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