Friday, March 12, 2010

Evolução x Revolução


O texto abaixo foi publicado no Tazio, antes dos primeiros treinos livres do Bahrein. Eis minhas expectativas para a Fórmula 1 em 2010.

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É possível que a temporada de 2010 da F-1 nem traga tantas mudanças para a categoria como aconteceu no ano anterior. Aliás, nunca houve um ano como 2009 e provavelmente nunca haverá - com uma equipe estreante campeã que, por sinal, deixou de existir ao fim do campeonato. No entanto, 2010 começa como a temporada de maior expectativa dos últimos anos, por várias razões.

A última grande sacudida na F-1 começou a se delinear em 2008, quando aprovado o novo regulamento técnico que varreu a maior parte dos apêndices aerodinâmicos dos carros para 2009. Uma nova ordem se instalou a bordo dos modelos "clean" e dos polêmicos difusores duplos da Brawn GP (também usados, sem o mesmo brilho, diga-se, por Toyota e Williams). Sem a Honda, sem certezas, a Brawn GP foi à pista em Barcelona ao cair do pano da pré-temporada e deixou a F-1 de queixo caído, ditando no teste coletivo a rotina das sete primeiras corridas da temporada. A F-1 dobrou uma esquina em 2009, começou do zero, embaralhou as cartas. Isso não deve acontecer em 2010.

2009 foi revolução. 2010, evolução. A mudança técnica mais importante para este ano é o fim do reabastecimento, cujo principal impacto na configuração dos carros está no aumento do tanque de combustível. Para acomodar 235 litros, e não mais 120, a distância entre-eixos dos carros também aumentou. Mexe na aerodinâmica, mas não com a relevância do ano passado. Os testes desta pré-temporada não fizeram nenhum queixo cair. A F-1 deve ser mais "conservadora" neste ano, no sentido de manter favoritas as equipes que terminaram 2009 à frente, ou as que praticamente abandonaram o último campeonato antes de seu término e focaram no desenvolvimento dos carros para 2010.

As mudanças mais significativas, no entanto, não se encontram no campo técnico, mas esportivo. A mudança na pontuação vai fundir a cabeça de todos nos primeiros tempos. Aquelas continhas simples, distribuindo 10 pontos, 8, 6, 5, 4, 3, 2 e 1 para os oito primeiros? Esquece. Habitue-se a 25, 18, 15, 12,10, 8, 6, 4, 2 e 1 para os dez primeiros. Confuso, mas sempre pode piorar. Podem voltar os descartes, podem premiar pela pole, pelo maior número de voltas na liderança, por liderar a prova correspondente ao dia do aniversário da mãe de Bernie Ecclestone. Eles não vão sossegar enquanto não nos deixarem chapados diante dos carros, bebendo cervejas e mastigando salsichas, desistindo de fazer contas e projeções, só esperando pela última volta. Mas ainda não chegamos lá. Voltemos.

A nova pontuação foi criada para valorizar a vitória, aumentando a diferença entre primeiro e segundo colocados. Mas, na medida em que o valor absoluto também aumenta (de 10 para 25, de 8 para 18), a diferença proporcional entre as duas posições não é tão significativamente maior. Se a mudança servir para aumentar o arrojo em busca da vitória, objetivo cumprido, não se fala mais nisso. A conferir.

Se os testes coletivos não fizeram soar os alarmes dos plantões jornalísticos, um dado novo chamou a atenção neste 2010 - a estreia das novas equipes. Times admitidos pela FIA no auge da discussão sobre o teto orçamentário deste ano. Times que acreditaram no conto da carochinha de 40 milhões de libras. Times que só faltam remendar seus carros com silver tape na falta de peças de reposição dignas. A diferença entre as equipes tradicionais e as "new comers" deve ser abissal. Situação à qual a maioria dos pilotos atuais não está habituada. Negociar ultrapassagens tendo mais retardatários pelo caminho pode ser um dado interessante para a platéia, e algo aterrorizante para alguns pilotos. Este dado não encobre o desmando na escolha dos novos times. Deixar fora equipes mais tradicionais e com estruturas prontas, como Lola ou Épsilon Euskadi, e escolher a natimorta USF1 apenas revela a política de terra arrasada que Max Mosley imprimiu a seus últimos momentos à frente da FIA.

Se a lógica da nova temporada for da continuidade, e não da ruptura, Red Bull, em ascensão no final da temporada, e Mercedes, seguindo a trilha da Brawn GP, iniciam 2010 como favoritas. É o que acha, por exemplo, Fernando Alonso, que cravou na Red Bull o favoritismo para o Bahrein. Sinceridade ou blefe? Talvez, apenas demonstração de inteligência.

Alonso está em lua de mel com a Ferrari. Em comum, além do sangue latino, equipe e piloto parecem querer esquecer a temporada passada, não sem motivos. A Ferrari não se importou em pagar para Kimi Raikkonen ir dar piruetas no Mundial de Rali. O preço para ter Alonso parecia sem limite. Contrato de cinco anos, motivação nas alturas, testes encorajadores na pré-temporada. Expectativa na estratosfera. Ao negar o próprio favoritismo, Alonso alivia-se da evidente pressão.

Na mesma linha segue Michael Schumacher. O heptacampeão abre mão da aposentadoria para voltar a pilotar pela Mercedes. É difícil imaginar que ele arriscaria seu prestígio e tempo por algo que não fosse certeza - ou, pelo menos, evidência - de sucesso. Mas Schumacher também prefere despir as vestes de favorito (e vestir aquelas camisas horrorosas, credo!).

A Red Bull, que parece o alvo preferencial quando as outras equipes buscam aliviar a própria pressão, não foge da raia. Christian Horner, o chefe do time, acha que a disputa pelo título será eletrizante e coloca sua equipe entre as favoritas. Sebastian Vettel, que terminou 2009 em rota ascendente, parece o pupilo pronto a desafiar o mestre compatriota e quem vier pela frente. E mesmo Mark Webber, que até o ano passado era pouco mais que um leão de treino, começou a cantar de galo neste ano, assinalando que a disputa na equipe dos energéticos pode ser tão acirrada quanto nos domínios da Ferrari, com Alonso e o fiel Felipe Massa, ou na McLaren, com Lewis Hamilton e Jenson Button.

A expectativa é das maiores. Quatro campeões mundiais na disputa, todos em equipes bem cotadas, outros postulantes a campeão com chances reais, um novo desafio a partir do fim do reabastecimento, novo sistema de pontuação, novas equipes embaralhando as posições ao longo da pista. No papel, a temporada de 2010 vai ser ótima. Basta que ninguém dispare a ganhar corridas de maneira inapelável como fez a Brawn em 2009. Basta, como reza a lenda acerca de Garrincha, combinar com o adversário

13 comments:

Unknown said...

Respondendo à sua pergunta num post seu laaaaá atrás, ALESSANDRA!!! FALTAM MENOS DE 2 DIAS!!! \o/

Mário Salustiano said...

sabe Alessandra não que eu considere o texto ruim, ele é bom, agora me deixa sempre um pé atrás textos que aludem para "a melhor temporada dos ultimos anos" ,como? pergunto, se a temporada nem começou, podemos ter uma expectativa positiva , agora essa afirmação que está recorrente no amigo jornalista que escreveu (sabemos quem é) parece coisa de vendedor querendo prometer mundos e fundos antes de recebermos o produto e dessa forma vender mais fácil seu peixe, não caia nessa armadilha, tem muito veiculo aqui no Brasil usando esse expediente para vender mais revista e audiencia em blogs, o que não é seu caso

Rafael Rosa said...
This comment has been removed by the author.
Rafael Rosa said...

Olá Alessandra! Estou ancioso pra ver como será a questão dos pneus entre o qualify e a prova! Quem partir do décimo primeiro pra trás terá um melhor composto para a corrida. Vamos ver o acontece...

Infelizmente tive meu twitter invadido por Hackers nesta sexta. Com isso não pude mais fazer meus updates!!! Agora assino lá assim: @rafael_rosa81 Entrou apenas um underline nesta história, mas que me causou inúmeros transtornos!

Espero que não se importe de dar Follow para mim novamente.

Até breve...

foca said...

bacana alessandra,
antes de mais nada, talvez por mais sorte que juizo do mr. mosley, parece que teremos mais uma temporada com promessas de surpresas como nos últimos 3 anos houve, quando em 2007 teve a rixa alonso X hamilton e kimi campeão, 2008 campeão na última curva e um brasileirinho gente fina batendo na trave, 2009 a brawngp e uma dupla de pilotos que estava na seguridade social e voltaram pra ponta. quer época mais chata que os anos schumacher?

by the way, achei muito mala esse mario salustiano, o cidadão se acha... mas, fazer o quê?!
abç,

foca cruz

foca said...

bacana alessandra,
antes de mais nada, talvez por mais sorte que juizo do mr. mosley, parece que teremos mais uma temporada com promessas de surpresas como nos últimos 3 anos houve, quando em 2007 teve a rixa alonso X hamilton e kimi campeão, 2008 campeão na última curva e um brasileirinho gente fina batendo na trave, 2009 a brawngp e uma dupla de pilotos que estava na seguridade social e voltaram pra ponta. quer época mais chata que os anos schumacher?

by the way, achei muito mala esse mario salustiano, o cidadão se acha... mas, fazer o quê?!
abç,

foca cruz

foca said...

bacana alessandra,
antes de mais nada, talvez por mais sorte que juizo do mr. mosley, parece que teremos mais uma temporada com promessas de surpresas como nos últimos 3 anos houve, quando em 2007 teve a rixa alonso X hamilton e kimi campeão, 2008 campeão na última curva e um brasileirinho gente fina batendo na trave, 2009 a brawngp e uma dupla de pilotos que estava na seguridade social e voltaram pra ponta. quer época mais chata que os anos schumacher?

by the way, achei muito mala esse mario salustiano, o cidadão se acha... mas, fazer o quê?!
abç,

foca cruz

Mário Salustiano said...

foca pelo menos eu assino meu nome não me escondo, não me acho , mas não sou bajulador barato

Leonardo de Araújo said...

Mais um texto muito bem escrito.

Não sei se o Schumacher vai detonar ou não. No início fui contra a volta dele porque prefiro que os grandes parem no auge, mas só de vê-lo com sorriso no rosto no paddock já foi legal.
Só não pode a Ferrari "avacalhar" o Massa como aconteceu em anos passados. O tal sinaleiro de box, a caixa de câmbio.
Quando era criança, a Ferrari era sinônimo de eficiência, de amor ao time e ao automobilismo. Eles dominavam as trocas nos pits. Ferrari era A EQUIPE.
Vieram essas lambanças com o Felipe, mais recentemente.
Este ano parece que vai ser diferente. Veremos.

Leonardo de Araújo said...

Ah, tava esqucendo, umas piadinhas pra tirar onda do pessoal da Indy na redação (se é que não vai acontecer alguma tragédia na prova):

Os gringos estão reclamando à toa: Vamos dar uma caipirinha para cada piloto antes da prova, aproveitar que transferiram o treino e realizar a corrida à noite. Com as luzes, o desfile vai ficar lindo na avenida. Pena que o Barrichelo têm compromisso agendado, seria o campeão da "sambadinha".

Furo de reportagem!!! Fontes seguras afirmaram que estão negociando o próximo mundial de Curling no Anhembi, faz parte de um plano para trazer as Olimpíadas de Inverno pro BRasil il il il il.
Tudo pode ser organizado em dois meses apenas.

Unknown said...

Bela profissional você é hein !!!

...comenta F1 mas no Domingo, tinha medo até de pronunciar o nome da mesma por causa da Indy.

Bem....já que fingiram que não existe a F1, quero saber se ainda vão transmitir e você vai comentar.

Anonymous said...

alessandra,
se me permite, esse é para o sr. salustiano matar a curiosidade:

luiz alberto borges da cruz, (foca cruz) curitibano, 47 anos, ilustrador e designer gráfico, casado, pai de uma filha de 18 anos, acompanho a F1 desde 1972. proprietário de um puma gt 1974. minha webpage é www.focacruz.wordpress.com o twiter caso queira me seguir é @focacruz. E além do mais, pela jornalista e autora desse blog sou bem baba-ovo sim. e com hífem.
desculpe usar esse espaço pra isso alessandra.

p.s.: só não entendi pq ficou repetido 03 vezes meu comentário, garanto que não foi pra puxar saco...

Unknown said...

Olá Alessandra! Parabéns pelo post, gosto da sua maneira de escrever e analisar os fatos. Agora que a primeira corrida já aconteceu, seria fácil criticar ou elogiar o seu texto, e não tenho essa pretensão. Ficou evidente que sim!,a RBR não tem apenas pretensões, mas reais condições de disputar o título. Porém, o grande problema do ano passado - a durabilidade do motor Renault - parece que vai continuar tirando o sono da equipe energética.

Peço sua licença para discordar do leitor M. Salustiano. Não li em nenhuma parte do seu post qualquer "alusão" à "melhor temporada de todos os tempos".... Será que lemos o mesmo texto? Acho que qualquer mulher que, como você, consiga "perfumar" com tanta graça um ambiente masculinamente nauseabundo como o automobilismo, é merecedora de todos os incentivos, ainda que escrevesse besteiras... rs! Mas não! Você além de saber escrever, entende do que escreve, tem opinião e não usa de "expedientes" nem "artifícios" para atrair seguidores. Desejo a esse Sr. melhor sorte nas respostas aos demais leitores e mais clareza em sua próxima crítica.

Abraços!

Carlos Duarte