Thursday, November 23, 2006

Tucanaram a Segundona

O colunista José Simão, da Folha, há vários anos cunhou as expressões tucanar, tucanês, entre outras variações, em referência ao hábito de "falar difícil", genericamente associado ao partido dos tucanos, o PSDB. Foi o governo tucano, por exemplo, que massificou no país o termo "agência", para designar instâncias controladoras de setores da economia. Zé Simão esmera-se por coletar e divulgar exemplos do que ele chama de anti-tucanês, expressões bem "ao pé da letra".

Esta é o contrário e me foi contada pelo meu dentista e querido amigo, dr. Marcelo Poloniato. Antes, cumpre um pequeno parêntesis: quem me conhece sabe do meu encanto pelo futebol. Torço, mas sobretudo amo futebol, de assistir Pocinhos do Rio Verde versus São Popó do Maculelê de sábado à tarde, via UHF, em preto e branco. Mas, convenhamos, sou quase uma aberração. Mulheres, em geral, não gostam de futebol e gostam de dizer que não gostam de futebol. Algumas até se entusiasmam quando chegam as finais, mas daí inventaram o campeonato de pontos corridos e não tem mais final. Aí é que as moças de enroscam mesmo. Lembro claramente da última rodada, ano passado, quando o meu Corinthians conquistou o Troféu Luiz Sveiter, ops!, quer dizer, o Campeonato Brasileiro, jogando contra o Goiás. Foi difícil explicar às outras mulheres presentes na sala que o Corinthians estava perdendo mas ia ser campeão assim mesmo.

Então, Marcelo me conta que uma paciente estava em Belo Horizonte no fim de semana passado, pegou um táxi e estranhou a movimentação atípica na cidade. Perguntou ao motorista do que se tratava e o homem, todo cheio, comentou que era a festa da torcida atleticana, comemorando o título brasileiro. A moça não entendeu e inquiriu: "Mas, pelo que eu estava sabendo, não era o São Paulo que já era quase campeão?". O chofer explicou que o São Paulo era da Série A. O glorioso Atlético Mineiro tinha acabado de ser campeão da Série B.

"Ah, Série B é a Segunda Divisão?"

Pra quê...

O homem encostou o táxi na guia, virou-se para trás, dedo em riste e decretou: "Não é Segunda Divisão, é Série B!"

Meus amigos historiadores de futebol, como o imbatível Celso Unzelte, poderiam vir em meu auxílio para contar desde quando a Segundona se chama Série B. O que me parece evidente é que ela só passou a ser chamada com esse orgulho pelo nome verdadeiro depois que grandes times como Palmeiras, Grêmio e Atlético fizeram estágio por lá. Antes, quando ela era reduto dos habituais sobe-desce, como Sport, Santa Cruz, Náutico, Guarani, Ponte Preta, Coritiba, ninguém se importava de chamá-la de Segundona.

É sempre o dedo da elite: basta um time grande despencar que já tucanaram a segundona. (Por favor, leiam esta última frase com o modo irônico ligado.)

22 comments:

Anonymous said...

Êta Alessandra, aí você colocou o dedo na ferida.
Aqui em BH a torcida do Atlético passa por umas crises existenciais que nem Freud explica. Eu como cruzeirense e anti-atleticano que sou posso dizer de carteirinha que esse fenômeno que você descreve é real.
A torcida do Atlético tem umas crise que são engraçadíssimas. Primeiro eles não aceitam que o clube seja chamado de Atlético Mineiro. É Atlético - porque eles desconsideram os demais, como o Paranaense - ou Galo. É tão absurda a loucura que eles, os atleticanos, caíram malhando um diretor de futebol contratado pelo próprio clube porque ele se referia ao mesmo como... Atlético Mineiro. A torcida não aceitava essa "formalidade". O diretor se chamava Luiz Henrique. E ele é carioca, para piorar a situação.
Agora é essa a história da segundona. Desde que o Atlético foi para a 2ª Divisão a mesma recebu uma série de nomes diferentes: Divisão de acesso, divisão ou série especial e por aí vai. E afirmam categoricamente, inclusive jornalistas, que não é mais segundona porque o Galo está nela. Ano que vem é segundona novamente.
Agora tem a mais nova: durante todo o ano eles falaram que não comemorariam caso fossem campeões da segundona. Preferiam o vice que ser campeão. Agora que não tem mais jeito, a torcida está mais feliz que pinto no lixo. Uma alegria danada! Não aguentaram sequer segurar a onda, pois estavam há 6 anos sem ganhar nada. Aí a segundona - ou série especial - passou a ser o maior campeonato do mundo. Até dúvida se colocam uma segunda estrela na camisa eles têm. Sério! Há essa discussão aqui, como debates em programas esportivos.
Eu acho é graça. Mas como meu ouvido não é penico vou dar uma jeito de sair de BH nesse final de semana. Eu que não quero barulheira na minha cabeça.
E se prepare. Pode ser que ocorra uma avalanche de protestos no seu blog. Os atleticanos são especialistas em internet.
Grande abraço

Anonymous said...

Êta Alessandra, aí você colocou o dedo na ferida.
Aqui em BH a torcida do Atlético passa por umas crises existenciais que nem Freud explica. Eu como cruzeirense e anti-atleticano que sou posso dizer de carteirinha que esse fenômeno que você descreve é real.
A torcida do Atlético tem umas crise que são engraçadíssimas. Primeiro eles não aceitam que o clube seja chamado de Atlético Mineiro. É Atlético - porque eles desconsideram os demais, como o Paranaense - ou Galo. É tão absurda a loucura que eles, os atleticanos, caíram malhando um diretor de futebol contratado pelo próprio clube porque ele se referia ao mesmo como... Atlético Mineiro. A torcida não aceitava essa "formalidade". O diretor se chamava Luiz Henrique. E ele é carioca, para piorar a situação.
Agora é essa a história da segundona. Desde que o Atlético foi para a 2ª Divisão a mesma recebu uma série de nomes diferentes: Divisão de acesso, divisão ou série especial e por aí vai. E afirmam categoricamente, inclusive jornalistas, que não é mais segundona porque o Galo está nela. Ano que vem é segundona novamente.
Agora tem a mais nova: durante todo o ano eles falaram que não comemorariam caso fossem campeões da segundona. Preferiam o vice que ser campeão. Agora que não tem mais jeito, a torcida está mais feliz que pinto no lixo. Uma alegria danada! Não aguentaram sequer segurar a onda, pois estavam há 6 anos sem ganhar nada. Aí a segundona - ou série especial - passou a ser o maior campeonato do mundo. Até dúvida se colocam uma segunda estrela na camisa eles têm. Sério! Há essa discussão aqui, como debates em programas esportivos.
Eu acho é graça. Mas como meu ouvido não é penico vou dar uma jeito de sair de BH nesse final de semana. Eu que não quero barulheira na minha cabeça.
E se prepare. Pode ser que ocorra uma avalanche de protestos no seu blog. Os atleticanos são especialistas em internet.
Grande abraço

Anonymous said...

muuuuuuuuuito bom!
:D

Anonymous said...

Sou atleticano e acho que deixar a paixão superar a razão não é prerrogativa nossa. Segundona é segundona mesmo e é besteira muito maior ficar batendo boca ou atacando a posição de quem pensa diferente. É melhor deixar a geral do mineirão lá mesmo onde ela está, e não traze-la para este blog ou qualquer outra instância. Rivalidade só é boa quando se está entre amigos e pode-se usa-la por simples diversão.

Anonymous said...

Protesto! Sou tucana mas chamo a série B de Segundona! Principalmente quando tenho de lembrar a certos amigos porcinos que o Todo Poderoso Timão nunca foi rebaixado =))

Anonymous said...

Falando em futebol, queria prestar minhas homenagens ao Internacional, em agradecimento à parceria firmada com o São Carlos Futebol Clube, time que atualmente representa a cidade em que moro: São Carlos.
Antes a cidade era representada pelo falecido Grêmio Sancarlense. Nem vou comentar o triste destino deste clube. Política e futebol são coisas q não deveriam ser misturadas. NUNCA!

Alessandra Alves said...

bem, antes de mais nada, a intenção não é fomentar a rivalidade histórica entre os alvi-negros e os palestrinos das gerais. só achei a história muito engraçada e logo lembrei do tucanês do zé simão, por isso relatei o ocorrido.

herik: legal seu depoimento de quem está in loco. claro que sua leitura é absolutamente parcial, como cruzeirense que é. acho que todos nós, torcedores de times grandes, teríamos esse dilema se nossas agremiações do coração batessem lá no andar de baixo, né?

joana: tks!

marcus: concordo inteiramente com você. eu, embora ame futebol, detesto bate-boca. tenho um queridíssimo amigo que é palmeirense e nunca brigamos, nem sequer discutimos por causa de futebol. é uma amizade de quase vinte anos. sempre que um time vence o outro, aproveitamos a deixa para nos falarmos, tiramos um sarrinho básico e emendamos em outros assuntos, que a vida é bem melhor na concórdia que na discórdia, né?

valéria: calma, minha companheira alvi-negra, devagar com as gozações para cima dos porquinhos. do jeito que a coisa vai, a diretoria do corinthians se esforçando desse jeito, uma hora dessas despencamos também (toc-toc-toc... que minha praga não se cumpra).

quanto à mistura políica e futebol, é um horror mesmo, mas infelizmente o futebol parece presa fácil de tudo que é baixaria. quando não são políticos se locupletando do ludopédio (!), são empresários fantasmas com interesses escusos se utilizando de times como fachada. haja!

por fim, quero desfazer qualquer impressão de que este post tenha sido desabonador em relação ao atlético. não torço por nenhum time do brasil ou do mundo, fora o corinthians, mas tenho lá minhas preferências. em minas, o atlético sempre me foi mais simpático, por três motivos:

- é alvi-negro como o timão
- é adversário de um palestra itália, como o timão
- era o time do meu primeiro símbolo sexual, o inesquecível eder aleixo, camisa onze do inesquecível time de telê, em 82

Anonymous said...

Alessandra,
É verdade que minha visão pode ser um pouco parcial, mas de forma alguma os fatos que descrevi são invencionices. São fatos. A minha parcialidade fica por conta dos adjetivos ao comportamento da torcida, ok?
Eu também não sou daquelas pessoas que perdem o sono com futebol. Como qualquer atividade de entretenimento, entendo que à medida que as derrotas do time que prefiro tornem-se um martírio, acho que há algo muito errado. Nunca o futebol deve ser algo que possa nos causar tristeza, indignação e etc. Esses sentimentos devem ser guardados para quando exergarmos injustiças, roubalheira, falta de educação...
Quanto a sua pequena queda para o alvi-negro das Alterosas em razão do Eder, o "Bomba de Vespaziano", fique sabem que ele ganhou seu maior título quando jagava pelo Cruzeiro, quando foi campeão da Copa do Brasil de 93.
Finlamente, desculpe-me pelo envio equivocado do comentário por duas vezes. Problema de BIOS.
Grande abraço.

Anonymous said...

Alessandra, haja letra no alfabeto pra saber pra qual divisão que vai a Portuguesa, não? Porque depois que chegar na Divisão Z, o que acontece? Começa o alfabeto grego? Já o Palmeiras me parece que esqueceu alguma coisa ou conheceu alguma namorada na Segundona, ôps, desculpe, na Série B, pois fica rondando, espiando, louquinho pra voltar pra lá. Voce não acha? Até achei que o Kia (queoquia ficou musical) ia levar voces pra lá também, mas o plano dele não deu certo. No mais, parabéns pro Atlético, pros dois pernambucanos, pro São Paulo, pra mim mesmo, que fiz aniversário outro dia. Ah, e tem boas notícias no horizonte. Há um boato correndo por aí: breve vai haver novo concurso público pra torcer pro Santos, que torcer pro Santos não é uma atitude unilateral. Hahahaha.

Anonymous said...

Nossa, desculpem, estava me esquecendo da dica musical. Posso, Alessandra? Em homenagem à moçada que vai pra Segundona - ô, que coisa, não é Segundona, é Série B! - nada melhor que ouvir Maysa, em "Meu Mundo Caiu". Inté.

Anonymous said...

Alessandra tudo bem?

So uma ressalva, o glorioso, nem tanto agora,Guarani, nunca ficou na gangorra do sobe e desce, igual nossa arqui-inimiga aapp, hoje estamos numa draga danada, mas tivemos um passado de meter medo nos chamados grandes.
Segudna divisão não é vergonha pra nenhum time, acho bom essa divisão, senão teriamos campeonatos bagunçados com 78, 96 times como era no passado.
Grande abraço.
Gustavo Zanotto

Anonymous said...

Viu?
Foi mexer com futebol....
Ainda bem que o povo que frequenta seu blog é civilizado, porque nos blogs especializado, Juca, Milton e afins, o bicho pega.
No mais, blz de post.

P.S.: eu como flamenguista, vou ficar quietinho. :o)

Luizano

Anonymous said...

Bem como na minha querida terra futebol é coisa virtual,e meu time está pelas minhas contas está na 4ª Divisão, não vou comentar nada sobre o futebol e paixões clubisticas. Mas, o engraçado é que pelo que pude analizar a 2ª Divisão já teve vários nomes:
Taça de Prata, divisão de acesso, troféu senhor qualquer coisa...
O nome que nunca foi oficial é 2ª Divisão. Não sei por que e nem de onde tiraram esse nome!

Felipe Atch
Espirito Santo

André Gonçalves said...

Sou mineiro, torcedor do Cruzeeeeeeeeeeeeeeeeeeiro mas, confesso, cheguei a cogitar ir a Fortaleza torcer a favor do Galo.
Não, não é traição, não. É pra poder ter novamente a sensação de vê-los caindo de novo ano que vem.
Foi divertidíssimo! Agora, falando sério. Moro no Piauí há 17 anos. E os times daqui dariam tudo, tudo, tudo, pra conseguir chegar à SEGUNDONA. Eu chegui a ir ao estádio torcer pelo River contra o Vitória. Estádio lotado várias vezes, pois fizeram uma boa campanha, apesar de não chegarem à fase final.
Enfim, nem sei mais do que estava falando. Mas chamar a Segunda Divisão de Série B é como chamar negro de "afro-descendente", loiro de "capilarmente nórdico" ou baixinho de "verticalmente prejudicado".

L-A. Pandini said...

Bom mesmo é fazer como eu, que torço para o glorioso, inesquecível, fantástico "Jabuca", como é conhecido o Jabaquara Atlético Clube, o "Leão do Macuco" na cidade de Santos.

Eu não tenho medo de ele cair porque em SP, parece, existem somente seis divisões. Mas é claro que o campeonato do Jabuca não se chama "sexta divisão": é a série "B3". Ou seria "C3"? Se for, o Jabuquinha está na nona divisão...

Alessandra Alves said...

herik: não me lembrava desse momento da carreira do eder. eu o conheci pessoalmente em um evento, em 1998 e, confesso, preferia ter ficado com a imagem cristalizada em minha mente, capa da placar, comemorando o gol de virada contra a união soviética, mostrando todos aqueles bícepes, trícepes e quadrícepes. no final da década de 90, parece que o músculo mais bem trabalhado do valente ponta-esquerda era o pâncepes...

mauro: graças a nossa senhora de fátima, ao fervor do flavio gomes e às minhas vibrações positivas, a lusa se segurou na b mesmo, dispensando o resto do alfabeto. rumo à libertadores em 2009, lusa!

luizano: felizmente, aqui todo mundo é educado, né? quanto ao seu flamengo, falo por expriência própria. classificar-se para a libertadores na copa do brasil pode ser uma grande roubada. o time fica molinho, molinho.

felipe: então, vem cá, falando sério? o que os capixabas fazem nas tardes de domingo?

andré: e você desenvolveu simpatia por algum dos times do piauí?

pandini: a questão que não quer calar é - o jabuca ainda existe?

André Gonçalves said...

OLha...
Eu simpatizei com o River, logo de cara, porque fui morar na Avenida River, a 30 metros da sede deles. So que o simbolo deles é um galo, aí ficou dificil torcer e gritar "gaaaalo"... Aí, o outro é o Flamengo... Não dá... Aì, tem o Piauí, que usa camisa azul. Mas não ganha nada... Aí tem o Cori-Sabá, do interior, mas é alvi-negro...
Acabou que fiz assim: torço pra todos. Gosto do River, mas não grito "gaaaaaloooo".

Alessandra Alves said...

com desculpas ao gustavo zanotto, aqui vai a resposta ao seu comentário: juro que não fiz de propósito, que não esperei o guarani cair para a terceira e a ponte, para a segunda, para falar sobre o outrora glorioso futebol de campinas. que lástima! o que acontece com o futebol da cidade, gustavo? suspeito que seja o mesmo mal que está acabando com todos os outros clubes do interior, e até com alguns grandes, como evidentemente ocorre com a portuguesa e (desculpem, juro que não é provocação) com o palmeiras. há luz no fim do túnel campineiro?

Anonymous said...

alessandra:

vim aqui revelar que o seu blog, assim como o que você escreve, causou tanta influência em mim que eu resolvi criar o meu próprio. repito a técnica de responder a todos os comentários em um só, que é bem bacana. um beijo!

eis o link, espero que goste:
www.la-vie-en-close.blogspot.com

Anonymous said...

Puxa vida, tucanaram o meio fio. Acabei de descobrir que em Sao Paulo o meio fio se chama GUIA!

Se voce preferir, ao inves de serie B pode ser serie de Ascesso.

Ate,
Sergio

Unknown said...

Alessandra, não te conheço nem seu blog eu conhecia, mas deparei com ele e não resisti em dar um pitaco sobre esse assunto.
É A PURA VERDADE, ESSES SOFREDORES ATLETICANOS TEM MESMO VERGONHA DE TEREM DISPUTADO A ''''SEGUNDONA'''
E A CHAMAM TAMBÉM, ALÉM DE SÉRIE B, DE SÉRIE '''ESPECIAL''', VEJA SÓ QUE IDIOTICE, SÓ ATRETICANO MESMO PRA SER TÃO BOBO.
Araços Alessandra.
Clever Gamisnski - Barbacena - MG

Unknown said...

Olá Alessandra, tudo bem?

Outro dia buscando no Google pelo nome, achei seu blog e vi que eu já havia deixado um post aqui, comentando sobre o nosso glorioso Guarani de Campians e este post foi deixado em 2006. A situação atual do Gaurani vem a melhorar, cada vez mais, agora engrenamos, subimos para a Série B, e ano que vem Série A.

Muito bom frequentar aqui novamente. Grande abraço.
Gustavo Zanotto