
Nos primeiros tempos, o pai fechou os olhos para a luta fratricida. Um aventureiro lançou mão e, assim, a Williams de Nelson Piquet e Nigel Mansell perdeu o campeonato de 1986 para a McLaren de Alain Prost. No ano seguinte, engalfinhando-se como no anterior, os companheiros duelaram pelo título até o final. Mansell bateu cabeça, literalmente, e Piquet sagrou-se campeão de 1987, conquistando seu terceiro título mundial.
Mas 1987 foi um ano diferente na Fórmula 1. Um período de transição, marcado por um dos inúmeros contenciosos entre a Federação Internacional de Automobilismo (Esportivo, na época, já que as cartas eram dadas pela Fisa, de Jean-Marie Balestre) e as equipes. A queda de braço da vez eram os motores turbos, usados pelas grandes equipes. A Fisa, em vias de bani-los, achou uma maneira de compensar as equipes pequenas, que seguiam competindo com seus motores aspirados. Criou dois campeonatos paralelos - o Troféu Colin Chapman, para construtores, e a Copa Jim Clark, para pilotos.
E foi assim que Dr. Jonathan Palmer, médico formado que trocou o estetoscópio pelo volante, tornou-se campeão em 1987, com sua Tyrrell laureada entre os construtores. É claro que a compensação inventada pela Fisa não mudou a história. O melhor resultado de Palmer naquele ano foi um quarto lugar, na Austrália. Na zona de pontuação, só apareceu mais duas vezes - com dois quintos lugares (Alemanha e Mônaco). Nas outras treze corridas, praticamente só aparecia na imagem da TV levando bandeira azul para facilitar a passagem dos líderes.

Nunca imaginei que diria isso, mas o italiano Jarno Trulli soltou uma frase profética neste início de ano, com a qual concordo. A temporada de 2010 deve abrigar dois campeonatos paralelos. Não formalmente, como aconteceu em 1987, mas pela diferença entre as equipes grandes - especialmente Ferrari, McLaren, Red Bull e Mercedes - das últimas do pelotão. Em relação às últimas, ainda é difícil até imaginar quem estará no grid do Bahrein. A USF1 já pediu licença das quatro primeiras provas, a Campos ainda está passando o boné, a Virgin passou vergonha em Jerez. A Sauber se agarra ao espólio da BMW, a Stefan, se é que vem, vale-se do espólio da Toyota. E a Lotus de Trulli surge como o burguês sem berço que compra o título de nobreza para infiltrar-se no grand monde.
A FIA não vai criar um Troféu Puxadinho para essa turma sentir-se recompensada diante dos esnobes da Casa de Luxo. Mas é evidente que foi a entidade quem gerou, pariu e está nutrindo essas criaturas. Ao abrir as portas da casa para novas equipes, ainda nos tempos do polêmico e depois derrubado orçamento de 40 mil libras, a federação deixou que os pobres entrassem na festa, depois exigindo deles que se exibissem com pratarias e cristais que lhes faltam na dispensa. 2010 tem tudo para ser uma festa estranha, com gente esquisita.