Sunday, October 24, 2010

Manual de autoajuda Fernando Alonso


Terminado o GP da Coreia do Sul, escrevi a seguinte frase no Twitter: "Como é largo esse Fernando Alonso". De fato, à primeira vista, a vitória do espanhol pareceu uma sequência de lances de sorte. Primeiro, o acidente de Mark Webber. Depois, o motor estourado de Sebastian Vettel. E, assim, Alonso saiu da Coreia como líder do campeonato. Mas faço minha penitência já: não pode ser creditada só à sorte a jornada vitoriosa do espanhol no primeiro grande prêmio disputado naquele país.

E nem vou me ater às questões de perícia do bicampeão. Alonso pode ser manhoso, dissimulado, amoral até, como dizem alguns, mas é um extraordinário piloto. Nada de novo nisso. Manter-se íntegro em uma prova com condições adversas pode ser tudo, menos um golpe de sorte, ou vários. Mas queria analisar um aspecto mais, digamos, esotérico deste final de semana.

Abri minha participação na transmissão, aliás, falando sobre isso. Depois do treino classificatório, no sábado, li a seguinte frase de Alonso, no Tazio: "E mais uma vez foi o nosso máximo potencial hoje, o que é, de certa forma, muito bom, porque a classificação não é nosso ponto mais forte do fim de semana. Aqui, estamos próximos da Red Bull, então a situação parece boa para amanhã."

É uma frase corriqueira, em linha com o discurso quase sempre vazio que esportistas costumam proferir nos pré-eventos. Mas pesquei um ardil na sentença. No ar, pelas rádios Bandeirantes e BandNews FM, comentei que a fala de Alonso tinha um tom de ameaça, como se ele dissesse para Vettel e Webber: "aproveitem enquanto estão na frente, porque amanhã será pior."

A diferença astronômica da Red Bull para as demais, que se consolidou em pistas como Mônaco e Malásia, parece ter ficado no passado. Na Coreia, Alonso classificou-se com um tempo muito próximo ao de Vettel e de Webber e, na corrida, conseguiu manter a distância na casa do confortável e administrável. Alonso tinha motivos concretos para acreditar que, mais uma vez, os carros mais rápidos no treino não necessariamente levariam tal vantagem para a corrida.

Mas a fala de Alonso foi mais do que análise cartesiana. Teve ali um componente de dupla serventia. A um tempo, o espanhol plantou em si mesmo a perspectiva de ser melhor hoje do que havia sido ontem. E, também, semeou em Vettel e em Webber a desconfiança, a cisma, o trauma de algo, afinal, repetido outras vezes nesta mesma temporada. Alonso plasmou a vitória de hoje em sua mente.

Os nomes variam - pensamento positivo, energia, vibração - mas o conceito é o mesmo. Está em livros esotéricos e em manuais de autoajuda o conselho que Alonso pareceu seguir nas terras orientais. Fixou-se a uma imagem alvissareira para o domingo e se manteve na rota para alcançá-la. É cada vez mais recorrente esta faculdade entre esportistas. No futebol e em outros esportes coletivos, fica cada vez mais evidente que o papel do técnico está tão ou mais relacionado a motivar e instigar a equipe do que necessariamente no reforço dos fundamentos técnicos ou em armações táticas. Que o diga o DJ Luiz Felipe Scolari e seu repertório de músicas motivacionais.

Alonso não venceu só na pista, venceu na cabeça. A duas corridas do final, a fortaleza psicológica pode ser uma arma letal.

9 comments:

Véio Gagá said...

Alonso é um líder nato. Quando disse, e ninguém deu muita bola, que poderia ser campeão, ele fez, principalmente, o seguinte: a)- motivou a equipe b)- cobrou a equipe c)- assumiu a responsabilidade de desempenho, se tivesse um carro ao menos próximo das Red Bull e McLaren.
Com isso, e com atitudes que demonstravam isso dentro da pista e em Maranello, minou o Massa e a história todos já sabem.
E os 7 pontos, hein? A Ferrari estava errada ao dá-los para Alonso?

Pai Ogum said...

Nada de pensamento positivo, energia ou vibração. Foi a mandinga que ele fez que o levou a ter tanta convicção do que estava dizendo. LOL

Danilo Silva - Taubaté/SP said...

pra variar, ótimo texto. pena que esteja aparecendo por aqui tão raramente...

Gabriel Souza said...

Bela análise, Alessandra.

E parabéns pela transmissão, foi o que me manteve acordado.

Beijos!

Ron Groo said...

Foi apenas sorte? Não... Ele estava no lugar certo na hora certa, mas convenhamos, se as Red Bull não dessem chabú ele ficaria no máximo em terceiro.

Ele é a Mulher Melancia da F1, se é que me entendem na comparação...

Vladimir "Charles" Brown said...

Boa resenha. Bacana ver que, mesmo com os documentários sobre o Button e o Coulthard, a Alessandra conseguiu prestar atenção na corrida. hahahaahah

Por falar nisso, fiz uma breve pesquisa para tentar entender melhor o papel do co-piloto no safety car e encontrei uma reportagem sobre a Mercedes em questão no site gotbroken.com

Aparentemente, o papel dele é mesmo de ser um "segundo par de olhos" pro Bernd Maylander...

Anonymous said...

Brou,

Agora entendi. E se ele falasse se está no topo do pódio? Ganhava também?

Gustavo Alves

Mauro Chazanas said...

Alessandra, que bom que voce voltou,
Estamos aqui às vésperas de um momento histórico, sem medo de ser, sem medo de ser, sem medo de ser feliz.
Permite uma sugestão musical?
Acho que só pode ser "Maria, Maria".
Beijo, Alessandra, boa sorte pra todas e todos nós.
Putz, te confesso, estou emocionado pelo que estamos prestes a fazer.
Ah, tomara que dê tudo certo,
Viva a mulher brasileira! Viva o Brasil!

ANÚNCIOS said...

A política da Ferrari faz ela ser uma equipe perdedora tanto nas pistas como os fãs.