Wednesday, November 04, 2009

O último que sair...


Em um ano, três empresas japonesas anunciaram sua saída da Fórmula 1. Começou com a Honda, continuou com a Bridgestone, culiminou com a Toyota. No meio tempo, os alemães da BMW também puxaram o carro. Há algum tempo, rumores apontam para a revisão dos planos da Renault na categoria. Mas, depois do escândalo de Cingapura 2008, a empresa francesa deve se manter pelo menos para limpar a imagem.

De qualquer forma, uma impressão dos últimos tempos consolida-se como certeza: naufragou clamorosamente o conceito de uma Fórmula 1 transformada em Mundial de Marcas, com as principais montadoras duelando entre si. Bernie apegou-se a essa ideia e quase excluiu os demais times, os chamados garagistas. O pequeno dirigente um dia deve ter olhado para um grupinho formado por Frank Williams, Eddie Jordan, Peter Sauber, Giancarlo Minardi e pensou: "Vocês são pequenos demais para meus planos".

Virou as costas e vislumbrou as sedes da Honda, da Toyota, da Mercedes, da BMW e teve a certeza de que aquela era sua turma. Corporações poderosas, com orçamentos estratosféricos. Bernie elevou os custos da Fórmula 1 ao ponto de praticamente alijar os pequenos da categoria. E deve ter tido a certeza de que havia agido certo durante os primeiros anos desde século. As montadoras entraram com tudo na Fórmula 1, ajudando-o a faturar como nunca na história desta competição!

Só que 2008 varreu o mundo com uma crise econômica brava. As grandes corporações, com orçamentos estratosféricos, perderam dinheiro. Nessas horas, não há boa intenção, compromisso com o esporte blá-blá-blá nenhum que disfarce o sorvedouro de dinheiro que é a Fórmula 1. Uma após a outra, as equipes foram batendo em retirada.

Não deixa de ser intrigante o objeto maior do contencioso entre FIA e Fota no primeiro semestre - o teto orçamentário estabelecido para 2010. A FIA, ainda sob o comando de Max Mosley, insistia na contenção de despesas, tendo em perspectiva a inviabilidade da categoria se a gastação desenfreada continuasse. As equipes batiam o pé: queriam gastar mais e mais. Venceram o duelo. Perderam dois times de lá para cá, e a fornecedora de pneus, já com data marcada para a despedida.

A Fórmula 1 não vai morrer. Pelo menos três times novos já estão inscritos para 2010. E ainda há a nebulosa perspectiva de mais dois. Times com formatos garagistas, sem a opulência das montadoras. Difícil é imaginar que Bernie dará a mão à palmatória, admitindo que sua aventura no mundo das grandes corporações foi um retumbante fracasso.

Mas ele, de fato, não parece estar muito preocupado com isso. No Oriente, nas Arábias, Bernie parece ter encontrado gente disposta a continuar despejando dinheiro na Fórmula 1. Se é que isso ainda pode ser chamado de Fórmula 1.

14 comments:

Edgard Pinto Júnior said...

www.oconsumidoremdebate.blogspot.com

Olá, primeira vez comentando por aqui. Sempre dou uma espiada no blog, parabéns.

Será que teremos F-1 por muito mais tempo? Li que Goodyear, Michellin e Pirelli já avisaram que não vão querem entrar... e aí, como fica? Vamos finalmente ter um salto tecnológico e em 2011 os carros serão como os dos Jetsons???
Também vi a noticia de que a Renault já chamou a turma para reunião...será?
Uma dúvida final, quais são as duas equipes em perspectivas nebulosas para o próximo campeonato? Uma é a Sauber e a outra?

Alessandra Alves said...

Oi, Edgard: a outra é a nova Lotus, que não tem nada a ver com a tradicional equipe patrocinada pela John Player Special nos anos 60 e 70. Abraço!

Edgard Pinto Júnior said...

www.oconsumidoremdebate.blogspot.com

Ah, certo, pensei que tivesse mais uma nova. Depois fiz as contas e lembrei das (prováveis) 4 novatas...
Mas, na mesma esteira, será que não vai aparecer um 'aventureiro' que assumirá o espólio e de maneira ousada, usando o regulamento, ousar brigar pelo campeonato? (não sei onde, mas acho que já vi algo semelhante...hehehe).

Jonny'O said...

Não sei ,vejo tudo isso de forma natural ,ninguém é santo ,ninuém!

O Bernie não fracassou ,deve ter engordado muito sua conta bancaria ,e as fabricas entraram na brincadeira para aumentar a visibilidade da marca ou melhorar a imagem dela porque se está na F1 é porque tem tecnologia ,enfim essas coisas .

Mas se for olhar a coisa de outro ponto de referencia vamos ver que tudo isso está embutido na competitividade humana .

Hoje vejo muita gente torcer para que um independente como a Williams volte novamente ao topo ,como se isso fosse uma vitoria do BEM contra o mal.

E ninguém se lembra que essa mesma Williams já teve a F1 a seus pés ,e nesse tempo jamais se importou ou liderou algum movimento para salvar da falencia uma Simtec,Pacific ,Lotus ,Ligier ,Larouse ,AGS ,Dallara,Tyrrell ,Brabham ,só para citar alguns nomes que entraram em crise nos tempos de Wlliams GRANDE.

O automobilismo Brasileiro e Argentino também sofreram em suas historias e destruiram grandes categorias de forma frequente por não saber conter os custos.

E no futuro ,se por ventura o vento mudar e o mundo tiver jogando dinheiro pela janela novamente ,na F1 quem pagar mais vai entrar e ficar.

Marcus said...

Gostei muito de sua análise, como habitual.

Danilo-tte said...

A inteligencia de Ross Brawn ao explorar cada letra do regulamento 2009 e construir um carro que por 6meses foi imbativel; A persistencia de Frank Williams e Patrick Head em se manterem na estiagem esperando dias melhores; A acertada decisao de Luca de Montezemolo ao colocar Domenicali (um sujeito que nunca sai do prumo) na ingrata tarefa de substituir o trio Todt/Brawn/Schumacher. Brawn, Ferrari e Williams serão as equipes a serem batidas em 2010 na F-1 dos garagistas+ferrari.

Ron Groo said...

Sinceramente não sentirei falta dos nicômicos da Toyota que assim como os nicômicos da Honda só fizeram besteira enquanto equipe de F1, gastando um dinheiro absurdo e tendo resultados de equipe de fundo de quintal.
Enquanto uma equipe de "fundo de quintal" se sagrou campeã.

Só sinto mesmo por não poder dizer agora que o Kamui Kobayashi, promissor pokémon, terá carro certo para o ano que vem...

Agora ao menos ja sabemos que há espaço para que a Sauber, que tinha avançado muito pra ficar na F1 pode sonhar com a vaga, sem ter de pedir pênico ao tio Frank.

Fernando Mayer said...

Achei muito chato o fato de mais uma equipe ter saído do "circo" mas também não sentirei saudade da Toyota por tudo aquilo que ela não fez enquanto esteve na competição. Ela foi um exemplo de como não ser um time vencedor invenstindo uma fortuna. Rezo para que a Renault não tome o mesmo rumo, pois, se isso acontecer teremos mais talento (Kubica)
desempregado no ano que vem além do Japones-Emo Kobayashi.

Eduardo Morelli said...

Alessandra,

Não conhecia o seu blog, e, devo dizer, foi um prazer!

Seu comentário diz tudo. Não há o que acrescentar. Vejo da mesmíssima forma.

Só espero que os "garagistas" consigam segurar a onda. seria muito chato se as grandes (Ferrari e Mclaren e talvez Brawn-Mercedez) enfiarem caminhôes de dinheiro e, com isso, sufocarem a disputa. É preciso um regulamento que não deixe brechas...

De novo, prazer em conhece-la.

Eduardo

Autobola said...

Como sempre, sua análise foi inteligente e com boa base, mais ou menos como você faz na Rádio Bandeirantes.
Se você tiver um tempinho, dá uma olhada no meu blog http://autobola.blogspot.com mistura de automobilismo e futebol
Se achar interessante, pode indicar
Parabéns pelo texto!!

ALE FORMIGONI said...

olá, vc está certa em dizer que o Oriente Médio é o novo porto para Bernie e sua sede de grana, a Formula 1 jamais acabará

Unknown said...

Ale, parabéns pelo texto!

Henry.

Ylan Marcel said...

Pobre Kamui... Só lamento por ele. Equipe fracassada, esta...

Anonymous said...

Respondendo a voce, Alessandra:
Não, isso não pode ser chamado de F1, e faz tempo.
A força da grana que destrói coisas belas demoliu tudo: A competição, a proximidade com o público, a diferença entre os pilotos, as pistas de corrida de fato.
A opulencia da China, de Abu Dahbi e outras tantas simplesmente não combinam com um "piloto feliz dentro de seu capacete".
Pode ser genial, diferenciados, deslumbrante.
Mas é coisa de novo rico metido a esnobe, de gente sem berço e preparo que se mela na grana farta.
Vide Ron Dennis renegando seu nobre passado de mecanico, vide o nanico Bernie passeando com celebridades (sic...) pelos grids de largada.
A F1 ficou asséptica, distante, metida a besta. nojenta, fresca e completamente descarecterizada.
E a pilotaida, um bando de meninos cheirando a leite, escoltados por assessores de imprensa de cara feia.
Os boxes e seus controles, parecem a sala de controle de voo da NASA.
Tudo isso para um carro ou dois?
Acho ótimo, perfeito que as montadoras, que nós do meio chamamos de "predadoras" tirem o time e vão lá produzir seus carros tambem assépticos e iguais entre si. A praia delas é outra.
Carro de corrida é outra coisa.
Claudio Ceregatti