Faz tempo que tenho vontade de comentar sobre meus tempos de Folha de S.Paulo. Um período relativamente curto, dois anos e pouco, mas intenso e marcante, por vários aspectos. Foi meu primeiro emprego, iniciei lá antes de terminar a faculdade, contratada pelo então editor Flavio Gomes, que depois se tornou um grande chapa. Esta atual efervescência da mídia em torno dos Jogos Panamericanos me fez lembrar de uma cobertura histórica. Não minha, mas de um grande repórter de Esportes – Edgard Alves.
O Pan de 1991 foi a primeira grande competição que encarei na Folha. Realizado em Havana, visto de hoje o evento parece ter acontecido não no século passado, mas no retrasado, pelas dificuldades de comunicação. Edgard era o único repórter do caderno de Esporte da Folha no Pan de Cuba.
Naqueles tempos, o jornal tinha um hábito esdrúxulo. Mandava para uma cobertura política, por exemplo, um repórter de Ciências. Da mesma forma, às vezes pedia ao editor de Esporte uma crítica sobre a novela mexicana em cartaz no SBT. Isso não é força de expressão, acontecia de fato e revelava um “conceito” do jornal, o de colocar profissionais que não entendiam nada daquele assunto para dar “uma outra visão” à cobertura. E assim a equipe de repórteres da Folha no Pan de Cuba tinha um repórter fera em Esporte, nosso Edgard, e um outro grande jornalista, que viria a se tornar biógrafo respeitado, mas que de esportes parecia saber bem pouco.
Claro que um único repórter não faria a cobertura de todas as competições. Desta forma, a redação ficou responsável pela retaguarda que deveria, em grande proporção, produzir de São Paulo o noticiário acerca do que se passava nas quadras, pistas, piscinas e campos de Havana. Eu era foca, o nome que se dá ao jornalista em início de carreira, por isso delegaram a mim esportes menos destacados, como esgrima e pólo aquático. Nem liguei. Estava toda pilhada de fazer minha primeira cobertura de um Pan, ainda que à distância.
Falar com Edgard direto de Havana era um episódio raro, normalmente reservado ao editor, em uma ou duas conversas telefônicas diárias. O resto da equipe tinha de se comunicar com o repórter por meio de um aparelho hoje de museu, o telex. Para a moçada que nunca esteve à frente de um, vou descrevê-lo. Era uma espécie de máquina de escrever grandona, na qual se digitava normalmente. Só que a mensagem era transmitida por meio de uma fita lateral, que ia se preenchendo de furinhos à medida que se digitava. Essa fita era o que continha a mensagem e sua transmissão permitia que se lesse o texto no outro aparelho conectado, em qualquer parte do mundo. Textos longos eram produzidos desta forma: o jornalista digitava o texto, a fita era gravada e um operador transmitia a fita para o telex de destino. Textos curtos podiam ser transmitidos diretamente, como uma espécie de Messenger pré-histórico, mas não era possível manter longas conversações dessa forma, pois a transmissão era feita por linha telefônica. Além de cara, a conversa poderia ser interrompida a todo tempo, em função da má qualidade das linhas.
Produzíamos o noticiário na alameda Barão de Limeira, com o auxílio dos telex das agências internacionais, da transmissão das TVs (só tinha TV aberta naqueles tempos, viu?) e enriquecíamos as notícias com declarações colhidas pelo Edgard, em Havana, ou com impressões e fatos por ele transmitidos, diretamente da ilha. Aquele que se sentava ao telex para falar com o enviado especial, nos breves momentos do dia em que ele conseguia fazer isso, ficava responsável por transmitir aos colegas as informações de outros esportes que o repórter enviava naquele instante.
O Pan de 91 foi especial para o esporte brasileiro principalmente por três acontecimentos. Foi nessa competição que o nadador Gustavo Borges conquistou suas primeiras medalhas em Panamericanos (duas de ouro, duas de prata e uma de bronze). É também dessa competição o surgimento da vitoriosa geração de ouro do vôlei masculino. Ouro que só viria um ano depois, na Olimpíada de Barcelona, mas a prata conquistada pela geração de Tande, Giovane, Maurício e Marcelo Negrão, naquele Pan, foi uma espécie de ensaio.
Mas a grande conquista brasileira naquele Pan, indiscutivelmente, foi o ouro da seleção feminina de basquete, coroando a geração de Hortência e Paula, “condecoradas” pelo próprio Fidel na cerimônia de premiação. Edgard, um grande especialista em basquete, estava lá.
Fiquei muitos anos sem ver Edgard pessoalmente. Há uns dois anos, estive na redação da Folha para um compromisso profissional e fui falar com ele. Como eu estava bem diferente, quis ver se ele me reconheceria. Não disse quem eu era e pedi para adivinhar. Não adivinhou e ficou mais vermelho que uma bandeira do PT quando me “apresentei”.
Edgard está no Rio, com uma grande equipe da Folha, para a cobertura do Pan, que começa nesta sexta-feira. A todos, desejo boa sorte. E ao Edgard, em especial, esta lembrança daquela que talvez tenha sido sua mais heróica cobertura.
Em tempo: Edgard não é meu parente. A família Alves é que é grande pacas.
Thursday, July 12, 2007
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4 comments:
Acho muito bonito este reconhecimento por pessoas que por algum periodo na vida ou algum outro motivo ,marcam nossas vidas e um dia qualquer é lembrado e homenageado ,parabéns Alessandra.
Mas pelo amor de Deus, não faça mais isso,esse negocio de ,lembra-se de mim!
Trabalhei durante anos com produção de cenoura ,e requer grande quantidade de mão de obra na colheita, e na agricultura a mudança dessas pessoas durante a colheita é emorme,é comum vc terminar um ano agricula e ter conhecido centenas de pessoas.
É mais comum ainda estas mesmas pessoas te encontrar na rua e fazer esta traumatizante pergunta .
OH..!Saia justa!Hehehe...
Jonny'O
Jonny'O Sei Bem o que é isso. A pior parte são quando as pessoas incistem.
Alessandra ótimo texto! Até pouco tempo tinha um pedaço de telex aqui em casa era uma jaca guardada pelo meu pai sei lá pra que!
Esse é um que vai ficar a vida inteira na Folha... A redação mudou de cara, tudo mudou, mas essas poucas pessoas são constantes. Edgar, Julio, Vinícius (bom, esse subiu...)...
So what are you getting for your 1,000 mgs? Probably not much as I quickly found out. So if you are interested in following a calorie-controlled diet in order to normalize your body weight If diet and supplements don't work for you, you may have to try iron injections (which are not common) or IV iron therapy. One, you get out of your comfort zone. Just like the beyaz peyniri, kaşar is also one of the most widely consumed cheeses in Turkey.
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