Sunday, January 10, 2010
Velha guarda
Em agosto do ano passado, escrevi este post sobre o caso Nelsinho Piquet x Flavio Briatore. O texto usava trechos de músicas da velha guarda da MPB para pontuar os lances da briga pública entre a família Piquet e o ex-chefe da Renault. Na ocasião, usei um trecho de uma música composta por Herivelto Martins e outra, cantada por Dalva de Oliveira, citando brevemente a briga pública entre o ex-casal.
Quem acompanha este blog sabe que gosto de Fórmula 1 e de música, misturando os dois assuntos eventualmente. Gosto pouco de TV, mas acabei me interessando pela minissérie que a Globo levou ao ar na semana passada, sobre a vida de Dalva e Herivelto. Assisti a alguns pedaços de alguns capítulos, o que naturalmente não me credencia nem para fazer a sinopse da história nem para avaliar a produção (acho que nunca vou me sentir gabaritada para avaliar nada em nenhuma produção de TV, especialmente em teledramaturgia).
Quando elogiei a caracterização dos atores, ouvi uma ótima frase da minha mãe sobre o Herivelto de Fábio Assunção. "Ele é bonito demais para fazer o Herivelto." Sim, de acordo. Mas, além de bonito, Fábio pareceu-me verdadeiro no papel. Uma boa maquiagem, com direito a uma prótese que o deixou com protuberante papada, somou-se às expressões corretas do ator. Vendo-o, eu enxergava aquele macho típico do século passado, que se achava no direito de pintar e bordar mas que negava o mesmo direito à mulher.
Mas, na minha opinião, as melhores coisas da minissérie foram a já decantada reconstituição de época que a Globo empreende em produções históricas e a atuação/caracterização da atriz Adriana Esteves. Os demais personagens reais retratados no programa (Marlene, Emilinha Borba, Dercy Gonçalves, Ataulfo Alves, Linda e Dircinha Batista) foram fielmente reconstituídos com atores contemporâneos. Roupas, mobiliário, microfones, auditórios de rádio, tudo parecia em sintonia perfeita com aquela atmosfera anos 30/40.
Adriana Esteves despiu-se da vaidade para abraçar o papel da cantora que apanhou mais da vida que carne de segunda. O cabelo crespo de Dalva, ruim de doer, afastou dela a imagem de loirinha brejeira que tanto grudou à sua figura em papéis anteriores. O gestual de sua Dalva, no palco, era preciso e fiel. A Dalva moribunda deu-lhe chance de exercer o drama e ainda de mostrar umas mãos macilentas de velha doente. Outro ponto para a maquiagem.
O melhor da série, na minha opinião, é levar a história e, principalmente, as músicas daquele período a várias gerações que não conheciam o tema. Mas é duro de aguentar os roteiros espremidos e forçados da teledramaturgia nacional. Contar uma história de décadas em cinco capítulos, com vários números musicais entremeando a sequência, acaba criando diálogos telegráficos e praticamente sem nenhuma profundidade.
Vendo a série, fiquei pensando em outros personagens da velha guarda da música brasileira que renderiam ótimas histórias: Carmen Miranda, Noel Rosa, Assis Valente, Vinícius de Moraes, só para ficar no pessoal da primeira metade do século passado.
E assim, em quase quatro anos de blog, perpetrei um texto elogiando a Globo! Talvez eu só volte a ver algo da teledramaturgia da emissora daqui uns quatro anos. Portanto, não acostumem...
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5 comments:
Ave, Alessandra, não é possível que você não tenha acompanhado a saga da Maya, a pobre moça que estrelava o Caminho das Índias! Hare baba! hahahahaha Novela da Globo (habitualmente) é igual a carrapato: suga as energias mentais e vira assunto para as pessoas se coçarem ao longo do dia.
Gostei da minissérie. Foi muito boa de fato. O problema, Alessandra, é que semana que vem a emissora irá estrear o BBB10. Só aí vc já vê como a emissora prioriza a teledramaturgia. Definitivamente eu não curto mais o BBB. Acho muito chato, ainda que tenha muita gente que prestigia este tipo de programa.
O legal da minissérie foi ver que os barracos que a gente lê e/ou vê são mais antigas que a gente imagina. Não é a toa que a emissora colocou na sua chamada vários casais famosos como Sonny e Cher, Curt Kobain e Courtney Love.
Outra coisa interessante foram as caracterizações de Dalva e Herivelto mais velhos.
Eu li a biografia da Carmen Miranda (acho que é do Ruy Castro) e a história é linda, dava uma minissérie e tanto!
Sáo assisti ao 1º capítulo desta minissérie. Mas quem viu gostou.
Assisti a minissérie por insistencia da minha esposa, estava achando tudo um tanto exagerado demais, derramado demais, e fui conferir no livro do Peri Ribeiro, e não é que o filho dos dois pintou a história exatamente daquela forma?
Acabei por ter do Herivelto a pior das impressões e qual não foi a minha surpresa quando perguntei à minha sogra que é contemporânea e ela disse: "-Isto ai é pouco, ele era muito mais que isto, ele era um lixo..."
Quanto às boas histórias da velha guarda, bem... Eu espero ansiosamente por uma minissérie com o grande Noel Rosa que tem umas histórias incríveis, como esta:
Ao chegar à uma agência dos Correios com a intenção de passar um telegrama, Noel causou má impressão a uma das atendentes.
Muito magro e com roupas acima do seu número, Noel ainda contava com a falta do que se poderia chamar de "queixo" já que tinha esta parte de sua anatomia afundada ao nascer em um difícil parto à forceps.
A atendente, também taquigrafa, batucou com o lápis na mesa, para que sua colega de trabalho apenas entendesse: "-Olha que homem, feio, magro e sem queixo!".
A colega da atendente entendeu e olhou para Noel contendo o riso.
Noel então pegou o lápis das mãos da moça e com a mesma desenvoltura e precisão taquigrafou de volta: "-Feio, magro, sem queixo e taquigrafo."
Salve a Globo ,que embora essas miniseries ocupem um tempo mínimo da grade ,elas são maravilhosas ,nos ultimos anos não perco nenhuma.
Minha favoritas são "Amigos" e "Som & fúria" .
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