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Andre Agassi estréia hoje no Aberto dos Estados Unidos para dizer adeus. O jogador de 36 anos, atual número 35 do mundo, anunciou sua aposentadoria depois de 20 anos de carreira, 60 títulos conquistados em 90 finais disputadas. Em Flushing Meadows, o complexo que abriga o USOpen, Agassi reinou por duas vezes, em 1994 e 1999. No ano passado, perdeu a final para Roger Federer, o suíço número um do mundo.
Que sejam esses os fatos, o encerramento de uma carreira coroada de sucesso, não se discute. Mas por que, então, meu coração está apertado, como se estivesse me despedindo para sempre de alguém querido, como se este fosse o último dia das férias? Por que dói em mim a certeza do nunca mais, se sempre terei os tapes de seus jogos, se a qualquer tempo poderei relembrar aquele backhand espetacular?
Mais do que a esquerda mortífera, Agassi passeou pelo saibro, pela grama e pelos pisos rápidos munido de uma arma que não se conquista com treinos – carisma. Menino prodígio rebelde, cabelos em desalinho, norte-americano na bandeira, italiano no sangue e nas brigas com juízes de linha, de cadeira, nos gritos consigo mesmo. Tinha a cara dos anos 80, roupas coloridas, um jeito new wave de desafiar o aristocrático e chatinho mundo do tênis. Depois dele, só quem desarmou a sisudez das quadras imaculadas foi Gustavo Kuerten que, não por acaso, foi festejado após o primeiro dos três títulos em Roland Garros tanto pelo jogo quanto pelo sorriso cativante.
Na mesma proporção em que ganhava títulos, milhões e mulheres, Agassi perdia cabelo. As longas e despenteadas madeixas, sempre acompanhadas de faixas na testa, foram substituídas em 1995 por um “penteado” arrojado para aqueles tempos. Raspou a cabeça antes que outros branquelos como ele aderissem ao visual consagrado pelos negros do basquete. Altos e baixos se sucederam: em um ano vencia Wimbledon, no outro, uma operação no pulso. Quando muitos já se preparavam para acender a vela de sete dias de sua carreira, ressurgia fulminante.
Foi muito bom de marketing, casou-se com a bela Brooke Shields, naufragou com ela no casamento – uma das “boas” crises de sua carreira – virou ativista da Unicef, pareceu ter encontrado o equilíbrio no casamento com a alemã Steffi Graf, até hoje e para sempre meu grande ídolo no tênis internacional.
Milionário, consagrado, adorado por seu público, pô! O que faz persistir esse gosto de ressaca na boca da minha alma?
Penso, respiro, reflito.
Não é dos cabelos desarrumados de Agassi, nem de sua esquerda potente, nem de sua força de superação que sinto saudade. Um ídolo do esporte que se aposenta, depois de uma longa carreira que vimos e vivenciamos por vinte anos, leva consigo uma parte da nossa própria história. Pesa em nossos ombros com o determinismo de frases saudosistas que brotam antes que possamos escamotear. “Esse eu vi jogar”. E já não joga mais.
Monday, August 28, 2006
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8 comments:
a referência ao sorriso do Guga vem da manchete do jornal francês L´Équipe, no dia seguinte à conquista do primeiro título, em 1997, que era "obrigada por esse sorriso".
Alias menina,vc joga tennis?
O Agassi como vc mesmo disse ,tem carisma, e como são especiais os carismaticos.Que poder eles tem não!Foi muito legal em seu texto quando vc diz que "leva consigo uma parte da nossa própria história", é exatamente assim que sinto tb quando um idolo se vai ou aposenta.
É sem duvida um tempero na vida.
Jonny'O
alessandra, o lance dele cortar o cabelo se não me engano foi em solidariedade a iormã e a mãe que, passaram por tratamento quimioterapico, devido ao cancêr, se estiver enganado me corrija, beleo texto, agrada a todos os amantes do tênis ou não.
Olha eu aqui de novo Alessandra...hahaha.
Tenis nao é dos esportes que acompanho muito, mas esse cara tinha carisma, isso que tenho tendencias de torcer pra arrogantes, como Piquet, Montoya entre outros.
Vi alguns jogos dele e sempre gostei de seu estilo, ao contrario de um tal de GUGA, bebe chorao...
Alias quem é GUGA????
da primeira rodada ele já passou! em um jogo apertado, em 3 horas e meia, venceu o romeno Andrei Pavel por 3 sets a 1. que bom! mais um pouquinho de agassi para nós.
jonny´o: eu joguei tênis há muitos anos e ando com muita vontade de retomar. com minha dedicação atual às corridas (a pé), não tenho tido tempo nem de planejar isso. quem sabe daqui algum tempo... você joga?
israel: eu realmente não me lembro desse fato relacionado ao cabelo do agassi. se encontrar alguma coisa a respeito, coloco aqui. obrigada pelas palavras!
cristiano: bom ter você de volta. não vejo incoerência em você gostar de "arrogantes" como piquet e montoya e também do agassi. ele sempre foi muito carismático, sem dúvida, mas também foi sempre muito polêmico, o que talvez o aproxime desses seus ídolos.
em relação ao guga, lá vamos nós para o embate. você lança a pergunta: quem é guga? na minha opinião, um atleta que vence por três vezes um dos torneios do Grand Slam, só por isso, já merecia ser reverenciado em seu próprio país. ele não teve uma seqüência de carreira tão vitoriosa como de agassi ou de pete sampras, claro. mas isso não apaga o que ele conquistou. aliás, guga me parece ser de uma geração de tenistas que acabou sendo vítima de uma concepção equivocada de condicionamento físico. como guga, quantos outros tenistas não surgiram e também não "vingaram" nos últimos tempos? todos, vítimas de lesões que praticamente anularam suas carreiras. como guga, andy roddick, as irmãs williams, entre outros.
É o lado triste da historia, qualquer esportista que chega ao numero 1 do mundo ,seja lá em que modalidade for, é uma pessoa realizada, não é pra qualquer um, é um por ano,e por merito de seu trabalho aliado a seu talento.
O Guga foi numero 1 do Mundo, lembro da epoca do Borg,Connors,Villas etc, era quase um sonho impossivel imaginar que um dia um Brasileiro estaria no topo da lista.
O feito do Guga ao meu ver ,foi tão grande porque foi uma conquista isolada, não havia uma estrutura de desenvolvimento e insentivo no pais e nem haverá.
Carisma é uma coisa,trabalho ,talento e resultado é outra.
O Guga é um heroi sim, e sorte de quem viu e vibrou na sua melhor epoca,pois pelo jeitão da coisa não vai pintar outro tão cedo.
Valeu Guga!
Há...menina! Eu jogo um pouquinho!
Jonny'O
Oi Alessandra;
Imagine-se o gosto de ressaca na boca do grande Agassi então? a sensação de nunca mais competir em grandes torneios, o remorço de não ter conseguido "aquela" jogada decisiva, de ter prolongado um pouco mais a carreira, segurando até os descontos do segundo tempo a despedida cada vez mais inevitável....o medo do ocaso e do esquecimento, dos novos ídolos mais altos, mais fortes e mais preparados. Não deve ser fácil para quem sentiu os ares rarefeitos da glória do esporte; será como se sua vida acabasse ali, na aposentadoria....se ele não souber nortear sua vida - e creio que saberá - para novos objetivos, terá que viver sempre revisitando um passado de glórias, as fotos ficando amareladas cada vez mais e sendo lembrado por um período de vida que passou a tantos anos. Viver de nostalgia, ser entrevistado pelo passado glorioso....muitos caem. Não é de se pensar que em nosso relativo anonimato, não somos mais felizes? Nossa vida não atingirá um ponto mais elevado, o auge e depois virá a decrepitude como é bem evidente no mundo dos esportes. Vivemos em etapas, novas páginas (ai, ai...noveleiro não!), tendo como grito da torcida nossos filhos, irmãos e amigos. A glória pode ser um fardo pesado quando a tiram da tomada sem possibilidade de revive-lá, claro, seremos entrevistados a vida toda, vão nos relembrar disso e de aquilo, homenagens...etc, mas sempre ficará o gosto de que a vida congelou no momento da despedida, seja das quadras, pistas, campos ou o que for....Viva nós, cidadões "comuns"!!
Lamento a "viajada"...hehehhe.
- milionário não! zilionário... 40 milhões de usd$ em prêmios ao longo da carreira e cerca de meio bilhão, isso mesmo, meio bilhão das verdes em publicidade e licenciamento de produtos...
- em minha opinião, a melhor e mais arrasadora participação de guga em um campeonato, foi no ano em que venceu o master cup. naquela campanha, jogou duas vezes com agassi, coincidentemente a abertura, que perdeu, e a final, que ganhou. em ambos os jogos, guga foi brilhante e agassi, nada menos do que soberbo. foi ali, com agassi e guga, que reencontrei o que antes só vira em connors x borg. não tenho tais vídeos, mas jamais esquecerei...
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