
O campeonato atual da Fórmula 1 pode entrar para a história como um dos mais estranhos de todos os tempos. A começar pela sucessão de polêmicas e escândalos: a discussão sobre a validade (ou não) dos difusores de dois andares, a mentira de Lewis Hamilton na Austrália (custando a cabeça de Ron Dennis na McLaren), a briga entre FIA e Fota, a farsa denunciada do GP de Cingapura de 2008.
Estranho por ver uma equipe, que não existia em janeiro, ser a virtual campeã de Construtores, com enormes chances de fazer também o campeão entre os pilotos. Estranho por ver pilotos mais fortes e/ou experientes (Alonso, Raikkonen, Hamilton, Massa) excluídos da briga pelo título, restrita a pilotos mais limitados e/ou inexperientes (Button, Barrichello, Vettel e, até Cingapura, Webber).
Mas algo me soa familiar nesta temporada, remetendo ao campeonato de exatos 30 anos atrás. O título de Jody Scheckter, em 1979 foi, durante mais de vinte anos, a referência vitoriosa mais recente da Ferrari. Só em 2000, Schumacher e sua turma puseram fim ao jejum do time italiano. Em 1979, como em 2009, o campeonato pareceu viver fases distintas de domínio, com quatro equipes se alternando nas vitórias.
Começou com a superioridade da Ligier (duas vitórias de Jacques Laffite), seguida por duas consecutivas da Ferrari, mas não a Ferrari de Scheckter, e sim de Gilles Villeneuve. Nova vitória da Ligier, com Patrick Depailler, na quinta prova. Scheckter só venceria a sexta corrida daquele ano, na Bélgica, assumindo a liderança para não mais perdê-la, sagrando-se campeão no GP da Itália, quando ainda faltavam duas provas para o final. Duas equipes mais venceriam naquele ano - a Renault, com Jean-Pierre Jabouille, e a Williams, com Clay Regazzoni e Alan Jones (este com quatro vitórias, prenúncio de seu título, conquistado no ano seguinte).
Em 2009, até agora, quatro equipes alternaram-se nas vitórias. O começo irresistível da Brawn sofreu breve hiato apenas na terceira corrida, com a vitória de Vettel na China, interrompendo a série de vitórias de Jenson Button, que venceu seis em sete corridas. A Red Bull voltou a mostrar força por duas provas seguidas - Inglaterra e Alemanha. Na Hungria, renasce a McLaren do campeão Hamilton, seguida de outro renascimento bastante aguardado, com a primeira vitória de Barrichello em cinco anos, emendando em outra ascensão até então inesperada - a da Ferrari de Raikkonen. Novo triunfo para Hamilton em Cingapura, dividindo ainda mais os pontos.
Diferenças entre Button e Scheckter?
Button liderou o campeonato desde o começo. Scheckter, só a partir da sexta prova.
Button tem como principal oponente ao título seu companheiro Barrichello e o discurso oficial da Brawn reza pela liberdade de disputa entre ambos. Em 1979, no GP da Itália, Scheckter foi escolhido por Enzo Ferrari para ficar com o título. (A história conta que Enzo escolheu Scheckter por sua maior experiência, prometendo a Gilles a primazia na oportunidade seguinte. A chance viria em 1982, mas daí o companheiro Didier Pironi resolveu não fazer o jogo da Ferrari, azedou o clima entre eles, Villeneuve morreu no treino para o GP da Bélgica e desandou de vez a macarronada ferrarista.)
Como Scheckter, Button também pode se beneficiar da divisão de pontos entre os oponentes e se sagrar campeão com duas corridas de antecipação. Eu não acredito que isso aconteça, neste próximo final de semana, em Suzuka. E você?